Classe média se arrependeu do impeachment, diz Chauí

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Da RBA

A classe média brasileira se arrependeu do impeachment, mas finge que não. É com essa avaliação que a filósofa Marilena Chaui abre o programa Entre Vistas, da TVT, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri nesta terça-feira (17). O programa é exibido semanalmente às 21h, em São Paulo, pelo canal digital 44.1 – também pelo Youtube e Facebook.

“É impossível que ela (a classe média) não veja todos os dias os resultados do governo Temer. Há essa percepção, mas ela é razoavelmente enrustida. Se você der visibilidade para o equívoco, a classe média recua. Acho que ela se deu conta de que foi um passo equivocado”, analisou Marilena Chaui.

Durante quase uma hora de entrevista, a filósofa reconheceu estar preocupada com as eleições de outubro. Disse que em outros anos eleitorais, no mês de abril já se sabia com mais clareza quem eram os candidatos e quais eram as bases dos programas, situação oposta à de 2018, em que o cenário está “bagunçado” e a população ainda não pensa nas eleições. “Minha impressão é que houve uma devastação tão grande dos políticos e dos partidos, da credibilidade do Legislativo, que faz com que as eleições pareçam distantes ou nem possam acontecer.” 

https://www.youtube.com/watch?v=_8k8_DfY0nE

A filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP) define o momento do país como o de “desconstituição da República”, no qual os três poderes disputam a hegemonia e se desqualificam mutuamente. Por um lado, o Executivo e o Legislativo perderam a confiança da sociedade e, por outro, o Judiciário, antes um poder obscuro, agora decide e muda de opinião conforme as circunstâncias e interesses dos seus membros.

“Você sente que há uma espécie de insegurança com o funcionamento da República, porque ela está desfeita”, afirma. Ao longo do programa, a filósofa voltou a fazer considerações sobre as manifestações de junho de 2013 e recordou ter ficado apavorada com cenas que já prenunciavam o ovo da serpente do fascismo ressurgindo no Brasil. A professora também abordou a influência da mídia tradicional nos destinos do país, analisou a “revolução econômica, social e antropológica” causada pelo programa Bolsa Família na região Nordeste, e a concepção neoliberal que vai se firmando na sociedade.

“O neoliberalismo criou a crença no individualismo, onde cada um é responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, numa competição extrema. É mais difícil hoje desmontar essa barbaridade do individualismo criado pelo neoliberalismo”, ponderou Marilena Chaui.

Além do jornalista Juca Kfouri, o Entre Vistas teve a participação da jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, e de Júlio César Silva Santos, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

24 Comentários

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      1. Concordo com os dois.
        A dita

        Concordo com os dois.

        A dita classe média é extremamente burra para perceber a desgraça que foi o impeachment.

  1. É impossível? Bem, sobra dúvida.

    Sim, é possível. O problema é ter dados quantiitativos e uma análise qualitativa fiável.

    A Marilena talvez não veja a crise como um alívio psicológico para uma parte da classe média, que vê a pobreza e o desemprego darem os ares de suas desgraças, mas são mantidos, inabaláveis, os valores de classe, como seu Starbucks, flertar e apoiar o poder (seja ele qual for).

    Para uma parte (sim, de novo) da classe média, fica a expressão “pisamos no tomate”. Até que ponto se arrependeram mas tomaram atitude diversa após o ocorrido, também é uma incógnita. E quantos preferiram o silêncio justamente pelo fato de uma atitude adicional poderia servir supostamente de ajuda ao PT também é algo digno de se perguntar.

    Não precisa ir muito longe. Vá à USP, professora. Talvez a senhora fique bastante surpresa. Afinal, tem gente por lá que esconde os podres atrás de uma produção acadêmica invejável.  

  2. Impechment
    O único erro do impeachment foi o do julgamento da chapa Dilma Temer no TSE.
    Devemos tal desastre ao apátrida Gilmar Mendes.
    Digite no Google:
    “TRIPÉ que pode botar o Brasil em pé” e descubra o que consertar no Brasil.

    1. Qual grande economia fez
      Qual grande economia fez isso? Os EUA se tivessem adota meta fiscal com a crise de 29 e do Subprime estariam comendo capim até hoje e não dando capim para brasileiros comerem. Veja a meta fiscal dos EUA.
      Combater a Inflação com recessão e causar uma legião miseráveis não é política econômica, é covardia. Brasil existe demanda para quase tudo, aumente a oferta.

  3. Pra classe média burra se

    Pra classe média burra se arrepender precisaria pensar, e isso, sinceramente, é uma contradição lógica. A classe média, por definição, não pensa.

  4. Fonte?
    Sem uma pesquisa quantitativa que capture a impressão de fato da classe média, a opinião da eminente filósofa é essencialmente irrelevante – um “chute” que beira a irresponsabilidade…

    Pessoalmente, não vejo ninguém na classe média imaginando que o país estaria melhor com a Dilma no poder (exceto quem já era contra o impeachment em primeiro lugar). O que não impede que haja uma frustração com o governo Temer e um desencanto com o processo político em geral, e com a falta de alternativas plausíveis entre os candidatos. O ambiente é muito propício para um outsider que tiver um mínimo de habilidade em se vender como uma alternativa de fato a “tudo o que está aí”. Poderia ter sido o Huck, agora a bola da vez claramente é o Barbosa…

  5. Clamaram pela queda da Dilma apenas por capricho.

    Concordo com Chauí. Manifestações de bancos privados, políticos, donos de grandes redes de lojas, artistas e figuras dos meios de comunicação afirmavam que era só tirar a Dilma que a economia se  reestabeleceria devido aos investimentos dos empresários. Quem deu ouvido a estes? A classe média! E agora: A situação está melhor do que na época da Dilma? Claro que não. Lembram de certo Senador dizer “tem que estancar essa sangria…”?

