Bresser-Pereira: Lula não é o candidato ideal, mas não pode ser proibido de concorrer

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Keiny Andrade/AE
 
Jornal GGN – O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira usou sua rede social, nesta quinta (4), para defender a candidatura de Lula a presidente em 2018. Segundo Bresser, Lula não é o “candidato ideal” porque, para o centro-esquerda, Ciro Gomes está mais preparado no plano econômico. Mas uma democracia não pode barrar a empreitada de Lula com base nas acusações frágeis levantadas pela Lava Jato em Curitiba.
 
“Não creio que Lula seja o candidato ideal. Em seu governo houve responsabilidade fiscal, mas nada foi feito contra os dois preços macroeconômicos que têm causado desindustrialização e baixo crescimento: os juros altos e o câmbio apreciado no longo prazo. Nada foi feito porque não Lula logrou transformar essa questão em uma questão nacional, e porque contou com uma assessoria econômica que lhe mostrasse o caminho. No plano econômico, na centro-esquerda, Ciro Gomes está mais preparado do que ele”, disse.
 
“Mas nesta pequena nota eu não estou discutindo candidatos à presidência da República. Estou afirmando que uma nação democrática não pode impedir que um líder político da dimensão de Lula seja proibido de concorrer”, acrescentou.
 
Leia, abaixo, o post completo.
 
Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
 
Eleições contra o radicalismo e o ódio
 
Luiz Inácio Lula da Silva é o primeiro grande líder do povo brasileiro desde Getúlio Vargas, mas a classe média e a classe rica o rejeitam de uma maneira radical e antidemocrática. Por que? Porque os padrões morais pelos quais seu partido, o PT, se pautou não foram os melhores? Sim, mas neste ponto o partido apenas copiou o comportamento dos demais. 
 
Porque, sem ter prejudicado os ricos, deu preferência para o povo e não para a classe média tradicional? E também porque, sem agredir os países ricos, ele mostrou uma independência em relação aos interesses do capitalismo financeiro-rentista mundial aos quais os ricos e a classe média se subordinam? Sem dúvida. Essas são as duas verdadeiras razões. São razões políticas e, portanto, legítimas, mas elas não justificam o veto conservador. Justificam sua discordância, justificam o apoio a partidos conservadores como o PSDB e o DEM; jamais a tese reafirmada pelos representantes das duas classes que a candidatura presidencial de Lula é “inaceitável”, é “o mal”. Não justificam excluí-lo das eleições presidenciais do próximo ano. 
 
O Brasil é hoje uma nau sem rumo. Está tomado pelo radicalismo e pelo ódio. Para obter apoio do liberalismo financeiro-rentista (dos ricos, da classe média tradicional e dos interesses estrangeiros) um governo sem qualquer legitimidade adota uma reforma neoliberal absurda e inviável, como foi a emenda que congelou em termos reais os gastos públicos e se dispõe a privatizar monopólios públicos como o Eletrobrás, ao mesmo tempo em que investe contra as reservas indígenas e a proteção do ambiente. Em um momento em que o neoliberalismo recua no mundo rico, avança aqui e nos condena ao atraso.
 
Não creio que Lula seja o candidato ideal. Em seu governo houve responsabilidade fiscal, mas nada foi feito contra os dois preços macroeconômicos que têm causado desindustrialização e baixo crescimento: os juros altos e o câmbio apreciado no longo prazo. Nada foi feito porque não Lula logrou transformar essa questão em uma questão nacional, e porque contou com uma assessoria econômica que lhe mostrasse o caminho. No plano econômico, na centro-esquerda, Ciro Gomes está mais preparado do que ele. 
 
Mas nesta pequena nota eu não estou discutindo candidatos à presidência da República. Estou afirmando que uma nação democrática não pode impedir que um líder político da dimensão de Lula seja proibido de concorrer. Os promotores da força-tarefa e o juiz Moro cometeram um grande erro ao eleger Lula como seu principal alvo, e ao condená-lo sem qualquer prova no ridículo caso do tríplex do Guarujá. Já temos um poder executivo e um poder legislativo desmoralizados; cabe ao poder judiciário preservar-se agindo como o árbitro que deve ser e não como parte interessada. 
 
Uma nação é um povo com uma história e um destino comum. A democracia é o regime político que a nação brasileira conquistou em 1984, depois de uma longa e dura luta. As eleições do próximo ano são uma oportunidade para a nação brasileira, depois de uma animada campanha eleitoral, unir-se em torno de um governo legítimo e um projeto de desenvolvimento. Eleições realmente livres são a condição fundamental para superarmos o radicalismo e o ódio e voltarmos a ter uma nação.
 
