As difíceis encruzilhadas da vida…, por Gilberto Carvalho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As difíceis encruzilhadas da vida…

por Gilberto Carvalho

Mais uma vez o Partido dos Trabalhadores vê̶se numa encruzilhada, devendo tomar uma decisão polêmica. Neste caso, trata-se de nossa posição na eleição das mesas diretoras e presidências da Câmara e Senado.

Decidi apresentar estas reflexões pelo dever de tentar contribuir com o processo, sabendo que minha posição provocará divergências que reputo saudáveis e necessárias.Nestes dias, devo confessar, minha posição a respeito desta “encruzilhada” sofreu alterações, justamente em função de muitas conversas com companheiras e companheiros, além dos textos que li.Vamos ser claros: a posição mais tranquila neste momento (e que eu sustentava até agora), é a que considera que em função da situação excepcional de golpe, é reclamada uma posição mais dura e clara do nosso Partido, declarando que não votaremos em golpistas e tentando assegurar na Justiça a ocupação dos postos a que temos direito, pelo critério da proporcionalidade do número de parlamentares.

A grande imprensa acompanha esse debate e exerceseu papel tradicional, nos dividindo entre “principistas” e aqueles que estão loucos para ocupar boquinhas e nomear companheiros desempregados pelo golpe e pelas derrotas nas eleições municipais. Vale dizer, não há caminho bom para nós na opinião publicada, que contamina, de maneira muito forte, nossa militância.As manifestações que nos chegam da militância são, em ampla maioria, por uma posição de nitidez, de afirmar através deste voto o NÃO ao golpe e aos que o construíram.

Há no entanto, algumas reflexões que precisam ser feitas. Arrisco algumas:

 – É preciso lembrar que esta decisão se refere apenas a uma batalha de uma guerra prolongada que estamos travando contra os verdadeiros autores do golpe, o capital financeiro internacional, nacional e seus lacaios e representantes. Sabemos que os golpistas que estão hoje na proa do processo podem (e já estão sendo) descartados rapidamente na medida em que deixam de ser funcionais ao processo. Quem viu a arrogância de Geddel, Jucá e outros ontem, sabe do que estamos falando hoje. Além disso estamos assistindo o desespero do Temer em entregar rápida, eficiente e fielmente o “produto” encomendado.

– Para nós, é preciso ter claro que, perdido o Executivo, o Parlamento é a esfera de atuação institucional que nos resta no plano nacional. Por isso, temos advogado a necessidade de uma atuação forte, consequente e muito articulada de nossas bancadas com os movimentos sociais e a sociedade civil.

– Quem conheceu a Câmara dos Deputados e o Senado Federal em tempos de democracia, se espanta com a mudança de comportamento das atuais presidências, seja em relação aos processos internos, numa ruptura progressiva dos métodos democráticos, seja no empenho em barrar qualquer participação popular em comissões e, mais ainda, nos plenários. A atuação de Renan Calheiros e Eduardo Cunha foram marcadas pela centralização ditatorial, rompendo tradições de convivência e acordos históricos em torno da ocupação dos postos nas mesas diretoras.

– O Parlamento tem sido palco de derrotas gravíssimas para nós e para nosso projeto. Quando o governo golpista e sua maioria resolvem passar o rolo compressor, o máximo que conseguimos é adiar por alguns dias as duras decisões que estão deformando o país e a Constituição e assaltando o direito dos pobres. Portanto não há que ter ilusões de que poderemos ter grande vitórias, com ou sem a participação nossa nas mesas e na presidência ou relatoria de comissões. A verdade é que enquanto o governo Temer derrete perante a sociedade e fracassa em suas medidas econômicas, ele apresenta, no entanto, um desempenho de vitórias no Legislativo de causar inveja aos nossos melhores tempos. Portanto trata̶ se de um palco de lutas fundamental nesta guerra.

– Vamos lembrar ainda que em 2017 o Legislativo será o campo de batalhas importantíssimas, como a da Reforma da Previdência e da Reforma Trabalhista, peças chaves na implantação do novo modelo e que vão tentar atingir em cheio os mais pobres. Sem falar na absurda fábrica de Projetos, MPs e PECs em que se converteu o Planalto e suas filiais nas duas Casas, sempre prontas a favorecer o capital na linha das privatizações, da quebra de nossa soberania, e da perseguição e criminalização progressiva a todos os que resistem a seus avanços.

– Penso que o raciocínio central que devemos fazer é: como, no Parlamento, estaremos mais estruturados e capacitados para fazer o enfrentamento contra o inimigo e contra esta lógica central do golpe? Como teremos mais instrumentos para nos articularmos com a sociedade e dificultarmos a passagem deste rolo compressor, no mínimo aumentando o desgaste e fazendo crescer no meio do povo a consciência da real natureza do golpe?A resposta me parece óbvia: com participações adequadas nas mesas, presidindo comissões e exercendo relatorias nós teremos mais condições de impedir ou dificultar a marcha golpista.

– A indisfarçável preferência da imprensa dominante para que tenhamos uma posição principista só reafirma esta convicção. Quando desvirtuam nossa luta por um direito democrático como simples busca oportunista de espaço no aparelho é porque certamente para eles é melhor que não os ocupemos e fiquemos apenas nas atitudes declaratórias, de denúncia bem intencionada, mas com baixa eficácia real.

̶  Penso ainda que é necessário analisarmos primeiro se é possível conquistar estes espaços na base da pressão ou do recurso judicial, sem ter que realizar acordos em torno dos nomes da Presidência (até porque são processos separados de escolha e eleição).

– Em segundo lugar, mas não menos importante, é a definição da forma como devemos ocupar estes espaços. É preciso deixar claro que aqueles que os ocupam devem fazê̶ lo em nome e obedecendo os princípios e determinações da bancada e, por consequência, do partido. Ocupar tais espaços apenas para se tornar fiador da “institucionalidade e estabilidade” das Casas, de fato não nos levaria  a nada. Assim como não vale sacrifício nenhum servir-se dos espaços para montar mais aparelhos deste ou daquele grupo.Nesse sentido considero extremamente relevante que este debate rompa com a lógica de ocupação dos aparelhos por correntes internas ou por “personalidades parlamentares”. Convenhamos: a situação é grave demais para que nos dividamos entre “principistas” e “oportunistas” e para que brinquemos de divisão de espaços para satisfazer egos ou interesses de grupos.

Diante deste quadro proponho, sem nenhuma certeza definitiva, mas com forte convicção:

1) Vamos realizar esse debate nos próximos dias sem posições definitivas e vamos evitar alimentar a grande mídia com informações ou “impressões” que servem apenas para que eles explorem nossa divisão; vamos ter a capacidade de ouvir as posições dos outros, sem o preconceito que nos impede de considerar as contribuições que sejam diferentes das nossas. Nessa mesma perspectiva é importante ampliar ao máximo o debate interno com nossa militância, buscando esclarecertoda a complexidade da decisão a ser tomada.

2) Vamos formular coletivamente um projeto de efetiva democratização (ou de combate à tendência autoritária e autocrática) das Casas. O Senador Requião apresentou uma proposta, gravada em vídeo, com pontos muito interessantes para este projeto. Não podemos permitir que continuem as arbitrariedades em relação ao acesso de grupos organizados da sociedade às Casas. Do mesmo modo, devemos repudiar as tais “comissões especiais” que cortam o caminho do debate democrático e permitem aberrações como o processo das teles (PLC 79)?

3) Vamos procurar construir a unidade entre as forças de esquerda e centro esquerda. É preciso dar mais organicidade à nossa articulação com nossos aliados, através das lideranças de minoria na Câmara e Senado. No caso de candidaturas departidos aliados às Presidências das Casas precisamos tratá̶-las com grande cuidado, examinando sua viabilidade e aproveitando o momento para estabelecer estratégias de unidade e de ampliação de nossos votos pelo menos em temas específicos. Para o governo interessa a atual clivagem estabelecida entre os “pró e contra o golpe”.A nós interessa ir além.

4) Vamos aproveitar o ensejo para enfrentar o debate da unidade de nossas bancadas. O que explica nossa dificuldade em reunir e decidir posições a serem seguidas por todos os nossos parlamentares? O que explica as atuações individuais que se dão ao direito, com muita naturalidade, de contrariar posições tomadas pelo conjunto da bancada, tendendo a transformar em “cultura” aceita o que na realidade é uma ofensa ao princípio da democracia partidária?

