Até os conservadores mudam

A grande mentora do chamado neoliberalismo foi Margareth Thatcher e o partido conservador inglês,

A crise está provocando uma rapidíssima mudança nas idéias dos conservadores, como se verá abaixo.

No meu livro “Os Cabeças de Planilha” procurei explorar os novos caminhos do pós-crise. E eles passavam pelo fim da dicotomia esquerda estatista-direita monopolista, pelo fortalecimento dos arranjos produtivos locais, das pequenas e micro empresas, pela inovação tecnológica se disseminando e não sendo controlada apenas pelas grandes corporações.

O fecho do livro é uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso onde esses temas eram abordados. É interessante rever a entrevista. Apesar de sua formação sociológica, de sua experiência como presidente da República, de sua convivência com a elite intelectual e política do mundo, FHC continuava preso aos mesmos paradigmas de um modelo que já fazia água desde 2002. Insistia que o desenvolvimento só poderia ser comandado pela grande corporação.

Leia com atenção as dicas do leitor Marcos Banik, pois são preciosas para entender os novos tempos e comprovar como os conservadores de lá são muito melhores do que os nossos conservadores.

Para quem não entender as citações em inglês, faço um pequeno resumo dos artigos no final.

Por Marcos Banik

Por favor, leia a reportagem de capa da prospect falando dos ‘red tories’. Clique aqui.

Melhor ainda, comece pelo parágrafo que diz “How will this happen? What must Cameron’s priorities be….”

A partir dai você irá ler coisas como:

Likewise the Tory’s proposed new “social fund” could act within the trusts in deprived areas to offer micro-finance to people without assets. This would create a new, but distinctly conservative form of asset based welfare leading eventually to claimant independence.

E olha só esse trecho

A radical communitarian civic conservatism must be committed to reversing this trend. This requires a considered rejection of social mobility, meritocracy and the statist and neoliberal language of opportunity, education and choice. Why? Because this language says that unless you are in the golden circle of the top 10 to 15 per cent of top-rate taxpayers you are essentially insecure, unsuccessful and without merit or value. The Tories should leave this bankrupt ideology to New Labour and embrace instead an organic communitarianism that graces every level of society with merit, security, wealth and worth.

Um tory declarando a falência do neoliberarismo :o)

Depois leia o discurso de David Cameron, lider do partido conservador em Davos. Clique aqui.

Leia todo, mas eu não posso deixar de destacar esse trecho

“It’s time to assert a fundamental truth: that markets are a means to an end, not an end in themselves. Markets are there to serve our society, not to suck the joy out of it or trample over its values. So we must shape capitalism to suit the needs of society; not shape society to suit the needs of capitalism.”

—–
É impressão minha ou realmente está fácil vender o bolsa família 2.0 para essas pessoas? É só mudar um pouquinho a roupagem do discurso que até hoje foi feito para agradar a esquerda.

Também vale a pena ler os relatos de Daniel Gross para a Slate. Clique aqui.

Não é programático mas mostra como anda o clima por lá.

Comentário

O primeiro artigo defende que as mudanças na Inglaterra sejam conduzidas pelos conservadores e não pelos trabalhistas.

É uma auto-crítica corrosiva às teses até aqui abraçadas pelos conservadores ingleses – e, mais importante, uma crítica de dentro.

O artigo mostra como o liberalismo surgiu para defender os direitos individuais contra o poder do soberano. E como sua exacerbação levou ao individualismo amplo, com o próprio repúdio da idéia de associativismo ou de Nação.

O liberalismo exacerbado exigiria uma entidade central para gerir o conflito entre interesse individual e coletivo. Portanto, a conseqüência do ultra-liberalismo seria o controle estatal amplo, exercendo esse papel de coordenação. Ou seja, o legado do individualismo liberal é o restabelecimento do absolutismo.

E o capitalismo liberal, ao substituir o monopólio estatal pelo privado, tornou-se tão pernicioso quanto a esquerda estatizante.

