A estratégia para enfrentar a crise

A decisão de Dilma Rousseff, de convocar governadores, prefeitos e a Nação para um pacto político mostrou que não está inerte ante a crise.

Traz um alento especial quando se analisa o que poderia estar acontecendo caso José Serra tivesse sido eleito. Em todos os episódios traumáticos que atravessaram sua vida política, Serra ficou paralisado e escondeu-se até que a tormenta passasse. Enquanto governador de São Paulo, foi assim no episódio das enchentes, nos conflitos com a Policia Civil, nas demandas de empresários e trabalhadores em 2008, nos conflitos da polícia na USP.

***

Se Dilma mostrou iniciativa, falta definir a estratégia correta de atuação.

A crise política explodiu com algumas nuvens apenas no horizonte econômico. Terá que ser enfrentada com cumulus-limbus se espalhando pela atmosfera, com a crise econômica contratada assim que o FED (banco central dos EUA) aumentar os juros.

A bola estará com Dilma. Terá que dar sinais robustos de que mudará sua forma de governar e ainda, recuperar a credibilidade da política econômica para o que vier pela frente.

***

Uma estratégia eficaz pensaria no primeiro passo, o de colocar água na fervura da insatisfação popular. Dilma já se mostrou sensível às manifestações, o que é um bom começo. Levantou a tese da reforma política – outra unanimidade nacional. Mas se equivocou ao propor o plebiscito e a Constituinte exclusiva.

A Constituição de 1988 é um ativo nacional, um documento de  reconhecimento dos direitos sociais, individuais, da separação entre os poderes, que não deve ser colocada em risco. Pode-se chegar à reforma política de outras maneiras.

Além disso suscitará uma discussão infindável, dispersando mais ainda as energias públicas e tirando o foco da tempestade que se arma.

Para tirar o bode da sala, a saída será nomear um conselho de juristas para pensar o melhor caminho para a reforma política. Eles propõem, a presidente acata sem parecer recuo.

***

Depois, é tratar de pensar o segundo tempo do jogo. E não haverá como passar por algumas etapas indispensáveis:

1.    Mudar o estilo de governo. Para se colocar a salvo de pressões, Dilma isolou-se. Essa postura acabou se irradiando por todo a máquina, resultando em uma imagem de arrogância. Tem que mudar a forma de gerenciar e criar outras instâncias que impeçam a entropia dos sistemas excessivamente centralizados.

2.    É imprescindível uma reforma ministerial, começando pela área econômica. Nem Fazenda, nem Banco Central nem Tesouro têm estoque de credibilidade para enfrentar a tormenta que se avizinha. O desafio será substituí-los por figuras pragmáticas – e fortes – que não se curvem às pressões de mercado.

3.    Interlocução política e social. Há um problema visível na articulação política e na Casa Civil.

4.    Comunicação: tem que se montar uma estrutura interministerial, coordenada pelo Planalto, para monitorar as redes sociais e responder com presteza o festival de factoides que tomou conta do país. Como os programas de mobilidade dependem dos governadores, tem que se montar um painel de controle para monitorá-los e permitir à opinião pública identificar os pontos de estrangulamento – e pressionar.

Luis Nassif

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Jurismo

    Prezado Nassif,

    antes de mais nada, o registro do enorme repeito e admiração por sua contribuição à construção de um Brasil melhor para todos. Contudo, a despeito de todo o respeito que você merece, acho que esta análise, como têm sido, de resto, várias de suas análises mais recentes, indica uma convicção e um grau de certeza para além do razoável e do que poderia ser fruto apenas do estilo, considerando o momento em que estamos vivendo.

    Além disso, e mais importante em meu modo de ver, a sugestão de delegar aos juristas a elaboração de propostas repete uma fórmula  que historicamente predominou no país: a do jurismo. A ideia de que “engenheiros sociais” podem, isolados em seus gabinetes e, por definição, limitados por seu saber fazer unidisciplinar, sem uma consulta à população, elaborar fórmulas milagrosas para enfrentar os problemas que afligem esta mesma população padece de um mal de origem e, portanto, provavelmente está fadada ao fracasso. Aqui, me parece, que não só o conteúdo, mas especialmente a forma, o processo de tomada de decisão será fundamental na evolução dos acontecimentos. As pessoas querem sentir-se partícipes da construção deste futuro.

    Não achas?

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador