A pauta de Mercadante

Do Valor

Mercadante vai focar em educação e segurança

Cristiane Agostine, Ana Paula Grabois e Vandson Lima, de São Paulo
23/04/2010

Na disputa pelo governo de São Paulo em 2006, o senador Aloizio Mercadante (PT) teve mais de 50% dos votos válidos apenas em 3 dos 645 municípios do Estado. Desta vez, para alavancar a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff à Presidência da República, o pré-candidato petista terá que melhorar seu desempenho. Amanhã, o partido lançará a pré-candidatura de Mercadante ao governo paulista para enfrentar o favoritismo do ex-governador Geraldo Alckmin. Apostará na nacionalização do discurso na campanha estadual. Os petistas pretendem levar à festa, que acontecerá na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A estratégia de campanha, a princípio, será criticar áreas sensíveis do governo do PSDB, que há 16 anos comanda o Estado. O PT destacará os ataques aos problemas nas áreas de Segurança e Educação. Das 20 páginas do documento elaborado pelo partido com as diretrizes prévias de campanha, 13 são de ataques aos tucanos (61,9% do total). O PT levantou as deficiências da gestão do PSDB em São Paulo e comparou os números com programas exitosos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, na tentativa de reproduzir em âmbito estadual a estratégia nacional de comparar a administração petista com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso. O partido pretende diminuir a vantagem do ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência do PSDB, José Serra, sobre Dilma no maior colégio eleitoral do país.

As críticas do PT vão desde privatizações capitaneadas pelo candidato tucano ao governo, ex-governador Geraldo Alckmin, até o surgimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nas cadeias paulistas durante o governo Mário Covas, passando pelas enchentes, trânsito, o acidente na obra da estação Pinheiros do Metrô, o engavetamento de 84 pedidos de CPIs até o desempenho abaixo da média nacional dos estudantes paulistas em avaliações de ensino. Todas as críticas apresentam como contraponto as políticas e investimentos do governo Lula no Estado.

As propostas de Mercadante aparecem divididas em cinco tópicos: desenvolvimento econômico com distribuição de renda, infraestrutura social e urbana, política social, democracia e transparência e preservação ambiental. Entre elas estão a ampliação dos investimentos em programas de combate à pobreza, extensão da jornada escolar, criação do Plano de Ampliação da Infraestrutura Econômica e Social do Estado de São Paulo e protagonismo do Estado no debate sobre a distribuição dos royalties do pré-sal.

O PT aposta no aumento dos votos na disputa estadual e no número de deputados paulistas eleitos em 2010. A cúpula petista destaca que o partido vem crescendo em São Paulo nas últimas eleições estaduais. Desde 1994, quando José Dirceu disputou o governo paulista, o partido dobrou o percentual de votos, em relação a 2006: foi de 14,86% para 31,7%.

A disputa eleitoral, no entanto, não será fácil para Mercadante. O senador viu sua votação cair em quatro anos e obteve menos votos quando foi candidato ao governo do que quando disputou o Senado. Em 2002, sua votação foi recorde, com 10,49 milhões de votos. Na campanha de 2006, foram 6,77 milhões.

Em 2006, o petista perdeu no primeiro turno para Serra e o tucano registrou quase o dobro dos votos de Mercadante, 12,38 milhões. Em todo o Estado, Serra obteve mais de 50% dos votos válidos em 609 municípios, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já o petista recebeu esse percentual apenas em Hortolândia, Diadema e Várzea Paulista, cidades que juntas reúnem 459 mil eleitores, menos de 2% do total do Estado. Em dois desses municípios o presidente Lula registrou suas maiores votações em São Paulo: Hortolândia (64,98%) e Diadema (60,79%).

A oposição ao senador e pré-candidato do PT levantará pelo menos dois episódios em que o petista desgastou-se politicamente, desde 2006. Mercadante tem contra si a lembrança do episódio dos “aloprados”, quando um coordenador da campanha estadual envolveu-se na compra de um dossiê contra tucanos. O caso dos “aloprados” derrubou Hamilton Lacerda, responsável pela comunicação da campanha.

No ano passado, Mercadante foi criticado na condução da bancada do PT durante a crise que se abateu no Senado, envolvendo o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP). No auge dos escândalos envolvendo o pemedebista, denunciado por supostas irregularidades na administração do Senado com os chamados atos secretos, Mercadante disse publicamente que deixaria a função de líder da bancada e publicou, em seu twitter, que a decisão era “irrevogável”. O petista voltou atrás, manteve-se na liderança do PT e na defesa de Sarney.

O PT sempre teve dificuldade na disputa pelo governo paulista e apenas em 2002 foi ao segundo turno, com José Genoino. Foi a única eleição em que o presidente Lula venceu no primeiro turno no Estado. Os tucanos, aliados com o DEM e o PMDB, têm um exército de prefeitos, 54,1% do total, além da máquina estadual. Além disso, o pré-candidato tucano viajou por todo o Estado enquanto era secretário de Desenvolvimento, entregando escolas técnicas e assinando convênios com prefeituras. Nas pesquisas eleitorais mais recentes, Alckmin aparece com cerca de 50% das intenções de votos.

