TSE não pode aceitar “sandice” da delação da Odebrecht em julgamento, diz Dilma

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Reprodução: Folha
 
Jornal GGN – A ex-presidente Dilma Rousseff defendeu, de maneira enérgica, que a delação da Odebrecht não deveria ser aceita como prova no julgamento da ação de cassação de mandato, no Tribunal Superior Eleitoral, porque delações – principalmente as obtidas sob “coação” – não provam nada.
 
Dilma disse que tem a “impressão de que o senhor Marcelo Odebrecht, para que sua delação fosse aceita, tinha de falar coisas ilícitas da minha campanha e inventou essa ficção.”
 
Com base no depoimentos de executivos da Odebrecht, o Ministério Público Eleitoral apontou que a campanha de Dilma e Michel Temer fizeram uso de R$ 112 milhões via caixa 2. Cerca de R$ 25 milhões foram pagos a João Santana, outros R$ 20 milhões serviram para “comprar o apoio” de partidos que fizeram parte da coligação. Mais R$ 50 milhões teriam sido pagos pela Odebrecht em 2009, via caixa 2 ao PT, e Marcelo diz que o recurso virou “crédito” para a campanha de 2014. Ele ainda diz que R$ 17 milhões doados pelo Grupo Petrópolis foram reembolsados no exterior pela Odebrecht (caixa 3).

 
Para Dilma, Marcelo Odebrecht fez uma delação no sentido de incriminar a campanha de alguma forma porque sofreu “muitos tipos de pressão”. “Por isso, não venham com delaçãozinha de uma pessoa que foi submetida a uma variante de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação.”
 
Porém, a ex-presidente admitiu que pode ter sido avisada por Marcelo, em um encontro no México, que sua campanha seria “contaminada” porque a Odebrecht havia feito pagamentos a João Santana no exterior. “Ele diz que me contou. Mas eu não tinha conta no exterior. Se o João tinha, o que eu tenho com o João? Por que eu teria que saber?”
 
Questionada sobre a expectativa em relação ao julgamento, Dilma disse acreditar que mais uma “injustiça” será feita, agora com base em delação “sofrível”. Ela também disse que não vai aceitar pacificamente uma eventual condenação que a torne inelegível. “Me casse que eu vou passar o tempo inteiro lutando para não ser cassada e ser candidata.”
 
“Marcelo Odebrecht está fazendo delação de acordo com seus interesses. Portanto, tudo o que ele diz pode servir de indício para investigar, não para condenar. O STF [que homologou a delação da empreiteira] nem abriu a investigação ainda [usando a delação, no âmbito da Lava Jato]. É estarreceder que um procurador use como prova o que não é prova.”
 
Dilma ainda desmontou a parte da delação de Marcelo Odebrecht em que ele diz que deu R$ 50 milhões ao PT em 2009, prometidos a Guido Mantega após a empresa ser beneficiada pelo Refis, e esse montante teria virado “crédito” para a campanha de 2014.
 
Ela lembrou que, em 2009, enfrentava um câncer e sequer era candidata. E quando disputou a eleição de 2010, o PT saiu com dívida de R$ 10 milhões da campanha. Ou seja, não existia recursos para “crédito” anos depois. “Esses R$ 50 milhões são uma ficção, uma coisa absolutamente ridícula.”
 
A ex-presidente também disse que “Odebrecht exagera bastante na realidade” ao dizer que ela sabia de tudo. Ela reafirmou que sabia dos investimentos da empreiteira no País, porque Marcelo fazia apresentações “exaustivas” sobre isso em encontros oficiais com a presidente, e sabia do volume de recursos que a Odebrecht havia doado ao PT na campanha: 8%, apenas. “Então, minha querida, que grande doador é esse que eu teria de saber o que ele estava fazendo?”, ironizou.
 
“Para se passar por grande doador, ele fala dessa conta [no exterior, onde o PT teria R$ 150 milhões]. Em determinado momento de seu depoimento, diz: ‘É uma conta corrente que só eu tinha na cabeça’. Ou seja, era uma conta da subjetividade dele.”
 
Dilma também negou que tenha dito a Odebrecht que Guido Mantega seria “interlocutor” da empresa sobre qualquer assunto que não fosse de competência do Ministério da Fazenda, como deveria fazer com qualquer outra empresa, de qualquer setor.
 
