Xadrez de como o bolsonarismo foi embalado pelas elites nacionais, por Luis Nassif

O importante é analisar as raízes desse fenômeno, para que o combate não fique restrito às medidas institucionais - impeachment, julgamento, condenação e prisão da organização familiar criminosa.

Peça 1 – os comícios

Certamente não foram apenas 120 mil manifestantes na Paulista, conforme os levantamentos enviesados da Polícia Militar de São Paulo. Desde as primeiras campanhas de rua, a brava PM sempre se esmerou em minimizar a quantidade de pessoas nas manifestações anti-impeachment e maximizar as manifestações pró-impeachment.

Portanto, não se minimize a relevância da manifestação. Mesmo que boa parte do público tenha vindo de fora, a multidão comprova, no mínimo, a capacidade de arregimentação dos bolsonaristas.

Definitivamente, o bolsonarismo veio para ficar, com ou sem impeachment de seu chefe.

O importante é analisar as raízes desse fenômeno, para que o combate não fique restrito às medidas institucionais – impeachment, julgamento, condenação e prisão da organização familiar criminosa.

Peça 2 – o lúmpen

Nos últimos tempos consolidou-se o conceito do lumpen aplicada não apenas ao proletariado. Vale para pequenos empresários, classe média e outros setores sem ideias próprias, sem organização, conduzidos por slogans e palavras de ordem que exploram seus preconceitos.

Quem é esse personagem? É um sujeito sem vinculações partidárias, pouco associativo, fechado em seu núcleo familiar e de amigos, que enxerga como ameaça qualquer input externo.

Esse personagem é frequente na história brasileira e sempre foi massa de manobra das chamadas elites em suas disputas políticas. Nos anos 50, foi o trabalho da mídia – notadamente da rádio Globo, no Rio de Janeiro, e do Estadão, em São Paulo – que mobilizou a classe média lumpen, valendo-se de dois temores quase ancestrais: a corrupção e o comunismo.

Desde sempre, manobrava algoritmos mentais, criando um bombardeio de frases soltas, slogans ameaçadores como forma de mobilização. 

Para tanto, consultem  o histórico artigo de Wanderley Guilherme dos Santos sobre o pré-64. Intelectuais de esquerda ironizavam os discursos de Carlos Lacerda, por serem rasos, desprovidos de conteúdo, meras manipulações da história. Mais arguto analista do seu tempo, Wanderley entendia o seu alcance: era o discurso que mobiliza o lumpen, fornecendo argumentos para as discussões familiares. Ou seja, no universo lumpen, o campo de batalha das ideias é a família, não o sindicato, o partido político. 

Mesmo assim, a coordenação das massas era externa, dos grupos econômicos que, através da mídia e dos políticos da época, articulavam os algoritmos analógicos.

Por trás desses pré-algoritmos, portanto, havia uma elite organizada. Em São Paulo, o golpe foi articulado nos clubes sociais de elite e nas associações empresariais, conforme livro de René Armand Dreifuss, “1964, a Conquista do Estado”. No Rio de Janeiro e em Brasília, em torno dos grupos da Sorbonne, de Castelo Branco e Golbery do Couto e Silva. Atrás deles, toda a plutocracia nacional e, obviamente, o interesse geopolítico norte-americano.

Com o golpe saindo vencedor, o lumpen voltava para a jaula e limitava-se a ser alimentado com a carne fresca dos Atos Institucionais e prisões arbitrárias, com a mídia mantendo acesa o mito do “inimigo” a ser destruído. 

Peça 3 – o lumpen na redemocratização

Na redemocratização, o lumpen foi isolado. 

Primeiro, pelos ventos da Constituição, uma lufada de modernização social em defesa dos vulneráveis, em uma momento em que a plutocracia ainda amargava a ressaca do fim do regime militar. Depois, pelo controle absoluto da política econômica – e do noticiário de mídia – pelo tal do mercado.

