Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
[email protected]

Terrorismo no Brasil com verbo no condicional, por Armando Coelho Neto

Terrorismo no Brasil com verbo no condicional

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Durante muito tempo assunto terrorismo foi quase tabu no Brasil. As cenas mais familiares já vistas estiveram resumidas aos dias de trevas com a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC), um grupo criminoso que convive “pacificamente” com o estado São Paulo. Durante suas ações, o grupo tinha objetivo certo: antes de incendiar os ônibus, seus membros davam ordem para que os passageiros descessem. Afinal, o alvo eram as autoridades paulistas, não o povo. Leia-se, nossos terroristas são bonzinhos.

Ironias à parte, não sei bem se isso pode ser chamado de terrorismo no sentido exato, se é que faz sentido buscar sentido para isso. Mas, as imagens do terror marcadas na memória do paulistano eram aquelas imagens. O bastante, porém, para a cultura do medo. Aliás, eixo da atividade terrorista.

Se para o brasileiro o terror era ou foi aquilo, no resto do mundo a face sempre foi mais assustadora. As imagens das torres gêmeas, do metrô espanhol ou da matança numa discoteca na França são bem mais marcantes. Sorte nossa, que não vivemos soltando bombas no quintal de ninguém e vivemos de braços abertos para os migrantes. Pelo menos até antes do golpe. Mas não faltam rumores de que grupos terroristas tenham braços no território nacional.

Salvo engano, a ultima vez que se tocou no assunto no Brasil, foi quando a libanesa Rana Abdel Rahim Kole suspeita de ter dado um golpe bancário de US$ 1,2 bilhão no Líbano, figurou como suspeita de envolvimento com o assassinato do premiê libanês Rafik Hariri, em 2005. Outros informes chegaram a dar conta de que possíveis ligações com o serviço secreto da Síria. Sem provas ou pedido de prisão, acabou indo para a cadeia mesmo por um suposto e controvertido oferecimento de US$ 200 mil a Policiais Civis, em troca sabe-se lá de que.

Tão logo tomaram conhecimento da prisão, autoridades do Departamento de Estado Americano se apressaram em emitir alerta sobre risco de atentado terrorista no Rio de Janeiro ou São Paulo, por parte de células de terrorismo supostamente baseadas em Foz do Iguaçu/PR. Segundo a lenda, traficantes de droga estariam apoiando a pretensa ação.

A mesma lenda dizia que os ditos terroristas tinham apoio de traficantes de drogas. Por conta das notícias, os Comandos Militares do Leste e do Sudeste teriam sido acionados, o caso saiu das mãos da Polícia Civil e entrou em ação o escritório regional Interpol/SP, não mais sob nossa chefia. Mas, a análise feita mostrava que tudo relacionado a tal Rana, mais parecia as atuais delações premiadas, com os verbos no condicional ou com o “crime do ia”, sobre o qual escrevemos nessa página.

Diante das notícias veiculadas pelo Departamento de Estado Americano, o então Santer, grupo da Polícia Federal ligado ao mapeamento do assunto, veio a São Paulo investigar e ou acompanhar as investigações. Mas, enquanto americanos e brasileiros se movimentavam, para a comunidade árabe paulista, entre risos, dizia que Rana não passaria de uma “laranja”.

Um certo Carlos Costa, ex-Chefe do FBI no Brasil, antes de brigar com o Tio Sam, chegou a dizer na PF: “No Brasil não existe uma cultura de combate ao terrorismo e vocês poderão se arrepender dessa postura no futuro, da mesma forma como tiveram que se arrepender de não haver dado um tratamento adequado ao problema da droga no passado”. O serviço secreto americano chegou a condenar a lei brasileira de extradição de brasileiros, pelo fato de não entregar estrangeiros quando a pena aplicável no país solicitante pode ser a morte.

Paranoia americana ou não, sobraram informes sobre células de terror na tríplice fronteira, expressas referências aos grupos Hezbollah, que já contaria com quase 200 integrantes no País, sem prejuízo dos “brotos” de uma plantinha chamada Hamas. Era como se o Tio Sam quisesse ou queira, a qualquer preço, que o Brasil entre nessa guerra, em que pese, até pouco tempo, Brasil, Argentina e Paraguai atestam não terem detectado indicadores na tríplice fronteira de células terroristas ou mesmo financiamento.

Para nossa surpresa, depois do terrorismo com o verbo no condicional, a expressão mais pitoresca veio mesmo do pretenso Ministro da Justiça: “terrorismo amador”. Não sei a razão, mas isso me lembrou os exércitos cubano e vermelho, que até agora não chegaram para nos livrar do golpe de estado em curso.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Bem explicado, resta, na

    Bem explicado, resta, na “estória”, apenas o impensável: estariam certas autoridades armando um “primeiro de maio” para induzir os basbaques e os golpistas de sempre a criar comoção em favor do “trancamento geral”? Não resta qualquer outra hipótese para factóide tão sem pé e cabeça, a começar pelo “ministreco” e se acabar no “criador de galinhas”. Olho vivo!

