As reformas estruturantes e a derrubada de Jango

Por Assis Ribeiro

Comentário ao post “O caso político que precedeu o golpe de 64

Jango foi derrubado porque venceria as eleições e implantaria reformas estruturantes, algumas delas aproveitadas pela ditadura e outras que estão sendo realizadas nos governos pós ditadura.

Foi derrubado porque prometeu realizar a democracia no sentido de criar uma independência maior em relação aos EUA (motivo ainda nos dias atuais de grande disputas) e criar oportunidades acessíveis para toda a coletividade e não apenas para um grupo restrito, essas condições assustavam a classe média que temia perder o seu status quo.

A questão não era exatamente Jango, e sim a força da população da base não só no Brasil como em todo o continente (tanto que os golpes ocorreram em quase todos os países) que exigia mudanças para que a democracia avançasse e houvesse a inclusão da população carente.

Os golpes militares no continente foram vitoriosos pois no seu longo período conseguiram implementar uma lavagem cerebral nas suas populações, o que é observado até os dias atuais com as dificuldades de se eleger um parlamento progressista e avançar em reformas estruturantes.

Assim, os meios de informação do continente ainda se referem às pessoas que resistiram ao golpe como subversivos, terroristas, agitadores da ordem, quando o “conhecimento” mundial democrático afirma  como um direito toda rebelião contra ditaduras e tiranias, considerando as ações contrárias como legítimas e como um dever do cidadão.

Ainda, só recentemente é que a nossa grande imprensa deixou de nominar aquele período nefasto como “revolução” e não como o que deveria ser classificado em qualquer estudo, análise e concepção do que ocorreu; golpe militar.

A vitória do golpe militar se deu porque solidificou o conservadorismo, a falta de pensamento reflexivo e a alta concentração de poder na área econômica, na área política, e nos meios de comunicação,  tamanha a força que a eles foram  concedidas.

A lavagem cerebral que antecedeu o golpe foi tão grande que muitos que a apoiaram se arrependeram logo em seu início.

Os problemas de governança também foram observadas em todo o período de ditadura com várias divisões internas até mesmo entre os militares de alta patente.

Foi um golpe americano que insuflou a sociedade civil de classe média com o bombardeio massivo de que o que se apresentava de novo em todo o continente sul – americano  era nocivo, era comunista. Jango e os outros presidentes depostos nunca foram comunistas, queriam apenas a independência dos seus povos e a inclusão dos desfavorecidos. Queriam o progresso, e isso era mexer com a riqueza, como há muito dizia Pedro Calmon – História Social do Brasil, t.3, 1939, 

“A riqueza (do Brasil) é tão abundante que a própria agiotagem internacional, endividando o pais, não lhe embaraça o progresso: compromete-o mas o fertiliza.”

O que os governos depostos queriam era trazer a soberania para o continente, após séculos de dependência externa e extravio da nossa riquezas, tão  bem estuda por Eduardo Galeano que descreveu o histórico processo de subalternização da classe dominante latino-americana:

“Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transformou em sucata e os alimentos se convertem em veneno. (…)A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”.

Décadas depois o “comunistas” foram substituídos pelos “terroristas” para submeter ou conter povos e nações. Leis duras estão sendo criadas pelo mundo no afã de conter o “terrorismo”, quando na realidade estão sendo formuladas para reprimir qualquer tentativa das populações de pleitearem avanços na democracia e mudanças de status quo.

Redação

8 Comentários

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  1. Negativo. Jango e Brizola NÃO

    Negativo. Jango e Brizola NÃO tinham condição legal dentro da Constituição de 1946 de serem candidatos à Presidencia.

    O candidato natural da colegação de forças que elegeu Jango era Juscelino que já estava com a campanha engatilhada.