Desde então, o Brasil refletido na mídia passou a ser  o do Ministério da Fazenda e Banco Central. Comandaram a Fazenda alguns dos Ministros mais medíocres da história – de Pedro Malan a Henrique Meirelles, passando por Antônio Palocci. E eram enaltecidos diariamente. Não administravam problemas da economia, não faziam política econômica, não buscavam o desenvolvimento: sua função era atender às demandas de mercado, subordinar todas as decisões de políticas macro aos interesses do mercado, ainda que à custa do prejuízo geral do país.

Os principais veículos de comunicação – os jornais nacionais da noite – refletiam unicamente os temas de mercado. O noticiário de jornais diários e revistas semanais era um espelho da Vila Olímpia e do Leblon. E o lumpen era isolado em seus guetos sociais.

Com o tempo, o monumento humanista da Constituinte passou a enfrentar dois adversários.

No alto, o mercado tratando cada migalha de direitos, cada esboço de regulação, mesmo aquelas consagradas em países civilizados, como impeditivos da busca de eficiência pelas empresas. E com amplo respaldo da mídia.

Na base, o lumpen vendo o avanço das classes de menor renda sofrendo com a perda de status e atribuindo todas suas frustrações aos direitos das minorias.

Globalmente, depois da crise de 2008 e das políticas pós-crise, consuma-se o fracasso do modelo liberal como agente de promoção do bem estar geral.. Desmoralizou-se a ideia de que, liberando as empresas de qualquer compromisso ou de qualquer responsabilidade, haveria uma explosão de crescimento que beneficiaria a todos.

Mesmo assim, o enorme poder econômico acumulado pelos grupos financeiros, e a desmoralização da social-democracia, após a queda do Muro de Berlim, permitiram uma sobrevida cruel do modelo, com políticas monetárias e fiscais visando unicamente preservar os interesses da banca.

No Brasil, esse movimento inicial foi superado pela maneira com que Lula enfrentou a crise. Depois, os erros de política econômica da era Dilma Rousseff – que teve seu ápice no pacote econômico de Joaquim Levy – abriram campo para um novo movimento de manipulação do lumpen pela plutocracia nacional.

Desenhou-se, ali, a metodologia que, anos depois, seria repetida por Bolsonaro e que consistiu das seguintes etapas:

  1. Desmoralização do processo eleitoral.

As declarações de Aécio Neves questionando os resultados no mesmo dia das eleições; as tentativas do Ministro Gilmar Mendes, no Tribunal Superior Eleitoral, de tentar impugnar a chapa de Dilma, com amplo respaldo da mídia. Na última hora, Luiz Fux voltou atrás e, por um voto, não conseguiu a maioria que impugnaria a chapa Dilma-Temer.

  1. Criação de movimentos de massa pró-impeachment.

As grandes manifestações pró-impeachment foram diretamente coordenadas pela Rede Globo e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

  1. A volta da ameaça comunista.

Coordenados pela revista Veja, os grupos de mídia dão início ao chamado jornalismo de esgoto, a mais deletéria deformação do jornalismo desde as campanhas dos anos 60. Nesse jogo, recorrem a todas as formas de manipulação, notícias falsas, criação de inimigos imaginários, teorias da conspiração. Veja, a propósito, “O Caso Veja – o naufrágio do jornalismo brasileiro”.

  1. O envolvimento dos poderes pela rua.

Com a Lava Jato, as manifestações populares serviram para emparedar autoridades, algumas de caráter fraco, como o ex-Procurador Geral Rodrigo Janot.

… outros, oportunistas pretendendo cavalgar as novas ondas, valendo-se do vácuo político criado pela Lava Jato para se apresentar como condutores de povos. Como Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, anunciando “as cortes constitucionais de todo o mundo” não como defensoras da Constituição, mas como “vanguarda iluminista”.

O passo seguinte foi o questionamento da Constituição, tarefa de desmonte conduzida pelo neoconstitucionalista Barroso, sempre em nome do iluminismo à Miami de Barroso.

  1. O desmonte da Constituição

Com a corte cooptada – caso Barroso e Luiz Fux – ou intimidada – caso Edson Fachin, Cármen Lúcia e Rosa Weber -, a Constituição passa a ser desmontada e as interpretações manipuladas para benefício de grupos de interesse. Foi assim no impeachment e, posteriormente, na escandalosa interpretação de permitir a venda de subsidiárias estratégicas de estatais, sem passar pelo Congresso.