Aí entra nas propostas:

1. Reconstrução do sistema bancário, inclusive com utilização dos Correios para competir no mercado de crédito. Os correios são universalmente populares e ligados às comunidades locais. E estão livres dos papéis tóxicos. O Banco da Inglaterra poderia lhes oferecer funding para que emprestassem a juros mínimos.

2. Ajudar as comunidades locais a se beneficiarem de seus ativos. Deveriam ser criadas novas classes de ativos, para investir nos próprios locais de origem da poupança. Especialmente no campo do micro-financiamento, fortalecendo os arranjos produtivos e as cooperativas.

3. Fortalecer os produtores locais. Estudo de 2005, da New Economics Foundation mostrou que cada libra gasta com um fornecedor local gera localmente £ 1,76, enquanto que cada libra gasta com fornecedores externos gera apenas 36p. Um aumento de 10 por cento do montante do dinheiro gasto localmente significaria uma injeção de £ 5.6 bilhões em economias locais.

4. Acabar com o mito da mobilidade social, pregado pelos liberais – segundo o qual, bastaria dar educação e saúde que os pobres se virariam por si. Em vez disso, o artigo propõe aos conservadores abraçar de vez o comunitarismo orgânico em todos os níveis da sociedade.

5. Finalmente, propõe aos conservadores romper com o grande capital, com a idéia de que a saída está em um cartel de grandes corporações maximizando os lucros. Esse modelo tem destruído os rendimentos

O artigo de Cameron fala do fracasso do comunismo, da crença de que o livre mercado resolveria os problemas da humanidade. E constata a enorme frustração desse sonho, com a crise atual.

Fala da desconexão entre o mercado e a vida das pessoas., mostra como a globalização se transforma em monopólios e, finalmente, a incrível desigualdade do mundo moderno.

Defende, por fim, um capitalismo com consciência, com os mercados sendo meio e não fim, defendendo uma sociedade para a família, com o poder descentralizado e a valorização da esfera pública e das organizações sociais.

Diz ele que é hora de colocar o mercado dentro de uma esfera moral, fortalecendo as economias locais.

Luis Nassif

32 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mas “um capitalismo com
    Mas “um capitalismo com consciência, com os mercados sendo meio e não fim, defendendo uma sociedade para a família, com o poder descentralizado e a valorização da esfera pública e das organizações sociais” não é o capitalismo, é o socialismo!

    O capital como meio de desenvolvimento social e econômico, mas submetido a atos conscienciosos. Essa questão da descentralização é que é o ponto nevrálgico do sistema capitalista. Uma mínima centralização sempre será necessária, mas essa deve se dar pela integração técnica das diversas cadeias produtivas através dos sistemas de informação computadorizados em rede.

    É justamente pela profusão de iniciativas desenfreadas que o individual se faz acima da comunidade ou do corpo social e, por conseguinte, as crises sociais e econômicas ocorrem. Pois não é a competição o motor subjacente de desenvolvimento, mas as condições técnicas objetivas e subjetivas plasmadas pela incorporação das transformações técnico-científicas nos mais diversos tipos de sistemas de produção. Em um estado de concorrência, há uma tendência à igualação de tais condições técnicas, mas que se desfaz sempre que há um descompasso na taxa de incorporação tecnológica entre os sistemas produtivos diversos, levando aos monopólios e etc. É papel momentâneo da burocracia estatal então manter a margem de igualação entre os diversos sistemas produtivos diversamente estabelecidos, fundamentalmente no que diz respeito aos meios de produção, fomentando a cooperação técnica. Esse processo deve ser integrado e centralizado. É necessário enxergar o todo sobre as partes. Pois o empreendedor é humanamente incapaz de responder com eficiência à diversidade de composições técnicas do capital, uma vez que não conseguiria testar todas as possibilidades de concatenações em tempo hábil. Mesmo que o fizesse, poderia tomar o falso como verdadeiro ou o verdadeiro como falso.

