Associação de Ateus vai ao Senado para taxar igrejas

Por Monier

Em aparente reação à atuação de pessoas como o Malafaia e Datena, que andaram atuando com excesso de energia – nem tanto pela causa do perdão celestial, muito mais para crucificar na terra os que pensam diferente – a ATEA está se mobilizando para derrubar a imunidade tributária de igrejas. Conseguiu um apoio expressivo de 20.000 pessas pelo e-Cidadania do Senado Federal, e a proposta será analisada.
 
Sabe-se que não há direito absoluto: ao direito à vida contrapõe-se o direito à legitima defesa; à liberdade, o Direito Penal; à saúde, contrapõe-se lamentavelmente o equilíbrio orçamentário da União. E a lista é longa.
 
Há quem diga que, como a vida, a liberdade, ou o direito à greve, a imunidade das igrejas seria cláusula pétrea, porque protege a liberdade religiosa. Não parece.
 
Exemplificando: uma coisa é o exercício do direito de greve, outra coisa é o imóvel (IPTU) onde vou manifestar minha greve, outra é o automóvel (IPVA) com o qual vou à greve, outra é o jornal do sindicato (ou mesmo TV) onde vou insuflar a greve, outra coisa é o advogado que contrato para me orientar a respeito da greve, e no caso de vir a ser um bom sindicalista, posso me dedicar a trabalhar o dia todo no jornal/TV do sindicato e ser remunerado por isso, pagando o devido IR.

No mesmo art. 150 da CF que concede a imunidade tributária está o inciso que garante a não-diferenciação entre contribuintes. Pessoalmente, vejo diferenciação entre quem vende o Corão e quem vende Os Lusíadas (desconsiderdada a imunidade do papel). Ou quem prega um bom culto religioso, e quem é bom orador em uma formatura (com todo o respeito ao sentimento religioso) ou quem vende um bíblia dourada imune e aquele que vende camisetas amarelas e tributadas na av. Paulista. 
 
A imunidade tributária religiosa ia bem no Brasil como direito quase absoluto. Nem mesmo o STF costuma dar pitaco no assunto, e todas as causas são afastadas do julgamento de mérito com base na súmula 279 do tribunal, que impede analisar fatos já vistos pelos tribunais inferiores. Em geral discute-se se há atividade puramente religiosa, e geralmente o estado perde.
 
A imunidade ia bem até o movimento recente em que muita gente começou a enriquecer com a fé alheia, comprar carros, imóveis e até o controle de concessões públicas de rádio e TVs, como sabemos. E há quem tente converter renda em poder político para aporrinhar o direito dos ateus permanecerem como estão. Há outros que não limitam a atacar os ateus, e vão atrás dos direitos trabalhistas, tentando passar coisas como a PEC da terceirização. Há outros que vão muito mais além, atrás da presidência das casas legislativas para controlar a agenda política nacional, do aborto, passando pelo desarmamento, e chegando até nos planos de saúde, que nada tem a ver com religião, mas são financiadores de tantas campanhas políticas.
 
Se logo após a CF/88 havia quem dizia que o culto não é fato econômico, e por isso não se tributa, o certo é que até o Direito Comercial mudou. Virou Direito Empresarial desde a vinda do Código Civil de 2002. E discute-se hoje o que é “empresa”. Se é a instituição, ou se é a atividade de empreender.
 
E não há como negar que muita igreja estimula o pastor a ser empreendedor. E se não é atividade de empresa amealhar doações ou contribuições para movimentar uma concessão de televisão, com cantores, escritores, radialistas, jornalistas e administradores, e se todos esses profissionais bem remunerados não representam fato econômico, então o Direito Empresarial baseado na atividade nasceu falido.
 
Então acho saudável a iniciativa para relativizar essa imunidade tributária, antes que gente como o Malafaia, o Macedo e o Papa voltem a ser grandes o suficiente para se meter nos assuntos internos do estado nacional (esse papa é legal e pra frente. O próximo, sabe-se lá. O Malafaia, bem, o Boechat já noticiou). 
 
Segue a notícia e o link.
 
