A grande política e a política de grotão, por Laurez Cerqueira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O Brasil tem uma Constituição moderna e instituições sólidas, republicanas, com ajustes a serem feitos, sim, mas nada que a grande política não dê conta de fazer. Vivemos um momento de consolidação da democracia, da cidadania, da afirmação de direitos, de colaboração federativa a fim de superar as desigualdades sociais e regionais.

De todos os ajustes institucionais, a reforma política se destaca como a mais urgente. Uma imensa mobilização popular comandada por partidos políticos e entidades civis está em curso para por fim ao financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas. Não é possível continuar com parlamentos e governos controlados pelo poder econômico.

Quem tem compromisso com o projeto de nação cidadã, de desenvolvimento sustentável, e com medidas necessárias para conter os efeitos da crise financeira internacional sobre a economia está fazendo a grande política.

O momento é de debate de projetos para o País. Não há mais lugar para a mesquinhez, para a política de grotão, para imprensa rastaquera. A sociedade brasileira amadureceu, se modernizou, quer avançar mais nas conquistas democráticas. A proposta de diálogo da Presidenta Dilma sinaliza nesse sentido.

Com o estado de São Paulo vivendo uma situação dramática com a escassez de água, já impactando a economia, sem falar na vida das pessoas, tendo que se valer da colaboração do governo federal, o governador Geraldo Alckmin deu um baile em Aécio Neves e José Serra, possíveis concorrentes à Presidência da República nas eleições de 2018, ao aceitar o diálogo com o governo federal.

E mais, estimulou os governadores eleitos, Simão Jatene, do Pará, e Beto Richa, do Paraná, ambos do PSDB, a fazerem o mesmo e não o oposicionismo inconsequente. Com isso, ele empurrou os dois concorrentes para mais à direita dele e tenta atrair o espectro de forças políticas do PSDB que não se identifica com a extrema direita.

Ao recusar o diálogo para enfrentar a crise, Aécio está fazendo a política pequena, de grotão. Lidera as forças de extrema direita que estavam sem lugar na democracia, trouxe para o centro da política brasileira, deu-lhes voz e espaço para ação, e quer continuar com elas, mesmo na contramão da história. Forças que estão bradando contra a democracia, pedindo a volta dos militares ao poder e o impeachment da Presidenta Dilma, democraticamente eleita.

Aécio, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que publicou um artigo radicalmente contra a proposta de diálogo, e o líder do PSDB na Câmara, Deputado Carlos Sampaio, de São Paulo, que entrou com uma ação na justiça eleitoral pedindo “recontagem de votos eletrônicos”, estão entrando para a história como políticos fora do contexto, por não reconhecerem o resultado das urnas, as instituições de fiscalização e controle que estão investigando os casos de corrupção, a Justiça, a autonomia constitucional dos poderes públicos, e apostam na divisão do País, no impasse, na desestabilização política e da economia. Uma posição que pode impactar fortemente os investimentos em grandes projetos de infraestrutura nas áreas de petróleo, hidrovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrelétricas, refinarias, indústria da defesa, mobilidade urbana, e muitas outras em pleno desenvolvimento.

No xadrez da grande política, tudo indica que o deputado Eduardo Cunha, que flerta com parlamentares aecistias, pode não vir a ser presidente da Câmara dos Deputados. A política está sendo operada noutro nível. Os governadores do PMDB querem o diálogo com o governo federal. Por outro lado, são eles que definem a composição dos governos estaduais, em parceria com deputados e senadores. Essa construção está sendo feita longe dos holofotes de Brasília, mas que terá efeitos sobre a sucessão na presidência da Câmara.

As eleições deixaram claro que a oposição e parte da imprensa não conhecem o PT, não se dão conta da força e da capacidade de organização e mobilização do partido. A eleição foi definida a partir do momento em que a Presidenta Dilma demonstrou preparo muito superior ao do candidato Aécio nos debates e foram veiculadas, na campanha, as informações sobre os feitos do governo, bloqueadas pela imprensa familiar. Até então os apoiadores não tinham informações suficientes para defender a candidatura Dilma. As militâncias do PT e dos aliados foram às ruas e às redes sociais, enfrentaram a mídia comprometida com a oposição e viraram o jogo. Essa experiência mostrou que o governo não dispõe de uma política de comunicação, mas apenas de uma assessoria de imprensa. Não está sendo considerado que a informações sobre o que o governo faz é um direito do cidadão e um dever do Estado. Uma falha que precisa ser corrigida.

O fato é que a organização e o poder de mobilização do PT e das demais forças aliadas não podem ser ignorados, subestimadas. São partes da grande política que está sendo articulada. Para a posse da Presidenta Dilma, por exemplo, fala-se em botar 1 milhão de pessoas na Esplanada dos Ministérios. Espera-se a presença de grande número de chefes de estado das nações mais poderosas do mundo.

A política de grotão perde força e cresce a grande política.

(*) Laurez Cerqueira é autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes – vida e obra; e O Outro Lado do Real.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Explica-se

    Alckmin: picolé de chuchu ou o melhor orador político?

    Reinaldo Polito

    Sempre destaquei a qualidade da comunicação do Lula. Publiquei nesta mesma coluna um texto mostrando como podemos aprender comunicação assistindo aos seus discursos. Falei da extraordinária competência oratória de Roberto Jefferson, que foi meu aluno. Enalteci o admirável desempenho de Serra. Todos foram superados por Alckmin.

    http://economia.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/reinaldo-polito/2014/11/11/alckmin-picole-de-chuchu-ou-o-melhor-orador-politico.htm

  2. Nada como numa eleição à

    Nada como uma eleição à nível federal para as máscaras caírem

    Enquanto alguns caíram na armadilha da grande imprensa e acreditaram no bom mocismo e na capacidade de gestor de Aécio, outros já tinham apontado a manipulação da sua imagem e alertado que ele era pior que Serra.

    O texto acima qualifica Aécio como político de grotão; o abaixo de péssimo gestor:

    “Arrecadação em baixa, dívida alta e auditoria à vista em MG”

    http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/arrecada%C3%A7%C3%A3o-em-baixa-d%C3%ADvida-alta-e-auditoria-%C3%A0-vista-em-mg-1.945082

  3. …e dai..?

    Lourdes;

    O financiamento de campanhas eleitorais é apenas parate do problema.

    Existem outros problemas de representatividade que  não se discutem.

    A melhor maneira de eliminar a influencia de grandes financiadores  eleitorais é transformar o sistem  eleitoral mais perto da população onde o marketing não tivesse importancia.

    Financiar campanhas eleitorais é pagar os marketeiros de plantão.

    Infelizmenmte  os ditos esquerdistas  operam mais ideologicameante que patrioticamente.

  4. Realmente …………….

    Concordo com as assertivas do autor do artigo, e sua análise sobre “as viuvas” do governo passado, que embora tenha seus méritos,tem como lider o ex-presidente FHC, que frente a derrota, se nivelou por baixo !

    Quanto ao diálogo com a oposição, acredito que lcom a nomeação do novo Ministério e o começo do 2º tempo da Dilma Presidenta, se normalise a base de apoio.

    é o que espero, plois nossos problemas economicos são bastante graves frente a uma conjuntura internacional nada favoravel.

    E tem mais, os abutres, que pregam o lquanto pior melhor, quase sempre aliados a interesses escusos de Corporações internacionais, merecem de nós especial atenção, senão …………………  

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