  2. “Apesar de sua formação
    “Apesar de sua formação sociológica, de sua experiência como presidente da República, de sua convivência com a elite intelectual e política do mundo, FHC continuava preso aos mesmos paradigmas de um modelo que já fazia água desde 2002.”

    Nassif, ja dizia um amigo meu; e mais facil adotar uma ideia nova do que abandonar uma ideia antiga.

    Imagino que deve ser isto.

  3. “os conservadores de lá são
    “os conservadores de lá são muito melhores do que os nossos conservadores”: isso é de uma evidência cristalina para quem conhece a história do pensamento e dos movimentos conservadores europeus, britânicos ou continentais. Os assim chamados conservadores no Brasil ou são simples predadores picaretas (ou seja, pretendem conservar os seus privilégios bem concretos e nada mais) ou gente estúpida que absorveu apenas a vulgata do conservadorismo teórico e se acha moderna porque usa gravata amarela e eventualmente vai a Miami para praticar o inglês. É um fenômeno semelhante aos nossos marxistas que jamais leram Marx ou, se o leram, foi pelas lentes redutoras do marxismo posterior. Na parte que nos toca o espanto quanto à qualidade do conservadorismo europeu, notadamente o britânico, se deve à pura e simples ignorância. Churchill, talvez o grande herói da segunda guerra, era o que? E o general De Gaulle? E Eisenhower? Tanto que se pode dizer que, do lado aliado, quem ganhou a guerra foram os conservadores, ao contrário do que a propaganda comunista gosta de fazer crer. O problema é que, no Brasil, tanto os conservadores quanto os que se opõem a eles são ignorantes, profundamente ignorantes, inclusive do espírito público que, independente do extrato ideológico, é absolutamente obrigatório ter.

  4. “Defende, por fim, um
    “Defende, por fim, um capitalismo com consciência, com os mercados sendo meio e não fim, defendendo uma sociedade para a família, com o poder descentralizado e a valorização da esfera pública e das organizações sociais.”

    Como no mais lindo dos meus sonhos… 🙂

  5. “Capitalismo com
    “Capitalismo com consciencia…”. “Colocar o mercado dentro de uma esfera moral…”. Parece até o MAddof falando. Desde quando economia, principalmente capitalista ou o mercado tem qq escrúpulo. Tá pior que os discursos de improviso do Lula. Só serve prá animar convenção partidária e ajudar a passar mais tempo fora dos lares (ingleses chatos). Não tem sonho. É como delfim fala tem que refazer constantemente o capitalismo e seus mecanismos reguladores. Cada vez é um novo problema. A falta de escrupulos sempre foi e sempre será qq causa de crise, mas os problemas são novos e assim se aprende com erros passados.

  6. “Insistia que o
    “Insistia que o desenvolvimento só poderia ser comandado pela grande corporação”: em 20 anos de Brasil nunca vi uma ratoeira.

    1
    “Likewise the Tory’s proposed new “social fund” could act within the trusts in deprived areas to offer micro-finance to people without assets. This would create a new, but distinctly conservative form of asset based welfare leading eventually to claimant independence.”
    Igualmente, o governo propos que um “fundo social” novo poderia agir dentro dos “trusts” em areas deprivadas, para oferecer microfinaciamento a pessoas sem bens. Isso criaria uma nova mas distinta forma de assistencia social baseada em bens (sic: baseada em si mesma, de acordo com o texto) que eventualmente levaria aa independencia do ajudado.

