Como Bolsonaro mija simbolicamente nos pés do mainstream, por Luis Nassif

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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O mainstream não está preocupado com os 200 mil mortos pela covid-19 ou com o desmonte do país; o foco é tão somente os negócios da privatização

Como Bolsonaro mija simbolicamente nos pés do mainstream, por Luis Nassif

Por Luis Nassif

 

Jornal GGN – Repito o que venho dizendo: na análise da política brasileira, o ponto central são os negócios da privatização. É o fio condutor, a explicação universal para as idas e vidas do mainstream, para a fogueira da inquisição e para supostas soluções civilizatórios.

Explico: quando se insurge contra um ou outro arroubo de Bolsonaro e clama por direitos e democracia, o mainstream está de olho nos negócios da privatização. Não são os mais de 200 mil mortos, o desmonte das políticas públicas, a inviabilização do futuro do país. São formas utilitárias de pressão para que Bolsonaro não disperse e foque suas energia nos negócios da privatização.

A maior sabedoria de Bolsonaro não é o modo como fala para a classe média desinformada que se deixa enrolar. É o aprendizado prático – e, convenhamos, não muito complexo – de saber que o mainstream se vende e aprender como se compra. Simples assim.

Nos seus tempos de capitão raso e deputado do baixo clero, Bolsonaro acumulou ódio a tudo o que representasse o mainstream por não ser aceito no baile. E não era aceito apenas por sua notória ignorância, pelas ideias selvagens, mas por não ter dinheiro para o ingresso.

Agora tem. E, louve-se sua coerência: mantém a mesma atitude dos tempos em que não conseguia entrar no baile: ele compra e continua desprezando o mainstream. Assim que assina a nova promissória, se sente à vontade para repetir todas as barbáries, faz questão de, publicamente,  mijar simbolicamente nos pés do mainstream, porque sabe que o mainstream brasileiro é hipócrita. Tipo: comprei, paguei e posso fazer o que quiser. E o mainstream baixa a cabeça, invoca os sagrados princípios democráticos, a importância do voto e diz em tom grave: não é hora de falar em impeachment.

Aliás, pode-se discutir o lugar brasileiro no ranking da percepção de corrupção, do combate à pandemia. Mas há um primeiro lugar imbatível: o de país mais hipócrita do planeta.

O jogo fica assim, então.

Bolsonaro emperra nas tais reformas. Invoca-se, então, o genocídio para pressioná-lo. Aí ele elege o novo Eduardo Cunha presidente da Câmara e promete incluir os negócios da privatização nas prioridades do governo. FHC vai a público dizer que não é hora de falar em impeachment, que o uso continuado do impeachment pode comprometer a democracia.  A mídia refreia os ataques. E os 200 mil (até agora) ficam na conta, para serem invocados novamente se Bolsonaro atrasar a entrega.

Paralelamente, as conversas dos procuradores e do juiz da Lava Jato revelam uma promiscuidade ostensiva como um vômito no meio de um restaurante dos Jardins. Não tem como Luis Roberto Barroso, Luiz Edson Fachin, Carmen Lúcia, Luiz Fux ignorar a manipulação da Lava Jato. Os diálogos revelam, da maneira mais didática possível, como as denúncias foram preparadas, como criaram-se narrativas e pressionaram delatores a apresentar delações, não provas, documentos.

A propósito, a Operação Castelo de Areias – que pegava empreiteiras, mas sem desdobramentos políticos – foi anulada porque levantou-se a tese de que seu início veio de uma denúncia anônima.

Tenta-se criar, então, uma versão iluminista para continuar mantendo a democracia meia-boca. Pode-se anular o julgamento do Triplex, mas Lula continuará inelegível por conta do sitio de Atibaia, porque a sentença foi dada por outro magistrado, a juíza Gabriela Hardt. Ah, mas ela sentenciou com base em um processo inteiramente conduzido por Moro, inclusive copiando integralmente parágrafos inteiros de sentenças dele para o caso do triplex. Tem algum diálogo sobre isso na Vaza Jato? Não, porque a Vaza Jato é anterior. Então toca o enterro.

Repito: consolidada a nova jogada, a herança moral legada por esses magistrados acompanhará todos seus descendentes por gerações, com o peso de uma maldição. Ficarão ruborizados lendo, nos jornais da época, que o iluminado Ministro Luís Roberto Barroso dizia  que o mal do Brasil era a malandragem do andar de baixo. E seus colegas concordavam.

PS – Enquanto Manaus arde, a nova cepa se espalha pelo país e as instituições fecham acordos indecorosos, e Bolsonaro prossegue com seu genocídio, Lula vai para Cuba. E, na volta, lança candidato à presidência. Até Lula perdeu a sensibilidade para a grande tragédia nacional

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

10 Comentários

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  1. Bem por aí. Essa relação do Fantoche com a “mainstream media” sempre me pareceu um enorme “jogo de cena”. Para a torcida que acredita ser o Coiso um “mito”, este posa de “campeão contra as Fake News”. Os jornalistas “costa larga” aceitam fazerem-se de idiotas para que as agendas de seus patrões e patrocinadores sejam implantadas.

