As divergências no PSB

Do Valor

Campos e Cid transferem disputa interna do PSB à Câmara Federal

Caio Junqueira e Murillo Camarotto | De São Paulo e do Recife
17/01/2011

As duas principais lideranças do PSB, os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e do Ceará, Cid Gomes, transferiram a disputa interna travada pelos cargos do segundo escalão no governo Dilma Rousseff para o Congresso Nacional.

Presidente nacional da legenda, Campos aproveitou a brecha deixada pela saída das maiores lideranças do partido na Casa para articular um nome que dificilmente deva gerar reação contrária, seja por adesão ou por constrangimento: o da deputada Ana Arraes (PE), sua mãe e filha do fundador do partido, Miguel Arraes.

AestA estratégia desenhada por Campos era afastar a possibilidade de um grande racha interno e a formação de grupos isolados, uma vez que abriram-se vácuos de poder à medida que os parlamentares que comandaram a bancada nos últimos anos foram saindo para ocupar cargos nos Executivos estaduais, como Márcio França (secretário de Turismo em São Paulo) e Beto Albuquerque (secretário de Infraestrutura e Logística do Rio Grande do Sul), ou no Senado, caso do atual líder, Rodrigo Rollemberg (DF) e de Lídice da Mata (BA).

Nesse processo, a cada liderança que deixava a Câmara, surgiam mais nomes interessados em liderar a bancada. Até agora, pelo menos seis já manifestaram interesse: Gabriel Chalita (SP), Givaldo Carimbão (AL), Gonzaga Patriota (PE), Júlio Delgado (MG), Ribamar Alves (MA), Sandra Rosado (RN) e Valtenir Pereira (MT).

O problema é que o lançamento de Ana Arraes não foi tratado com Cid Gomes, que sentiu-se preterido, embora seu Estado tenha quatro deputados e forme a segunda maior bancada da legenda, atrás apenas da pernambucana, com um parlamentar a mais.

Por essa razão, Cid convocou os deputados para uma reunião hoje que, além de formalizar seu apoio ao candidato do PT a presidente da Câmara, Marco Maia (RS), também servirá como uma consulta aos quatro deputados sobre o melhor nome para a liderança.

O adiamento de uma posição sobre o assunto ou, pior, o apoio a um nome que não o de Ana Arraes deve acirrar o embate interno entre os dois governadores. Ainda mais porque há uma tendência no partido de aproveitar o fato de uma mulher ocupar o Palácio do Planalto e indicar também uma mulher para a liderança.

Nesse sentido, restariam dois nomes para o posto: o de Ana Arraes e o de Sandra Rosado. O nome de Arraes tem sido trabalhado pelo atual líder, Rodrigo Rollemberg (DF), que assegura já ter consultado mais de 80% dos 34 deputados eleitos em outubro e que todos, à exceção de três -não revelados-, disseram apoiá-la.

O mais experiente deputado do partido fora do eixo Ceará-Pernambuco, Átila Lira, reeleito pelo Piauí e intimamente ligado ao governador Wilson Martins, diz que a tendência é de que Ana Arraes seja mesmo a escolhida para liderar o partido. “Estou fechado com ela, que conheço de outros tempos e que tem um trabalho relevante na Câmara”.

Ao declarar a preferência por Ana Arraes, o deputado reeleito Fernando Bezerra Coelho Filho (PE), filho do ministro da Integração Nacional indicado por Campos, Fernando Bezerra Coelho, afirmou que a prioridade do partido é evitar que a escolha da liderança na Casa gere ruídos altos demais. “Estamos em busca de um nome de consenso e o esforço maior é para evitar confronto”, disse o parlamentar, herdeiro político do novo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.

Apesar de julgar válidas, por exemplo, as aspirações de Chalita – que já andou sondando colegas no intuito de viabilizar seu nome -, Coelho Filho acredita que o fato de ser neófito no PSB reduz as chances do deputado paulista. “Acredito que, até por questão de critério, a liderança deveria ficar com os deputados remanescentes”, afirmou ele, referindo-se aos colegas que foram reeleitos em outubro.

Nesse contexto, os deputados Gonzaga Patriota (PE) e Givaldo Carimbão (AL) alimentam pretensões de liderança e têm conversado com seus pares, segundo relato da deputada Sandra Rosado, reeleita pelo Rio Grande do Norte, e que também apoia a mãe de Eduardo Campos. “Acreditamos que chegou a vez das mulheres nesse país e a deputada Ana Arraes tem um excelente perfil de liderança”, disse.

No entanto, alguns parlamentares afirmaram que a própria Rosado tem os consultado sobre o apoio a seu nome, que tem tido boa recepção.

Consideram que o fato de ser mulher dá destaque à bancada nesses tempos de Dilma presidente, com a vantagem de terem mais liberdade de atuação, pois não se trata da mãe do presidente nacional da legenda e filha do fundador da sigla. Avaliam, enfim, que Ana Arraes na liderança significa superdimensionar o poder de Campos.

O problema é que a única trincheira de onde pode sair um movimento contra ela, ou melhor, em favor de outra candidatura, está no Ceará. E caso isso se consolide, o clima interno na legenda, que já não está bom, pode piorar.

As diferenças entre Campos e Gomes se acirraram durante as negociações para a entrada do PSB no governo Dilma. De acordo com a ala pernambucana, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), irmão de Cid, já havia dito que não tinha pretensões de cargo, mas foi pressionado no Ceará a mudar de ideia, o que acabou embaralhando as articulações de Campos com o Palácio do Planalto, que já estavam encaminhadas. Ainda assim, em meio ao imbróglio, um representante do PSB de Pernambuco disse preferir Ciro dentro do governo do lado de fora, conturbando o ambiente.

Do Ceará, aliados dos Gomes também reclamaram muito da postura de Campos durante as negociações com Dilma. A principal queixa é de que o governador de Pernambuco estaria passando, sem cerimônia, por cima dos aliados.

Questionado sobre o racha no partido durante entrevista ao Valor, em dezembro último, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, contemporizou, porém não escondeu a existência de divergências. “Não existe essa briga, essa coisa. Existem diferenças e ainda bem que existem. Imagine como seria chato se não houvesse”, disse ele. “Eu, sinceramente, não me sinto vestindo a camisa de nenhum lado, até porque não reconheço a existência de dois lados”, completou. 

Luis Nassif

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