  2. Eles não desistem. São os mensageiros do caos.

    A minha visão é a mesma:  “a polícia do mundo” quer impor a qualquer preço a tal cultura do terror no Brasil. E essa tentativa vem de longe. Na terra deles deles o terror foi cultivado para servir de instrumento para garantir objetivos de agenda além de servir como mais um mecanismo de controle para manipulaçao das masssas. Seria saudável ao mundo que eles parassem de querer controlar as nações e as pessoas ou, então, pedir: deixem-nos resolver os nossos problemas em paz. Parem de interferir!

    1. depende

      depende de qual “entidade” determina o “perfil do aprovado”, will.

      há um bom tempo, concurso público, principalmente para a magistratura e mp, não passam de decoreba de macetes.

      o resultado ficou nesse monte de merdas aprovados.

  3. Carlos Costa, sempre voltamos a ele (e aos EUA)

    Um certo Carlos Costa, ex-Chefe do FBI no Brasil, antes de brigar com o Tio Sam, chegou a dizer na PF: “No Brasil não existe uma cultura de combate ao terrorismo e vocês poderão se arrepender dessa postura no futuro, da mesma forma como tiveram que se arrepender de não haver dado um tratamento adequado ao problema da droga no passado”

    (Correio Forense, 14.04.2004)

    Ministro terá que explicar acusações de ex-chefe do FBI

    Policiais Federais do Brasil “sentem-se inferiorizados e desmoralizados devido à dependência de verbas” do governo dos Estados Unidos. A afirmação é de Carlos Alberto Costa, que chefiou o FBI no Brasil. Ele prestou depoimento nesta terça-feira (13/4) no Senado.

    Revista “Carta Capital”, Edição 283 de 24 de março de 2004

    Fiel transcrição:

    Carlos Costa, que chefiou o FBI no Brasil por quatro anos, fala sobre ordens dos Estados Unidos para “monitorar” o País e relata: como os EUA “compraram a Polícia Federal”

    Revista Carta Capital nº 185

    RELAÇÕES CARNAIS
    Documentos mostram, e provam, como os EUA, muito além dos acordos, financiam a polícia brasileira. Por Bob Fernandes, de Brasília

    Isto É de 21/11/02

    A CIA continua no Brasil
    Documentos obtidos por ISTOÉ provam que a agência de espionagem atua clandestinamente no Brasil.

  4. Eles não desistem. São os mensageiros do caos.

    A minha visão é a mesma:  “a polícia do mundo” quer impor a qualquer preço a tal cultura do terror no Brasil. E essa tentativa vem de longe. Na terra deles deles o terror foi cultivado para servir de instrumento para garantir objetivos de agenda além de servir como mais um mecanismo de controle para manipulaçao das masssas. Seria saudável ao mundo que eles parassem de querer controlar as nações e as pessoas ou, então, pedir: deixem-nos resolver os nossos problemas em paz. Parem de interferir!

  5. Por que temos essa Lei Antiterrorismo?

    Por Dilma não a ter vetado. Pelo contrário. Gente do PT brigou pela Lei Antiterrorismo. Nunca entendi o porquê.

    Por quais cargas d’água o governo do PT sanciona uma Lei Antiterrorismo que, claramente, cedo ou tarde, será utilizada contra movimentos sociais de cunho esquerdista – MST, sobretudo? Viram a palhaçada de Alexandre de Moraes falando no JN, ontem, sobre os terroristas criadores de galinha que a PF prendeu? Pois é. Amanhã serão sindicalistas, ativistas sociais etc. Parabéns ao PT por ter criado, aprovado e brigado por essa Lei Antiterrorismo…

    O fato é que, graças a essa lei, Alexandre de Moraes e sua PF poderão prender quem quiserem – inclusive a oposição política.

  6. As dclarações do ministro da

    As dclarações do ministro da justiça e de Jugman tem causado um bombardeio por parte de quase toda a imprensa. Até no jornal da cultura de ontem vi dois comentaristas procupados com os pronunciamentos desses ministros, ao ponto de quase chamarem-nos de abestalhados. Todos os comentários seguem a mesma linha. Se as autoridades, ao prenderem pessoas como terroristas, como podem declarar à imprensa dizerem que não viram nelas vículo com o EI, ou que entendem tratarem-se de amadores. Se são isso, então pra que prendê-lo?, são perguntas desse tipo. Um dos comentaristas da Cultura chega a dizer que tudo que vem dos políticos exige reflexão, porque são uma categoria dada a aparecer, etc.

    O problema é que parece que estão brincando de guerra como se fossem crianças.