    2
    “A radical communitarian civic conservatism must be committed to reversing this trend. This requires a considered rejection of social mobility, meritocracy and the statist and neoliberal language of opportunity, education and choice. Why? Because this language says that unless you are in the golden circle of the top 10 to 15 per cent of top-rate taxpayers you are essentially insecure, unsuccessful and without merit or value. The Tories should leave this bankrupt ideology to New Labour and embrace instead an organic communitarianism that graces every level of society with merit, security, wealth and worth.
    Conservatismo civico-comunitario (sic) radical deve ser implementado pra reverter a tendencia. O que requer consideravel rejeicao da mobilidade social, meritocracia, e a estadista, neoliberal (sic) linguagem de oportunidade, educacao, e livre escolha. Porque? Porque essa linguagem diz que a menos que voce pertenca ao doirado circulo dos 10 ou 15 porcento dos maiores pagadores de taxas, voce estara essencialmente inseguro, sem sucesso, e sem merito ou valor. Os Tories (governo do Reino Unido) deveriam deixar essa ideologia bancarrota pro “New Labor” e ao invez disso se agarrarem o comunitarismo organico (sic) que adorna todo nivel de sociedade com merito, seguranca, bem estar, e valor.

    3
    “It’s time to assert a fundamental truth: that markets are a means to an end, not an end in themselves. Markets are there to serve our society, not to suck the joy out of it or trample over its values. So we must shape capitalism to suit the needs of society; not shape society to suit the needs of capitalism.””
    Eh hora de argumentar uma verdade fundamental: que mercados sao meios em direcao a um fim e nao o fim por si mesmos. Mercados existem pra servir nossa sociedade, nao pra sugarem prazer dela ou pisotearem seus valores. Devemos moldar o capitalismo de acordo com a necessidade da sociedade; nao moldar sociedade de acordo com a necessidade do capitalismo.

  7. Nada menos surpreendente que
    Nada menos surpreendente que uma tentativa de retorno ao feudalismo.
    O neo-liberalismo foi um retorno ao liberalismo primitivo, agora para defender os valores “individuais” do grande capital contra o Estado regulador.
    A globalização foi o coroamento do processo, como foram as grandes navegações no antigo regime.
    Para tentar manter os direitos “individuais”, nada como um “De volta para o passado”.
    Falta apenas combinar com os russos, o capital financeiro… aquele que retira recursos de qualquer local, para manter sua estrutura de maximização dos lucros, funcionando.

  8. “O primeiro artigo defende
    “O primeiro artigo defende que as mudanças na Inglaterra sejam conduzidas pelos conservadores e não pelos trabalhistas(…): Nassif, nenhuma das suas palavras me convenceu que os “conservadores” estao falando a verdade.

    A direita muda de cara de acordo com o cliente porque tem acesso a TODO o dinheiro continental e nao vai desistir dele. As palavras sao muito bonitinhas mesmo, mas seriam bem melhores se nao fossem plagiarizadas integralmente da esquerda. Como ta, fica parecendo que so tao mudando de cara pra clamarem credito por qualquer avanco social -e “avanco social” eh uma das coisas mais criticas e importantes que os conservadores nao permitem. Vide Brasil.

    As palavras não são minhas.

  9. E por falar em
    E por falar em conservadores,…

    Sinto muita falta de uma visão de direita, não esta direita que se apresenta hoje, mas uma direita:

    Conservadora nos costumes sem ser preconceituosa.

    Que valorize o trabalho mas reconheça que existem injustiças históricas que devem ser corrigidas.

    Nacionalista sem ser chauvinista.

    Religiosa sem ser intolerante.

    Capitalista, mas que entenda que o capitalismo só se justifica pelo risco e só é moral quando garante a todas as pessoas condições minimas de oportunidade (ou seja educação de qualidade, segurança, saúde e justiça).

    Que tenha orgulho do nosso pais, da nossa mestiçagem, de TODO o nosso povo e não tenha aquele maldito complexo de vira-lata.

    Existe isso em nosso pais?

  10. (Ich, postei em outra pagina
    (Ich, postei em outra pagina mas tava errado. Um esclarecimento rapidinho: “Red Tories” significa, proporcionalmente, mais ou menos “Os Serristas Comunistas”!!!!! Ate pra plagiarizar a esquerda eles teem que colocar o modelo arruinado “deles” no meio.)

  11. isso parece hisotirico: a
    isso parece hisotirico: a sociedade se mobiliza, muda, pressiona, e adireita, os eternos donos do poder economico, assumem essas teses para entregarem os aneis para nao entregarem a coroa…

    cabe aos movimentos sociais continuarem na luta para que isso mude realmente…

    na folha de hoje tem uma materia sobre conunidades que tem sua propria moeda…criaram o banco palma: a propria comunidade tem o seu banco e nao paga spread, isto eh, investe o proprio dinheiro auferido na producao…por aih…

  12. Bom, o que eu tentei dizer em
    Bom, o que eu tentei dizer em termos abstratos o Marc disse com toda a propriedade em termos concretos. Parabéns, é isso aí mesmo. Traduzindo, o que se pede é uma direita (porque ela tem, ela precisa existir, por mais que alguns não queiram entender isto) inteligente, aberta ao debate e com espírito público, não essa meleca que anda por aí. É, de fato, um desafio perguntar se ela pode de fato existir, pelo menos nessas latitudes.

  13. Poxa, Nassif..

    Senti muita
    Poxa, Nassif..

    Senti muita falta aqui de uma consideração mais apurada sobre as medidas sociais do pacote de Obama.

    Isso foi totalmente ignorado pela imprensa brasileira.

    Parece, veja, que as vozes da direita tradicional na imprensa brasileira, que se sobrepujaram ao que havia de progressista nesta banda ideológica (observe, estou evitando os termos conservador e progressista), estão percebendo falta de lastro nos debates internacionais.

    Mas apelam para uma coisa muito ruim: silenciam o que há de melhor lá fora.

    O silêncio sobre as medidas sociais do pacote chega a ser escandaloso.

    Postei aqui uma tradução rápida, poderia ter trazido o resumo do N.YTimes. Nele, vemos coisas como “ajuda aos universitários de classe baixa”, “prioridade para as obras em lugares menos privilegiados”, e até mesmo “ordem de pagamento” para populações necessitadas.

    Todo este arsenal virou pó aqui no noticiário brasileiro.

    Então faço um apelo: traga para cá o que há de melhor no debate da direita anglosaxônica e européia. Fure este bloqueio.

    Abs..

  14. Um adendo: venho defendendo
    Um adendo: venho defendendo que nossa imprensa de direita (quase toda) está à direita da direita da imprensa internacional.

    E não é chiste.

  15. Oi Nassif,
    Thatcher defendia
    Oi Nassif,
    Thatcher defendia as pequenas empresas, apenas como instrumento de retórica. É verdade que seu discurso em favor de uma “democracia de pequenos proprietários” teve grande impacto na mídia, e foi um poderoso expediente de marketing político. Contudo, na prática, seus 11 anos de governo (1979-90) apenas reforçaram o capital monopolista. Desde que Marx escreveu “O Capital”, as tendências à concentração e centralização do poder econômico só avançaram, e não existe nenhum caso no mundo de reversão dessa tendência (aqui no Brasil, Chico de Oliveira e Conceição Tavares estudaram um pouquinho o processo de oligopolização da economia, ocorrido a partir do governo JK).
    Em 1980-81, houve o famoso “short sharp shock” britânico: uma grande contração da economia britânica, provocada por um ajuste monetarista que forjou, deliberadamente, um processo de fortalecimento dos monopólios. As coisas funcionavam assim: primeiro, uma forte abertura da economia, expondo os fabricantes ingleses à concorrência internacional. No começo, recorde de falências e concordatas. Depois, “ajuste’ e “saneamento” das empresas, forçadas a reestruturarem-se. Resultado: as pequenas e médias empresas sucumbiram diante da concorrência implacável, e foram fechadas ou adquiridas por um preço vil (Aqui no Brasil, o Collor seguiu esse modelo à risca; quem não se lembra do “quem não tem competência, não se estabelece”?).
    O PIB britânico encolheu 2,3%, enquanto a produção industrial diminuiu em 14%, entre 1979 e 1981. A Inglaterra, antiga “oficina do mundo” (século XIX) passou por um processo, por assim dizer, de desindustrialização; fechou as antigas smockestack industries (“fábricas de chaminé”) e buscou vantagens comparativas em setores não-industriais, como serviços, seguros, fretes marítimos, finanças etc.
    Quanto à diminuição do tamanho das fábricas, trata-se de uma tendência mundial: Toyotismo, kanban, just-in-time etc. são formas de controle do movimento operário, e funcionam melhor num universo de trabalhadores dispersos e atomizados. O antigo modelo fordista, aquele do “operário-massa”, constitui um poderoso obstáculo à implementação das novas formas de controle dos sindicatos. Mas ainda assim, não se trata de estimular um retorno ao “capitalismo concorrencial”, mas criar um ambiente mais favorável à exploração desenfreada das grandes corporações.
    O ex-presidente FHC também dizia que defenderia as pequenas e médias empresas. Mas, como Thatcher, apenas encobria os favores concedidos às grandes companhias. Quem não se lembra que um dos argumentos para privatizar o setor de telecomunicações era justamente o do “incentivo à concorrência”? No caso da telefonia fixa, apenas substitui o monopólio público pelo monopólio privado (por exemplo, Telesp X Telefonica), assim como em muitos outros setores.
    São todos cabeças de planilha. Mas não são ingênuos, todos sabiam exatamente o que iria acontecer.
    A propósito, uma sugestão de leitura, para entendermos o pensamento de FHC: “Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil”, de FHC (1964). Há mais de 40 anos, esse entreguista já dizia o que pensava a respeito das grandes empresas – e as admirava, com um servilismo indisfarçável.
    Abraços.

