Quando o “follow the money” é substituído por delações

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Segundo Marcelo Odebrecht, não adianta nada que a defesa de Lula ou de outros réus tenham acesso aos sistemas Drousys ou MyWebDay, usados para controlar pagamento de propina, porque o “overload” de dados demanda um “empresário” (leia-se delator) para tradução

 

Jornal GGN – O mais novo embate travado entre a defesa de Lula e os procuradores de Curitiba em torno dos sistemas Drousys e MyWebDay, usados para controle de pagamento de propina pela Odebrecht, é o pano de fundo para uma das declarações mais temerárias que um réu colaborador da Lava Jato fez diante do juiz Sergio Moro.

Ao depor em Curitiba, no âmbito do processo em que Lula é acusado de receber um imóvel para o instituto que leva seu nome, entre outras vantagens indevidas, Marcelo Odebrecht praticamente disse que o destino do ex-presidente e de quem quer que seja acusado de receber propina paga pelo tal do “setor de operações estruturadas” está nas mãos dos “empresários” – leia-se, portanto, dos delatores.

O “follow the money” foi substituído por declarações que se provam com mais declarações.

O embate ocorre porque os advogados de Lula querem acessar o Drousys (que servia à comunicação da equipe que operava os pagamentos) e o MyWebDay (de controle financeiro) para provar que o petista não está entre os beneficiários de propina da Odebrecht. Mas a Lava Jato de Curitiba alega que não tem acesso à íntegra dos documentos e, Moro diz, por sua vez, que a palavra dos procuradores “merece fé”.

A defesa insiste porque além dessa ação penal por propina da Odebrecht, o caso do sítio de Atibaia também é abastecido com referências aos dois sistemas de controle.

Em audiência recente com Moro, Marcelo Odebrecht e uma procuradora do Ministério Público Federal explicaram mais sobre Drousys e MyWebDay.

O Drousys só era conhecido pela equipe da Odebrecht coordenada pelo executivo e hoje delator Hilberto Mascarenhas. O sistema era parte hospedado em um servidor na Suíça e, uma outra parte, na Suécia (mais especificamente em Estocolmo).

Quem tem acesso ao material compartilhado pelos países é a Procuradoria Geral da República. A turma de Curitiba diz ter recebido apenas um relatório parcial sobre o material que estava na Suécia. Da Suíça, ainda não conhece nada (nem do Drousys, nem do MyWebDay, que só existe naquele País) porque a PGR ainda está analisando o material.

Além do relatório parcial sobre o Drousys da Suécia, a procuradora de Curitiba diz que usa uma delação de Maria Lucia Tavares, uma das secretárias do setor de operações estruturadas da Odebrecht, para fazer as acusações. Mas reafirma que MyWebDay e Drousys suíços não estão na roda.

Moro tem bloqueado pedidos das defesas dos réus, incluindo Lula, para que a turma de Curitiba seja obrigada a compartilhar a íntegra das informações que possui. O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o petista, já entrou com recurso na segunda instância para reverter esse quadro.

Não que vá adiantar muito, segundo Marcelo Odebrecht.

Na narrativa apresentada pelo delator a Moro, os dois sistemas de controle não passam de um amontoado de números sem um delator para traduzir os dados. 

https://www.youtube.com/watch?v=afenZf1cs2Q]

Em tese, no MyWebDay há registros dos valores pagos, do codinome e da obra ou empresa vinculadas à propina. Pistas que ajudam os investigadores com o “follow the money”. Mas, segundo Marcelo, a Odebrecht não está conseguindo acessar “o todo” do sistema e repassar os dados integrais ao MPF. Conseguiu extrair apenas alguns “extratos impressos” para ajudar em algumas ações.

O Drousys iria ainda mais longe: teria registro de contas bancárias. Mas, na narrativa de Odebrecht, não passam de um amontoado de dados sem um “empresário” (ou seja, delator) para traduzir.