    Se custou esforços de parte das polícias e bombeiros para desarmar bombas falsas, que se investigasse a fundo esses três acontecimentos primeiramente para saber de onde partiram mochila, mala e um tijolo, em pontos diferentes do Rio para se chegar a alguma conclusão. O assunto parece ter morrido. Na sequência, surge uma notícia de que o EI divulgara um manual incitando terroristas do Brasil a tomarem medidas como improvisar falsas bombas, penetrarem nos estádios e metrôs durante os jogos,etc.

    Que país sério vai tomar atidudes contra terrorismo senão debaixo de grande sigilo? Ontem em Munique as autoridades naõs e cansaram de pedir que apopulação evitasse divulgar qualquer coisa na Internet, sobretudo para não expor os pontos onde se encontravam os policiais. 

    Temer, abestalhado como sempre, saiu-se bem antes com um discurso de que tudo vai bem e que a gente deve acreditar na segurança. Um imbecil, que quando abre a boca é pra dizer o que não interessa. Fica sempre desacreditado.

    Eu diria que para que um lobo solitário acabe com a festa em qualquer lugar, não será onde o povo espera, mas exatamente onde não espera é que ele vai atacar. Foi o que aconteceu em Nice, após a França ter passado parte do dia comemorando a Queda da Bastilha em Paris. 

    E tem razão os seguidores do Islamismo no Brasil em achar que essas posições do governo estão sendo muito radicais e podem mostrar ao mundo que está havendo imprecisão e até injustiça com as prisões dos ditos terroristas.

  7. Avisos não faltaram…

    ONU critica aprovação do projeto da Lei Antiterrorismo pelo Congresso (LINK)

    A ONU (Organização das Nações Unidas) criticou, nesta sexta-feira (26), a aprovação do projeto da Lei Antiterrorismo pelo Congresso brasileiro.

    Em nota, o Escritório para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou que o projeto inclui definições “demasiado vagas e imprecisas, o que não é compatível com a perspectiva das normas internacionais de direitos humanos”.

    “Essas ambiguidades podem dar lugar a uma margem muito ampla de discricionariedade na hora de aplicar a lei, o que pode causar arbitrariedades e um mau uso das figuras penais que ela contempla.”

    O projeto foi aprovado na quarta (24), após apelo do Planalto e em meio à ameaça de organismos internacionais de aplicar sanções ao país por conta da proximidade da Olimpíada do Rio de Janeiro.

    O texto, que tipifica o crime de terrorismo no Brasil, com penas de 12 a 30 anos, precisa de sanção da presidente Dilma Rousseff (PT) para começar a valer.

    O projeto define terrorismo como a prática, por uma ou mais pessoas, de atos de sabotagem, violência ou potencialmente violentos “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”.

    Para o Alto Comissariado da ONU, os dispositivos do projeto não garantem que a lei não seja usada contra manifestantes e defensores de direitos humanos.

    “A estratégia mundial contra o terrorismo deve ter como pedra angular a proteção dos direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”, conclui o texto da organização.

    EXTREMISMO POLÍTICO

    Para evitar que as manifestações políticas de rua fossem enquadradas, deputados excluíram o “extremismo político” como caracterização do terrorismo.

    Além disso, a Câmara também retomou, por pressão de partidos de esquerda, um artigo que deixa clara a exclusão dos movimentos sociais e políticos do escopo da nova lei.

    Para a Anistia Internacional, a ressalva que visa proteger movimentos sociais, sindicatos e manifestações “não é garantia de que a Lei Antiterrorismo não será usada contra esses grupos”.

    “Na atual conjuntura brasileira em que leis totalmente inadequadas ao contexto de protestos foram usadas na tentativa de criminalizar manifestantes em protestos desde 2013, é muito grave a aprovação de um projeto de lei ‘antiterror’ que poderá aprofundar ainda mais o contexto de criminalização do protesto em geral”, disse a Anistia, em nota.

    A entidade pede o veto integral de Dilma ao projeto.

    O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) também repudiou a aprovação da Lei Antiterrorismo no Congresso.

    “Ao invés de enviar projetos de lei que reforcem a escalada conservadora legislativa, o governo poderia começar por retirar do ordenamento jurídico entulhos autoritários como a Lei de Segurança Nacional que, vez ou outra, serve para criminalizar legítimas lutas sociais”, afirmou a MST, em nota.

    Greenpeacea ONG Conectas e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) também se manifestaram contra a lei.

  8. GOVERNO FASCISTA

    Esse governo espúreo, encravado no Palácio do Planalto, quer se fazer valer com ações terroristas e midiáticas para cima da população ignorante desse país.

    Provocar medo é colocar de joelhos a maioria dos desavisados habitantes dessa nação. Nossa nação não tem religião formal – é laica, de acordo com a constituição. Assim, é livre a prática de qualquer religião ou seita. Católico ou maçon pode. Muçulmano não?

    Quem está dormindo em berço esplêndido que acorde já, sob pena de não acordar no dia seguinte. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador