As conspirações e a discussão no campo da realidade

Por Sérgio Medeiros

As conspirações e a discussão no campo da realidade

Pode-se aferir uma análise rasa ou superficial, por exemplo, quando o autor do texto repete, de forma acrítica,  a pauta da grande mídia em temas específicos, mas com potencial lesivo para o governo.

Exemplo claro deste tipo de ato, é o noticiado envio do orçamento ao Congresso Nacional, prevendo déficit nas contas públicas, e de que isto teria sido a gota d´água para o rebaixamento da nota do país perante as agências que analisam o risco de efetivo pagamento por parte das grandes economias mundiais.

No caso, trata-se de evidente estratégia destinada a barrar ou ao menos definir claramente a forma de atuação do Congresso Nacional (deputados e senadores), que, até mesmo segundo os setores de oposição e mídia, reputam como irresponsável, na concessão de benefícios a diversos setores, onerando o Estado num momento em que a situação fiscal esta especialmente fragilizada.

Com o envio de um orçamento deficitário, permite-se que a população veja, ao menos neste espaço, a forma como os deputados e senadores estão atuando para equalizarem ou para prejudicarem o governo na tentativa deste de resolver as atuais pendencias econômicas, ou seja, torna claro, aos leigos, uma determinada face, desconhecida do grande público, mas que, em determinados episódios se torna de fácil compreensão, no que se convencionou chamar de pautas bomba.

Até mesmo estas simples constatações passam ao largo destes textos altissonantes que prenunciam o Apocalipse e se destinam apenas a demarcar posições, ainda que totalmente descoladas da realidade, e isso pode ser traduzido por total falta de compreensão da matéria ou por necessidade de se manter em conformidade com determinados setores e assim preservar seu status quo e espaço de intervenção, sem sair da cinzenta zona de conforto que habitam há mais de três décadas.  

Nesta mesma linha, a ilação de que o PT desejaria se livrar de uma Presidente inconveniente (de seu partido e eleita com o esforço deste partido) é de uma tal insanidade que agride a inteligência até mesmo de pessoas desacostumadas a pensar, de modo que chego a conclusão de que o autor que veicula tais boatos, nestes casos, traduz um desejo pessoal, o qual, por um lapso incluiu no texto, num momento de descuido, mas que revela, de forma clara, sua falta de conteúdo.

A destituição da Presidente Dilma, não ameaça o partido dos trabalhadores, ameaça a Democracia, e, sem democracia, não há projeto de nenhum partido, mas apenas dominação e repressão,  e neste caso, não é necessário ser nenhum estudioso ou intelectual orgânico para ao menos vislumbrar tal cenário.

Em sequencia e não menos superficial, e a conclusão de que o “golpe” não ocorre pois, em face da provável delação de Fernando Baiano, teriam ficado indefinidos os próximos implicados na operação Lava-Jato, que poderia atingir Michel Temer e seu partido, o PMDB.

Esquecem que, entre investigados, temos, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados, Renan Calheiros, Presidente do Senado, diretamente ligados a linha de sucessão presidencial e que, ao fim e ao cabo, atuariam decisivamente num processo de impeachment, sendo que ambos são do PMDB.

A possível ampliação da Lava-Jato, não é motivo para que se adie o “golpe”, mas sim para que se acelerem tais movimentos, uma vez que, claramente coloca uma Presidente até agora sem nenhuma implicação como culpada do escândalo de corrupção e propina, como centro de uma trama, em que os seus algozes, que servirão como juízes, é que estão sob a suspeita de estarem envolvidos em todo este assalto ao Estado brasileiro.

Por fim, ao contrário das previsões, de caráter politico conspiratórias, a solução para o governo Dilma, passa necessariamente pela economia, e, neste caso, como ainda não visualizado claramente nem pela oposição nem pelos analistas de plantão (tipo Globo e outros), a discussão e definição do Orçamento é peça fundamental na redefinição das atribuições, responsabilidades e culpas de cada esfera de poder.

Este é o espaço de disputa hoje, e quem quiser defender a democracia, tem que se posicionar de modo a deixar claras as responsabilidades e o tipo de Estado e prioridades que serão adotadas.

Pausa.

Alguns destes – não todos -, hoje chamados pela grande mídia de cientistas políticos, título por eles orgulhosamente exibido, são indivíduos que, depois de um tempo de rebeldia juvenil,  dedicaram-se a construírem espaços de inserção puramente intelectual (sem compromisso com a realidade) em uma auto denominada esquerda nacional, ou seja, passaram a atuar num campo específico, mais precisamente, no espaço da academia.

Esta “esquerda” ilustrada, que estudou Marx, Lênin e Trotski, que adentrou nos meandros da revolução francesa, e que, em suma, passou mais de três décadas, analisando e enquadrando todos os movimentos que se haviam posto sob tal prisma, ou seja, todos os movimentos que se poderiam definir como tendo uma origem popular de insurreição e de ideologia que pudesse ser considerada de “esquerda”, eram logo catalogados e minuciosamente estudados para ver sua identidade histórica e, desta forma, poder ser analisado seu potencial revolucionário e de transformação da sociedade, apenas vislumbrado em livros.

Redefiniam, desta forma, sob seus parâmetros, os movimentos, e os idealizavam ou impiedosamente lhes vaticinavam a destruição ou pior, à sucumbência pequeno burguesa, espaço ao qual – apesar de negarem-, com o tempo, ficaram de tal forma ligados, que isso passou a lhes turvar a visão.

Passaram a repetir-se, pois os parâmetros eram seculares, e as ideias, cópias mal feitas dos mestres, pois deslocados no tempo e espaço históricos, fadados ao erro,  e os potenciais Príncipes, fossem partidos ou instituições revelaram-se logo adiante pura miragem, “se desmanchavam no ar”.

Apesar disso, apesar de verem suas teorias, uma a uma serem postas abaixo por um incompreendido mundo moderno que não permitia fosse colocada a roupa autoritária de suas verdades empoeiradas e saídas  de um baú, renegado até mesmo pelos piratas mais fajutos, ainda assim, não conseguiram, até hoje, se desvencilharem de suas ideias fixas de 30 anos atrás, tornaram-se prisioneiros de sua condição social, são intelectuais que exibem sua cultura antiga e conhecimentos hermeticamente fechados, como um fim em si mesmo, sua justificação social e eterna incompreensão perante o mundo.

Por isso escrevem compulsivamente sobre os problemas da esquerda no poder, mais precisamente sob as agruras do PT, ao qual acompanham desde a origem, e a cada passo apontam improváveis desvios, ainda que imaginários, ainda que frutos da vilania ideológica, que, muitas vezes, serve apenas para manter seu status quo, para manter sua visão crítica de mundo, como parcela essencial da humanidade.

Esquecem, por óbvio, por viverem de teorias com interpretações estanques da realidade, que passamos a viver num mundo cada vez mais sob o jugo do capital, seja produtivo ou rentista, e que, sob qualquer ótica, tem pleno controle dos mercados, sendo que, com a derrocada do estado europeu do bem estar social, a margem de manobra de setores mais progressistas, nem mesmo ouso falar de esquerda, ou mesmo vagamente socialistas, ficou deveras restrita, dependendo da capacidade de novos dirigentes de se reinventarem, e assim, nestes reduzidos espaços, tecerem novas formas de inserção e participação social. 

Nesta conjuntura adversa, aqui no Brasil, o primeiro passo foi dado, a retirada das pessoas de sua condição de indigência e miséria, a criação de uma consciência, ainda que embrionária, de que são sujeitos de direito, tanto econômicos quanto sociais, são cidadãos, e, isso, por ter sido internalizado como fator integrante da personalidade das pessoas, patrimônio indisponível, não mais se faz possível que alguém tente lhes retirar tal condição, sem resistência e luta.

Este famoso acumulo de forças, tão incensado em épocas pretéritas por esta academia “socialista”, neste momento, ao invés de incentivo a sua consolidação e maturação, deu lugar a uma cobrança pela adoção de projetos de ruptura social e antagonismo de classes na forma pura e primitiva, uma volta ao passado em detrimento de sua concepção mais coerente e atual, ou seja, de evolução das relações de poder e estruturação social, somente alcançável pela disponibilização dos denominados direitos sociais, educação, moradia, saúde e trabalho.