Para tentar reverter as adversidades, o PT decidiu repetir o candidato ao governo de São Paulo, pela primeira vez. O comando petista analisa que a estratégia ajudará o candidato, que contará com a lembrança do eleitor da eleição passada e reforçará a imagem de que o partido está construindo um projeto para o Estado. O PT aposta também no desgaste do PSDB, na quarta gestão estadual.

A indicação do senador petista, contudo, deveu-se mais à falta de opção de um nome com mais chances eleitorais de vitória do que pela iniciativa de Mercadante de lançar-se. Inicialmente resistente à ideia porque queria ter garantida a reeleição no Senado, Mercadante foi escolhido pelo PT para garantir um palanque forte no Estado que foi governado pelo principal adversário de Dilma, o tucano José Serra. O lançamento do senador foi feito depois que naufragou a tentativa de indicar o deputado Ciro Gomes (PSB). O comando petista considera como estratégico o resultado eleitoral em São Paulo, pois os tucanos tentam abrir uma diferença de 4 milhões a 6 milhões de votos a mais no Estado para neutralizar a dianteira do PT no Norte e Nordeste.

Até o momento, a chapa de Mercadante tem o apoio de PDT, PTdoB, PRB, PC do B e PSL, mas o partido ainda espera compor aliança com PR, PRTB, PTN, PSL, PSC e PHS. As conversas com o PSB ainda prosseguem. O presidente do PDT paulista, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, tenta indicar um vice, que ainda está em avaliação. “Achamos que temos chance de ganhar. Teremos mais tempo de TV e rádio, entre 7 minutos e 8 minutos”, disse Paulinho. “Ele pode até não levar, mas vai dar muito trabalho ao PSDB”, afirmou. Segundo Paulinho, a campanha de Mercadante vai trabalhar principalmente nas cidades do interior Estado governadas pelos partidos da coligação. O PT tem 64 prefeituras e o PDT, 29. Já o PSDB, sozinho, domina 205 prefeituras no Estado.

O PR, que no plano nacional está fechado com a candidatura Dilma, ainda não definiu apoio a Mercadante. Segundo o deputado federal Milton Monti, o partido está dividido entre a candidatura petista e a coligação com o PSB, que lançará Paulo Skaf à disputa. “Nossa exigência é participar do núcleo de propostas para o governo”, disse Monti, ele mesmo cotado para a vice de Skaf. O PR deve definir seu rumo na eleição paulista até meados de maio.

“Aprovação de Lula cresceu em SP e vai me beneficiar”

De São Paulo
23/04/2010

Aos 55 anos, o senador Aloizio Mercadante disputará pela segunda vez consecutiva o governo estadual de São Paulo pelo PT. Nascido em Santos, economista formado pela USP, com mestrado pela Unicamp, vai enfrentar a força tucana em São Paulo.

O pré-candidato do PT ao Palácio Bandeirantes vai explorar na campanha as políticas federais em São Paulo por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do programa de habitação “Minha Casa, Minha Vida” e de convênios dos ministérios da Saúde e da Educação fechados com municípios do Estado. O senador argumenta que desta vez o número de partidos aliados é muito maior, o que ajuda a aumentar o tempo de propaganda eleitoral gratuita da TV e no rádio.

Líder da bancada do PT no Senado, Mercadante diz que fez de seu gabinete uma “embaixada dos municípios paulistas em Brasília” e, com uma melhor relação com os prefeitos, espera aumentar sua força no interior do Estado, onde PSDB, PMDB e DEM são maioria no comando das cidades.

Mercadante estreou na política parlamentar em 1990, elegendo-se à Câmara federal. Até então sua atuação política se restringia à Universidade. Foi presidente, por dois mandatos, da Asssociação dos Professores da Pontifícia Universidade de São Paulo, onde foi professor de Economia. Em 1994, concorreu como vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1996, candidatou-se a vice-prefeito na chapa de Eduardo Suplicy. Em 1998, elegeu-se de volta à Câmara. Em 2002, foi eleito ao Senado. Quatro anos depois, se candidataria pela primeira vez ao governo de São Paulo, ficando em segundo lugar. A seguir, trechos da entrevista concedida ontem ao Valor:

Valor: Qual será a estratégia para o PT conseguir mais votos em São Paulo? Em 2006, a eleição estadual foi decidida no primeiro turno.

Aloizio Mercadante Na outra campanha, saí com 12% e cheguei com 32%. Hoje, temos um arco de alianças muito maior, com mais partidos. Na eleição passada, eram apenas dois partidos. Hoje, temos PCdoB, PDT, PR, PRB e outros partidos menores, mas com bancada, o que aumenta o tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio. Depois, teremos mais candidaturas de outros partidos, o que deve favorecer a realização de um segundo turno. Tem o Fábio Feldman (PV), Celso Russomanno (PP) e, até o momento, o Paulo Skaf (PSB).