    JK controlava integralmente o PSD, Jango não controlava todo o PTB, só as Executivas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas e Rio de Janeiro, São Paulo era controlado por Ivete Vargas, sua adversaria. As forças varguistas só ganhariam de novo a Presidencia com a coligação PSD-PTB, sem o PSD Jango não teria chance.

    O candaidato que se articulava pela situação era Brizola, que só poderia vencer fora do quadro legal, através de “”movimentos de massa”, greves, quebra-quebras e imobilizando as outras forças politicas através de agitação e ameaças, é o que ele fazia com os “”comicios” insuflando soldados a desafiarem seus oficiais.

    As reformas de base era um completa tolice, não tinham pé nem cabeça, muito menos logica politica.

    Desapropriar terras 10 km ao lado das rodovias, basta alguem ver o que tem ao lado das rodovias para ver o absurdo,

    estatizar duas refinarias pequenas, qual o proposito?, obrigar proprietarios de imoveis alugados a vender aos inquilinos apos uma avaliação do governo, para pagar em 30 anos, nem em Cuba se fez, reformas irrealizaveis e sem racionalidade economica, mera demagogia de 5ª categoria, Jango não iria chegar a lugar nenhum com isso.

    Outro problema grave de Jango era a péssima turma que o cercava, Jango não iria até a esquina com aquela galera.

    Quando caiu, nenhum deles lhe foi de serventia, nem para ajudar a subir as escadas do avião.

  2. Os momentos que antecederam o

    Os momentos que antecederam o golpe de 64 não foram de brincadeira.

    Desde 50 o mundo pipoca em conflitos entre aqueles que queriam avanços na democracia e os que defendiam a manutenção do status quo.

    A diferença é que pelo lado de lá presenciamos muitos avanços e enquanto nos seus quintais eles resolveram dar o inferno, como exemplo de sua força para o mundo.

    Nessa avalanche de inconformismo vários países ocidentais deram uma guinada à esquerda como a vitória de John F. Kennedy nas eleições de 1960 nos EUA, da coalizão de centro-esquerda na Itália em 1963 e dos trabalhistas no Reino Unido em 1964. Houve também uma reação extremada, juvenil, às pressões de mais de vinte anos de Guerra Fria. Uma rejeição aos processos de manipulação da opinião pública por meio dos meios de comunicação que atuavam como “aparelhos ideológicos” incutindo os valores do capitalismo, e, simultaneamente, um repúdio “ao socialismo real”, ao marxismo oficial, ortodoxo, vigente no leste Europeu, e entre os PCs europeus ocidentais, vistos como ultrapassados.

    No Brasil, a posse de João Goulart também acompanhava essas mudanças no mundo, mas com o golpe civil/militar de 64 o Brasil dava as costas às ideias rejuvenescedoras e entrava num retrocesso, uma marcha à ré, atrelado ao obscurantismo de qualquer ditadura.

    Essa reação ao sistema teve duas fases distintas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1969, em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a orgia sexual e os protestos contra o endurecimento dos governos e que se iniciou com a radicalização dos movimentos estudantis a partir do maio de 68 na França, que não estava vinculado a nenhuma ideologia específica, mas apregoava o direito de cada um de pensar e se expressar livremente.

    A década de 60 representou a realização de projetos culturais e ideológicos alternativos e ficariam caracterizados pelas grandes transformações de visão libertária que ocorreram no mundo. Um vendaval de rebeldia, alimentado pelos jovens, percorria o mundo.

    Tornou-se uma década mítica porque provocou mudanças políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível. Seria o marco para os movimentos ecologistas, feministas, das organizações não governamentais (ONGs) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos.

    Alguns movimentos dos anos 60 que provocaram profundas modificações no “sistema”:

    Movimento Negro.                                                                                                                               

     Os moderados tiveram como seu maior expoente, o pastor Martin Luther King. Ele entendia que a luta dos povos do Terceiro Mundo assemelhava-se a dos negros americanos contra a discriminação e o preconceito. Sua morte provocou uma violenta onda de protestos acompanhada de incêndios nos maiores bairros negros em 125 cidades americanas. Os “Panteras Negras” lutavam pelos mesmos valores e eram mais radicais.

    Women’s Liberation Front.                                                                             

    Feminismo que tem como meta direitos equânimes e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero.

    The Northern Ireland Civil Rights Association (NICRA).

     Atuou pelos direitos civis da minoria católica na Irlanda.

    Movimento Pacifista contra a Guerra do Vietnã.

    A crescente oposição à guerra dentro dos Estados Unidos quase se tornou numa aberta insurreição da juventude. A violência dos bombardeios sobre a população civil vietnamita, composta de aldeões paupérrimos, já havia provocado desconfiança em relação à justeza da intervenção no Sudeste da Ásia. Era inaceitável que a maior potência do Mundo atacasse um pequeno país camponês do Terceiro Mundo.

    Grande Revolução Cultural Proletária.                                                                                      

    Na China Popular, Mao Tse-tung desencadeara a partir de 1965 a (Wuchanjieji Wenhua Dageming), com o apoio dos estudantes e trabalhadores contra a burocracia que tomava conta do Partido Comunista.

    Além da indignação geral provocada pela Guerra Vietnamita e o fascínio pelas multidões juvenis da Revolução Cultural chinesa, também pesou a morte de Che Guevara na Bolívia, ocorrida em outubro de 1967. Seu martírio pela causa revolucionária serviu para que muitos se inspirassem no seu sacrifício.

    A “crise” de maio de 1968.

     Começou com uma série de greves estudantis da juventude francesa e que teve réplicas nos demais países desenvolvidos, desde os EUA ao Japão. A voz das minorias começa a levantar-se. Há uma crescente emancipação das mulheres. O próprio clero inicia também uma auto-reflexão.

    A Primavera de Praga.

    Foi uma reforma profunda na estrutura política na Tchecoslováquia para conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização, relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficou conhecida como a tentativa de se criar um “socialismo com face humana”

    Movimento Hippie.     

    A proposta do movimento hippie era diversa e ampla, buscava um questionamento existencial mais abrangente, além das considerações econômicas, sociais e políticas em voga nos anos 60. Visava ao ser integral em face da vida e do mundo.

    Adotavam um modo de vida comunitário, ou de vida nômade, em comunhão com a natureza.  

    Negavam todas as guerras, os valores sociais e morais tradicionais e abraçavam aspectos das religiões orientais, e/ou das religiões indígenas, estavam em desacordo com os fundamentos das economias capitalistas e totalitárias.

    http://assisprocura.blogspot.com.br/p/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x_25.html

     

    1. Quem conhece a história faz a diferença

      Parabéns Assis,

      E quem garante que a História
      É carroça abandonada
      Numa beira de estrada
      Ou numa estação inglória

      A História é um carro alegre
      Cheio de um povo contente
      Que atropela indiferente
      Todo aquele que a negue

  3. Propostas de Jango

    1. Reforma agrária com a distribuição de terras as margens das rodovias, ferrovias, açudes e lagos – isso facilitaria a chegada de luz elétrica para os assentados e geraria consumo de geladeiras, rádios.

    2. Reforma urbana – tabelamento e controle de aluguéis.

    3. Salário Mínimo – calculado com base nas necessidades reais de uma familia trabalhadora.

    4. Reforma da Educação – ensino público, universal e gratuito para todos os níveis (básico – médio – superior)

    5. Reforma Eleitoral – voto do analfabeto e voto universal – direito de elegibilidade a todos brasileiros.

    6. Limitação do envio de remessas de lucros das empresas estrangeiras.

    7. Nacionalização dos setores estratégicos da economia com enfâse no petróleo.

    8. Fim dos pagamentos de royaltes.

    9. Reforma Trabalhista – direito de associação dos trabalhadores urbanos e do campo.

    10. Renegociação do pagamento da dívida externas em termos mais favoráveis ao país.

    1. Os privilégios intocáveis

      Toda vez que tentam mecher, nem que seja um pouquinho, nas mamatas da turma do andar superior, eles reagem de forma incisiva e até violenta. E isso continua até hoje. Nossa presidenta tentou e baixou a Selic para níveis mais civilizados, conseguindo mante-la assim por algum tempo. Mas logo foi bombardeada pelos rentistas (banqueiros e grandes conglomerados aplicadores no mercado financeiro), tendo que ceder os dedos para não perder os anéis. Vamos ver até onde isso vai, pois os lobos querem mais. Já estão projetando (desejando, na verdade), uma Selic mais alta no final do ano.

  4. Sobre os apoiadores do golpe

    Outro dia li o texto abaixo aqui no blog e copiei, mas so depois percebi que esta sem assinatura. Alguém sabe de quem é ?

    Segue o texto:

    A mídia, na época dizia-se imprensa, colaborou. Sem ela, dificilmente haveria golpe em 1964. A “intelligentsia” com espaço nos jornais atolou-se no Golpe de Estado por conservadorismo, ignorância, desinformação, ideologia e erro de cálculo. Alguns, engajados ingênuos, imaginavam que podiam manipular os militares para derrubar João Goulart e entregar o poder a Carlos Lacerda, jornalista e governador Guanabara. Outros, afoitos sem engajamento, acreditaram piamente que de um Golpe de Estado poderia nascer uma democracia mais profunda. A intelectualidade jornalística sujou as mãos com tinta ideologizada, sangue da repressão e mentiras.

    A lista dos jornalistas e colaboradores colaboracionistas é impressionante: Antônio Callado, que se tornaria um grande escritor e um esquerdista perseguido pela ditadura, Carlos Heitor Cony, hoje na Academia Brasileira de Letras, o primeiro, ainda em abril de 1964, a arrepender-se de ter ajudado a escrever editoriais contra Jango para o Correio da Manhã, os famosos e virulentos “Basta” e “Fora”, no poeta Carlos Drumont de Andrade, autor de croniquetas pateticamente reacionárias, Alberto Dines, chefe de redação do Jornal do Brasil, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux…

    Quase todos os grandes jornais do epicentro do poder, Rio de Janeiro e São Paulo, colaboraram na preparação da atmosfera necessária à derrubada de João Goulart: Folha de São Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa… A periferia acompanhou o centro. Só a Última Hora resistiu. Por que a imprensa queria derrubar Jango? Porque comprou pronta a ideia, disseminada pela propaganda americana através de organizações montadas no Brasil, como o Ipes e o Ibad, no âmbito da Guerra Fria, de que o Brasil estava prestes a ser engolido pelo comunismo e de que Jango e o mal.

    Carlos Lacerda envenenou uma geração com seu ideologismo conservador exacerbado e seu partido político, a União Democrática Nacional, embrião da Arena, braço político do regime militar. Um ex-ajudante de ordens de Juscelino Kubitschek, em livro ainda não publicado, resumiu assim o espírito udenista: “Não se pode aceitar a UDN como um simples partido. Nem todos os seus integrantes são udenistas legítimos, bem como há muito espírito udenista integrando outros partidos. Explico: a UDN deve ser encarada principalmente como estado de espírito. Todo vendilhão da pátria falando em patriotismo; todo desonesto falando em honestidade; todo amoral falando em moralidade; todo ditador falando em democracia; todo mitificador falando sempre em verdade; enfim, todo aquele que fala exatamente o contrário daquilo  que está sentindo ou fazendo está devidamente possuído pelo espírito udenista. Assim, meus caros leitores, quando um udenista de boa estirpe falar em democracia, prepare seu lombo para apanhar. Se falar muito em honestidade, trate de abotoar seus bolsos”.