O modelo antigo de ruptura, traz,  ainda, o germe da violência e tem no atual modelo global corporativista e rentista, um inimigo mortal, imensamente superior em armas, manipulações e capacidade de cooptação, que inviabilizaria qualquer tentativa de eventual tomada de poder pela força.

Longe de captarem tal conjuntura, muitos “cientistas políticos”, cujo academicismo fez com que sempre olhassem o povo de longe, apesar disso, sonharam em educar este povo segundo suas fórmulas, ao invés de conhecê-lo e tentarem fundir suas convergências.

Este é um dos maiores erros de grandes setores da “esquerda” que ainda os consideram seus condutores e mentores, sem se darem conta que o PT tem pago um preço amargo por tais disputas de manutenção de tal  discurso de “esquerda”, tanto os de ruptura como os de adequação.

Estes intelectuais, com tal visão e formação (que ainda tem laços com o partido, em seu sentido histórico de ideia e origem, ainda que não hegemônicos em sua intervenção partidária), não conseguem vislumbrar a realidade, nem mesmo quando Lula lhes deu inúmeras lições e, talvez por isso, ainda hoje não o perdoem, pois, com seu pragmatismo e conhecimento da realidade sempre suplantou com sobras, a visão acadêmica desses que, com seus antolhos e binóculos, voltados não somente ao passado, mas a um lugar mais próximo, aos seus umbigos, sempre tiveram travados seus passos.

Olhem o panorama mundial, vejam como se movem as peças, vejam como se move a economia.

Até hoje, se ressentem do fato de Lula através de uma simples percepção, ter tirado o Brasil da crise mundial de 2008 e depois ter consolidado um excepcional progresso nas condições sociais e econômicas da população mais pobre.

Não foi nenhuma análise aprofundada, fruto de estudos de economistas dignos de ganhar um prêmio  Nobel. Sim, não foi nada perceptível para doutores, ensimesmados em livros que não tem o condão de dizerem nada além do passado, o qual de nada serve a quem não adquiriu a sabedoria para interpretar os dados da realidade para projetar o futuro.

A economia, e em especial a economia brasileira, tem um forte, excepcional, componente anímico.

Assim, quando Lula afirmou, no alto de seu carisma que no Brasil, a crise seria uma marolinha, nada mais fez que estimular o mercado os trabalhadores as pessoas a exercitarem seus afazeres, a criarem e produzirem riquezas, para todos.

E ao fazer isso, disse ao mundo inteiro, ensimesmado e recolhido, que queria ter relações comerciais com todos e, deste modo, deu uma lição aos arautos da ruína, pois ofertou oportunidades e coisas e gentes e boa vontade, e se espalhou, em forma de Brasil, por todos os espaços do globo.

O povo entendeu isso, e entenderia se de novo Lula lhes conduzisse, e isso, por um singelo motivo, as pessoas acreditam no ex-presidente e na forma como ele, sem otimismos descolados da realidade, disseca e desvenda o atual momento que a economia e a sociedade mundial vivem, e descobre os caminhos que levam a busca do bem estar comum.

O tempo das utopias se constrói lentamente.

E neste momento, a única coisa imprescindível, como sempre, é o povo e suas condições de vida, a disputa não se dá, no campo da economia, mas dos agentes que a movem enquanto sociedade e sustentáculo desta estrutura baseada na proteção e segurança das pessoas que a constroem.

O Partido dos Trabalhadores, não se define em sua burocracia nem nos intelectuais que atestam sua iminente morte, ele se construiu no tempo como patrimônio de todo o povo brasileiro, e , nenhum dos que partilharam deste projeto, que conspiraram pela vida, pode desistir de lhe dar o rumo do qual nunca deveria ter se desviado.

Há tempo de criar, há tempo de descansar, mas,  agora, é novamente o tempo de lutar, de novamente retomarmos a condução de nossas aspirações, sem retrocessos sociais, mas com a imprescindível luta para mantê-los e ampliá-los.

E, sem ajustes sociais(anti).

Sim, meus caros sociólogos de chá  uísque  vinhos caros e bibliotecas cheias de livros lidos e raramente compreendidos, porque a filosofia e a sociologia e até mesmo a economia é feita de gente e vontade, e, sinto lhes dizer, enquanto não saírem de suas tocas e verem a textura, a face, os risos, destes que são o substrato de suas teses, nada do que construírem terá consistência, serão quais castelos de areia, ou casas edificadas sobre a areia, sem o necessário alicerce feito da pedra brutas das gentes que efetivamente são ao fim e ao cabo, o que importa e define este conjunto excepcional que se convencionou chamar sociedade, e que na realidade, deveria se pautar pelo simples reconhecimento da vida humana como pilar fundamental.

Observem o mundo, privilegiem a visão clara dos que estão sendo subjugados, vilipendiados, e dai extraiam suas teorias, mas, nunca, jamais, de forma alguma, ainda que sob o disfarce de teses elaboradas, tentem decretar a extinção,  desta forma generosa de ver o mundo que encantou e ainda encanta pessoas simples que acreditam que a luta pela emancipação e respeito a dignidade de todos os seres humanos basta pra coroar, de forma plena, sua existência. 

Redação

4 Comentários

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  1. Perfeito, Sérgio!

    Fiquei feliz de ler um texto com tanta lucidez, parabéns!

    Em junho havia escrito um texto nesta linha de raciocínio, Os dados concretos estão defasados, porém, as ideias dele corroboram com as suas. Vou colocar aqui:

    TEMPOS DISTINTOS: ACADEMIA E REALIDADE! HÁ DE SE BUSCAR UM EQUILÍBRIO POR PARTE DAS ESQUERDAS. (ESCRITO EM JUNHO DE 2015). 

    A questão da Academia é que ela se torna, muitas das vezes, um castelo fechado, um tanto distante da realidade, local onde se produz o Teórico, enquanto a realidade pulsa nas ruas, nas periferias, no campo, nas fábricas, nas estradas do Brasil, etc.

    Imaginemos uma grande biblioteca e um leitor voraz? Nos livros poderão estar todas as possibilidades de pensar o Mundo, mas um livro não pulsa concretamente, não tem nenhuma contradição a ser debelada de imediato, a ser derrotada no chão das ruas e para já. As ruas se movimentam mais rápido do que o tempo dele ser escrito e publicado e já se tornar, em muitos casos, ultrapassado.

    Enquanto o intelectual pensa produzir um Artigo aprofundado no tema: laicidade, sobre a necessidade do Estado laico, argumentando para tal, os deputados da bancada evangélica já tornam a Câmara dos deputados um Templo, rezam o Pai Nosso de mãos dadas e saem a votar um Projeto contra a Cristofobia.

    O tempo da realidade não é o tempo da Academia. E, hoje, com esta Direita sem limites que está ai, mais do que nunca.

    Não adianta sonhar apenas partir do mundo teórico perfeito, que os livros muito bem podem construir, porque são feitos de ideias, ideais, sonhos, concepções particulares, ele, o Mundo real é muito mais complexo e em constante mutação.

    Enquanto se dizia que o Pacote do Levy era a entrega do Governo Dilma ao mais radical neoliberalismo, no dia seguinte, as análises estavam sem chão, porque o Governo Federal divulga dois pacotes ligados à infraestrutura, um em parceria com a China na ordem de mais de 50 bilhões de dólares e outro de mais 200 bilhões de reais para a construção de estradas, aeroportos, ferrovias e modernização de portos. O que se dizia ser um buraco sem fim, que elevaria o aumento do desemprego, agora, se diz: estamos começando uma segunda etapa do segundo Governo Dilma. E muitos da esquerda e intelectuais concordaram com o artigo do Nassif do começo da semana e, quantos, não ficaram mais perdidos que cego em tiroteio.

    E assim vai. O conhecimento teórico e a prática existem, mas com dois tempos distintos. A pressa em afirmar que o Governo Dilma havia traído as esquerdas, urge com a mesma pressa, só que agora para tentar entender o que vai acontecer após estes anúncios dos pacotes de infraestrutura. É preciso, afinal, dizer algo.

    Lá na Academia o tempo é outro. Porém, na hora de analisar o tempo real parece que se atropela o outro tempo e se tem uma análise da realidade de imediato. Não seria contraditório?

    Hoje, é muito comum a ausência da interdisciplinaridade. Vejam que fazem análise econômica do Brasil atual, porém, muitas vezes se esquece de amalgamar tudo e falar na mesma análise da revolução social promovida pela inclusão e ascensão social nos governos petistas, se esquece de lembrar dos Brics e a nova Geopolítica Mundial, da velha mídia, do Judiciário ligado ao PSDB, do antipetismo e antinacionalismo radical da Direita no Congresso Nacional, na sociedade regida pelos Pitbulls das vejas da vida, do mercado financeiro, etc. E vira, em determinados casos, uma análise fechada.

    Ai fica tudo resumido: PT traiu a esquerda, Dilma cometeu estelionato eleitoral. É o slogan do imediato, as três ou quatro palavras que chamam atenção, que dão visibilidade ao indivíduo que escreve um artigo qualquer. Porém, é o escrito deslocado, muitas vezes, do chão firme do real. E, apressado, indo contra a própria concepção da Academia e das Ciências Humanas.

    Será que as esquerdas mais intelectualizadas conseguem fazer análise da conjuntura atual, somente, a partir dos livros? Dá tempo de se basear só em livros? Ou quando fizerem a análise tudo já se configura diferente?

    Parece que o pós-Levy surgiu e ninguém se deu conta. Ainda estavam no Pacote Levy e lá fixados. Tudo era o pacote do Levy que foi a traição ao resultado eleitoral e às promessas de campanha.

    A Direita vá lá. Faz tudo ao contrário que o Governo faz. É o vale-tudo no mundo deles. As esquerdas, não! Elas precisam medir as palavras porque são porta-vozes de milhões e milhões que querem mudar o Brasil continuadamente.

    Ver o pensamento de Esquerda para com um Governo eleito pela Esquerda pessimista do jeito que vemos, em muitas das vezes, só traz benefícios para a Direita, porque divide as esquerdas em duas: a governista e a oposicionista, e deveríamos é ser equilibrados para fazer a análise certa e congregar e não separar e avançar no chão concreto.

    Questionar, sim! Mas propor bem mais do que só criticar, e viver de dizer dos erros. Tem tantos acertos a serem elogiados. E, parece que só há espaço para críticas.

    O PT fez uma revolução social no Brasil. Bagunçou a sociedade de castas, penso eu. Nunca vi elites terem tanto desejo de derrubar uma Presidenta da República, e é 24 horas por dia. Por que será?

    E, vamos acreditar que é porque ela feriu o ideário das esquerdas?

    É preciso aprofundar a análise da realidade sem perder contato com a realidade, nem podemos ser o Acadêmico e sua Tese de Doutorado que pode levar 3, 4, 5 anos ou mais e nem descuidar da compreensão do todo e suas variáveis em constante modificação, para fazer análises em tempo mais real sem perder o controle, a qualidade do que se analisa.

    Metaforicamente é dizer que não podemos ser nem o Climatologista e seus estudos a partir de dados plotados em 30, 40, 100 anos e as teses sobre desertificação, aquecimento global nem o Meteorologista que visa responder o imediato: vai chover hoje? Vai fazer sol hoje? E, sim uma mescla dos dois.

    E é preciso, também, viver mais a realidade, onde ela se desenrola e se reconstrói diariamente.

    O povo não quer ser “socialista”, a imensa maioria do povo tem os seus desejos, tem as suas vontades, para além do mundo idealizado dos revolucionários. Quantos e quantas do povo sonham em ser Burguês, em ter posses e Poder, não é verdade?

    Só se construirá outra sociedade mudando a mesma com a mão na massa.

    Para além da crítica acadêmica, da crítica oportunista que às vezes vemos, é preciso conviver mais com o povo, ouvi-lo e entender o que ele quer. Vivenciar sua realidade dura do CPTM às 6 horas da tarde, se me entendem.

    Talvez, o Governo do PT que tanto criticamos saiba mais disto do que os intelectuais, que a extrema-esquerda. O Teórico com seu tempo desfrutado numa sala com ar-condicionado e vivido fora do horário de rush vive um mundo maravilhoso e confortável, mas não é a realidade da imensa maioria do povo trabalhador brasileiro.

    Revolução é pão na mesa de cada brasileiro. Nisto o LULA é sábio, viveu sem pão na mesa, e quis que todo brasileiro tivesse ao menos 3 refeições ao dia e conseguiu.

    A primeira etapa está dada: a do pão na mesa. Agora, cabe às esquerdas encontrar caminhos para um novo discurso que seja palatável ao povo e que ele possa segurar e querer compartilhar.

    Desunião não vai dar vazão à sociedade mais justa e igualitária e humanista que queremos.

    Frente às forças de Direita que estão provocando verdadeira cisão social no País e a olhos vistos, provocando um ódio e intolerância social inimaginável até pouco tempo atrás, as esquerdas precisam se juntar e defender conjuntamente seus ideais, para além das picuinhas e teorias distintas de como intervir na sociedade.  

    Precisamos aproveitar a possibilidade de ter no Governo Federal imensa maioria de gente Democrata e progressista, gente com sensibilidade social e comprometida com o futuro, com o desenvolvimento nacionalista de nosso Brasil e que são patriotas e ajuda-lo a poder construir o Brasil sonhado.

    O PT já pagou todos os seus pecados. Vamos ajuda-lo a se fortalecer e a se revolucionar. Quantas bandeiras novas ele não tem se proposto a implementar. Uma Reforma Tributária, o imposto sobre as grandes fortunas, a banda-larga para todos, o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, etc.

    Vamos nos organizar para informar e trazer a sociedade para o debate e para que a mesma, também, queira estes avanços. Vamos nos organizar para informar a sociedade sobre quem quer a terceirização da atividade-fim nas empresas e quais os seus enormes malefícios. Vamos nos organizar para informar/conscientizar melhor sobre a absurda ideia de diminuição da maioridade penal, etc.

    E temos que ir de encontro à sociedade. Não tornar a análise da conjuntura e as ideias pessoais/partidárias mais importantes que a transformação diária da realidade social.

    Se a Direita chegar ao Poder em 2018 pode ser tarde. Esta Direita doente que ai está vai fazer coisas contra todos os políticos, militantes, simpatizantes e as ideias de esquerda que até Deus dúvida possível. Tudo para se manter no Poder a qualquer custo.

    É preciso derrotar (curar) o doente antes que ele fique mais doente! Não há para a Direita brasileira e midiática de hoje diferença entre PSOL, PCO, PSTU, PCB, PCdoB, PPL e PT, somos todos inimigos a serem abatidos.

    É preciso ter clareza disto. Se o PSOL fosse Governo em 2018 estaria sendo atacado da mesma forma que é o PT hoje – 24 horas por dia – mesmo se fossem todos do PSOL os mais honestos dos cidadãos a direita midiática dava um jeito de dizer que não são e inventaria alguns milhões nas contas de cada integrante do governo psolista.

    Enfim, o que não foi feito até agora pela esquerda no Poder, não vai se realizar a partir de desentendimentos nem do rompimento de amizades. Debater é saudável. Construir o pensamento coletivo para sairmos da situação atual é especial e necessário. Vamos unir forças e não dividir. Transformação para o esquerdista é ação coletiva e não visa dividendos pessoais, visa sim!, caminhar de encontro a uma sociedade mais humana, fraterna, solidária, menos materialista e com Justiça Social.

     

    1. O Quixote de Pierre Menard

      …excelente Tambelli…

      Muitas vezes…quando leio alguns destes “acadêmicos” não todos é claro… lembro-me do conto de Jorge Luis Borges… O Quixote de Pierre Menard..  em que é traçado um paralelo entre os conceitos, as interpretações e o tempo dos fatos interpretados… 

  2. Quem enxerga o óbvio prevê o inevitável!

    Tambelli, interessante sua analogia da Ciência Política com a Ciência Atmosférica, tanto que ouvi dizer que meteorologistas são utilizados na codificação de programas que modelam o comportamento de bolsas de valores para além do âmbito de previsão de safras, mas pela capacidade dada pela disciplina de ofício do meteorologista em trabalhar equações matemáticas que misturam escalas muito diferentes: desde a microescala de cm até escalas planetárias com 10000 km, utilizando para isso, por exemplo, o Método da Perturbação, aonde o produto delas é desprezado. Tudo isso sem nunca esquecer o tirocínio do observador local, daí a importância da vivência dada pelo chão de fábrica. VIVA OS MOVIMENTOS SOCIAIS INCLUSIVOS! 

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