<iframe src=”https://www.facebook.com/plugins/post.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fbresserpereira%2Fposts%2F1758327987542378&width=500″ width=”500″ height=”290″ style=”border:none;overflow:hidden” scrolling=”no” frameborder=”0″ allowTransparency=”true”></iframe>
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Defender a candidatura de

    Defender a candidatura de Lula é defender a democracia,  os direitos individuais. Preferir  Ciro a Lula é um direito do Bresser- Pereira.  Discordo , entretanto, do motivo.  Lula era um operário, que se tornou líder sindical e presidente do Brasil. Não precisa ser gênio para tentar fazer um governo  com justiça social. Como também um gênio no poder pode preferir governar para a banca financeira, como foi o caso do Fernando Henrique. Dilma tentou baixar os juros e o deus-mercado  soltou fogo pelas mídias. Bresser-Pereira é um homem de bem e extremamente competente,  mas como saber o que faria se fosse elevado à condição de presidente do Brasil ?

  2. Quantos votos tem o Bresser?

    Ele com todos votos que dispõe (um!) pode eleger quem ele quiser:

    Osmarina, Bonner, Joaquim, ÇERRA45, Boçalnaro, Doriana, Laércio, Ciro, Fufuca, Incrível Huck, Mouro ou o eskambal.

    Se houver eleição, qualquer um desses serve para ser derrotado pelo Lula.

     

    1. Emerson57. Boa Tarde.
      Dos

      Emerson57. Boa Tarde.

      Dos cabras que vosmecê denominou como possíveis Sparrings a receberem bordoadas do Lula em 2018, apenas o Skambal se clasificaria pra apanhar no segundo turno. Mas, tem jeito não. Essa elite de merda não tem como concorrer nas urnas, com nóis. Isto é! Se nóis se juntar. Eles são bons, apenas nos golpes baixos. Veja em 64, e, agorinha em 2016.

      abraços.

      Orlando

  3. Argumento fraco e conclusão estúpida

    Como se o candidato tivesse que prestar vestibular ou “provão” para ser Presidente. Assim, até eu sou mais preparado que Lula e Ciro juntos.

    Isso me lembra quando, num debate na TV, anos atrás, o Maluf perguntou ao Brizola quantos tipos de dólar havia no Brasil e, ao ver este patinar na resposta, tentou desqualificar Brizola como candidato.

    Quanta bobagem!

  4. Bresser defende Ciro porque é

    Bresser defende Ciro porque é seu principal assessor economico.

    O programa dele, no papel é bom. Mas ele não explica como se daria a transição para o modelo que ele defende.

    Me parece ser bem inviável na atual conjuntura ou mesmo no começo do novo mandato, em 2019.

    Com relação a Lula ele está correto em defender a sua candidatura, é direito dele. Se é conveniente ou não, é outra questão.

    1. O ponto que eu acho que

      O ponto que eu acho que Bresser Pereira quer chamar a atenção é que, bem ou mal, Ciro tem um programa a apresentar ou pelo menos um esboço, algo concreto e que pode ser discutido. Já Lula aposta tudo na sua própria figura e inclusive se esforça em não se comprometer com nenhum ponto programático ao qual possa vir a ser cobrado depois de eleito, exceção talvez à “trazer de volta os anos dourados do lulismo” meio que num passe de mágica. Dessa forma, um possível governo Lula sequer pode ser discutido em termos concretos, como seria o esboço de governo apresentado por Ciro (com ajuda de Bresser), e a discussão cai toda em cima da figura política de Lula e não o que ele viria a fazer ou deixar de fazer.

      Em certo sentido eu concordo com ele, pois é muito importante que as pessoas se acostumem a discutir nem que sejam estes esboços de programa, do contrário só vamos involuir em termos de maturidade política “fulanizando” as discussões importantes para o país. Nunca vamos encontrar soluções para nossos problemas dessa maneira.

  5. Perdi a confiança em Ciro

    Penso que o Lula de hoje é diferente do Lula presidente. Naquela época ele e seu grupo ainda tinham alguma ilusão e por isso faziam uma política de conciliação com a elite econômica. Todos sabem que Zé Dirceu acreditava piamente que a Globo daria apoio ao governo ou pelo menos não criaria problemas.

    Lula tem atacado duramente a Globo e a elite econômica. É só ver o discurso de ontem no Rio de Janeiro.

    Eu perdi a confiança no Ciro, no dia em que ele tentou usar o Palocci para tirar Lula do caminho. E pior: associou Dilma e Lula às malas  de Geddel com R$ 51 milhões (exatamente como o jornal Globo fez na primeira página).

  6. Bresser Pereira é um

    Bresser Pereira é um economista de 5° categoria. É o responsável pelo plano Bresser no governo do Sarney.

    Esse cara não entende nada de economia e quer dar palpite em política. Hoje, ele é assessor econômico do Ciro Gomes. Que se foda!

  7. Bresser Pereira é um bom homem, mas

    A massa é Lula.

    Se até março do próximo ano nenhuma bala perdida acertar o peito do homem, já estará com mais de 50% da intenção de votos.

    Lula elege até a dona baratinha, que não é a fadinha da mata virgem.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador