A solidão de Arthur Virgílio

Do Valor

No Amazonas, campanha é de todos contra Virgílio

Luciano Máximo, de Manaus
27/08/2010

Flamenguista doente, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) está no meio de uma roda de trabalhadores da fábrica da Honda na Zona Franca de Manaus e fala, com otimismo, sobre as chances de seu time do coração – e de esmagadora maioria da população do Amazonas – terminar o Campeonato Brasileiro entre os quatro melhores. Ao fim da conversa, ele se despede apertando a mão e chamando cada um dos interlocutores pelo nome. Apesar de o Flamengo não estar nada bem – apenas em 11º lugar no Brasileirão -, Virgílio sabe que tem uma eleição dura pela frente e precisa estar cada vez mais próximo do povo se quiser ser reeleito.

Aliado de um candidato ao governo estadual com zero nas pesquisas e distante do presidenciável tucano José Serra, que não consegue decolar no Amazonas, Virgílio está praticamente sozinho. Seus adversários estão nas duas maiores coligações do Estado e têm as candidaturas turbinadas pelos apoios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da petista Dilma Rousseff e do ex-governador Eduardo Braga (PMDB), que aparece virtualmente eleito senador com mais de 80% das intenções de voto. “O embate Arthur-Vanessa será mais acirrado que a campanha de governador”, avalia Edmilson Barreiros, procurador-regional eleitoral do Amazonas.

DianDiante do desafio, Virgílio aposta no contato com o eleitor, no discurso da perenização dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus e no apoio dos prefeitos do interior, muitos beneficiados pelo trabalho do parlamentar em Brasília nos últimos anos. Segundo ele, sua rotina em campanha tem sido levantar, todos os dias, às 4h e “não dormir antes da meia-noite”. “Hoje já apertei quatro mil mãos, minha candidatura tem personalidade, não tem tutor, depende só da minha vida e do meu passado, de mostrar o que pretendo fazer. Acredito que serei vitorioso e com base elástica”, persevera Virgílio, popularmente conhecido no Amazonas como Artur (sem o “H”) Neto.

Os números mostram o contrário. Pesquisa feita entre 15 e 22 de agosto pela Perspectiva, empresa que faz levantamentos estatísticos no Amazonas, mostra Virgílio com 39% das intenções de voto, empatado tecnicamente com a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB), que chegou a 39,3%. Na última coleta de dados do Ibope – 27 a 29 de julho -, Eduardo Braga liderava com 86%, seguido por Virgílio (43%) e Vanessa (33%).

Segundo analistas políticos locais, Virgílio é alvo de um plano para ser escanteado do mapa político amazonense e nacional. A estratégia envolve campanha pesada de Braga, com seu imenso apelo popular entre os amazonenses, em favor da candidata do PCdoB. O movimento também contaria com aval do presidente Lula. Eventual derrota do tucano deixaria o Amazonas, em 2011, com três senadores da situação em caso de vitória de Dilma e de Omar Aziz. “Muito se comenta que o presidente deseja tirar o mandato do Arthur de qualquer jeito. Ele é um líder de oposição de expressão nacional que incomoda”, diz um observador.

Antes do início da campanha eleitoral, o PT amazonense liberou seus filiados no Amazonas para apoiar candidatos da coligação de Vanessa, enquanto a presidenciável petista assumiu palanque duplo no Estado e aparece com destaque no material de campanha da deputada federal. Numa cômoda posição de angariador de votos para Vanessa, Eduardo Braga desconversa: “O PT tem candidato ao Senado. A Vanessa tem o respeito do presidente Lula e do PT nacional porque é uma ótima parlamentar, mas ela se tornou nossa candidata por mérito, porque o PCdoB participou do nosso governo e do plano macroestratégico que temos para o Amazonas.”

Com três mandatos como vereadora em Manaus e no exercício da terceira legislatura na Câmara dos Deputados, Vanessa sempre foi uma histórica opositora ao grupo político de Eduardo Braga e Arthur Virgílio. No segundo mandato de Braga, o PCdoB saiu da oposição para a situação, quando o marido de Vanessa, o deputado estadual Eron Bezerra, também do PCdoB, assumiu uma secretaria no governo estadual. “Nesse período, o Eduardo começou um processo de cooptação fantástico e governou sem oposição. Mesmo assim acredito que a Vanessa não tenha cacife politico para vencer o Arthur, que é tido como um grande senador”, explica o petista Aloysio Nogueira, professor de história da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Com a troca de lado de Vanessa, a artilharia do PCdoB vai mirar apenas o senador tucano. O presidente municipal do partido, Antônio Carlos Brabo, não esconde que a campanha vai resgatar temas polêmicos. “Vamos dizer à população que o Arthur agia de forma truculenta com trabalhadores quando foi prefeito de Manaus e ameaçou dar uma surra no presidente Lula em vez de cuidar dos interesses do Estado no Senado.”

Na linha de fogo, Virgílio não esconde que o tempo de críticas a Lula, que tanto marcou sua atuação no Senado, acabou… ao menos enquanto durar a campanha. “Pode me chamar de pouco inteligente se eu tentar me reeleger brigando com o Lula dia e noite. Segurei a oposição no Senado nas costas durante sete anos, agora quero cuidar da minha reeleição. Quero meu mandato de volta, estou sozinho, sem um candidato forte ao governo, se fosse adesista já estaria eleito”, dispara o tucano. 

Luis Nassif

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