“Esse sistema (Drousys), eu mesmo tive a oportunidade de ver quando da minha colaboração. São páginas e páginas de informação que sem que o empresário que tenha feito o pagamento possa avaliar e filtrar, é difícil. Não adianta nada ninguém receber, nenhuma defesa, nenhuma acusação receber [os dados. É um overload de informações. O que cada um tem que fazer no âmbito de seus processos é filtrar as informações que são relevantes, que foi o que eu procurei fazer nesse processo.”

Hilberto Mascarenhas também havia dito algo na mesma linha, diante de Moro. mas sobre o MyWebDay: “Esse sistema existe, está no mesmo lugar onde sempre esteve, só que bloqueado. E lá tem essas informações de quais pagamentos foram feitos. E se quiser saber pra quem, tem que pegar pelo codinome, olhar que obra era e perguntar ao responsável, pela obra, quem era a pessoa. Eu não sei dizer.”

No documento em que rebate a acusação do sítio de Atibaia, a defesa de Lula sugere que o MPF tem uma agenda oculta para não querer abrir os dados. Considerando que a chamada lista da Odebrecht tem “Santo”, “Mineirinho” e outras dezenas de codinomes investigados, é possível imaginar razões para o segredo de Estado.

Da parte de Lula, a defesa adverte que o “MPF fecha os olhos para o caminho do dinheiro” porque “sabe — e não quer explicitar — que o ex-presidente Lula não tem qualquer relação com o assunto e a denúncia é desprovida de materialidade”.

No final, a banca apontou que se, de fato, o MPF fez acusações com base em um sistema ao qual não teve acesso na íntegra, a denúncia do sítio não poderia ser mais furada.

“Se for verdade que o órgão acusador jamais dispôs do material atinente à contabilidade do Setor de Operações Estruturadas, então esta ação penal deve ser rejeitada por manifesta ausência de justa causa.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Delatar Lula virou carne de vaca

    Se um dia eu for preso dirigindo bêbado aqui em Brasília direi que tenho algo a revelar sobre Lula. Inventarei uma história qualquer sobre como ele recebeu 50 milhões de reais de empresários marcianos que queriam comprar a Lua. E serei solto na mesma hora…

  2. Essa tática diversionista do

    Essa tática diversionista do delator e do juiz tem uma razão muito simples: não há nada que incrimine Lula no conteúdo desses programas. Se houvesse, já estariam hasteadas em todas os mastros de bandeira existentes nesse país.

    E provocando múltiplos orgasmos nas bocas dos bonners da vida.

  3. Nunca levei muito a sério

    Nunca levei muito a sério este lance de intuição, mas em relação ao Pt minha intuição, sofrida porque sádica, nunca errou. Algo me dizia que toda profecia horripilante iria se consumar. Agora veja a agenda golpista nestas alturas dos acontecimentos:

    – No ultimo fim de semana, como estava previsto pelo mais ligados, alguém da tropa de choque dos golpistas faria alguma gracinha na midia amiga contra Lula-pt. então vem do tal dotti, adovogado da lava jato meter aquela contra o Pt;

    – a coisa começa esquentar pro moro com a sua queridíssima com rela~ção a taca duran? Então da-se mais um shou matinal com a olimpíada .

    -jano(jo) na mira? Mete no Pt mais uma denúncia;

    -pastelão da vaza jato no cinema ? reforça a bilheteria com a última do paloci.

    Semana que vem tem depoimento no dia 13 do Lula e do dirceu. Espero estar enganado, mas a minha intuiçao me diz que tudo pode dar certo pro lado dos demoníacos de curitba mais uma vez. Só Deus pode fazer as coisas mudarem de rumo e fazer a minha intuiçção mudar de rota. Rezo por isso todos os dias.

     

  4. Vagabundice não tem limites

    Vagabundice não tem limites mesmo.

    O moro e o odebrecht devem acreditar que todo mundo é otário.

    Se não abrem os programas para a defesa é justamente porque não há nada lá que incrimine o Lula.

    A ditadura fascista está cada dia mais solidificada neste país. E tudo com apoio da justiça(sic) fascista e bandida qe temos.

    E o Geddel, vai continuar solto? 

    Respnde aí judiciariozinho de merda.

  5. Follow the money but protect the head.

    Durante absolutamente todo o tempo que a republica brasileira existiu, exitiu altissima corrupção. E da nossa natureza sermos corruptos como brasileiros, culpa da colonizaçao etc. E uma coisa tão certa quanto isto é que todos os corruptos sempre protegeram a “cabeça”. O que é “cabeça”? Cabeça é aquela pessoa que tem o maior nivel de controle, geralmente alquem eleito, no governo. Por que? Porque se você for preso ou pego pela policia/justiça a “cabeça” te protegeria por razões obvias. Por isso desde os primordios da republica nenhum N E N H U M presidente perdeu o mandato por açao juridica por crime. Collor e Dilma perderam o mandato por açao  politica do congresso. Provavelmente existe uma empresa internacional que ajudou(a) ex-presidentes (cabeças) protegidos, mantendo os caminhos que levam o dinheiro até as maos deles inacessivel para a policia/judiciario. Uma SMERSH da vida real para governos de esquerda e uma SPECTRE para govenos de direita. Não ria, é serio! Ou voce acha que estes zé-ruelas tupniquins aprenderam a eficientemente traficar propina no exterior sozinhos? Nós – Brasil – nunca – conseguimos ganhar um Nobel mas somos capazes de rolar bilhoes de dolares no exterior por nosso proprio merito? DUVIDOOOO! Assim sendo, não existe, desde o inicio da republica, nenhum canhoto de pagamento de propina com o nome de nenhum presidente brasileiro nos ultimos 100 anos! Para o sistema funcionar é preciso proteger a cabeça!

  6. Follow the money…

    Na gravação de Joesley, Temer o orienta a não tratar mais certos assuntos com Geddel. Para tais assuntos, deveria recorrer a Rocha Loures.

     

    Depois disso, Rocha Loures é flagrado com uma mala. 

     

    Depois ainda, a PF descobre R$ 51 milhões num apartamento “emprestado” a Geddel.

     

    Dinheiro que, naturalmente, não foi possível a Geddel movimentar após a denúncia do ex-ministro Calero.

     

    Dinheiro a  que Geddel já não dera destino antes, o que permite supor que não fosse (ao menos todo) seu.

     

    Restabelecendo a cronologia: Geddel era receptador de milhões de reais. Em certo momento, é substituído na função por Loures.

    De quem era o dinheiro? Temerário arriscar…

  7. Imagine…

    … que alguem invente uma nova linguagem ou seja o único que  deenha o sentido do signos colocados no lugar das coisas, como se fossem as proprias coisas, para comunicar, referencialmente funcionar. 

    Não ha como saber o que denota ou conota sem um tradutor. Mas o tradutor, no caso,  é o que que cria e estabelece arbitrariamente os sentidos, segundo sua vontade. 

    Quando escolhe aderir a uma linguagem cifrada ou criptografada o que diz? Nao quero partilhar informação. Quero absoluto controle e poder sobre o que vai codificado. E que isso prova? Que a linguagem para se constitui materialmenete necessita ser compartilhada e ter lastro concreto. É da natureza do signo a comunhao. Se não é comum não chega a ser signo  – alem do individuo – porque não comunica. É ruído, exolica a cibernetica, ante informacão  totalmenete nova.

    Claro que um  indicio pode ser tomado como ser signo, mas desde que exista efetivamente uma comexao fisica entre o sinal  e aquilo que indica. Semiologia básica.

    No caso de alguém querer apreender uma nova  lingua, só o fara aceitando religiosamente e com fé a significacão arbitraria dada ao significante.  Nesta direção, se 

    ” na narrativa apresentada pelo delator a Moro, os dois sistemas de controle não passam de um amontoado de números sem um delator para traduzir os dados”
    o que “odebrês” poderá dizer sobbre  o que o “morolês” quer saber?

    – O que significa Mineirinho?

    – Lula.

    – Mas Lula é de Pernambuco.

    – Mineirinho é criptografia  para despistar.

    – Como assim?

    – Estou traduzindo o que me pediu.

     

    Follow the money… Traducão: não vem ao caso.

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