Peritos da PF admitem que provas contra Lula no “MyWebDay” provavelmente foram manipuladas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"A Odebrecht recebeu da autoridade suíça e ela abriu isso, e mexeu nisso, durante muito tempo ficou com isso lá. E depois ela encapsulou e entregou"

Foto: TRF-4/Divulgação

Jornal GGN – A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou as alegações finais no processo relacionado à compra do terreno do Instituto Lula. No arquivo, a própria perícia da Polícia Federal admite que provas do chamado “setor de operações estruturadas” da Odebrecht podem ter sido adulteradas.

Estes documentos são o que sustentam que a Odebrecht supostamente doou R$ 12 milhões de maneira ilegal, a título de suborno, a Lula para a compra do terreno. A informação foi divulgada em primeira mão pelo Consultor Jurídico.

“O caráter duvidoso destes indícios, preparados durante quase um ano para depois ser ‘lavados’ com verniz de legalidade, é expresso, inclusive, pelos próprios Peritos da Polícia Federal”, informa a defesa de Lula.

Trata-se do sistema “MyWebDay” do departamento de operações estruturadas da empreiteira, que conforme o GGN já vem mostrando, foi suscetível a manipulações. Um dos indicativos é que antes de ser enviado à Justiça, tais dados permaneceram nas mãos da Odebrecht por quase um ano e somente foi entregue quando a Odebrecht assinou o acorde de leniência com o Ministério Público Federal.

A novidade é que esse indício foi admitido pelos próprios peritos da PF: em conversa gravada no dia 30 de setembro de 2019, o perito Roberto Brunori Junior afirmou que, ao contrário do que sustentou o MP, os arquivos não foram retirados diretamente da Suíça, mas coletados com a Odebrecht.

Brunori sabia que estava sendo gravado pelo perito Cláudio Wagner, contratado pela defesa do ex-presidente para analisar os arquivos. Em seu trabalho posterior, Wagner concluiu que os dados haviam sido manipulados.

“Agora só um parêntese aqui, já que está gravando, um parêntese, de cabeça, lembrando, não é certeza, a Odebrecht recebeu da autoridade suíça e ela abriu isso, e mexeu nisso, durante muito tempo ficou com isso lá”, havia dito Roberto Brunori Junior, perito criminal da PF.

O mesmo perito afirmou que ficou comprovada a existência de arquivos, com “datas posteriores às apreensões” e “gerados pela Odebrecht”, admite.

Três especialistas assinaram o relatório: Cláudio Wagner, o perito Aldemar Maia Neto e Rodrigo Lange, que atualmente trabalha na pasta do ex-juiz Sergio Moro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Ao narrar que os peritos não viram a necessidade de se conferir a origem desses dados, se partiu da Suíça ou da Odebrecht, a defesa alertou que “contentou-se com um material editado por indivíduos nitidamente interessados, sendo que os Peritos Federais, por vezes, reconheceram a possibilidade de que de fato inexista lista de hashes com a origem, sufragando em definitivo a quebra da cadeia de custódia da prova”.

“Que ela [a Odebrecht] encapsulou [os dados] isso tá no laudo, inclusive tá provado que o arquivo que foi gerado lá, inclusive, tem arquivos com datas posteriores as apreensões que a gente mostra que foram geradas pela Odebrecht”, admite um dos peritos na conversa.

 


Leia a íntegra do relatório abaixo:

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Nassif: sei que você não é expert nessas de análises e levantamentos policialescos. Nem eu. Por isto, vamos deixar esses detalhes. Mas não podemos esquecer outros, de ordem lógica do processo políticojudicial. Segundo já provado e comprovado, quêm dizia o que deveria ser feito ou não feito, segundo ordens recebidas dos VerdeSauvas, no caso do SapoBarbudo? Quêm dizia o que deveria ser visto ou não visto, segundo os interesses da QuerênciaDeCruzAlta? Quêm desejava melar a candidatura do MelianteOperárioNordestino, seguindo os planos das AgulhasNegras? Quêm dizia aos safados GogoboysAvivados de que modo formalizar ou ignorar essa ou aquela prova, em franco conluio com a CorteMorDeSuplicaçãoDosPampas? Quêm tinha amigos e parentes envolvidos na IndústriaDaDelaçãoPremiada? Quêm tem indícios fortíssimos de ser um agente trabalhando em favor dos donos do Quintal onde moramos? Quêm estaria hoje no governo, depois do próprio MessiasDoBras declarar a que preço do combinado? Um amigo com quem troquei estas dúvidas sugeriu um (e um só) nome. Não vou lhe dizer para não sugestioná-lo. Porém, pense — Quêm? Quêm? Quêm…

  2. O Perito 1 tentou camuflar a verdade. O assistente técnico tem toda razão. Eu entendo que mexeram no cadáver antes da polícia aparecer. Apagaram as impressões digitais, lavaram as marcas de sangue que nem o Luminol vai identificar. O criminoso ainda estava no prédio onde aconteceu o crime e o perito 1 acha tudo normal. Porca miséria!

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