O estupro da Constituição criou condições para a desmoralização da Justiça. A partir daí multiplicaram-se os abusos da primeira instância e dos tribunais inferiores, assim como de procuradores imbuídos do espírito da guerra santa, todos contra os “inimigos” que ousassem pensar de forma diferente.

Veja bem: estou falando do período pré-Bolsonaro, com o macartismo sendo diretamente conduzido pelos atuais defensores da democracia.

  1. A Ponte para o Futuro

Desde o início estava na mesa a Ponte para o Futuro, um projeto de destruição ampla das diversas formas de regulação e de defesa dos vulneráveis consagradas pela Constituinte.

É essa mesma frente que vai se somar a Bolsonaro em 2018 e lhe dar amparo político, o direito de destruir a cultura, a Educação, os direitos sociais, em troca dos grandes negócios da privatização.

Peça 4 – os componentes da era pré-Bolsonaro

Tendo como objetivo central os grandes negócios da privatização, durante anos, mídia, Supremo e Lava Jato ajudaram a reforçar todos os vícios do lumpen, a explorar os baixos instintos e a dividir o país entre homens de bem e malvados bolivarianos.

Construíram, assim, paulatinamente, todos os elementos que, logo depois, serviriam de alimento para o bolsonarismo.

  • O uso de fake news e teorias conspiratórias pela mídia;
  • O tratamento de “inimigo” para todo pensamento divergente, pela mídia, pelo Supremo e pelo Ministério Público, com o direito penal do inimigo se esparramando por todo o sistema jurídico.
  • Manipulação das leis e da constituição pelo Supremo, com propósitos políticos, não apenas no impeachment, mas no desmonte de direitos e na queima das estatais;
  • Grandes passeatas alimentadas a ódio. Na Copa do Mundo qualquer pessoa que saísse com uma blusa vermelha estava exposta a agressões da malta.
  • O desmonte de todas as políticas públicas a partir da era Temer, assim como a submissão total da política econômica ao mercado através da Lei do Teto, uma excrescência contábil preparada por imbecis e enaltecida por imbecis, julgando ter encontrado a pedra de Roseta para expulsar os gastos sociais do orçamento por 20 anos.
  • Todos os atos públicos, nos três poderes, subordinados ao grande negócio da privatização.

Como consequência, manteve-se a estagnação da economia, a volta do país ao mapa da fome, a ampliação da miséria e da falta de perspectivas para a classe média e a redução do mercado de consumo para o capital produtivo.

O que não se esperava é que o monstro das ruas, o lumpen, não mais obedecesse à voz de comando da mídia tradicional. As novas tecnologias traziam novos elementos de coordenação.

Peça 5 – as redes sociais, a ultradireita e a contravenção

Quando as redes sociais se espalham, descobre-se a nova lógica da informação e o poder dos algoritmos. Dentre os pioneiros na utilização dos novos instrumentos estavam os grupos econômicos que transitam nas fronteiras da legalidade.

São atividades tolhidas pelo avanço das regras sanitárias, ambientais e sociais, como a indústria de armas, dos cassinos, do lixo, das atividades poluidoras, como mineração e indústria do petróleo, de olho nas reservas indígenas.

Os primeiros financiadores da ultra direita saem desses grupos, dos irmãos Koch a Sheldon Adelson, o chefe da máfia dos cassinos de Las Vegas.

Sheldon Adelzon

A partir do controle sobre as novas tecnologias, esses grupos se aproximam da ultradireita mundial. Dos supremacistas brancos, trazem o discurso. Dos neopentecostais, a visão bíblica necessária para se contrapor à racionalidade dos fatos. De todos esses grupos, a ideia da desregulação total das economias, o fim dos controles sociais e ambientais, em nome de uma suposta liberdade individual. E aí se alinhando com o ultraliberalismo hegemônico no Brasil.

O discurso supremacista sai das bolhas analógicas dos confins dos Estados Unidos e entra nas bolhas digitais por todo o mundo, passando a se aproximar de partidos políticos e a financiar ditaduras.