Do blog Tribuna da Imprensa

AtEUS MOSTRAM SUA FORÇA E VÃO AO SENADO PARA TAXAR IGREJAS

EDUARDO BANKS

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), com sede em São Paulo, conseguiu, no início da tarde de sexta (19) alcançar 20 mil apoiamentos no Portal e-Cidadania do Senado Federal para a idéia legislativa de extinguir a imunidade tributária das organizações religiosas (igrejas), e agora a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado está obrigada a elaborar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para revogar a alínea b do inciso VI do artigo 150 da Carta Magna, a qual proíbe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre “templos de qualquer culto”.  

Se a PEC for aprovada, todas as igrejas e templos terão que declarar seus rendimentos à Receita Federal e pagar impostos como qualquer empresa sediada no País, o que dificultará bastante que as organizações religiosas continuem a ser usadas como “fachada” para lavagem de dinheiro oriundo de atividades criminosas, desvio de verbas públicas e aquisição graciosa de concessão de canais de TV e rádio, como vem acontecendo há décadas. 

O Programa e-Cidadania foi criado pela Mesa Diretora do Senado Federal, em 2011, “com o objetivo de estimular e possibilitar maior participação dos cidadãos, por meio da tecnologia da informação e comunicação, nas atividades legislativas, orçamentárias, de fiscalização e de representação da Casa”, sendo então disponibilizada aos cidadãos a possibilidade de apresentar idéias legislativas no Portal de internet do Senado. As idéias que, no prazo de 120 dias, conseguem atingir 20 mil apoiamentos de outros cidadãos (diretamente no site) são encaminhadas à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa para serem formalizadas como projeto de lei ou proposta de emenda à Constituição.

Foi assim, por exemplo, em 2014, com a idéia de liberação do uso recreativo de maconha, que completou os 20 mil apoiamentos em apenas 8 dias e resultou na Sugestão nº 8/2014.  A idéia legislativa do fim da imunidade tributária para as igrejas, cujo proponente ainda é desconhecido, havia sido publicada no endereço http://www12.senado.gov.br/ecidadania/visualizacaoideia?id=38723 em 5 de março de 2015, mas até 29 de maio somente conseguira 564 apoiamentos; aí, uma súbita mobilização da ATEA começada com uma publicação fixada na página do Facebook da entidade (https://www.facebook.com/groups/ATEA.ORG.BR/) e o envio de 15 mil e-mails para todos os associados no domingo (31) impulsionou avassaladoramente a campanha para instituir a tributação em cima do patrimônio e a renda de igrejas e sacerdotes, atingindo uma média de mil apoiamentos diários, completando os necessários 20 mil apoios em menos de três semanas.  

Segundo o Presidente da ATEA, Daniel Sottomaior Pereira, os ateus agora vão fazer do Portal e-Cidadania o canal para apresentar propostas que fortaleçam a laicidade do Estado.  Outras campanhas estão sendo estudadas, como extinguir o estatuto diferenciado das “organizações religiosas” no Código Civil, abolir feriados religiosos e retirar das cédulas de Real a frase “Deus seja louvado”.  A ATEA também cogita de somar esforços com o movimento LGBT, e apresentar idéias para instituir no ensino fundamental e médio a disciplina acadêmica de educação contra a homofobia, normatizar o uso do nome social em documentos de identidade de cidadãos(ãs) transgêneros(as) e proibir pretensas “terapias” de reversão da orientação sexual.  

A perspectiva é de que cada nova campanha da ATEA alcance os 20 mil apoiamentos em ainda menos dias; os ateus e agnósticos brasileiros têm hoje muito do que se orgulhar, e participarão com maior intensidade da política nacional. Contra o perigo de retrocesso social criado pelas posturas retrógradas das “bancadas” da Bíblia, da Bala e do Boi, os próprios ateus e agnósticos, sem terem nenhuma filiação partidária específica ou ligação direta com políticos, levarão suas propostas ao Parlamento nos braços da iniciativa popular, assumindo o  importante papel de atores das lutas progressistas da sociedade.  Neste delicado momento da História da Nação, em que o Deputado Eduardo Cunha e seus aliados transformam o Congresso em um “púlpito” para projetos absurdos, como a conversão do delito de “ultraje ou vilipêndio a culto religioso” em crime hediondo (e com a pena aumentada para reclusão, de 4 a 8 anos e multa), praticamente sem sofrer nenhuma resistência dos seus pares ou do Poder Executivo, e o “Pastor” Silas Malafaia (enquanto repousava de suas demandas por columbiformes) ditou (pelo Twitter) alterações no programa de governo de uma ex-candidata à Presidência da República, tornada em súcubo de lideranças conservadoras, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos se apresenta no horizonte político como uma força de oposição ao poderio dos religiosos, legitimada como instrumento do Poder que vem do Povo (e não de um “Deus” obscuro), amplificada pela voz de Estentor de em uma expressiva massa de cidadãos cansados de assistir ao aumento dos privilégios das igrejas e sacerdotes.  