  16. LN: tem algo de estranho na
    LN: tem algo de estranho na frase:
    O artigo de Cameron fala do fracasso do comunismo, da crença de que o livre mercado resolveria os problemas da humanidade. E constata a enorme frustração desse sonho, com a crise atual.

    >> nao seria fracasso do ‘capitalismo’ ? ou ‘liberalismo’ ?

    Depois do fracasso do comunismo, a frustração com o liberalismo.

  17. Caro Nassif,

    Philip Blond é
    Caro Nassif,

    Philip Blond é um “conservaivo vermelho”, como ele mesmo se define

    Dois vídeos com ele
    Em 3 março de 2008
    http://en.wikipedia.org/wiki/Phillip_Blond
    No endreço acima, no final da página, em Reference, item 2-Interview with Philip Blond (Tv da Dinamarca, conversa em inglês, com legenda em dinamarquês)

    Em 01-Nov. 08
    http://fora.tv/2008/11/01/Battle_of_Ideas_Capitalism__What_Is_it_Good_For
    (Guerra de Idéias do Capitalismo: Isso é bom para quê/quem?)

    Sds,

  18. As grandes crises, como a de
    As grandes crises, como a de agora, são cíclicas e geradoras de mudanças profundas..
    De repente, eu me imagino o dono de todos os lingotes de ouro do mundo, e das demais riquezas. De que me serviriam todos os bens amealhados?
    Eu moraria encastelado, rodeado de câmeras de segurança, com uma vigilante “guarda pretoriana” cuidando de mim, acompanhando todos os meus passos. Seria eu um prisioneiro de mim mesmo: eu e os meus.
    Uma situação parecida com a que antecedeu, por exemplo, à Revolução Francesa.
    Certo é que um dia meu esquema de segurança seria sabotado e o final da história o que todos imaginam.
    Nietzch, certamente, teria muita coisa a diizer.

  19. Caros é difícil participar
    Caros é difícil participar deste debate.

    Quando o Yen Carry trade devastava as pequenas e micro empresas do Brasil eu reclamei como nunca, anos falando sozinho, ninguém queria escutar, todo mundo pendurado nas tetas das vacas gordas e os que realmente empreendiam no pais indo para o buraco inexoravelmente. Só se esbarrava em gênios das finanças, ganhando os tubos na bolsa, trabalhar, investir, empreender, arriscar, isto era para otários.

    Será que ninguém da área conservadora viu nada de errado nisto? É difícil de acreditar, mesmo porque eu reclamei pra todo lado. Os bancos então, lucros todos nos bilhões e ninguém achando que tinha nada de errado, por ai passa a boiada.

    Já o debate sobre o liberalismo, na minha humilde opinião, fica muito difícil de ser entabulado, aqui no blog mesmo temos no forum uma discussão com este tema, onde participei por diversas vezes e que não consegue formular nada de claro. Isto ocorre por diversas deficiências que não encontram uma solução simples, falta tudo, o vocabulário não tem consenso, os debatedores não convergem para o ponto focal da discussão, enfim , o debate é realmente improdutivo, seria uma proeza de grandes proporções chegar a conclusões válidas e exeqüíveis dentro destas condições.

    Por outro lado, por minhas próprias convicções pessoais, sinto que a solução para uma sociedade melhor e mais justa, onde oportunidades e deveres sejam mais equânimimente distribuídos passa por uma formulação totalmente diferente da que é discutida normalmente, onde numa reformulação sistêmica, um projeto social auditável e inteligível é eleito como escopo da Nação. Óbvio que tal reforma social iria esbarrar em alguns privilégios fortemente arraigados dentro do seio social, mas o que nos espera é a destruição do mundo como o conhecemos hoje.

    Em outras palavras, é do fogo para a frigideira.

  20. “O ex-presidente FHC também
    “O ex-presidente FHC também dizia que defenderia as pequenas e médias empresas”: sim, FHC estava doido pra quebrar o sistema de exportacao de bens e dinheiro! Doidinho! Rezava todo santo dia pra Deus ajudar. E Deus o ajudou.

    Umas 30 mil vezes.

  21. “Só se esbarrava em gênios
    “Só se esbarrava em gênios das finanças, ganhando os tubos na bolsa, trabalhar, investir, empreender, arriscar, isto era para otários”

    Entao nao eh so voce, Alexandre. Tou dizendo a mesmissima coisa ha anos. O sistema “financeiro” (entao ta…) brasileiro ataca tudo e todo mundo que nao tem a ver com exportacao. Nao sobra nada.

  22. Enquanto o Brasil não
    Enquanto o Brasil não renegociar a sua dívida pública, não tem saída: o sistema financeiro sempre vai dominar a economia.

    Antes, durante e após qualquer crise. Como tem acontecido desde o final dos anos setenta até hoje, dia 02 de fevereiro. Dia da nossa padroeira: Nossa Senhora dos Afogados.

  23. Aqui do Alto Xingu, os índios
    Aqui do Alto Xingu, os índios consideram uma enorme ingenuidade achar que os conservadores estão mudando. Essas são medidas cosméticas, superficiais, destinadas a tentar suavizar o impacto das centenas de bilhões de libras que estão sendo sacadas do Tesouro para resgatar os especuladores da alta finança… Acordem, gente!!!

  24. “Aqui do Alto Xingu, os
    “Aqui do Alto Xingu, os índios consideram uma enorme ingenuidade achar que os conservadores estão mudando”: como eh que indio fala “quanto mais mexe, mais fede”?

  25. Marc & Joseph,

    Deus, pátria
    Marc & Joseph,

    Deus, pátria e família? Meu Deus! Isso me assusta. E nesses momentos de crise, o pensamento classe-mediano aflora com toda o seu vigor. Terrível! Essa forma de pensar compartilhada por vocês muito me angustia e assusta.

  26. Marc e Alexandre:

    Ao que
    Marc e Alexandre:

    Ao que aparenta a única pessoa da atualidade no Brasil que se aproxima deste modelo é o Sr. Claudio Lembo, ex-vice-governador de SP e secretário do pref. Kassab…

  27. Caro Luis

    Boa tarde

    ” como
    Caro Luis

    Boa tarde

    ” como uma cabeça tão brilhante, pode ser tão maquiavélica ” ???

    Pode ter certeza que ele sabe da diferença entre a teoria e a pratica.

    E pensar que já votei nele pro senado.

    Abraços.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador