Considerações sobre o partido de Marina Silva

O acontecimento político da semana passada foi o lançamento pela ex-ministra Marina Silva de uma tal de REDE, partido político que vem a se juntar as três dezenas que já estão disponíveis(sem ironia) na praça para um eleitorado perplexo com tanta “diversidade” no nosso espectro político-ideológico.

Até aí tudo bem. Afinal, parece ser pela quantidade, não pela qualidade, que nosso sistema político se guiará. O detalhe, que não é um detalhe qualquer pelo seu caráter inusitado, foram as singelas reduções que a ex-ministra utilizou para caracterizar a nova agremiação: nem de esquerda nem direita no ideário; nem tampouco de situação ou oposição na prática política. 

O brasileiro é tido como um povo criativo e, dentro dele, os nossos políticos sempre foram reverenciados como espertos e cheios de gingas. Mas, espera aí: no caso em tela, já não adentramos na seara do exagero, do paroxismo, no exercício dessa “virtude”? Nesse momento, faz bem reavivar a velha máxima do falecido líder  Tancredo Neves, um exemplo inesquecível de “raposa” política: “sabedoria demais vira bicho e acaba engolindo o dono”.

Pois é. A bem intencionada Marina deveria atentar mais para os conselhos daqueles que efetivamente sabiam onde as andorinhas fazem seus ninhos.

Se esse escriba como cidadão-eleitor avalia que muito do confronto esquerda-direita perdeu substância, e em certos casos até o sentido, dada a escalada da sociedade na qual certos valores e posturas se tornaram comuns, e portanto acima dos ideários políticos, a exemplo da democracia, a redução da iniquidade social e a parceria poder público-iniciativa privada na gerência do Estado, outra coisa bem diferente é a estruturação de um partido político sem a devida definição ideológica. Por mínima que seja. Afinal, merce da intersecção retro mencionada, ainda persistem importantes divergências, em especial nas visões relativas a certos temas controversos que suscitam invariavelmente debates acalorados e que requerem dos políticos e de seus partidos uma tomada de posição. 

Eis aí a esperteza da ex-ministra que vai virar bicho: descompromisso com as questões envolvendo demandas da sociedade que tangenciam princípios religiosos, a exemplo do aborto, a interrupção da gravidez de nascituros anencéfalos, a união civil de casais homoafetivos, e outros correlatos. Nesse sentido, o partido de Marina Silva já começa mal, muito mal. Tanto pelo personalismo, a partir do instante em que antepõe à frente do seu ideário as convicções pessoais(religiosas) da sua líder maior, como pela covardia política de fugir de temas-tabus e que estão por aí exigindo solução de continuidade.  

Luis Nassif

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