Temer conta com ajuda da imprensa para autodefesa na cassação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Após a divulgação da imprensa de que Marcelo Odebrecht, o ex-presidente da empreiteira, não confirmou que Michel Temer pediu o repasse dos R$ 10 milhões diretamente a ele, no encontro no Palácio do Jaburu, em 2014, os advogados do atual presidente irão atuar na tese de que o peemedebista não pediu dinheiro e não participou de negociações para doações da campanha daquele ano, ainda que sendo presidente do PMDB.
 
A estratégia definida pelos advogados de Temer foi consolidada após as notícias da imprensa de que, entre os conteúdos do depoimento de Marcelo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na última semana. A delação está em sigilo e, por isso, não foi divulgada na íntegra ou oficialmente.
 
Entretanto, os meios de comunicações, por meio de fontes presentes na audiência, sejam através de advogados ou dos próprios investigadores, entre procuradores da República e juízes auxiliares do TSE, informaram que o ex-presidente da Odebrecht isentou o atual presidente do pedido de R$ 10 milhões ao partido.
 
Por outro lado, Marcelo teria confirmado o jantar promovido pelo então vice-presidente no Palácio do Jaburu, em 2014, para os repasses e, ainda, incriminou Eliseu Padilha, ministro licenciado da Casa Civil no atual governo peemedebista, que segundo ele foi quem solicitou os repases.
 
Enquanto isso, o ministro mantém-se afastado do governo, estendendo por mais uma semana a sua licença médica, após uma cirurgia de próstata, em meio ao ápice das acusações que incidem sobre ele. 
 
Até o momento, Eliseu Padilha foi o diretamente afetado pelas acusações de Marcelo, segundo o que os jornais divulgaram. Ao ser questionado se Michel Temer foi quem pediu o dinheiro no tal encontro, um jantar organizado pelo peemedebista, Odebrecht disse apenas que “não se lembra de Temer ter solicitado R$ 10 milhões” diretamente a ele.
 
A partir da menos gravosa das revelações contra Temer, de acordo com o que foi divulgado pelos diários, a estratégia de Temer em sua defesa no TSE, na ação que pode encurtar o seu mandato, tem sido a de prolongar, o máximo possível, a conclusão das investigações e do processo. Para isso, a defesa do presidente pretende recorrer a novos pedidos de apuração, diligências, mais testemunhas e recursos.
 
Mas nesta análise de como ver sua imagem menos afetada pela ação do Tribunal, Temer se apoiará na parcialidade das divulgações da imprensa para sustentar que, na verdade, se o PMDB contou com dinheiro de caixa dois para financiar a campanha eleitoral daquele ano, Temer não sabia e não participou das negociatas.
 
A tentativa, por mais que sustentada previamente por jornais, poderá cair por água abaixo. Isso porque ainda para esta semana estão previstas outras audiências com delatores. O ministro do TSE, relator da ação que pode cassar a chapa Dilma Russeff e Michel Temer, Herman Benjamin, ouvirá o ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, Claudio Melo Filho, e o ex-funcionário da Odebrecht, Alexandrino de Salles Ramos, ainda nesta segunda-feira (06).
 
Até o momento, sabe-se que Cláudio Melo Filho narrou as negociações com Padilha, intermediando as decisões de Michel Temer para o caixa da campanha eleitoral de 2014, enquanto ainda vice-presidente da República.
 
Ao mesmo tempo, o presidente busca formas de separar a acusação que recai contra ele da então vitoriosa candidata à presidente Dilma Rousseff. A opção também buscou verificar o viés defendido e levantado pelos jornais, na última semana, de tentativa de isolar as responsabilidades pela criminalização dos recursos de campanha apenas contra o PT e Dilma.
 
A intenção já desenhada no ano passado voltou a tomar força, imediatamente após os jornais e, consecutivamente, opinião pública, deixarem claro o caminho da separação de responsabilidades. Assim, o Planalto enxerga as únicas maneiras de salvar o presidente de uma cassação, diante da derrocada que as delações Odebrecht podem provocar, com a separação de responsabilidades, a tese de que Temer não participou de negociações, o prolongamento da investigação e, por fim, com a ajuda dos meios de comunicação para validar todas as tentativas anteriores.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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    1. França e Alemanha continuaram lado a lado na 2ª Grande Guerra

      Estar ao lado não diz muito. Muitos países vizinhos são inimigos ferozes. A Índia e o Paquistão, por exemplo.

  1. Ao fazer isso a Imprensa trabalha em favor do Brasil

    Conforme afirmou a Eliane Cantanhede, na ‘propaganda’ do Temer no Roda Viva, ‘o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil’.

    Os nossos jornalistas são nacionalistas, exceto, é claro, o Willian Waack, né?

  2. Certo, quem convocou o jantar

    Certo, quem convocou o jantar com o Marcelo foi o Temer, na residência oficial dele. A grana foi negociada com o Padilha, amigo de anos e seu articulador político.

    Mas como não foi ele que pediu: “E aí Marcelo, solta aí a mufunfa, 10 milhões está de bom tamanho”. Talvez na hora que Padilha ele sim, o corrupto, pediu, ele tenha ido ao lavabo. Então MT não tem anda a ver com isso, e a culpada é a Dilma, que nem estava lá.

    A imprensa vai sustentar essa versão? Ok, que afunde sua “credibilidade” ainda mais

    1. Temer não pecou por ação. Teria pecado por omissão?

      “Quando presidente do PMDB, Michel Temer pediu auxílio formal e oficial à Construtora Norberto Odebrecht. Não autorizou, nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral. A Odebrecht doou R$ 11,3 milhões ao PMDB em 2014. Tudo declarado na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. É essa a única e exclusiva participação do presidente no episódio.

      Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República”

       

      Não pediu nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral. Mas também não determinou que tudo fosse feito com amparo nas antecitadas regras.

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