Na foto abaixo, jantar na embaixada brasileira, logo após a posse de Bolsonaro, com Steve Bannon à sua esquerda, Olavo de Carvalho, Sérgio Moro e demais autoridades.

O uso de ferramentas digitais em eleições foi inaugurado por José Serra em 2010. O assessor americano contratado trouxe não apenas a metodologia de atuação nas redes, mas também os motes capazes de influenciar o público, a maneira de atirar carne fresca ao lumpen. Temas como aborto, Bíblia, orações são incorporados por Serra com a naturalidade de um vira-latas intelectual, na demonstração definitiva da ausência total de princípios que caracteriza a elite nativa.

Por não ser puro-sangue, Serra não assumiu a liderança do lumpen.  Logo depois, com a Lava Jato, monta-se uma nova rede, mais ampla e com o discurso moral e anticomunista consolidado.

A esta altura, firmemente associado à ultradireita internacional, o bolsonarismo passa a beber nas tecnologias de Bannon. 

Em vez dos grupos de mídia, o agente coordenador do lumpen passa a ser o bolsonarismo, através do WhatsApp. E consegue manter, por algum tempo, o pacto com o mercado, com o Supremo e tudo, graças às promessas de mais desmonte do Estado e mais negócios da privatização.

Peça 6 – relendo a história

Agora, chega-se na hora da verdade.

O país atravessa o mais grave período da sua história, com mais de 600 mil mortos pela epidemia, a fome grassando, a miséria aumentando,a inflação, uma enorme crise elétrica à vista e a democracia sob ameaça dos hunos.

Mas a enorme tragédia permitiu um avanço inestimável na maratona intelectual para decifrar o enigma Brasil.

Primeiro, a constatação do fato fundador: a escravidão, uma mancha que se incorporou definitivamente na mentalidade das elites brasileiras – dos quatrocentões aos imigrantes que enriqueceram por aqui, dos pequenos empresários à classe média bolsonarista. Não se trata apenas de uma enorme indigência cultural, um provincianismo atroz, uma falta de cultura assustadora, de um bando de pavões cultivando a modernidade superficial dos salões, ou as lantejoulas das periferias, ambos compartilhando o sonho de um imóvel em Miami. Mas também da ausência total do sentimento de Nação, da solidariedade, da generosidade para com os vulneráveis.

Segundo, a enorme mediocridade intelectual e moral das chamadas elites nacionais, quase todos pensando na próxima “tacada” – a expressão criada pelo cunhado de Rui Barbosa para descrever as jogadas do tio, Ministro da Fazenda.

Com ou sem Bolsonaro, todos os pilares do regime democrático estão apodrecidos. E começaram a apodrecer no dia em que mídia, Ministério Público e Supremo permitiram as lambanças da Lava Jato.

Agora, à luz da enorme tragédia nacional, com a democracia em risco, só resta a dissecação do cadáver daquela que foi, um dia, uma esperança de democracia social.

  • Os grupos de mídia utilizando o jornalismo para negócios pessoais. 
  • O mercado investindo contra qualquer tentativa mínima de taxação. 
  • O Supremo demonstrando uma ignorância atroz sobre qualquer tema econômico ou social. A maneira como convalidou a privatização de subsidiárias das estatais, sem uma discussão mínima sobre a lógica dos negócios, o desmonte dos direitos sociais, sem atentar para as consequências sobre o mercado de consumo e a paz social, o endosso à Lava Jato, sem um gesto de defesa de empresas e empregos, comprovaram a extraordinária mediocridade da Suprema Corte – que só agora se permite algum gesto de grandeza, na resistência a Bolsonaro.
  • O Ministério Público Federal sendo capaz de cair de cabeça na cooperação internacional sem dispor de um centavo de informação sobre os jogos da geopolítica e os interesses nacionais. 
  • As Forças Armadas não conseguindo sequer definir pontos óbvios sobre segurança nacional. O nível intelectual das FFAAs está refletido no semblante do general Augusto Heleno, cuja cabeça lateja quando pensa.
  • Os partidos políticos sendo incapazes de desenvolver um projeto nacional no sentido amplo. O PSDB preferiu manobrar as manadas da ultradireita – apropriadas depois pelo bolsonarismo. O PT se contentou com o trabalho meritório de reduzir a desigualdade, mas sem arranhar os pontos centrais das distorções brasileiras, os privilégios absurdos do mercado e de corporações de Estado. E foi incapaz de montar um conselho de estrategistas capaz de demover Dilma Rousseff da caminhada implacável para o desastre.

