Coincidências políticas na disputa pelo Brasil, por Wanderley Guilherme dos Santos

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Pinacoteca do Estado de São Paulo

no Segunda Opinião

Coincidências políticas na disputa pelo Brasil

por Wanderley Guilherme dos Santos

Se o passado contém dicas sobre o futuro, então o candidato a presidente escolhido por Lula sairá do PT paulista. A circulação de nomes como Celso Amorim, Jacques Wagner e Patrus Ananias faz parte da usual dissimulação política. Na hora H, Lula indicará um quadro do PT, provavelmente Fernando Haddad, não havendo muitos personagens disponíveis para a função de porta-decisão de Lula, caso eleito.

No passado, em todas as eleições presidenciais decisivas havia pelo menos um paulista, nativo ou naturalizado. Essa regularidade só foi em parte alterada nas eleições de 2014, disputadas por Dilma Rousseff e Aécio Neves. Mas, lá estava Michel Temer, vice na chapa de Dilma Rousseff, indicado por Lula.

Recapitulando: em 1989, a final se deu entre Fernando Collor, alagoano, e Lula, paulista naturalizado. Naturalizado significa submissão à síndrome de Estocolmo, em que o dominado absorve os valores do dominador. Na naturalização, o “estrangeiro” reconhece e resiste à discriminação interna, mas defende os interesses do dominador no trato com outros “estrangeiros”. Nas duas eleições presidenciais da década de 90 tivemos a singular disputa entre dois naturalizados: Fernando Henrique Cardoso e Lula. Em 2002, Lula e José Serra representaram, obviamente, os naturalizados e os nativos; em 2006, repetiu-se o embate entre um naturalizado, Lula, e um nativo, Geraldo Alkmin. Em 2010, finalmente, vinte e um ano depois da intromissão de Fenando Collor no arranjo, uma “estrangeira”, Dilma Rousseff, competiu com o nativo José Serra. Em 2014, na sétima eleição presidencial direta, pós-ditadura, os dois candidatos eram “estrangeiros”: Dilma Rousseff e Aécio Neves, mas ainda com a reincidência de Michel Temer na vice de Dilma.

Poderia ser uma rara coincidência, mas, como já explorei em texto acadêmico, coincidências exigem a coincidência de um terceiro autenticando a coincidência original. Não parece ser o caso da série presidencial. As condições econômicas variaram de modo impactante na economia, do vencedor Collor ao derrotado Aécio, à agitação política precedendo o impedimento do alagoano seguiu-se o relativo marasmo dos governos do naturalizado Fernando Henrique, continuado pelo marasmo dos mandatos de Lula. A explosão da AP470 em meio ao primeiro mandato não ultrapassou o reino jurídico, sem consequência política imediata: Lula foi reeleito em 2006. O primeiro mandato de Dilma Rousseff, que derrotara o nativo José Serra, foi crescentemente controverso e, talvez, tenha ajudado à escolha do estrangeiro Aécio Neves como desafiante em 2014.

Lula aproveitou muito bem a retomada do dinamismo econômico internacional e, graças a isso, atendeu de forma extraordinária à sua audiência, digamos, “estrangeira”, construindo extensa rede de proteção social aos pobres e desvalidos. Ao mesmo tempo, para desespero de seu vice, o industrial mineiro de Alencar Gomes da Silva, a livre movimentação concedida ao sistema financeiro, concentrando-se em São Paulo, consolidou-o como o agente mais predatório da economia brasileira, e não como sócio, mas achacador da indústria. As tentativas desastradas de Dilma Rousseff para reverter essa equação desaguaram em seu impedimento, organizado e conduzido por seu vice paulista, Michel Temer.

É bastante provável que Lula indique o nativo Fernando Haddad como candidato do PT à presidência, mesmo que, eventualmente, favorecendo a vitória do conservadorismo de Geraldo Alkmin, caso este ressurja de entre as cinzas.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. Essa ideia deveria ser mais

    Essa ideia deveria ser mais desenvolvida em torno de outro tema não abordado pelo texto, o do pacto federativo. É muito difícil termos uma federação equilibrada quando a população de um estado ultrapassa sua representação máxima possível na câmara dos deputados (70 em 513) e ainda mais se este mesmo estado tem quase 40% da arrecadação em impostos.

    1. Trata-se de um só problema para o qual há solução

       

      Bfcosta (domingo, 24/06/2018, às 14:32),

      Você trouxe dois problemas que na verdade se reduzem a um. A representação de São Paulo é evidentemente aquém da sua população. Trata-se, entretanto, de problema fácil de ser resolvido com vantagem assustadora para São Paulo. Basta transformar São Paulo em 10 estados.

      Se a divisão for feita com sabedoria, distribuindo a população pelos novos Estados de forma a assegurar máxima representação, São Paulo poderá ter até uns duzentos deputados. E terá 30 senadores. Então trata-se de um falso problema, pois se fosse um problema São Paulo já teria feito a divisão.

      Quanto a divisão dos impostos, talvez fosse bom você ir morar em alguma cidade do interior do Nordeste e comprar um carro fabricado em São Paulo. Praticamente quase todo o imposto recolhido será pago pelo Fabricante. Então, quando você for pagar faça a seguinte indagação: quem pagou efetivamente todo o imposto você comprador ou o fabricante que foi quem entregou o imposto aos cofres do governo (É bom que se diga que parte do ICMS será recolhido por Substituição Tributária que será paga pelo fabricante, mas esta parte vai para os cofres do Estado da Concessionária)?

      Em meu entendimento uma política correta para o Brasil requer o reconhecimento por parte de São Paulo da necessidade de o Estado ajudar o restante do Brasil. Esse reconhecimento não é fácil. Mesmo quem é de outro estado da federação, mas uma vez morador de São Paulo, passa a defender com unhas e dentes os interesses de São Paulo.

      Procurei mostrar como Luis Nassif nascido em Minas Gerais pensa primeiro nos interesses de São Paulo em comentário que eu enviei para Luis Nassif, terça-feira, 19/06/2018 às 14:11, lá no post “O artigo que permitiu a redescoberta de Eliezer” de terça-feira, 19/06/2018 às 12:51, aqui no blog de Luis Nassif e com reprodução de artigo dele de sexta-feira, 12/01/1996, na Folha de S. Paulo.

      O post “O artigo que permitiu a redescoberta de Eliezer” pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/o-artigo-que-permitiu-a-redescoberta-de-eliezer

      Na verdade, também seria viável uma política em que o restante do Brasil passasse a ajudar São Paulo. Talvez o Brasil pudesse a crescer até mais rápido, se todo país reconhecesse que a região de São Paulo, transposta a Serra do Mar, possui as melhores terras – são mais férteis, mas mecanizáveis e com índice pluviométrico adequado para a qualidade da terra – e uma concentração populacional que facilitam o desenvolvimento econômico.

      Diante de uma política econômica com esse viés, em que o país resolvesse concentrar em São Paulo todo o esforço do país de crescimento econômico mais rápido, São Paulo poderia em pouco tempo tornar-se um Japão. Com o tempo as populações do Nordeste, dada a dificuldade natural daqueles estados, iriam mudar para São Paulo, e seria muito mais fácil o atendimento das necessidades da população.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 24/06/2018

  2. Parei ali onde ele diz que

    Parei ali onde ele diz que Temer foi indicado por Lula. Temer foi indicado pelo PMDB e o autor do texto sabe disso. Não perco tempo lendo texto de gente desonesta. Tchau! 

  3. bom post.

    No inicio, quando da prisão de Lula, entendia que ele e o partido deveria indicar logo um candidato.

    Hoje, reconheço que essa atitude seria um erro grave, qualquer que fosse o nome.

    A estrategia de manter o nome de Lula, na berlinda, é a melhor opção. Cria um problema para a midia, concorrentes da direita (Ciro Incluso) e permite tempo para pensar.

    Porém, o melhor nome me parece que deveira ser o de Amorim. Não estou sozinho, basta ver os canais da esquerda.

    Gosto do Haddad, tem grandes qualidades, porém não me parece ser o nome para agora. Logo iriam inventar irregularidades na sua administração.   

    Mas é um nome para o  ministério, certamente.

  4. Vai fazer campanha pro Ciro??

    Vai fazer campanha pro Ciro?? Como disseram acima, quem indicou o temer para vice foi o pmdb. Vamos tentar ser mais honestos.

  5. A candidatura de Fernando Haddad não agrega o PT no Brasil

     

    Wanderley Guilherme dos Santos,

    Avalio que a sua previsão da candidatura de Fernando Haddad como candidato final do PT sofre do grande mal de a escolha ser regionalizada. Como eu disse em comentário que enviei quarta-feira, 11/04/2018 às 02:54, para Luis Nassif lá no post dele “Xadrez do pós-Lula e o fator Ciro, por Luís Nassif” de segunda-feira, 09/04/2018, às 00:50, aqui no blog dele, a opção Fernando Haddad é uma escolha com um objetivo muito limitado para se tornar uma candidatura nacional. Transcrevo os dois primeiros parágrafos do meu comentário:

    “Nessa selva de pedra em que não sabemos quem é quem, eu imagino duas propostas que me parecem mesmo revolucionárias.

    Uma proposta seria colocar o Fernando Haddad de vice de Geraldo Alckmin, pois assim ele poderia realizar o desiderato que ele expressou a Lula de ver o PT conciliar com a revolta de 32.”

    Então, Fernando Haddad é uma candidatura mais para o público paulista e paulistano. Não faz sentido transformá-lo em uma candidatura nacional.

    Eu tenho argumentado contra o PT considerar a alternativa Fernando Haddad como uma alternativa nacional desde que a história de Plano B com Fernando Haddad vem sendo apresentada.

    E cerca de um mês depois do comentário a que me referi acima, eu enviei segunda-feira, 07/05/2018, às 14:04, um comentário para Luis Nassif junto ao post dele “A esquerda que quer voltar ao gueto, por Luis Nassif” de domingo, 06/05/2018, ás 08:54, também aqui no blog dele repetindo a minha argumentação anterior como se pode ver na parte inicial do meu comentário transcrito a seguir:

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    “Não vejo no PT a intenção de voltar ao gueto. A bem da verdade, e lembrando a opinião de Vera Lúcia Venturini em comentário enviado segunda-feira, 07/05/2018 às 11:33, segunda a qual no “gueto o PT e o maior líder brasileiro já estão”, a intenção do PT é sair do gueto.

    Como sair do gueto pode ser uma tarefa difícil, mas dado a particularidade da eleição de 2018, parece-me que a melhor alternativa do PT seria insistir na candidatura de Lula até o limite e então trazer uma alternativa do tipo “Eleição sem Lula é 13”.

    Eu explicitei a defesa da ideia de “Eleição sem Lula é 13” lá no seu post “Xadrez do pós-Lula e o fator Ciro, por Luís Nassif” de segunda-feira, 09/04/2018 às 00:50, aqui no seu blog e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-pos-lula-e-o-fator-ciro-por-luis-nassif

    Dei ao meu comentário enviado para você quarta-feira, 11/04/2018 às 02:54, o seguinte título: “Duas propostas arriscadas, arrojadas e radicais”. A primeira proposta arriscada que apresentei foi a seguinte: “colocar o Fernando Haddad de vice de Geraldo Alckmin, pois assim ele poderia realizar o desiderato que ele expressou a Lula de ver o PT conciliar com a revolta de 32”.

    Esta proposta não é só arriscada, arrojada e radical, mas ela é também inviável dada a rivalidade do PSDB com o PT. Rivalidade que o PT deve preservar, pois essa rivalidade mantém o PT à esquerda e leva eleitores da direita a votar no PSDB, que pelo menos em teoria não é tanto à direita como os seus eleitores têm-se revelado.

    E a segunda proposta que me interessa aqui reproduzir é a que eu já mencionei acima. O PT deve manter a candidatura de Lula até o fim e no momento adequado lançar a campanha “Eleição sem Lula é 13”. É claro que pode até lançar um vice, e saliento que o vice que eu desejaria ver indicado é o Vicentinho para evitar que os eleitores vejam no vice qualquer ideia de conchavo, mas o vice deve ser lançado o mais tarde possível para não parecer que se trata de um candidato que venha a substituir o Lula.