  6. Um ou outro coxinha percebeu

    Um ou outro coxinha percebeu que fez papel de idiota. A imensa maioria não tem alcance intelectual e nem consciência para perceber que fez papel de idiota, que seria o ponto de partida para chegar ao arrependimento. Sofreram uma lavagem cerebral em que o mantra era “o importante é tirar a Dilma e acabar com o PT”. Uma pessoa da família já me relatou ter ouvido uma pessoa dizendo isso para outra, na rua, recentemente: “Eu queria é tirar a Dilma. Agora eu não tô nem aí, quero que se foda!”

    1. Já ouvi isto de mais de um.

      Já ouvi isto de mais de um. Foi quase com as mesmas palavras.

      Mas, percebo que não foram levado a isto pelo motivo corrupção. A maioria é corrupto. Suborna, explora trabalhadores, sonega impostos, etc

      Nas suas falas noto mais a raiva de pobre e dos programas desenvolvidos pelo governo petista que ajudavam os pobres a melhorar um pouco de vida.

  7. “Arrependimento” é uma palavra forte…

    Arrepender-se, no sentido de reconhecer, conscientemente, que erraram e que não deveriam ter feito o que fizeram, acho que não.

    Mas já não se orgulham do que fizeram. Já apagam do facebook os selfies que tiraram durante as manifestochações. Já não se iludem que podem tirar a Dilma, depois o Temer, depois quem aparecer. Já sabem que derrubar presidente é uma aventura perigosa, que não se sabe bem aonde leva (e este é um dos motivos pelos quais as panelas estão silenciosas).

    Ainda vão votar na direita. Uns no Bolsonaro, pra ver se esse é o modo de acabar de vez com a política. Outros em alguma coisa que sobrar, se sobrar, da auto-imolação da centro-direita – Alckmin, Barbosa, Marina, etc. Muitos vão anular o voto: já que não é possível acabar com a política, vão tentar ignorá-la. Mas já sabem que a corrupção não vai acabar, e que candidatos que prometerem acabar com ela estarão mentindo.

    Estão como um sujeito que comprou bitcoins a 70 mil reais: sabem que fizeram péssimo negócio e perderam dinheiro, mas, se provocados, se não puderem evitar a conversa, se não puderem negar que participaram da presepada, se forem forçados a tomar posição, ainda vão dizer que tinham razão, que a situação do país era insuportável, e que pedaladas fiscais são um crime hediondo. E que o bitcoin é sim um excelente negócio…

    Então, muito pouco para “arrependimento”. Mais como uma desilusão, uma dessas coisas que a gente tenta esquecer.

    1. Marilena antecipa condições
      Marilena antecipa condições políticas e de mentalidade!Saibam que ela já acertou inúmeras vezes. Ninguém acusou mais do que ela o reacionarismo da classe média (especialmente a paulistana). Ela sabe o que está dizendo. Recomendo ouvi-la.

  8. Crise de Superfluos
    A crise foi de superfluos… estávamos em 2013 no auge da ” era da ostentação”. De repente, a classe média, que continuou a viver bem, ficou sem suas excentricidades e se viu atolada em dívidas de carro 0km, imóveis.. ficou sem restaurantes caros, voltando aos mais populares, etc. E não aceitou. Resultado: se voltou logo com quem lhes ascendeu socialmente. E a classe pobre que começava a ter acesso a bens de consumo, como iphone, entrou na onda e deu mal…

  9. Conheço muita gente de classe

    Conheço muita gente de classe média.

    Não os vejo arrependidos não. Isto é esperado porque a mioria é extremamente preconceituosa, odeia pobres e sonega impostos.

    Mas, o PIOR é ver muita gente pobre criticando o Lula e o PT a acreditando cegamente que o Lula é maior ladrão do mundo, dono de inúmeras fazendas, apartamentos, frigoríficos e contas no exterior.

    Nem a globo o acusa destas coisas. De onde tiraram isto?

    Estou convencido que a BURRICE do brasileiro não permitirá jamais que sejamos um país melhor. Estamos do MESMO jeito que estávamos na virada do século passado, pobres, ignorantes e extremamente burros.

     

    1. ”Mas, o PIOR é ver muita

      ”Mas, o PIOR é ver muita gente pobre criticando o Lula e o PT a acreditando cegamente que o Lula é maior ladrão do mundo, dono de inúmeras fazendas, apartamentos, frigoríficos e contas no exterior.

      Nem a globo o acusa destas coisas. De onde tiraram isto?”

      Que desonestidade destilar ódio classista (a classe média permanece incólume, mesmo reacionária) jogando nas costas das classes populares a derrocada petista…será que esse que ”criticam Lula” são os que não votaram em Haddad das sacolinhas plásticas e do domingão na Paulista?

  10. Falha estratégica

    Haja subjetivismo: “A classe média brasileira se arrependeu do impeachment, mas finge que não.”

    A classe média no mínimo pode estar dizendo trocamos o pior pelo pior. A classe média , não foi inteligente se a intenção era afastar o PT do poder. A  estratégia era simplesmente democraticamente deixar a Dilma terminar o mandato. Em vez disso, atacaram o russos e perderam a guerra, isto é, cacifaram o Lula para 2018.

  11. Não concordo
    Discordo de sua opinião. A “classe média” já havia sido extinta durante os Governos de Lula e de Dilma. A destruição do poder aquisitivo da “classe média” que sustentava os Governos com seus impostos absurdos, acarretou toda essa necessidade de moralizar a política brasileira. Esta é Minha opinião pessoal. Grato pela oportunidade e atenção.

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