    Quanto ao (não-)impeachment, infelizmente, sou obrigada a concordar. Basta ver o que iluminíssimos (sic) membros de judiciário e legislativo (com letras minúsculas) dizem:

    https://www1.folha.uol.com.br/amp/colunas/painel/2021/02/renan-calheiros-diz-nao-ver-chance-de-impeachment-mas-preve-ano-de-impopularidade-para-bolsonaro.shtml

    https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/pacheco-se-diz-contra-impeachment-de-bolsonaro-poderia-abalar-as-estruturas-da-republica/amp/

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/02/01/mourao-diz-que-nao-ha-motivo-para-impeachment-e-elogia-bolsonaro.amp.htm

    https://noticias.r7.com/brasil/luiz-fux-diz-que-brasil-nao-aguenta-mais-um-impeachment-07022021?amp

    Essa aqui, juro que não entendi. Sendo assim, como deixaram o indivíduo candidatar-se a deputado? Mais ainda, candidatar-se à Presidência da Câmara – e ser eleito?

    https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reu-na-linha-sucessoria-nao-e-o-melhor-para-o-pais-afirma-fux,70003607606.amp

  2. Acrescento que a auditoria da dívida pública federal também é fundamental para o crescimento e evolução deste país. E abaixo o PL 3.877, proposto por um senador, pasmem!, do PT/SE.

  3. Nassif, explica pra gente o que o Lula pode fazer pra nos tirar dessa situação sem nenhuma caneta na mão e com todo o mainstream contra a possibilidade da sua volta? Melhor ficar falando pra bolha enquanto Bolsonaro arma sua reeleição?

  4. A banca, um dos pilares que sustenta este governo inteiramente irresponsável, talvez seja o principal ator deste filme de terror.
    O Mito diz que não entende nada de economia, mas também nunca procurou alguém que pudesse orientá-lo.
    A partir desta idiotice digna de uma tragédia ambulante, o genocida demonstra ter ficado bastante dependente do desvairado PGuedes, até porque somente um maluco beleza poderia substituir o desvairado, que vem notável competência para destruir o que passa à sua frente.
    O objetivo primeiro da quadrilha é o programa de privatização, nenhum dos pilares está preocupado com mortes ou fome, a transferência de $$$ tem sido brutal e este crescimento exponencial da dívida interna, já na casa dos R$ 5 trilhões, ou seja, quase do tamanho do país, e quem empresta, financia este desgoverno é a banca, numa festa sem data pra terminar graças à fantástica Lei do Teto, excrescência vendida como sendo a salvação da lavoura.
    Diante deste inédito descalabro, é preciso ter muita fé para avaliar com otimismo o futuro deste país.

  5. Não Nassif, Lula não perdeu a sensibilidade. Ele apenas sabe que deste mato fedorento chamado Brazil, não sai impeachment, não sai seus direitos políticos restaurados, que bozó, FHC e todos os hipócritas que citou cagam mas não saem da moita e a única forma de mexer está merda e já colocar um nome para 2022 indicado por ele e anunciado como seu candidato antes que a mordaça lhe tampem a boca

  6. Não Nassif, Lula não perdeu a sensibilidade. Ele sabe que deste mato fedorento chamado Brazil, não sai impeachment, não sai seus direitos políticos restaurados, que bozo, FHC e todos os hipócritas que citou cagam, mas não saem da moita e a única forma de mexer nesta merda é colocar um nome indicado por ele para 2022 e anunciado como seu candidato antes que a mordaça lhe tampe a boca.

  7. Esse negócio das mensagens roubadas é um enorme absurdo! Nem é preciso discutir se elas dizem isso ou aquilo ou se prova ilegal deve ser aceita. O problema vem antes.

    As mensagens não foram (e não podem ser) periciadas. É impossível comprovar a sua autenticidade. Tanto o hacker como a turma que inventou o “estupro culposo” podem tê-las alterado.

    Se aceitar isso como prova, quero ver o STF recusar outro arquivo nas mesmas condições. Ou a regra só vale para beneficiar Lula e os demais continuarão tendo que seguir a lei?

  8. Nassif, certeiro como sempre.
    O genocida sequer precisará de um golpe (como vem planejando) com a desarticulação e passividade da oposição. Protocolar pedidos de impeachment é nada em face do que precisa ser feito: a mobilização dos setores democráticos da classe média, dos trabalhadores precarizados, dos desempregados … Por fim, a atitude de Lula de lançar Haddad como candidato à presidência, em plena pandemia, como se fosse dono do PT, em nada contribui, pelo contrário.

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