Reportagens revelam envolvimento de família Dallagnol com grilagem e desmatamento de terras na Amazônia

De Olho Nos Ruralistas mostra série de reportagens sobre o envolvimento da família do procurador da Lava Jato em conflitos agrários, desmatamentos e grilagens no Mato Grosso

Jornal GGN – Depois da Vaza Jato, que tem muitos capítulos e temporadas aguardadas pela frente, chega agora aos noticiários do país a série “Os Latifúndios dos Dallagnol na Amazônia“.

O portal De Olho Nos Ruralistas – Observatório do Agronegócio no Brasil lançou neste final de semana uma série de reportagens apontando o envolvimento da família do procurador e coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, em conflitos agrários, desmatamentos, latifúndios, desapropriações, loteamentos ilegais, grilagem e disputas em terras do município Nova Bandeirante, do noroeste do Mato Grosso.

A família Dallagnol começou adquirir terras alí nos anos 1980. O avô do procurador, Sabino Dallagnol, e os filhos, assim como muitos gaúchos e paranaenses, receberam apoio na ditadura militar para comprar grandes extensões de terras em áreas da Amazônia Legal a preços módicos.

O primeiro capítulo da série de reportagens mostra que, em maio deste ano, o Conselho Diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) instaurou um procedimento para investigar irregularidades na desapropriação de imóveis da Fazenda Japuranã, em Nova Bandeirante, situada em região de floresta na Amazônia Legal do estado do Mato Grosso.

Desde meados dos anos 1990 os proprietários da gleba Japuranã aguardavam do governo federal indenização e desmembramento de parte do território onde passaram a viver 425 famílias que, até hoje, lutam pelo reconhecimento formal de permanecer na terra. Finalmente, em dezembro de 2016, no governo Temer, o Incra acertou a desapropriação de pelo menos 37 mil hectares, para fins de reforma agrária, indenizando os antigos proprietários em R$ 41 milhões.

Pelo menos 14 parentes de Deltan Dallagnol, incluindo o pai, Agenor Dallagnol, tios e primos, foram beneficiados com o recebimento de R$ 36,9 milhões. Números que chamaram a atenção do Conselho Diretor do Incra, presidido pelo general João Carlos de Jesus Corrêa que, no dia 10 de maio, definiu em uma resolução o bloqueio dos bens depositados e apontou “indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”.

Ainda segundo o portal De Olho nos Ruralistas, que vinha pesquisando o latifúndio dos Dallagnol desde outubro, um estudo da Unicamp mostra que o clã da família do procurador chegou a ter 400 mil hectares só em Nova Bandeirante, nos anos 1980.

A reportagem diz que o Incra não atendeu aos pedidos de entrevistas, mas teve acesso a resolução de maio abordando as irregularidades. Segundo o general Jesus Corrêa, ainda em 2018, ocorreram manifestações técnicas e pronunciamentos jurídicos sobre as indenizações orientando “pela reanálise dos atos administrativos praticados posteriormente ao ajuizamento das ações de desapropriação”, e suspensão das ações “até que seja realizado o levantamento ocupacional do imóvel e sua interferência no valor de mercado”.

Junto dessas justificativas, o presidente do Incra determinou “tornar insubsistentes [insustentáveis] todos os atos administrativos realizados após o ajuizamento das ações de desapropriação” relacionados à Fazenda Japuranã solicitando, ainda, à Procuradoria Federal Especializada junto ao Incra o peticionamento, em juízo, “pela suspensão de todas as ações de desapropriação dos imóveis Japuranã”, “e o bloqueio do quanto depositado, até que o Incra conclua os levantamentos necessários para fins de apuração do justo preço de cada imóvel”.

Por fim, o documento solicita à Corregedoria Geral do Incra que “instaure os procedimentos cabíveis, considerando a existência de indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”.

Incra pede a suspensão das ações de desapropriação em Japuranã e o bloqueio das indenizações. (Fonte: Diário Oficial da União/Reprodução)

Do montante pago em indenizações, Agenor Dallagnol, pai de Deltan, recebeu R$ 8,8 milhões. Dallagnol pai é procurador de Justiça aposentado do Paraná. O irmão dele, Xavier, advogado dos negócios da família no Mato Grosso, também foi beneficiado, especialmente através dos filhos.

Ninagin Dallagnol, prima de Deltan e filha de Xavier, foi quem recebeu o maior montante: 17 milhões de reais pela desapropriação de suas terras. Ela é advogada assim como o pai. Seu irmão, Belchior, recebeu 9,5 milhões e a mãe dos filhos de Xavier, Maria das Graças Prestes, 1,6 milhão. Totalizando, assim, 36,9 milhões pagos à família Dallagnol.

Nas outras matérias de série “Os Latifúndios dos Dallagnol na Amazônia”, o De olho nos ruralistas aponta ainda que Xavier e o irmão Leonar, também conhecido na cidade como Tenente, foram alvos de um inquérito em Nova Monte Verde, próximo a Nova Bandeirantes, por grilagem de terras. Os irmãos e tios de Deltan foram ainda flagrados por desmatamento irregular.

Outros tios do procurador, como Veneranda, Eduardo Carlos e Eliseu Eduardo também aparecem como sócios de terras da gleba Japuranã. O portal lembra que Eduardo Carlos Dallagnol foi citado em conversas vazadas de Deltan em matéria da Folha de S.Paulo, de 14 de julho, realizada em colaboração com o The Intercept Brasil.

Em 2018, o coordenador da Lava Jato estava em tratativas com outro colega da força-tarefa, Roberson Pozzobon, para montar uma empresa de palestras, quando sugeriu conversarem com seu tio, dono de uma empresa de eventos.

“Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar no networking e visibilidade”, escreveu Deltan Dallagnol. O tio Eduardo Carlos é dono da Polyndia, empresa organizadora de eventos. “Eles [Polyndia] podem oferecer comissão pra aluno da comissão de formatura pelo número de vendas de ingressos que ele fizer”, afirmou o procurador. “Isso alavancaria o negócio. E nós faríamos contatos com os palestrantes pra convidar. Eles cuidariam de preparação e promoção, nós do conteúdo pedagógico e dividiríamos os lucros”.

O De olho nos ruralistas destaca ainda que uma das primas de Deltan, Adriana Vaz Dallagnol, também é sócia da Polyndia e tem igual interesse nas desapropriações na Amazônia.

Clique aqui para ler a reportagem do De Olho nos ruralistas na íntegra. 

Árvore da família Dallagnol. Reprodução: De olho nos ruralistas
Redação

14 Comentários

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  1. Da grilagem de terras a especulações imobiliárias com imóveis do MCMV sem esquecer as empresas de palestras.
    Esse cara é bom!
    Bobear tem uma igrejinha pentescotal para abençoar tanta grana.

    1. Sem dúvida, Carlos Elísio, uma igrejinha é o lavatório perfeito: sem meios de conferir as “ofertas” e sem pagar imposto. Taí o Macedo que se diverte e refestela às custas do povo enganado.

  2. Demais esperarmos que com esta estrutura familiar de vínculos, no mínimo peculiares de negócios latifundiários, pudesse sair alguém com real índole cabível em um paladino da moralidade e da caça aos verdadeiros corruptos. É mais fácil entendermos as imbricações de como é permissível hoje em dia, em sendo de pele branca, família com posses e cargo de respeito social, se apossar da falsa-moralidade, do discurso ético cristão e do fala vazia que a mídia feita para o espectador desprovido de senso crítico (o hommer simpsom do JN) adora ocupar seu espaço. Construir de fato uma nação, é tarefa árdua e diária e mais difícil aos que já se entregaram a ambição de ser mais um que aparece, se parece, mas de fato apenas padece e merece desconfiança. Depois que a pessoa passa pela fase da vida dos idealismos e se entrega ao ganho a qualquer preço, fica sempre mais válida a música feita décadas atrás por Marcos Vale que cantava, o que não é para todos, mas à maioria cabe: “Não confie em ninguém com mais de 30 anos, não confie em ninguém com mais de 30 dinheiros”. Ali pode estar o seu judas a lhe trair.

  3. Bando de idiotas, teleguiados…o duro é ter que amar vcs e ainda desejar que vcs fiquem bem.
    Mas, as consequências vêm de cada ato tá meu amigo, é só esperar. Depois se perguntem pq estou passando por isso ou pq comigo? A grande mídia domina suas mentes cauterizadas.

  4. Puxa vida, que família organizada, unida , que bonito ver isso , enquanto todo mundo está brigando, temos uma familia tão determinada ! A maior parte deles é formada em direito . Veja vc, todos estudiosos, tanto que o pai do Deltan era procurador e o filho seguindo os mesmos passos do pai, chato que o Deltan não tenha também a sua gleba de terra, para contribuir com a reforma agrária .
    É esse rapazinho , com essa família , que quer acabar com a corrupção ? Qual corrupção cara pálida ?

  5. Nenhum membro dessa família pode ocupar cargo público. E se ocupa, deve ser exonerado imediatamente. Usar o estado para enriquecer e, ainda por cima, através de ações questionadas pela Justiça não é certo.

    Certa está a pessoa que diz que os apoiadores do golpe foram enganados e que os golpistas eram a própria cara da corrupção.

    Talvez até se possa acreditar que alguns apoiadores do golpe tinham boas intenções, achavam mesmo que nossa democracia ficaria mais sólida, que haveria menos injustiças e desigualdades e que a corrupção – usar recurso público para o enriquecimento privado – seria combatida. Mas já faz algum tempo que, se continuam apoiando Bolsonaro e a Lava Jato, o fazem sabedores da profunda porcaria que esses dois são.

    – “Você é contra a Lava Jato?”
    – “Sou.”
    – “É contra combater a corrupção?”
    – “Não, sou a favor de acabar com a corrupção. Por isso sou contra manter a Lava Jato.”

  6. A gente fica com dó da família do delanhol, primeiro pelo nome que eles dão aos filhos:
    Deltan, Vilge, Ninagin – tudo nome de remédio: comprimidos , gotas. pomadas e loções.
    Depois, a gente entende a LUTA do delanhol CONTRA A CORRUPÇÃO.
    O coitadinho, desde criança enfrenta a corrupção dentro da família e mesmo orando e jejuando o pobre não foi capaz de combater a corrupção de seus familiares. que tantos benefícios lhe trouxeram.
    Será que ele vai desmentir tudo e dizer que esses parentes são falsos?

  7. Essa família, com sobrenome de remédio para “caganeira”, tem um representante luxuoso na arte da manipulação. Este PowerPoint não é fake como o apresentado showmisticamente, em cores e ao vivo, pelo playboizinho metido a procurador. Esse crápula é que deveria estar trancado a sete chaves por ser um lesa Pátria. Canalhas, ele e seu padrinho.

  8. Nassif: essa deslealdade é que me revolta. Tudo bem que até a entrada do GgoboyAvivado na Promotoria foi ato pirotécnico, com cobertura de “papai”. Mas dai a caça-los como bandidos (que parecem ser) já é outra instórinha. Combinado é combinado. Pensa que foi mole armar todo aquele PowerPoint? Deu o maior sufoco. Outro colegas de trabalho, que foram misteriosamente “silenciados”, nem queriam envolver tanto o SapoBarbudo. Foi ele, com sua diabólica genialidade que fez pé firme e manteve a tramoia andando. Tudo bem que o TogaSuja deu uma enorme mão. Mas ele é quem corria, junto com os sabujos do PríncipeParisiense, pra lá e pra cá, arranjando “provas” onde não havia prova alguma. Isso requer árgúcia. Agora só porque ele (estão deduzindo) passou o serol num ou noutro SemTerra que se arriscou por aquelas bandas vêem agora esses VerdeSauvas, arrependidos com o CapitãoHamburger e atiçados por aquele tal de Green-sei-lá-das-quantas, querer rever o que ficou combinado desde 2002, Sacanage… Pacta sunt servanda!

  9. Um criminoso internacional leva Amazonia como reféns.
    Ambientalistas são presos, florestas continuam sendo destruídas, o controle é perdido. A inteligência militar dos EUA penetra na Amazônia com a ajuda da Polícia Federal e dos promotores que criam a ilusão de cooperação ambiental internacional.
    Por que o criminoso de uniforme, em vez de prisão, se encontra em uma posição que lhe permite matar a natureza, roubar e aprisionar sem julgamento, usar recursos estatais no interesse de uma potência estrangeira?
    Leia a investigação “CST command” com a ajuda do Google-tradutor.
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