A reconstrução será dura. O preço do subdesenvolvimento, somado à herança escravagista, torna o desafio maior ainda. Exigirá uma enorme auto-crítica geral, que permita o primeiro passo para a reconstrução nacional: colocar o povo como centro de todas as políticas públicas, completando a obra inacabada da Abolição.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. os evangelicos sempre fazem grandes atos: ele nao foram as ruas no DF e o Bozo reclama

    tudo o q bozo faz ta mais pra peça de campanha eleitoral e, se nao colar, aposta no caos pra decretar intervencao e suspender a democracia

  2. Outro precioso artigo do Nassif.

    “O que não trazemos à consciência aparece em nossas vidas como um destino” dizia o bom e velho Carl Jung em seu conceito sobre a sombra que, relegada aos porões de nosso inconsciente – individual ou coletivo –, como ato recorrente, teima em ressurgir incontinente, impedindo qualquer avanço efetivo.

    Portanto, é necessário conhecê-la, entendê-la, para então aprender a lidar com a mesma, a fim de podermos dar um passo adiante. É processo fácil? Óbvio que não. Quem como eu já ousou enveredar por essa trilha sinuosa e traiçoeira sabe bem do que falo.

    Como brasileiros temos condições de afinal tratar dessas questões aberta e francamente? Pessoalmente tendo a achar que mais do que em qualquer outro momento de nossa História. Vamos fazê-lo? Hmmmm.

    De qualquer modo, se decidirmos lidar definitivamente com isso, a resolução se dará – ou deverá se dar – antes pelo conjunto difuso da sociedade civil minimamente organizada, do que pelas instituições oligárquicas públicas e privadas. Estas são parte do problema, não da solução.

    Fuerza, herman@s tod@s!

  3. Os oportunistas, governistas de plantão.

    Uma parte significativa das mobilização se deve a atividade dos oportunistas, governistas de plantão.

    São artistas, esportistas e principalmente igrejas, preocupadas em proteger seus ganhos do imposto renda e/ou interesses de legalizar terras ilegais, principalmente no centro-oeste.

    Com a queda do governo eleito em 2018, todos eles vão mudar de lado, mesmo que que se confirme a provável vitória do PT em 2022.

    Os primeiros serão os controladores das igrejas, depois virão os esportistas e os artistas.

    O bolsonarismo termina com fim do governo leito em 2018.

  4. Parabéns Nassif.

    Você conseguiu transmitir em palavras toda a complexidade do processo político e social que nos conduziu a esta tragédia que assola o país.

    Os atores principais são nominados e suas ações e responsabilidades são descritas.

    É um artigo para ler e reler por muito tempo.

  5. Muito interessante, como sempre, essas análises feitas com a utilização da história nacional. Várias vezes saíram xadrezes aqui sobre o desastre em que acabamos atolados, todos sempre bastante esclarecedores. Porém, o que eu nunca entendo é por quê? jamais é dito aqui que “…aquela que foi, um dia, uma esperança de democracia social” estava assentada numa gigantesca máquina de corrupção. Juca Kfoury, que é petista, já contou inúmeras vezes a história do estádio do Corinthians, que custou 1 bilhão de reais, mas nunca seria pago pelo time, porque o preço seria dissolvido nos milionários contratos da Odebrecht com o governo do PT, e isso é só um minúsculo exemplo da corrupção da Era Lula. Outra coisa que jamais é lembrada aqui, o Brasil quebrou em 2014, a violenta recessão começou no segundo trimestre, antes do Joaquim Levy assumir.
    Fica sempre a impressão de que a Era de Ouro petista foi destruída por uma alcatéia de lobos vorazes, sendo que já estava condenada antes da eleição de novembro de 2014.