O êxito da ATEA em catalizar tão celeremente uma verdadeira multidão de indignados é também um recado para os congressistas evangélicos, de que não colocarão no bolso a República sem que ninguém faça nada para impedi-los.  Os vinte mil apoiamentos dados em apenas vinte dias indicam a existência de um contingente ainda maior de ateus, agnósticos, pessoas sem religião e humanistas conscientizados de seu valor como partícipes do processo político, informados sobre os mecanismos legais de participação popular e dispostos a exercitar os seus sufrágios no sentido do que anseiam. 

 

Redação

21 Comentários

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  1. Acho errado que somente Ateus e Agnósticos assinem esta proposta

    Todos deveriam assinar esta proposta, pois se existirem comunidades religiosas pobres estas serão isentas de impostos, por outro lado se parte dos rendimentos das igrejas forem doados para instituições sem fins lucrativos e com objetivos de utilidade pública, estes rendimentos poderão ser deduzidos do imposto. Só restaria como parte a ser sujeita a tributação o que vai de benefício aos ministros religiosos destas igrejas ou retorno aos próprios doadores.

    Logo, aquelas pessoas que acreditam que a sua igreja é somente um local de culto e não de comércio, deveriam também assinar a petitição.

    1. Nunca vi tanta ingenuidade. A

      Nunca vi tanta ingenuidade. A quem vc recomendou que fosse os rendimentos da igreja é o msm que a igreja já faz. Mais não acha que o governo é quem faz fazer essas caridade, não é? 

  2. É mais fácil um camelo passar

    É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que essa medida ser aprovada.

    Com o congresso atual, não chega nem a ser discutida…já nasceu morta, apesar de ser um boa ideia.

     

    1. Não sei não, pastores com fazendas e demais regalias…

      Não sei não, pastores com fazendas e demais regalias são difíceis de serem defendidos.

      A Igreja Católica sempre teve o chamado voto de pobreza para os padres de determinadas congregações, votos estes que eram muitas vezes desreipeitados na surdina ou alegando que o patrimonio era da congregação, porém nunca a Igreja Católca de forma descarada como alguns pastores evangélicos exibiu a riqueza com orgulho, era algo que deveria ser escondido.

      Agora algumas denominações evangélicas que apregoam a riqueza como um sinal de benção do senhor, soltaram a franga e começaram a debochar da sociedade em geral. Muitas denominações protestantes não concordam com isto, e com uma legislação razoável a probabilidade de passar não é tão impossível assim (principalmente porque a concorrência de instituições religiosas com a imprensa é grande – vide Globo, SBT e Bandeirantes e outras versus Record.

  3. Na cidade de Gramado já houve um problema quanto a isto.

    Ao lado da Igreja de Gramado havia uma área livre que foi convertida em Shopping por um dos padres. O secretário de administração, um católico praticante (fiel daqueles que contribui com a igreja), taxou as lojas que estavam se estabelecendo neste shopping, pois as mesmas faziam concorrência com lojas que ficavam ao lado.

    O padre da época chegou a expulsar o fiel da Igreja, mas como este fiel era fiel mesmo e tinha seus contatos na cúria, quem saiu foi o Padre.

    Não sei o que aconteceu no segmento, se houve posteriormente alguma isenção dada pela câmara de vereadores ou alguma reclamação na justiça, mas fica claro que mesmo fiéis de igrejas podem dentro de suas atribuições constitucionais não brigarem com a religião, mas sim brigarem contra a mercantilização da fé.

    Se alguém sabe do desdobramentos posteriores seria interessante complementar o que ocorreu depois.

  4. Deveria isentar igreja que fizessem

    algum trabalho útil como algumas igrejas evangélicas que trabalham com recuperação de drogados ou as que cuidam de hospitais; igreja de vila, universal, mundial, renascer e outras tranqueiras do tipo pode mandar o boleto que tem dinheiro de sobra

  5. Ok, que cobre imposto de

    Ok, que cobre imposto de todas as Igrejas.

