A direita brasileira, isso existe?

Houve recentemente uma discussão interessante aqui no blog que infelizmente não pude acompanhar, versava sobre o espaço que a direita tem no Brasil. Essa e a agora discussão sobre o “novo” partido do Kassab me levaram a uma dúvida.

O Brasil já teve um partido de direita ideológico?

Talvez os integralistas lá dos anos 30, mas aí eu ainda nem era nascido, sei deles o pouco que li.  Eram ideológicos, sem dúvida, e tão de direita quanto a Igreja católica pode ser.

Mas eram de direita, mesmo?

As idéias e ideais integralistas, do pouco que sei me pareciam confusas, ou complexas, e tão contaminadas de religião que mais se assemelham para mim a um “catolicismo nacionalista”.

Do tempo em que me entendo por gente, não me lembro de um partido de direita ideológico. Fisiológico, todos. E foi esse fisiologismo que matou esses partidos. Assim que perderam o poder acabaram-se.

A poderosa ARENA, “o maior partido do Ocidente”, virou PDS. O PDS para se manter no poder cindiu-se em PFL. O PFL seguiu em frente e o PDS morreu

O PFL apoiou Tancredo e assim manteve-se no poder com Sarney, Collor, Itamar e FHC. Porém, com o passar do tempo cada vez mais como linha auxiliar. O PFL minguou. Virou DEM assim como a ARENA virara PDS.

Lula no poder significou 8 anos de PFL fora do poder, com Dilma serão 12 ou 16. Não seria possível sobreviver.

Então, o espírito de sobrevivência falou mais alto e, assim como o PDS virou PFL para apoiar Tancredo e manter-se no poder, o DEM tornar-se-á PSD para apoiar Dilma e voltar ao poder.

Fosse poesia e Caetano poderia dizer que é o avesso do avesso, mas é política e trata-se de fisiologismo mesmo.

Se considerarmos que um partido de direita deveria abraçar o liberalismo como ideologia, houve algum partido de direita ideológico no Brasil?

O liberalismo clássico pressupõe exatamente o contrário do que os ditos partidos de direita brasileiros praticam. 

Ou seja, com partidos que fora do poder não sobrevivem nem como oposição como pregar o estado mínimo, a baixa carga de impostos, a iniciativa privada, o individualismo, a meritocracia e a mínima ingerência do estado na vida cotidiana. 

Não, por essa ótica não me parece que algum dia tivemos um partido de direita ideológico no Brasil. Os que me lembro sempre foram o mesmo, o PDB – partido da boquinha; como chegaram a chamar o partido do Kassab. 

Agora, a sociedade brasileira é uma sociedade de direita? Não, também. 

Pode ser altamente conservadora, sim, e moralista. Mas, conservadorismo e moralismo não são característica exclusiva da direita. Aliás, a esquerda no Brasil também é bastante conservadora. 

A sociedade brasileira enxerga-se como mantenedora do estado ou como sua dependente? Reclamar de pagar impostos não é também uma característica exclusiva dos de direita. 

Assim como austeridade, a impessoalidade e honestidade no trato com a coisa pública não é característica exclusiva da esquerda. Que não se peque pelo esquecimento, a nomenclatura soviética tão discutida com a queda do muro de Berlim sempre me pareceu muito próxima com a nossa prática política. 

E, podemos falar de meritocracia, individualismo e iniciativa privada no país do compadrio? 

Enfim, parece que não somos também uma sociedade essencialmente de direita. 

Não somos em essência, mas acredito que exista um estrato da nossa sociedade que o é. E esse estrato não está representado politicamente. 

Logo, creio que haja espaço para quem queira advogar a causa liberal. 

O espaço será pequeno, mas são idéias que dariam um contrapeso interessante à nossa visão das relações sociedade-estado que não são discutidas pelo simples fato que não temos um verdadeiro partido de direita ideológica.

Redação

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