    Alberto Dines, hoje decano dos críticos de mídia, com seu site Observatório da Imprensa, fez do Jornal do Brasil uma trincheira do golpismo. A sua alegria com a derrubada de Jango foi tanta que organizou um livro, “Os Idos de Março e a Queda em Abril”, publicado em 1964 mesmo, para louvar a vitória do novo regime. Depois do AI-5, de 1968, e da censura aos jornais, Dines descobriu-se crítico dos militares. Como paraninfo de uma turma de Jornalismo, fez reparos à ordem ditatorial. O temível Serviço Nacional de Informações (SNI), conforme documento localizado pelo pesquisador Álvaro Larangeira, perdoou o seu deslize e deu-lhe um atestado de bons antecedentes: “ Sempre se manifestou contrário ao regime comunista. Colaborou com o governo revolucionário escrevendo livro sobre a revolução e orientou a feitura de cadernos para difundir objetivos da revolução”. Apesar de seu desabafo sobre a censura, o IPM (Inquérito Policial Militar) “não considerou crime” essa manifestação e passou a borracha no caso: “Não será denunciado”. Dines era homem de confiança com bons serviços prestados aos ditadores.

    Como se reescreve a história

    A mídia não canta os homens e suas glórias, mas as ideologias e suas razões. Os jornalistas e os jornais que apoiaram o Golpe de 1964 passaram, depois do AI-5 e da censura, a reescrever a própria história. Inventaram-se um papel de resistentes e só falam dos poemas de Camões e das receitas de bolo publicadas pelos jornais Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde nos buracos dos textos censurados pelo regime militar. Não falam dos primeiros tempos. Em 12 de abril de 1964, Júlio de Mesquita Filho, dono do Estadão, publicou sem o menor pudor democrático, o “Roteiro da Revolução”, um plano que ajudara a organizar em 1962 para derrubar João Goulart.

    Em 1979, o trabalho de reconstrução do papel da imprensa na história da derrubada de Jango ganhou um capítulo mitificador, o livro, organizado por Thereza Cesário Alvim, “O Golpe de 19664: a imprensa disse não”. Uma seleção de textos publicados depois do arrependimento. O historiador João Amado rebateu prontamente: “A imprensa disse sim”. Um sim ditirâmbico.

    Thereza Alvim escolheu mal os textos de Carlos Drummond de Andrade. Ele se revela mais golpista do que resistente: “Não haverá mais jeito para o Brasil? Mas no caso do sr. Goulart a verdade é que ele pediu, reclamou, impôs sua própria deposição. Que fazer quando o servidor-presidente se torna inimigo maior da tranquilidade? Esperar que ele liquide a ordem legal…? Melhor fazer isso por ele. Essa leitura dos fatos feita por Drummond faz pensar que como analista político ele era um grande poeta. Isso remete para uma comparação machista: Jango seria a mulher de minissaia que provoca o estupro.

    Antônio Callado aceitou o deprimente papel de crítico, não dos defeitos intelectuais de Jango, mas do seu “defeito” físico, ao qual se refere três vezes em poucas páginas: “ Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que poderiam corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de dor física fez com que Jango jamais considerasse a serio o conselho. Talvez por isso tenha cometido o  seu suicídio indolor na Páscoa”. O Jango de Callado é um bêbado incompetente, eterna estratégia desqualificadora ao alcance da mídia: “Dia 13 de março deste ano, incapaz de suportar por mais tempo o desnível entre o que era e o que devia ser, Jango-Hamlet saiu para o comício. Tomara uma refeição ligeira de manhã, na base do chimarrão, e depois, durante todo o dia, não comeu mais nada. Tinha bebido muita limonada e em seguida uísque (nos dois últimos governos da República esse personagem escocês desempenhou papel macbethiano)”. A maledicência como estilo. Callado condenou Jango por um vício ainda maior: o de aumentar o salário mínimo. Começou na base dos 100%.

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