Ela disse que Odebrecht nunca teve coragem de discutir doação com ela. “Esse rapaz jamais ousaria conversar comigo sobre doação. Você acha que alguém ousaria? Pergunta se alguém ousaria.”
 
“Em outro trecho ele diz que sugeriu que eu deveria pedir doação para empresários porque a campanha estava sem dinheiro, e que eu nunca me interesssei e nunca pedi. Essa narrativa me beneficia, mas essa conversa não aconteceu. Nunca, queria, é uma conversa estapafúrdia, esdrúxula, uma sandice desse rapaz”, disparou.
 
A entrevista de Dilma, concedida à jornalista Mônica Bergamo, foi publicada pela Folha nesta terça (4), dia em que começou o julgamento da ação que pede a cassação da chapa eleita em 2014, no TSE.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Surreal.

    Surreal isso ai. Também pudera, temos no TSE juizes tipo Gilmar, Fux e outros de confiança da Globo e da trupe golpista. Os EUA fazem bem em não terem tribunais eleitorais como esse TSE formado por um grupelho de ensandecidos partidarizados, sem o mínimo de isenção para tal julgamento. Esse julgamento tosco, sem pé nem cabeça,  se constitui assim como mais uma etapa do golpe de Estado que no próximo dia 17 faz 1 ano. A diferença para o golpe de 64 quem estava em poder da caneta usava verde-oliva, enquanto que hoje eles usam camisas negras. Se naquela época o Mazzili assumiu por ordem do Congresso, hoje este papel cabe a Miche Temer. Dúvidas no horizonte: se Lula não tiver decretada sua prisão politica, não teremos eleições diretas em 2018, seguindo assim o scrpit do golpe de 64 quando..,. naquele momento diziam que em 1965 iria haver eleição direta mas não houve pelo seguinte motivo:  Jango ou JK seriam imbatíveis…isso quer dizer que, como nenhum golpe de Estado é dado para que os golpistas mamem por apenas 2 anos, se Lula puder ser candidato,  as eleições do próximo ano serão suspensas. Eleição indireta? Neste caso, quem fará o papel de Castelo Branco, eleito pelo Congresso em 64? A nossa zelite zelote não deixa esse pais andar…,,,,esses golpistas não dão ponto sem nó.

  2. espaço aberto, pois então….

    Nas minhas andanças a acompanhar parentes nas fazendas sempre me orientavam para ter cuidado daqueles cachorros de olhar esguio na tua frente, no primeiro descuido a te atacar pelas costas.

    Tenho comigo que o gilmau dantas mendes é este tipo de bicho, intimida por estar acima das leis e faze-las conforme necessidade.

    O benito de lastimável memoria comandava tal qual o coronê do stf e do juizeco de primeira instancia do estado agrícola do sul e seus beatos de bíblia de sovaco, a eles caso as aulas de historia tenham sido gazeadas ou melhor não entendidas, lembro que os postos de gasolina foram uma trágica modalidade da interpretação do código penal.

     Afinal como dizem: para os momentos extremos, medidas extremas são plausíveis.

    Privatizar a Petrobras para fechar os postos de gasolina não vai ajudar.

  3. É serio isso? Crédito p/2014 de… 2009???

    “Mais R$ 50 milhões teriam sido pagos pela Odebrecht em 2009, via caixa 2 ao PT, e Marcelo diz que o recurso virou “crédito” para a campanha de 2014.”

    Ou seja:

    DOA-SE EM 2009 – NAO SE USA EM 2010!! – E FICA PARA 2014, QUE VEM – POR ACASO… – A SER A ELEIÇÃO PASSÍVEL DE CASSAÇÃO.

    (diferentemente da de 2010)

    Os caras se superam…

    E querem dizer que tem “instituições” e “império da lei” no Brasil:


    http://www.romulusbr.com/2017/03/dilemas-da-vida-real-nao-sao-binarios.html

  4. Poder

    O TSE pode sim e vai aceitar tudo o que Marcelo Odebrecht disser. Mas só contra Dilma.  Contra Temer não virá ao caso. Quem duvida?

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