Por que tanto mistério em torno do filme que enaltece a Lava Jato?

Ministério da Justiça ainda não esclareceu a abertura de arquivos da PF para equipe do filme. E a identidade revelada dos patrocinadores é falsa

O então juiz federal Sergio Moro, símbolo da operação da PF (Facebook-via Conversa Afiada)

São Paulo – Os deputados federais pelo PT Paulo Pimenta (RS) e Paulo Teixeira (SP) vão protocolar novo requerimento de informações ao Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre o envolvimento da Polícia Federal na produção do filme Polícia Federal – A Lei é para todos, que enaltece os agentes e a própria operação Lava Jato.  O pedido anterior, formalizado em fevereiro de 2017, ainda não foi atendido.

A retomada da apuração, segundo Teixeira, foi motivada pela divulgação, pelo Intercept Brasil, das conversas entre o ex-juiz federal Sergio Moro, atual ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL), e o coordenador da operação, o procurador Deltan Dallagnol. A troca de mensagens pelo aplicativo Telegram demonstra que Moro dava as cartas na coordenação da Força Tarefa.

Os parlamentares querem explicações sobre o acordo em forma de consultoria que teria sido firmado entre a PF e a produção do filme. Na época, o produtor Tomislav Blazic e o diretor Marcelo Antunes chegaram a dizer em entrevista que, embora a polícia federal “não tem a tradição de ficar transmitindo informações, daquela vez tiveram interesse em torna-las públicas”. O ator Ary Fontoura, que interpretou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou à imprensa que a equipe teve acesso a arquivos da Polícia. Quem seriam os responsáveis pela abertura de informações?  Respaldados em qual legislação? Que equipamentos e armas do órgão teriam sido usados?

E mais: o fato da produção afirmar em entrevistas não ter dinheiro público envolvido, mas guardar sigilo quanto ao nome dos patrocinadores, não levantaria suspeitas sobre a procedência desse financiamento? A Polícia Federal sabe quem financiou o filme? Teve acesso à documentação da transação financeira para custear a produção? Qual o amparo legal para que uma atividade dessa natureza omita a origem dos recursos recebidos e guarde sigilo de seus patrocinadores?

Tamanho mistério sobre a identidade daqueles que teriam injetado os cerca de R$ 15 milhões correspondentes ao orçamento do longa metragem, tratado com naturalidade pelo produtor, ainda persiste sob o argumento do temor  de “patrulhamento ideológico”. Será?

Pista falsa

Em 27 de agosto de 2017, o jornalista Lauro Jardim, de O Globonoticiou que os financiadores de filme sobre a Lava Jato foram reunidos pela Saga Investimentos. E dava conta de que o grupo tinha sede em São Paulo. Dois dias depois, veículos da mídia alternativa publicaram reportagens sobre os supostos financiadores.

A empresa do setor financeiro informado por Jardim foi diretamente associada à Saga Investimento e Participações do Brasil S/A, comandada pelo empresário Sergio Antonio Garcia Amoroso. Com empresas no setor florestal, de mineração, celulose, agronegócio e financeiro entre outros, Amoroso rapidamente negou envolvimento. E afirmou haver outras empresas do mesmo ramo e com o mesmo nome.

Reprodução

Destaque da nota de Lauro Jardim, apontando financiamento para empresários ligados à Saga Investimentos, de Sérgio Amoroso

De fato. A reportagem da RBA encontrou a Saga Gestão de Investimentos Financeiros Ltda e a Sagapar Participações Ltda, ambas sediadas no mesmo endereço, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. Entre os sócios está o empresário Rafael Zingales Icaza. De acordo com a Receita Federal, ele tem participação em 19 empreendimentos no setor financeiro, imobiliário cultural e de entretenimento. A Delphos Produções Artísticas, Delphos Soluções Culturais, Core Bar e Eventos Ltda e a Cinesystem S.A.

As duas últimas têm particularidades curiosas. Localizada no Rio de Janeiro, a Core Bar é sócia da produtora do Polícia Federal – A Lei é para Todos New Cine & TV.  A reportagem tentou contato telefônico com a New Cine diversas vezes, mas as chamadas não foram atendidas.

Reprodução

Detalhe da ficha da empresa na Receita Federal

Mundo do cinema

Outra ligação de Icaza com o mundo do cinema é a sociedade na Cinesystem. Sediada em Maringá – coincidentemente a cidade natal do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro – a empresa é do ramo de salas de cinema em shoppings centers.

Aclamado pela imprensa conservadora como maior bilheteria nacional de 2017, o filme da Lava Jato vendeu 1,2 milhão de ingressos nas quatro primeiras semanas em cartaz. Mas não foi muito além. De acordo com o Observatório do Cinema e do Audiovisual da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o público total foi de 1,36 milhão. A  arrecadação com a venda de ingressos não passou de R$ 21,5 milhões. O Tropa de Elite 2, por exemplo, vendeu mais de 11,14 milhões de ingressos. E arrecadou R$ 103,4 milhões.

O fracasso da película talvez explique a demora na continuidade da “trilogia”. Segundo a produção, o segundo filme da franquia mostraria o processo de impeachment que destituiu Dilma Rousseff (PT) mesmo sem ter cometido crime de responsabilidade. E o terceiro, teria como ápice a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018 na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba – a mesma que participou ativamente da produção de A Lei é para Todos.

Ou será a razão pela qual os investidores preferem se manter no anonimato? Por pouco o filme não fica no vermelho.

Redação

4 Comentários

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  1. As revelações do site “The Intercept Brasil”, mostrando o conluio entre o ex-juiz Sérgio Moro e a força tarefa da operação Lava Jato para condenar Lula sem provas, comprovam a existência de uma “conspiração política” contra o ex-presidente Lula, ficando, portanto, comprovada a parcialidade e a suspeição do ex-juiz Sério Moro no julgamento de Lula. “O Supremo Tribunal Federal tem agora o dever de retirar todas as consequências destas gravíssimas irregularidades que conduziram a uma condenação injusta e ilegal e, consequentemente, libertar Lula e anular a sua condenação”. “A corrupção é tão importante quanto a democracia e o Estado de Direito. “Mas no caso de Lula, ela foi usada para alimentar estratégias que o eliminassem do jogo político, a fim de permitir que Bolsonaro chegasse ao poder e, em seguida, ‘recompensasse’ Sérgio Moro, nomeando-o ministro da Justiça”, utilizando-se de “lawfare”, que é a manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política. É o uso indevido do Direito contra inimigos, objetivando a condenação e a prisão de Lula, mesmo sem prova, com respaldo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos que os orientou para tirar Lula da corrida presidencial para que ele não fosse eleito Presidente da República. Essa gente deveria ser exonerada de seus cargos a bem do Serviço Público. As máscaras de Moro, Deltan Dallagnol e sua trupe, caíram! Foi necessário chegar aqui, no país do carnaval, um renomado, corajoso e o maior jornalista do mundo, o norte-americano, Green Glennwald, para denunciar o escândalo da Lava Jato, desferindo golpes fulminantes nessa corja de bandidos, através do site The Intercept Brasil, do qual é cofundador; desbaratar e acabar com a farra, e a farsa dessa quadrilha que está à frente da Lava Jato, deixando-a de joelhos. Acabou! Caiu a máscara dos algozes e perseguidores de Lula! A vida é assim: “Aqui se faz, aqui se paga!” “Quem com grampo fere, com grampo, será ferido!” É a lei do retorno. Cadeia pra essa corja! Parabéns, Green Glennwald! “In Lula we trust!” #LulaLivre #LulaPresoPolítico #LulaPerseguidopelaJustiça #LulaCondenadoSemProva #LulaInocente (Poeta nordestino, de Sousa, no Sertão da Paraíba)??????✊

  2. A figura sinistra de Moro remete ao personagem Nosferato do Herzog.
    Mas também me estimula a releitura do trabalho de Freud sobre o caráter narcisista.
    A sua história deverá ocupar um lugar entre os dramas de segunda categoria e ficará no andar inferior de qualquer estante até ser destinada aos sebos embolorado.

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