A posição de Collor na CPMI

Alvo da mais famosa CPI da República – a que resultou na sua cassação – o senador Fernando Collor de Mello tem preocupação em manter o foco na atual CPMI. E em garantir o pleno direito de defesa aos acusados e do contraditório necessário.

Reconhece que a CPMI atual tem características inéditas.

A primeira, é que surge depois que a Procuradoria Geral da República (PGR) já fez a denúncia ao STF(Supremo Tribunal Federal). Nas anteriores, a PGR ficava aguardando os resultados das próprias CPIs.

A segunda característica é que todas as CPIs anteriores tinham foco definido, “mesmo aquela que resultou no meu impeachment”, diz ele. “Embora visasse apurar as atividades de PC Farias, tinha o foco de derrubar Collor”, completa.

Com o foco dado, todos se mobilizavam em torno do tema.

A CPMI atual, não, é difusa. O que suscitou sua criação foram as ligações do senador Demóstenes Torres com Carlinhos Cachoeira. Agora, Demóstenes passou para segundo plano, pois outras prioridades foram colocadas. E como dar foco?

Apenas uma parte dos documentos requisitados pela CPMI chegou com 15 mil páginas. E é uma fração da Operação Las Vegas, diz ele. Por melhor que seja a assessoria, nenhum parlamentar conseguirá dar conta do recado.

Para dar o foco, Collor sugeriu a convocação do PGR (Procurador Geral da República), que formulou a denúncia ao STF, e dos dois delegados da PF e dois procuradores que atuaram diretamente nas duas operações, a Las Vegas e a Monte Carlo.

A intenção não foi constranger o PGR, mas apenas o de acelerar a compreensão das operações, respondendo a perguntas elementares, diz ele. Por exemplo: sua denúncia foi baseada em que fatos? Quais os delitos que o senhor encontrou? Quais as pessoas envolvidas nesse esquema? O que mais o senhor detectou da ação da quadrilha?

Essa técnica – de entrevistar a fonte para facilitar a compreensão da obra – é recurso amplamente utilizado nas reportagens.

Dado o roteiro geral, pelo PGR, haveria um detalhamento das investigações com os delegados e procuradores que participaram das operações e a CPMI já partiria de uma linha objetiva.

Mas os senadores ligados ao Ministério Público levantaram à questão do sigilo e do fato do depoimento do PGR puder incapacitá-lo para formular a denúncia.

Collor argumentou que a denúncia já foi feita ao STF. Se houver necessidade de complementá-la, qualquer procurador tem essa prerrogativa.

Mesmo assim, decidiu-se pela não convocação de Roberto Gurgel, o PGR, por enquanto. Mais à frente poderá haver um convite.

Enquanto não houver esse fio condutor, o que se observa no Senado é um tiroteio amplo de versões. A cada hora surge um boato novo, uma nova ilação.

Luis Nassif

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