Bresser-Pereira: Triste ver empresários seguindo rentistas em apoio a “candidato fascista”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Foto: Sergio Lima/Bloomberg

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

No Facebook

A economia brasileira enfrenta uma crise de longo prazo desde 1990, que resultou em desindustrialização e baixo crescimento, e uma crise econômica desde 2014 definida por uma crise fiscal, uma forte recessão e uma recuperação muito lenta.

Qual a causa fundamental dessa dupla crise? No longo prazo, é a armadilha dos juros altos e do câmbio sobreapreciado, que inviabiliza o investimento na indústria. No curto prazo, é a crise fiscal que impede que o governo realize uma política fiscal expansionista de caráter contracíclico e ampliar o investimento público. O pano de fundo dessas duas crises é o populismo fiscal – é o Estado gastar irresponsavelmente mais do que arrecada e incorrer em déficit público elevado; e o populismo cambial – é o estados-nação (o Brasil, seu setor público e seu setor privado) gastar mais do que arrecada e incorrer em déficit em conta-corrente.

Esta é a visão novo-desenvolvimentista, de centro-esquerda, que defendo. A solução é o ajuste fiscal, cortando a despesa corrente do Estado, não o investimento público; é baixar os juros; é administrar a taxa de câmbio impedindo que ela se aprecie; é aumentar a rentabilidade da indústria, tornando-a competitiva; é fazer a reforma da previdência, aumentar os impostos, e estimular o investimento público e privado na infraestrutura. Essa é uma política que exige sacrifício dos trabalhadores e principalmente dos rentistas, que resistem à baixa dos juros, e não querem nem ouvir falar em depreciação do real.

A perspectiva dos liberais ou da direita é muito diferente. Para eles existem apenas dois problemas – o populismo fiscal e os salários altos demais (que “não cabem no PIB”). A proposta é reduzir os salários através do ajuste fiscal que corte indiscriminadamente despesa corrente e investimento, é diminuir os direitos trabalhistas dos trabalhadores, e diminuir as despesas sociais do Estado; é manter a taxa de juros elevada e a taxa de câmbio apreciada.
A perspectiva liberal ou neoliberal é de luta de classes de cima para baixo. Os custos do ajuste ficam apenas para os assalariados. Não se mexe nos juros nem no câmbio; os rendimentos dos rentistas ficam, assim, plenamente preservados.

Hoje, as elites brasileiras, inclusive as industriais, estão dominadas por essa perspectiva. Por essa visão das coisas que está em plena crise nos países ricos, onde a ordem neoliberal está ameaçada pelo populismo de direita. Elas não hesitaram em apoiar um golpe parlamentar; e agora parecem estar dispostas a apoiar até um candidato fascista para impedir que um candidato de centro-esquerda seja eleito. Não é surpreendente que rentistas e financistas ajam assim; eles não têm compromisso com a nação e seu povo. É, porém, muito triste ver também empresários embarcando nessa luta de classes neoliberal que manterá a economia brasileira semiestagnada e a população cada vez mais indignada.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sinuca de bico.

    As elites cometendo suicídio, aumentando a dose do remédio que está matando o doente.

    Simplesmente sabem que aquilo que permite uma retomada econômica digna do termo passa por alterações que vão afetar seus bolsos e não da população.

    Sabem, mas não pode acontecer.

    E a direita tem nas mãos todos os elementos que instrumentalizam suas medidas não apenas como “austeridade”, mas também como “vingança”.

    Esse discurso autoritário, violento, é a cara do Bolsonaro. 

    O país está “tão à direita” que medidas moderadas são consideradas de esquerda. Como se isto fosse um problema. 

    Ignore o significado real da definição, associe-o ao mal. Pronto. Assim se constroi um discurso falso.

     

     

  2. Quando morrer o último
    Quando morrer o último economista, o Brasil melhora.

    O problema do Brasil é um só: baixa produtividade. Para resolvê-lo, é preciso investir nas pessoas. Moradia, saúde e educação. A qualquer custo. Fim.

  3. Dá pra reconhecer um

    Dá pra reconhecer um debatedor honesto quando ele é capaz de apresentar os argumentos do adversário tão bem quanto o próprio adversário. Após isso, o debatedor honesto desmonta os argumentos do adversário.

    Bresser, apesar da idade e da capacidade, está recorrendo a espantalhos e argumentando de forma desonesta.

  4. Empresários fascistas

    Por que na CNI existem industriais que aplaudem um fascista ignorante ?

    Há uma lei na Química que diz:  “Semelhante dissolve semelhante”.

    Há uma lei análoga na Política: “Semelhante admira semelhante”.

  5. O que essas zé lites

    O que essas zé lites financeiras estão fazendo, tirar renda dos pobres (180 milhões de Brasileiros recebem ATÉ DOIS SALARIOS MÍNIMOS POR MES(este ano 30 milhões de declarações de IR se que mais da metade recebe devolução ou não paga nada) , não é só ganâmcia , É BURRICE MESMO. DEVIAM SABER QUE:  Sem consumidores, NÃO HA EMPRESAS. Esses menos de 30 milhões de classe média média, média alta e ricos do Brasil, que representam pouco mais de 12 ou 13 % da população, que em boa parte,  gastam seu dinheiro FORA DO BRASIL (dois bilhões de dólares mês), estão pisando na galinha dos ovos de OURO. 

    O governo do PT em 12 anos aumentou o Salário Mínimo de 60 para mais de 300 dólares e benefícios sociais que COLOCARAM NO MERCADO mais de 100 milhões de Brasileiros. Será que esse ÓDIO contra um Partido e um OPERÁRIO INTELIGENTE (cercado de intelectuais) , que TIROU O Paós do QUINTO MUNDO e o deixou entre as CINCO MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO, vale essa BURRICE TODA, a DOAÇÃO de riquezas trilionárias para ESTRANGEIROS ?  Não sabem que essa gente NÃO tem compromisso com NADA?

    Estão dilapidando as RESERVAS INTERNACIONAIS (380 BILHÕES DE DÓLARES)deixadas por Dilma Roussef,  com o GOLPE do dólar. Onde iasso vai acabar? Essa picaretagem financeira , que sempre existiu, agora está se auto atropelando por esses GLOBOCÓS que se auto denominam empresários e especialistas. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador