Suspeitas de dossiê de Cabral partiram por acessos a sistema restrito

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Atualizado com informações da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (SESEG): “A Gestão Administrativa do Portal da Segurança adota um rígido controle”
 
 
Jornal GGN – A força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro investiga se o ex-governador Sérgio Cabral estaria criando dossiês contra o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos contra o político. Desde que foi alvo das investigações, pessoas suspeitas invadiram o sistema interno da Segurança Pública do Rio de Janeiro, supostamente a mando de Cabral e três delegacias foram consultadas sobre registros de ocorrência envolvendo o juiz e sua família.
 
A notícia de que a Polícia Federal abriu uma auditoria secreta que suspeita que o ex-governador teria ainda criado um fundo milionário para financiar uma devassa na vida do juiz que o acusa foi divulgada pela RJTV, da Rede Globo. A polêmica estava no fato de que uma simples consulta e apuração particular do réu contra seus acusadores virasse uma nova frente de coação da Lava Jato.
 
Entretanto, o GGN apurou que o serviço interno online da Secretaria de Estado de Segurança (SESEG) do Rio de Janeiro é um sistema fechado e restrito, com acessos possíveis somente a funcionários e aqueles que têm registro ou permissão [imagem abaixo], o que não é o caso do ex-governador e, portanto, motivou as suspeitas dos investigadores.
 
 
Ao GGN, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro explicou que o sistema conta com alta proteção de dados: “O Portal da Segurança do Estado do Rio de Janeiro é um banco de dados integrado que foi criado em 2009 para permitir, com efetivo nível de segurança, o acesso simultâneo às diferentes bases de dados de órgãos que a ele forem integrados mediante a celebração de Termo de Cooperação, sempre com a finalidade de conferir maior efetividade às atividades de segurança pública”.
 
Um documento da Secretaria, enviado à Polícia Federal e divulgado pela Rede Globo, comprova que foram realizadas consultas no sistema da Secretaria sobre o nome do juiz Marcelo Bretas. 
 
Desde que abriu a apuração, que tramita em sigilo e, por isso, não pode ser confirmada pela PF, a força-tarefa da Lava Jato no Rio também já identificou os nomes dos funcionários que tiveram acessos às consultas e teriam sido usados por Sérgio Cabral para levantar as informações. Um deles é um funcionário lotado na 22ª Delegacia de Polícia de Penha. 
 
O subsecretário de Inteligência da SESEG, Fábio Galvão, encaminhou o ofício em resposta a um questionamento da força-tarefa, que pediu uma auditoria ainda no mês de abril sobre todas essas consultas feitas no sistema interno aos nomes do juiz e de seus familiares. A Secretaria também esclareceu ao jornal que a resposta já havia sido enviada naquele mês à Polícia, mas que, recentemente, o que houve foi um envio de uma atualização da auditoria, ou seja, uma nova resposta.
 

Foto: Reprodução TV Globo
 
Outra informação levantada pela Secretaria de Segurança e divulgada pela imprensa é que no dia 26 de setembro, seis dias depois que o ex-governador já tinha recebido a sentença na Operação Calicute, houve 8 consultas para acessar registros de ocorrência sobre o juiz Marcelo Bretas e sua esposa, Simone Diniz Bretas, que também é juiza. 
 
No portal Delegacia Online da Polícia Civil, onde é feito esse tipo de consulta, verifica-se que o interessado precisa saber o número do registro de ocorrência, não sendo possível, por exemplo, fazer a busca pelo nome do envolvido. Além disso, pede-se uma contrassenha de um registro já realizado. Por isso, somente pode ter acesso ao documento um funcionário da polícia ou a própria parte envolvida na ocorrência.
 
 
“A Gestão Administrativa do Portal da Segurança adota um rígido controle de incorporação de órgãos e cadastro dos usuários, os quais, para terem acesso ao banco de dados, devem pertencer aos órgãos partícipes do Portal. Somente pessoas autorizadas pelos órgãos integrantes do portal podem acessar o banco de dados”, explicou a SESEG ao jornal. O GGN testou recuperar uma senha para verificar a impossibilidade de fazer a consulta sem o pré-registro:
 
 
Por fim, além dos acessos online na Segurança Pública, os repórteres da RJTV também identificaram que houve consultas suspeitas a registros de ocorrência em três delegacias: 22ª DP (Penha), 35ª DP (Campo Grande) e 105ª DP (Petrópolis). Todos os acessos foram feitos depois que o governador já tinha sido preso, em novembro do ano passado. A Polícia teria também os nomes dos funcionários que foram usados para fazer essas buscas.
 
As suspeitas de que o ex-governador estaria levantando as informações de forma ilegal teriam partido, ainda segundo a reportagem da Globo, dentro da própria prisão em Benfica, na zona norte do Rio, onde Sérgio Cabral está preso. Desde então, os investigadores iniciaram a apuração em sigilo. 
 
Durante um interrogatório relacionado a ação penal em que Cabral é acusado por desvios na área da saúde, nesta quarta-feira (08), o ex-governador aproveitou para pedir desculpas a Marcelo Bretas por, em audiência anterior, ter mencionado a família do magistrado acusando-o de usar os processos da Lava Jato para se promover:
 
“Me exaltei e peço desculpas naquela discussão”. Mas, assim como já havia manifestado antes, voltou a negar que estaria criando um dossiê contra o juiz, seus familiares ou os investigadores da Operação Lava Jato no Rio: “Jamais faria isso. Acredite na minha índole. É um factoide, um terrorismo feito por alguém maldosamente”, disse.
 
Também em nota, a defesa do ex-governador disse que se tratava de uma “mentira”, com “claro propósito de criar intriga entre o ex-governador e o magistrado, certamente como forma de incitá-lo a determinar nova transferência para um presídio federal”, afirmou o advogado de Cabral.
 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Fazer dossiês é crime?

    De acordo com a CF, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

    Ora, se não é crime fazer dossiês, qual o probblema com o suposto dossiê do Cabral contra o Bretas?

    A vida do Bretas é um livro aberto, mas codificado.

    Ontem tem fumaça de mau direito, deve ter no mínimo uma centelha.

  2. Tudo muito estranho com o juiz da Bíblia

    Estanha, muito estranha toda essa mobilização da PF para investigar a elaboração de um suposto dossiê contra o juiz Marcelo Bretas.

    Como também foi muito estranha e desproporcional a violenta reação do juiz Marcelo Bretas por ter sua família citada por Cabral. A citação de Cabral foi num contexto pertinente (jóias e seus valores), e a informação fora dada pelo próprio juiz em entrevista ao Estadão. O juiz Bretas pretendia isolar Cabral num presidio federal em Mato Grosso !!!

    Bretas é o mesmo juiz que condenou o Almirante Othon a 43 anos de prisão por uma corrupção de R$ 3 milhões, que nunca ficou comprovada.

  3. O país à deriva e um juiz

    O país à deriva e um juiz cheio de poder mobilizando pessoal e dinheiro público por um desacato que levou para o lado pessoal. É a hora de perguntar a ele: Sois Rei?

  4. cada vez mais forte…

    a impressão de que na lava jato certos réus são tratados como oponentes…………………………

    como na política, lutas e nos jogos

  5. Diversionismo, nazifascismo e caça às bruxas

    Não tenho a mínima simpatia pelo ex-governador Sérgio Cabrl lFilho, que durante seus dois mandatos como chefe do executivo fluminense e como deputado federal e senador sempre foi bajulado pela mídia que agora o lincha e esquarteja, já que não pode render milionária, quiçá bilhardária, verba publicitária sos veículos do PIG/PPV.

    Como ex-governador, é claro que Sérgio Cabral Filho continua tendo a simpatia de pessoas que trabalham no serviço público, inclusive nas polícias e mesmo em instituições do sistema judiciário. As informações que Sérgio Cabrall usou para confrontar o juiz fundamentalista que o acusa e sentencia, marcelo bretas, sobre a família bretas ser proprietária de lojas de bijuterias e jóias na região da Saara, centro do Rio, eram públicas e constam de uma entrevista laudatório-bajulatória concedida pelo juiz de piso da 7a VJF do RJ ao jornal falido e usado como porta-voz dos vazamentos da ORCRIM lavajateira, OESP.

    Essa “reportagem” do RJTV, construindo um enredo em que Sérgio Cabral é colocado como sendo o mentor de uma “devassa” sobre a família do “juiz” marcelo bretas, se encaixa muito bem na trama novelesca em que foram transformadas as operações midiático-policiais-judiciais, de que ORCRIM lavajateira é exemplo máximo. O próximo passo devem ser coações, chantagens e ameaças  e torturas aos servidores que acessaram informações sobre a família bretas, talvez apelando para prisões preventivas e ameaças a familiares desses servidores, para que eles “delatem” Sérgio Cabral Filho como chefe de mais um esquema criminoso.

    A pergunta que a Globo não fez e que o GGN deve fazer é a seguinte: por que a família desse ‘juiz”, marcelo bretas, tanto teme que essas informações constantes dos bancos de dados da SSP do RJ se tornem públicas ou acessíveis à família e à defesa do ex-governador Sérgio Cabral Filho? Se a família bretas não cometeu ilícitos ou crimes, por que esse temor de que um réu obtenha informações sobre seus membros? Há muitos caroços nesse angu. Que tal os blogs e portais independentes entrarem nesse circuito e apurarem as atividades e ações da família bretas? Sozinho, enfrentanto pesos pesados da PF, sofrendo perseguições e processos judicias, o Jornalista Marcelo Auler desmascarou e desnudou a SR-DPF/PR, transformando em cadáver pútrido e malcheiroso o núcleo curitibano da ORCRIM lavajateira, sobretudo os DPFs que integraram a chamda ‘força-tarefa’ da ORCRIM.

    Pelo que se percebe, marcelo bretas e  os que o apóiam são uma versão piorada de sérgio moro et caterva. Essa é mais uma razão para que o jornalismo independente entre de sola para desmascarar esse fundamentalista e falso moralista, que também foi doutrinado nos EUA. Um bom começo é saber os meandros que levaram marcelo bretas à 7a VJF do RJ e por que, mesmo antes de tal designação, ele fez visitas e cursos aos/nos EUA, como sérgio moro e outros lavajateiros do MPF e do PJ. marcelo bretas já sabia que os casos do braço fluminense da ORCRIM lavajateira seriam dirigidos à 7a VJF-RJ? Quem o informou sobre isso? Se a pena para homicídio simples é de 6 anos e para homicídio qualificado de 12 anos, quais as justificativas e fundamentos legais para marcelo bretas condenar a 43 (QUARENTA E TRÊS) anos de prisão o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, Engenheiro e Cientista Nuclear responsável pelo Programa Nuclear Brasileiro e responsável pelo desenvolvimento da ulltra-centrífugas para enriquecimento de urânio, tecnologia que só Brasil domina? De onde partiram as ordens para bretas condenar Othon à prsão perpétua? Quem são os verdadeiros chefes a quem marcelo bretas serve e presta contas? Quais as ligações entre marcelo bretas, o DoJ, o DHS, o FBI, a NSA, a NRO e CIA, por exemplo?

    Há muito o que apurar e mostrar sobre esse sub-moro fluminense. Do relato acima pode-se estabelecer um roteiro de trabalho; a tese a ser demonstrada é simples e muitíssimo verossímil; as pistas são quentes; fazendo a apuração e investigação jornalísticas podem ser reunidas as provas capazes de confirmar a tese.

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