  6. A pergunta que se deve fazer, hoje, com o bolsonarismo fazendo o duvidoso favor de nos desnudar enquanto uma espécie de “não-povo”, ou “anti-nação”, em suma, de nos mostrar, sem máscaras ou desculpas, como um agrupamento sem qualquer sentimento nacional, ou de pertencimento à própria terra (espaço vital?), isso para não falar de temas mais complexos, como a ausência de uma identidade (nacional, ou, pior ainda, humana), que nos possibilitasse um pouco de empatia com o próximo, ou seja, com aquele que não se veste nem cheira igual a nós mesmos, se esse país triste ainda tem condições de erigir-se como nação.
    Não se trata de uma questão aritmética; quantos eles são, e quantos nós somos.
    E quem são eles? Uma elite absolutamente indiferente – para dizer o mínimo – ao sofrimento dos “vulneráveis”, uma classe média que, tendo renda familiar entre cinco e dez mil reais, se julga elite, pobres que compram, com convicção e ardor tal que elimina qualquer senso de ridículo e tragédia em si mesmos, as ameaças do comunismo e do ateísmo destruidor dos valores cristãos (ainda que, para a elite desse país, tais valores se resumam a Mateus 15-27)? E nós? Aqueles que ainda são capazes de se compadecer do sofrimento do outro, e que desejam uma sociedade mais justa e igualitária?
    Reprimir os primeiros, e impulsionar esses últimos, será assim que construiremos uma nação?
    Depois de 350 anos de escravidão escancarada, e mais de 130 de segregação disfarçada, não creio; e sinto que estamos no limite de definir essa possibilidade de ainda vingarmos como povo e nação.
    Continuo convicto que o destino do trabalho humano, hoje sob a ameaça de ser substituído, em escalas cada vez maiores, pelo trabalho do algoritmo, é a maior tragédia que o homem criou para o próprio homem, desde a bomba atômica. Acabamos com a escravidão; e, ao fazê-lo da forma que fizemos, não acabamos, mas limitamos, ao máximo, e severamente, as esperanças e ambições mais justas e dignas daqueles a quem submetemos.
    Vamos fazer o mesmo, a nós e aos outros “vulneráveis”, nos submetendo novamente, seja ao Mercado, seja ao seu irmão gêmeo, o fascismo? Ainda que seja aquele outro fascismo, o cheiroso?
    A colonização, nossa origem, é um processo violento, mantido pela violência; o que nos faz crer que libertar-se dele não será um processo violento? Meu último, e já bastante esmaecido, lampejo de otimismo, nessa vida, é que a manutenção dessa libertação futura possa ser um processo de convencimento e aprendizado mútuo.
    Ainda temos uma corrente política disposta a remar contra essa maré; se esse barco aguentará esse confronto desigual por muito tempo, é uma questão aberta. As outras correntes seguem, alegre e despreocupadamente, o movimento da maré, seja por convicção, seja por concluir que é inútil resistir.
    Com a palavra, agora, os senhores congressistas e ministros do STF.
    Depois, será a nossa vez de dizer a que viemos.

  7. Prezado Nassif
    Concordo que “Definitivamente, o bolsonarismo veio para ficar, com ou sem impeachment de seu chefe.” e que com o Mourão seria de lascar aguentar a sequência dessa proto-ditadura, no caso de um impeachment.
    Em 24/11/2019 escrevi a pequena crônica “Estilingues do amor”
    https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Estilingues-do-amor/4/45909
    e finalizava assim o texto, com algumas perguntas:
    “Esse governo federal tem condição moral e política para governar por mais três anos?
    Não seria melhor uma reforma política já, via Congresso, com cláusula de barreira para os partidos, mandatos de cinco anos, sem reeleição, em uma eleição geral para todos os cargos eletivos, coincidindo com o calendário eleitoral de 2020?
    Isso seria sonhar demais ou vamos ter que ir protestar nas ruas, munidos dos nossos míseros estilingues do amor?
    Obviamente, o que antecederia a essa espinhosa e difícil missão, via o Congresso, seria o início do processo para a cassação da chapa presidencial militar eleita, que cospe todo o dia, sem nenhum pudor, seus ódios viscerais sobre a constituição brasileira.
    Será que temos outra saída?”.
    Pelo visto, como essa saída não é mais possível, será que vamos ter que aguentar até as eleições de 2021 essa tortura?
    Abraços,
    Heraldo