    Só tem um detalhe, no caminho tem a Igreja Católica, e um pouco mais acima o Vaticano.

    Eles irão querer meter a mão no bolso ?

    Tá bom ! Vão ficar na saudade.

    É nisso que as Igrejas Evangélicas(todas) se apoiam.

    Se tiver de cobrar imposto, que cobre de  todas as denominações.

  6. Associação de Ateus? Que

    Associação de Ateus? Que coisa mais ridícula e patética.

    O Ateismo virou religião, agora? Era só o que faltava.

    Daqui a pouco vai aparecer a Associação dos não gostam de Futebol, Associação dos Adoradores de Sardinha em Lata, exigindo direitos,

    Vão procurar uma coisa útil para fazer cambada de mandrião.

     

  7. Mas e a ATEA paga impostos

    Mas e a ATEA paga impostos ?

    Isso parece ser mais uma bobagem anti religiosa, apenas isso.

    Há várias entidades que tem isenção tributária, porque não são entidades com fins lucrativos. ONGs, fundações, institutos de ex Presidente, por ex (então o IFHC e o instituto Lula também terão que pagar impostos sobre lucro ? ), e também entidade religiosas.

    Mas essa isenção tributária não é TOTAL, é PARCIAL,  pagam impostos sim sobre bens e serviços, sobre folha de pagamento etc, apenas não pagam impostos sobre lucro, justamente porque são entidade sem fins lucrativos.

     

    1. Ora, impostos parciais…
      Ora, impostos parciais… Quanto isso representa do montante arrecadado? E vai dizer que ainda pagam impostos na compra de helicópteros e jatinhos??? Putz….

    2. Quanta moral falar em bobagem

      Quanta moral falar em bobagem anti religiosa! Se existe bobagem que ouvimos diuturnamente, em todo lugar é, sem sombra de dúvida, religiosa. O Estado não deve financiar ilusões. A atividade religiosa é mais perniciosa que uma fábrica de salsichas.

    3. Quando a ATEA tiver metade do

      Quando a ATEA tiver metade do impacto social que as igrejas têm no Brasil ela se sinta no direito de dizer que representa o interesse do povo. Ter o apoio de meia dúzia de neo-ateus ou um anti-religioso qualquer não quer dizer que representa os interesses de nossa sociedade. É só ver as pesquisas do IBGE as igrejas evangélicas e católicas somente crescem no Brasil e, dessa forma, milhões de vidas são mudadas e impactadas. 

      Aí é conversa pra gente grande que tem trabalho pra mostrar, não para meia dúzia de ATEUS LGBT, que se junta-los e multiplicar por 10, não impactam nem mudam a vida de ngm. Só pagam de revoltadinhos e insatisfeitos que não passam de mimizentos chorões.

      Continuem acreditando aí no seu “deus” Charlie Darwin e deixem quem sabe, e tem a missão de  impactar vidas, trabalhar em paz.

  8. Sou favorável: nada mais

    Sou favorável: nada mais justo.

    Se não passar, o que é bastante provável, pelo menos poderia ser proibido que passassem a mão em qualquer fundo público para fazer proselitismo disfarçado de caridade ou serviço social. Façam do próprio bolso.

  9. Nada mais justo do que cobrar imposto de igrejas e pastores

    As igrejas de hoje são tão sem fins lucrativos quanto os bancos. Chega de sustentar parasitas, quem quer viver de cobrança de dízimo para depois construir uns templos que mais parecem uns shoppings, que pague impostos por isso, eu não sou obrigada a sustentar a fé de ninguém.

    1. Faço minhas as suas palavras.

      Faço minhas as suas palavras. Fé não é virtude, fé é ingenuidae. Cada um que que sustente a sua ingenuidade. 

  10. Concordo, mas sugiro acabar

    Concordo, mas sugiro acabar também com algumas outras isenções tributárias que estão no mesmo artigo constitucional, como as dos sindicatos e partidos políticos.

  11. Tributo sobre doação?
    Só esquecem que o dinheiro que entra nas igrejas é doado pelos membros, logo se vão tributar uma doação quero saber se vão tributar tbm o criança esperança, teleton e outras ONGs que recebem doação

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