5) Vamos analisar a real possibilidade de assegurarmos os espaços (que considero essencial), sem a necessidade de compromissos com candidatos do bloco golpista. Devemos buscar aliados na busca da prevalência dessa tradição que é coerente com os princípios constitucionais e lutar duramente por este objetivo. Se for possível, estaremos no melhor dos mundos. Só alerto que o recurso puro e simples à via judiciária vai esbarrar muito provavelmente numa das famosas decisões que considerarão o assunto como “interna corporis”, assunto interno das casas. Assim, o Judiciário provavelmente lavará as mãos.

6) Se, finalmente, formos colocados ante uma inevitável disjuntiva, ou vota̶se numa das candidaturas ou estaremos excluídos dos principais espaços, não tenho receio em opinarque devemos sim negociar com altivez, coletivamente, não apenas para assegurar os espaços, como para obter compromissos definitivos dos novos presidentes com a tomada de medidas que restabeleçam o funcionamento democrático das Casas e o retorno do acesso legítimo do povo à sua Casa. É necessário reconhecer que o Parlamento é um espaço da negociação, de se sentar com o adversário ou com o inimigo, para buscar avançar posições no xadrez das lutas. Votar eventualmente num representante do grupo golpista não significa endosso de suas atitudes, e sim, conforme as circunstâncias, constrangê̶-lo a adotar posições que nossa força real no Parlamento e na sociedade nos permitem exigir e impor como condição.

7) Considerados estes objetivos e princípios, devemos enfrentar o debate com nossa militância, sem medo da complexidade do temae aproveitando para resolver problemas de nossa conduta parlamentar que vêm se acumulando feito cultura estabelecida ao longos dos anos, alguns dos quaismencionei acima. Se o fizermos com seriedade, coragem e honestidade, tenho a convicção de que estaremos fazendo o melhor para combater o que é o centro do projeto inimigo e dando uma importante contribuição para a reconstrução de nosso Projeto.

Tenho muita convicção que 2017 poderá ser o ano de retomada de um processo que nos permitirá a revitalização do nosso partido e ao mesmo tempo, nosso reencontro com a sociedade, especialmente com os pobres. Sabemos muito bem que o fracasso cada vez mais evidente do projeto golpista não fará cair por gravidade em nossos braços o apoio e o engajamento da grande massa traída e progressivamente espoliada por eles. Há possibilidades reais das famosas propostas populistas, “para̶fascistas”, mistificadoras, que se consolidam cada vez mais.

Por isso tudo, não podemos perder tempo e aproveitar cada episódio, cada “encruzilhada” para lançar uma pedra a mais na construção do nosso projeto. Um projeto que traga às maiorias não apenas a saudade dos bons tempos dos nossos governos, mas a esperança e a confiança de que é possível, neste Brasil mergulhado em profunda crise, construir um caminho novo que nos levará à retomada da construção do crescimento com justiça, do acesso aos direitos fundamentais, da plena democracia e da convivência pacífica entre os diferentes.

Com nossa ação unitária, ousada, de irmos ao encontro do povo com muito diálogo, e com a autocrítica de quem se sabe comprometido não com os erros passados, mas com a correção de rotas e condutas, haveremos de conquistar de novo a confiança e o apoio das maiorias que clamam por dias melhores.

Isso é o essencial neste momento. E tudo o que fizermos precisa obedecer à lógica desta construção.

Gilberto Carvalho – Integrante da Assessoria da Liderança da Bancada de Oposição do Senado.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Bem ponderado e lógico. Fosse

    Bem ponderado e lógico. Fosse o dr. Gilberto um popular qualquer, eu incluso, diria: – Estamos que nem barata tonta …

  2. todos devemos lutar e

    todos devemos lutar e pressionar Janot.

    Na mesa dele está o processo sobre inconstitucionalidade do processo realizado pelos 300 picaretas q tirou uma presidente sem crime pra colocar um vice golpista e crimonoso condenado. Tácito tudo q ococrreu, todos já entenderam.

    Compete a ele deliberar e todos do mundo já entenderam. vejamos oq ele escreverá. Enrolar não dá mais.

    pressão no janota!

    .

  3. Armadilha mortal

    Belo artigo. Porém, nessa altura do campeonato não há qualquer perpectiva de que se apoie qualquer dos candidatos. É impensável que depois da derrubada da Dilma das porradas no Lula alguém vai querer sob pretexto algum apoiar esses golpistas que arruinam o Brasil. Há certas coisas que ficam claras. Apoiar os candidatos à presidencia da câmara é SUCÌDIO. Que se pensem em outras alternativas. Lula foi traído por Sarney, Renan, Jucá e Cia. Dilma idem, e ainda em nome de manter a governabilidade apoiar esses corruptos? Eles querem é exatamente isso. Deixem que se explodam sozinhos, mesmo porque não vivemos mais numa democracia.

    1. Concordo com J J Lopez, armadilha mortal
      Não existem alternativas. Existe A alternativa: se declarar oposição a tudo que se produziu durante e após o golpe, nem que para isso o PT tenha que ir para a clandestinidade. Tem muita gente brigando sozinha nas ruas e o PT onde quer estar? No ar condicionado do congresso? Com despesas pagas? Chega! Já vimos no que deu! É hora de deixar os salões e os microfones e ir para as praças e ruas levar borrachada sim, respirar lacrimogêneo sim e ser preso pelo domínio do fato sim. Até quando vamos deixar pessoas como o Boulos sozinhos?. Os golpistas, internos e externos, não vão devolver mais o poder! Quando vamos entender isso? Admiramos Gilberto Carvalho, seu texto é claro pra quem quer o bem do Brasil e as conquistas para a continuidade do progresso de toda a população, indistintamente. Fico triste por não apoiá -lo, ele está correto mas, como o J J Lopez disse: É uma armadilha mortal. O tempo e nossa paciência não nos dá mais este luxo. QUERIDO Gilberto Carvalho , diga para os deputados e senadores do PT gastarem o dinheiro que eles recebem com passagens e esparadrapo a partir de agora, se eles realmente querem fazer alguma coisa pelo povo brasileiro. Senão, que fiquem com Deus e as migalhas que o prestígio temporário lhes proporcionará por ficarem perto do poder e longe do povo.

  4. Presidentes que atropelam tudo

    As candidaturas lançadas à presidência da Câmara são nitidamente de postura pró o governo do #FORATEMER.

    Mesmo a candidatura dissidente não acena com contrapartidas para o bloco oposicionista para angariar os seus votos.

    O Congresso Nacional foi e é fiador do golpe e as suas presidências atuais e futruras continuarão com essa postura, entendo que a posição que Gilberto de Carvalho toma só seria viável caso houvesse um mínimo de deputados pelo menos um pouco legalistas ou com um pouco de ética parlamentar, mas longe disso, atingimos com esse Congresso o auge do fisiologismo, o Congresso é uma banca de negócios apenas isso.

    Os partidos oposicionistas de esquerda estão em uma encruzilhada, se apoiarem uma das canddaturas situacionistas, mesmo que conseguindo algumas comissões ou cargos de alguma inflência, serão execrados pela militância, se lançarem uma candidatura própria ou a negativa de votar em qualquer uma das chapas oficiais serão atropelados.

    Creio que a luta pela redemocratização do país deve passar pelas ruas, nossos movimentos sociais estão adormecidos, vão à rua apenas por questões pontuais e não estão uniificados para combater a questão central que é o #FORATEMER

  5. Excelente texto para

    Excelente texto para reflexão> Deve ser considerado para organizar  a luta que a oposição terá que enfrentar, até que sejam realizadas novas eleições gerais.

    Parabéns ao Gilberto Carvalho, sempre conciliador edefensor dos direitos dos trabalhadores.

     

  6. As difíceis encruzilhadas

    Desculpe, Gilberto, mas não tem encruzilhada alguma. O PT não pode, de forma alguma, negociar qualquer tipo de acordo com bandidos e golpistas. Quem faz acordo com bandido, bandido é. O PT , agora, é oposição e, como tal , deve se comportar. Fico enojado ao ver alguns senadores e deputados do meu partido, de salamaleques com canalhas do P$$$$DB, PMDB, DEM e outros bandidos menores.

  7. Escabroso

    Esse papo eu já sei no que vai acabar. Inacreditável. Esse blá blá blá para fazer parceria com bandidos corruptos? Sem mais comentários. Tai o por que a Dilma caiu foi com atitudes e desconvesas como essas que ela dançou.

  8. O texto é interessante, mas

    O texto é interessante, mas seria ótimo se respondesse porque durante o impeachement – apesar de compor e participar da mesa no Senado e na Camara – não puderam fazer nada? Porque agora, com a evidente direitização golpista da Câmara e do Senado poderiam fazer algo? Ou porque ao invés de valorizar tanto as “instituições” da Camara e do Senado não valorizam um pouco – só um pouco – as ruas e as mobilizações populares?

  9. “As manifestações que nos

    “As manifestações que nos chegam da militância são, em ampla maioria, por uma posição de nitidez, de afirmar através deste voto o NÃO ao golpe e aos que o construíram.

    Há no entanto …”

    Pronto, miltância, sua opinião, sua experiência, suas lutas, em especial as recentes contra o golpe, não percebem isso, aquilo e aquiloutro que nós, os iluminados da cúpula da estrela sabemos enxergar.

    O realismo polítco está dizimando a esquerda tradicional mundo afora.

    Na espanha o presidente do PSOE – que não cansa de perder eleitores para o PODEMOS – foi afastado por golpe interno por não querer legitimar mais um governo direitista do Rajoy.

    E olha que o Sanchez, o afastado, é moderadíssimo.

    Assumiu  uma comissão gestora “pragmática” e que prefere uma espanha com governo de direita a uma espanha em impasse governamental.

    A popularidade do partido já despencou e continua em lenta queda.

    Há outros exemplos, mas a preguiça …

     

     

     

     

    1. ¨…que contamina a nossa militância…¨

      Não é a militância que está contaminada.

      Alguns da direção e alguns parlamentares é que devem ser descontaminados, reciclados.

  10. Falsa encruzilhada

    Só há uma direção, um sentido a ser trilhado, as ruas.

    Basta de compactuar com a canalhice, o Partido deve voltar às sua bases, à sua miltância.

    O PT foi, é, e continuará sendo a sua miltância, é o seu coração, a sua alma.

    Quem do partido for contrário a essa posição, que vá lá para o PSOL, tem vagas!

     

  11. Combine com os russos primeiro!

    Gilberto Carvalho exercita, mais uma vez, o lado conciliador de alguém que devotou sua vida ao centralismo democrático. Sem dúvida, um tema dos mais complexos, até onde ir em nome de um princípio? Ou, vice-versa, até onde declinar de princípios em nome da eficiência política? Atrevo-me a ponderar, sem ser cientista político, que realmente ele esquece de duas coisinhas:

    1) O caráter mercantil da maioria do Legislativo, e o caráter ideológico de uma minoria muito ativa, que apela à defesa de fatores que vão ao encontro do mercantilismo dos primeiros. Com a atual composição das Casas, de que adianta ter espaço para debater, se o que pautará o debate será sempre o mercado financeiro e as benesses de jogar o jogo que ele está exigindo?  Não dá pra esperar que belas palavras mudem o comportamento desta maioria; e

    2) Garantir o franqueamento das casas legislativas aos movimentos sociais não será algo possível, em virtude do caráter anti-popular de tudo o que se pretende realizar ali dentro. Os caras podem ser venais, toscos, mas burros não são. Expor-se nominal e fisicamente à população será algo que eles jamais aceitarão, e podemos esperar mais rigor na ocultação dos partícipes das votações, por meio de votações fechadas.

    Com estes dois ítens, cai por terra a chance de mudar algo pela participação nos debates, restando apenas o ônus de haver convalidado uma legislatura de esbulho. Não creio na chance real de interferir nos rumos deste Legislativo, apesar de não ter tendência à incendiário ou tornar-me maquisard. Mas não consigo ver luz na proposta, sem contar o aspecto fratricida que ela traz ao próprio PT, que deverá aprovar mais um expurgo se levar adiante esta opção, pois há alguns mais jacobinos que não serão abordáveis nem vão se sujeitar ao centralismo democrático proposto, mesmo em nome da democracia. E expurgos são sempre terríveis para a moral de qualquer partido, como bem sabe o PT. Ninguém é mais antagonista que um ex-partidário afastado por divergência de opiniões, indiferentemente ao caráter justo ou não da ação. Isto transforma Cristóvãos Buarques em Lobões.

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