Ainda estamos aguardando o verdadeiro “gigante” acordar

Por ArthurTaguti

Comentário ao post “Muito além do plebiscito

Se compararmos nosso país com a França, chegamos a conclusão que sequer tivemos uma Revolução tal qual ocorreu naquele país. A Revolução lá foi burguesa, e manteve em grande parte o sistema de exclusão social da população mais pobre.

Deste ponto, para a efetivação do Estado de bem-estar que hoje observamos no país, ocorreram sucessivas insurreições populares, revoluções, e até o estabelecimento de um poder comunal na sua capital. Isto não significa que o povo tenha tomado definitivamente o poder.

A burguesia francesa sempre conseguiu retomar a ordem, mas é certo que a manutenção desta supõe realizar um capitalismo mais humanizado, que amenize a desigualdade de renda e as tensões sociais.

No Brasil a revolução não chegou. Os rearranjos institucionais e a modernização aqui sempre teve caráter conservador, e empreendidos pelas nossas elites. Todos os focos de revoltas e demandas populares (Canudos, Revolta da Chibata, Eldorado do Carajás, Pinheirinho, e os exemplos seguem) foram violentamente reprimidos e tratados como caso de polícia.

Mesmo atualmente, com as passeatas que tomaram conta do país nas últimas semanas, a massa é composta em sua maioria pela classe média sequiosa de participação política. Não que os mais pobres estejam muito satisfeitos. O problema é que, em uma sociedade igual a nossa, a herança da Casa Grande e Senzala ainda pesa.

Não é fácil levantar levantar bandeiras de igualdade universal em um país tão heterogêneo quanto o nosso. A classe média vai para as ruas em causa própria, e para a grande massa ainda pesa o receio de levar uma chicotada no lombo caso tente levantar voz.

A nossa sociedade foi construída em bases perversas. E não é só a classe média e as elites que enxergam os pobres de modo diferente; a própria população marginalizada, que não milita nos movimentos organizados, ordinariamente vislumbra a pobreza e a desigualdade social como fato da natureza. 

Então, é complicado prever mudanças muito drásticas no nosso sistema democrático. Mesmo sendo positivo abrir canais de comunicação a nossa classe média sequiosa por participação política, o rearranjo institucional sempre tende a ter um corte mais conservador, e certamente se realizará excluindo a grande massa, para variar, dos processos decisórios. 

O ponto positivo é que há sempre uma esperança deste processo ser contagioso, e assim a classe mais pobre se organizar politicamente, para vocalizar suas demandas. Só que nada disso é muito certo. A ver.

O que é certo é que, mesmo com maior abertura política franqueada a nossa classe média, esta é essencialmente conservadora, individualista e movida prioritariamente pela perspectiva de ascensão social e aumento da capacidade de consumo.

A questão é que ninguém aceita perder privilégios. Para implantar um sistema de justiça social a la França, Alemanha, Holanda, etc., não é só os ricos que perdem seus anéis de diamante, em troca de outros de ouro; a classe média também tem que entregar seus anéis de latão e estabelecer-se no mesmo patamar dos pobres que ela geralmente tem ojeriza.

Nesse ponto, tenho que concordar com Gunter que o norte perseguido tanto pela classe média quanto pelas elites não é o europeu, mas o americano, mais propriamente o estadunidense. Mas é sabido e percebido que este sistema também não traz justiça social alguma, e suas contradições já começam a aparecer para quem quiser enxergar.

O horizonte é favorável sim, e esta oxigenação da política brasileira é bem vinda. Mas ainda estamos aguardando o verdadeiro “gigante” acordar. Com Lula (o maior comunicador popular de nossa história) e o PT, oportunidades perdidas. Com a nova geração antenada nas redes sociais e esta molecada participativa do MPL e outros dessa “nova” esquerda, ainda só uma esperança.

Vamos ver se conseguem fazer a fagulha acendida chegar às periferias de nossas cidades. Aí sim poderemos esperar mudanças que não caibam na moldura do rearranjo institucional conservador.

Luis Nassif

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