  8. E com toda essa sofisticação de análise sobre os truques da direita burguesa, pra concluir com um apoio incondicional ao lulopetismo corrupto e ultrapassado. Se sua análise tivesse como resultado a constatação politicamente óbvia de que é chegada a hora de Ciro historicamente, que o melhor caminho seria um recuo estratégico do PT pro Ciro poder vencer o fascismo e o neoliberalismo na eleição e retomar o projeto do desenvolvimentismo trabalhista e reestruturação social interrompido com o Jango, aí daria pra assinar embaixo teu jornalismo político Nassif. Voce preferiu passar todo esse tempo praticando esse simplismo cínico, hipócrita e contra o Brasil de tratar todas as críticas ao PT e aos seus esquemas de corrupção como mera perseguição reacionária de alienados políticos da direita, o que sabemos que não é o caso. Denunciar a direita e continuar endossando o projeto lulopetista é como criticar a corrupção no país e subornar o guardinha de trânsito pra não ser multado, ou dizer ser contra a violência ao mesmo tempo em que defende punições leves para criminosos violentos, até porque Lula fez um governo em prol da alta burguesia, bancos e grande conglomerados empresariais e financeiros e já acena que vai fazer o mesmo jogo se vencer e puder governar. Tem que criticar a direita burguesa e também os amiguinhos e eternos serviçais da direita burguesa como o Lula. Ciro 2022.

  9. O Poder Judiciário e a insustentável normalidade do golpe

    Primeiro foram os tanques na rua, depois foi a movimentação de 7 de setembro declaradamente inconstitucional e golpista.
    Sem sombras de dúvidas o Presidente Jair Bolsonaro já foi longe demais em suas articulações para implementar o golpe em toda sua extensão.
    De qualquer forma, se não há mais recuo possível em seu intento por parte de Bolsonaro, de igual sorte, não há tempo a perder se o país ainda quiser barrar a instauração de um regime militar de força.
    No dia 7 de setembro, conforme a estratégia adotada, o alvo primordial não foi um dos poderes, mas parte essencial dele.
    No caso, a presa a ser buscada e subjugada não era o Poder Judiciário, mas a parte dele com meios para se contrapor a escalada golpista, o Supremo Tribunal Federal.
    Não teve êxito nesta primeira investida, mas, o que impressiona, mais que a audácia destes celerados, é a triste constatação, que mesmo atingida em sua estrutura hierárquica mais proeminente, o fato é que o Poder que ela representa, ainda assim, não tenha minimamente se organizado e formado fileiras em sua defesa.
    Acaso desconhecem sua condição de poder? e que sem uma de sua partes perdem tal condição e se tornam meros simulacros ou fantoches de um “novo” regime?
    Sinto desapontá-los, mas não é possível alegar o desconhecimento da lei em sua defesa.
    A desarticulação decorrente da Lava jato parece que criou um fosso dentro do Poder Judiciário, e seus integrantes veem as instâncias superiores como partes autônomas, parecem estranhos simbiontes que desconhecem que a morte de um deles acarreta a sua própria.
    O Ministério Público segue a mesma inércia e cegueira, caudatário de um Procurador Geral que pratica a negação do golpe e não raras vezes se une ao agente principal da ruptura constitucional e encaminha sua instituição rumo à estrada da perdição.
    A que nos levou a desagregação do Poder e a fragmentação do Estado, e como buscar sua reunificação social e institucional (https://jornalggn.com.br/artigos/moro-a-teoria-da-desagregacao-do-poder-e-a-fragmentacao-do-estado/amp/).
    Pergunto, até quando haverá este silêncio, quebrado apenas por protocolares Notas de repúdio ou apoio.
    Até quando ainda haverá a possibilidade de romper efetivamente este silêncio e ocupar os espaços públicos e institucionais, para, concretamente, se unirem à resistência ao golpe em curso.

  10. O Nassif tem a generosidade e paciência de Jó de reabrir os comentários e com o que topamos, pouco depois? Cirista defecando seus ódios….Realmente, difícil acreditar que isto aqui é uma nação.

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