    E o slogan “eleição sem Lula é 13” visa principalmente canalizar para o PT todo o voto dos eleitores revoltados com a prisão de Lula. É claro que é uma campanha que depende da autorização do Lula, e ela parte do entendimento que o PT é muito menor eleitoralmente do que Lula. Tudo que o PT precisa é de voto. E o PT só sairá do patamar de 10% de votos se o partido estiver atrelado a Lula e se a candidatura de Lula estiver atrelada ao voto para o PT. O PT pode alcançar cerca de 30% dos votos se a votação em Lula for vinculada.

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    Dei ao meu comentário para Luis Nassif o título “A Gleisi errou, pois o PT não deve atritar nem com a direita” para enfatizar a necessidade de o PT evitar atrito com todos os candidatos dado que nem todos os eleitores de Lula são eleitores do PT e que nem todos eleitores de Lula são de esquerda.

    O endereço do post “A esquerda que quer voltar ao gueto, por Luis Nassif” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-esquerda-que-quer-voltar-ao-gueto-por-luis-nassif

    Uma questão que está em aberto é saber se houve mesmo a declaração de Gleisi Hoffmann sobre Ciro Gomes [de que os eleitores do PT não aceitariam Ciro Gomes nem que a vaca tussa]. Se houve, eu não tenho dúvida em dizer que ela foi mal instruída a menos que tenha sido uma estratégia do PT em que a Gleisi Hoffman faria a crítica para posteriormente o Lula vir corrigindo o malfeito.

    Sobre esse entendimento de que houve correção do malfeito por Lula quando ele procurou apresentar como conciliador mediante nota em que ele recomendava que o PT não hostilizasse Ciro Gomes vale ler meu comentário enviado sexta-feira, 15/06/2018, às 12:43, para o Jornal GGN, lá no post “Sem Lula, PT deve pensar em Ciro, por Janio de Freitas” de quinta-feira, 14/06/2018, às 13:54, também aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/sem-lula-pt-deve-pensar-em-ciro-por-janio-de-freitas

    Achei o título do post equivocado uma vez a simplicidade e clareza da argumentação do Janio de Freitas em artigo com título curto “Ciro visto da prisão”. A nota de Lula era apenas para dizer que o PT não devia hostilizar  Ciro Gomes. Nesse sentido dei ao meu comentário o título de “Post com título bobo para criar polêmica desnecessária”.

    Finalizo que vejo duas alternativas para o PT fechar a campanha de “Eleição sem Lula é 13” que substituiria, por no máximo uma semana, a campanha “Eleição sem Lula é fraude”. O PT viria com a candidatura de Vicentinho que como já mencionei seria uma candidatura para radicalizar a campanha, que teria poucas chances de vitória, mas que fortaleceria bastante o PT.

    A segunda opção seria a candidatura de Celso Amorim que seria mais para permitir os conchavos nas eleições estaduais. O importante é o PT utilizar o Lula como uma espécie de amarração do voto de Lula como voto ao PT e assim impedir que qualquer outro partido tenha força bastante para alterar a Constituição ou de fazer o impeachment de qualquer que seja a candidatura vitoriosa.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 24/06/2018

  6. Só Lula salva!

    Acho que, se não me falha a memória, Lula JÁ indicou sucessor e candidato às eleições presidenciais. Segundo eu me lembre essa indicação foi vitoriosa. E não era paulista mas sim gaucho/mineiro. Respondia pelo nome de Dilma Vana Roussef e, consta, que cumpriu um mandato inteiro e sofreu um golpe de estado no segundo para o qual havia sido eleita com 54,5 milhões de votos.

    Lula estava aposentadinho. O golpe o obrigou a voltar a lutar a sua luta patriótica.

    Os que querem vê-lo indicar outro substituto são a favor do golpe. Quem garante que se o substituto indicado e eleito for o Rui Costa Pimenta ou o João Pedro Agustini Stedile, os golpistas aceitarão o resultado das urnas?

  7. sinceramente espero que eles

    sinceramente espero que eles não façam planejamento político com base nesses critérios..

    .. até porque, generalização por generalização, o povo tá de saco cheio com os paulistas..

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