Valor: Parte deles deve fechar aliança com o PSDB, como PV e PP, em eventual segundo turno. Isso não é prejudicial à candidatura do PT?

Mercadante: Nossa avaliação é de que eles vão disputar o mesmo eleitorado do PSDB no primeiro turno, o que nos favorece.

Valor: Como convencer o eleitor que tradicionalmente vota no PSDB a votar no PT em São Paulo?

Mercadante Em comparação a 2006, a situação do governo Lula é muito melhor tanto no Estado de São Paulo quanto no Brasil. Temos muito a apresentar do que o governo federal fez em São Paulo. O governo está com ótimos resultados na economia, no crescimento do PIB, na renda, geração de emprego, distribuição de renda. Desta vez, teremos o apoio de praticamente todas as centrais sindicais.

Valor: Esse não é um discurso mais nacional?

Mercadante Vamos apresentar muitas ações do governo federal no Estado. O “Minha Casa, Minha Vida”, em um ano, está construindo 72 mil casas populares. E outras 80 mil estão em negociação na Caixa Econômica Federal. Já o PSDB tem uma média de 20 mil casas ao ano e nós demos foco no público com renda de até três salários mínimos. Fizemos obras de saneamento em 302 cidades de São Paulo, 186 mil estudantes recebem bolsa do Prouni e o governo construiu diversas universidades. No Bolsa Família, são 1,1 milhão de famílias beneficiadas, enquanto o Renda Cidadã, do governo de São Paulo, contempla apenas 147 mil famílias.

Valor: Quais serão as principais críticas ao PSDB na campanha eleitoral?

Mercadante Esse grupo está há 27 anos no poder, desde 1983. Como PSDB, desde 1994. Vamos mostrar o colapso no transporte. No horário de pico, um carro anda a 15 quilômetros por hora, o metrô e os trens da CPTM são deficientes, a estação da Sé é a mais congestionada do mundo. A educação vive um quadro desolador. Os indicadores mostram piora, o desempenho dos alunos de São Paulo está abaixo da média nacional e o professorado está muito descontente, receberam reajuste de 5% nos últimos cinco anos. Criaram um abono por desempenho que só até 20% deles têm direito. É o 14º salário no ranking das 27 Unidades da Federação. Na Segurança, existe uma tragédia nos presídios, que piorou muito no governo (Geraldo) Alckmin, com o fortalecimento de facções criminosas dentro dos presídios, como o PCC. Falta uma política prisional, é preciso introduzir o monitoramento eletrônico do preso, usar penas alternativas e evitar que voltem à criminalidade. Esse percentual atualmente é de 80%. A polícia é mal remunerada, falta policiamento preventivo e investigação, os indicadores se deterioraram fortemente no ano passado. Na Saúde, o governo do Estado foi o único a não assinar convênio para receber ambulâncias do Samu e também não quis fechar parceria para receber as UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) do Ministério da Saúde, que são muito importantes porque desafogam as emergências dos hospitais.

Valor: Mas como reverter o quadro eleitoral desfavorável de 2006, especialmente no interior?

Mercadante Hoje, existe a possibilidade de renovação. Naquela época, o presidente Lula e seu governo não eram tão bem avaliados quanto hoje. A boa avaliação do governo do presidente Lula quase dobrou no Estado. Lula, como era candidato, não podia participar. Desta vez, vai poder. Todas essas condições fortalecem muito a campanha. É uma disputa histórica, o Brasil melhorou com Lula e São Paulo pode melhorar. Lula virá muito aqui, ele vai se dedicar porque sabe da importância para a campanha de Dilma. Em 2006, Lula também não teve boa votação. De lá para cá, fizemos uma política do fortalecimento dos municípios. Na Habitação, aumentamos o repasse para a saúde, educação, o PAC também está presente em diversos municípios. Recebi 615 municípios de São Paulo, fiz do meu gabinete de Brasília uma embaixada dos municípios. Aumentamos a participação do FPM, apoiamos a PEC dos precatórios, refinanciamos dívidas do INSS.

Valor: A organização do PSDB, que governa o Estado, não ameaça?

Mercadante A máquina eleitoral do PSDB é muito forte. Mas hoje existe uma diferença. O governo Lula liberou recursos para as prefeituras a recuperação após as enchentes, que causaram 79 mortes. Essa atitude de parceria se intensificou muito no governo Lula e poderá contribuir para o resultado eleitoral. A credibilidade do governo Lula dá força para as nossas propostas.

Valor: E com relação ao Senado?

Mercadante Além da Marta Suplicy, cuja candidatura pelo PT é forte pela sua experiência administrativa e pelo discurso moderno, a segunda vaga está em aberto. Aguardamos a evolução das decisões do PSB, que tem para o Senado o vereador Gabriel Chalita. Pelo PCdoB, tem o Netinho de Paula, um nome que considero muito competitivo, que dialoga com o jovem da periferia e que tem minha simpatia.(A.P.G)

Luis Nassif

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