Contrariedades determinam o balanço das manifestações de domingo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Números da PM diferem do Datafolha. Impeachment, renúncia de Dilma, apoio a Moro, contra PMDB e defesa de Cunha marcam discursos desencontrados. Jornais dão sequência às contrariedades nos grandes espaços dedicados à manifestação
 
Jornal GGN – A cobertura dos atos deste domingo trouxe números que variaram entre os principais jornais do país. Dados oficiais da Polícia Militar estimaram 350 mil nas manifestações em São Paulo que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff e contra a gestão do PT. O Datafolha registrou menos que a metade: 135 mil. A capital paulista foi a que mais reuniu manifestantes neste domingo (16). E na proporção das contas de São Paulo, a PM estimou 790 mil por todo o Brasil.
 
Outros dados: o mesmo Instituto Datafolha registrou 210 mil em março deste ano na capital e 100 mil em abril. 
 
Ainda que com os dados inferiores, tanto em comparação ao número da PM, quanto em relação ao maior ato realizado este ano, o caderno principal da Folha de S. Paulo desta segunda (17) enfatizou que as multidões “superaram as de abril”. Mas como a pesquisa não esteve em outros estados, o jornal paulista utilizou os dados da PM para divulgar o cenário no Brasil: “[as manifestações] atraíram 612 mil pessoas nas capitas (sem considerar Rio e Recife, onde não foi feita contagem), mais que os 540 mil de abril”.
 
O Datafolha também apurou que, no ato convocado para pedir a saída de Dilma, “85% sugerem a renúncia da presidente“, sem informar o que os demais 15% reinvindicavam.
 
 
Estado de S. Paulo e G1, assim como os telejornais da emissora, preferiram aderir às contagens da PM. “Ao menos 790 mil engrossaram os protestos em diversas cidades“, disse o Estadão. Lembrando que “não é a primeira vez que PM e Datafolha divulgam dados divergentes” e que o número do primeiro foi “160% superior ao divulgado pelo Instituto”. Mas ao lado, o infográfico de uma página inteira enfatizava a divulgação da PM. 
 
 
Confusão de dados também é verificada na manchete “Foco em Lula e Dilma nos atos preocupa Planalto“, diz reportagem da Folha em destaque, contrariando o “alento” na postura do governo apontado pelo próprio Painel, do outro lado da página: “auxiliares de Dilma Rousseff buscavam alento no fato de que a convocação feita pelo PSDB para os protestos não conseguiu inflá-los”.
 
Informada pelo O Globo, a falta de liderança no ato do Rio de Janeiro, em que os discursos variavam “e nenhum parecia comover particularmente a multidão” refletiu na contrariedade, também, de pedidos. “Os gritos de guerra sugeridos por quem estava ao microfone não pegavam”, completou o diário. Cartazes “somos milhões de Cunha [presidente da Câmara]” brigavam com gritos contra o PMDB.
 
Enquanto isso, parlamentares da oposição foram às ruas, ainda que com temor de sofrerem rejeição. Apesar de utilizar recursos do comitê em comerciais convocando para o ato, o PSDB apareceu sem assumir a liderança dos presentes, mas com figuras isoladas. O presidente do PSDB, Aécio Neves, esteve em Belo Horizonte. Ronaldo Caiado, do DEM, aderiu em São Paulo, onde também participou o senador tucano José Serra. 
 
As informações controversas, sejam nos discursos e defesas, sejam nas publicações desta segunda, refletem indecisão do que querem os que saíram às ruas. Se na manifestação do dia 15 de março o impeachment era unanimidade, agora houve quem defendesse uma saída consensual para a crise.
 
Entre os cartazes, o apelo à saída teve como foco outras forças políticas, como o juiz Sergio Moro. “Moro é o cara”, “Partido Sergio Moro”, “#jesuismoro”, diziam os protestos. Renan Calheiros e o PMDB foram mais alvejados do que Eduardo Cunha, que até hoje foi o parlamentar da sigla mais mencionado no curso das investigações da Lava Jato. E a Lava Jato, por sua vez, foi expressada como criminalidade de um só partido, o PT. Em repercussão, três reportagens do Estadão imprimem: “Protestos ligam Lula a esquema de corrupção“, “Ruas reforçam apoio total à Lava Jato” e “Planalto vê imagem de Dilma ‘colada’ na corrupção“.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. O desencontro da oposição

    O desencontro da oposição política, dos “protestantes”  intolerantes, reacionários, conservadores, facistas, nazistas, muitos deles analfabetos políticos, demonstra que NÃO possuem projeto algum para o País. Ora, depor, sem base legal,  a presidente Dilma, legìtimamente reeleita, e no lugar dela colocar quem? A oposição e os descontentes que foram às ruas neste domingo não têm resposta para as mais básicas questões. É assim que pretendem convencer a maioria dos brasileiros a votar na oposição?

  2. Simbolismo e números

    Os valores simbólicos poucas vezes são compreendidos e por isso não são valorizados na correta dimensão.

    Daí entender-se porque as pessoas dão muito valor à quantidade.

    Não para minha surpresa, vi algumas vozes da oposição dizendo sentirem-se turbinados pelos números das manifestações de ontem, 16/08.

    Por razões que muitos desconhecem, as manifestações foram marcadas para o mês de agosto.

    Mês da morte de Getúlio Vargas, previa-se que este seria um mês sombrio para Dilma e todos tinham a certeza de que as manifestações com altíssima participação das pessoas teriam um peso enorme nesse sentido.

    Seriam o fator determinante para o golpe.

    A política é altamente dinâmica, ainda que assim não seja percebida por muitos.

    Magalhães Pinto dizia que “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

    O governo Dilma acabou de comprovar isso.

    Entrou o mês de agosto, mês do desgosto, o tal mês sombrio, de outra forma.

    As suas nuvens davam os primeiros sinais de que já estavam se movimentando em outra direção.

    E chegou às vésperas das manifestações com alguns apoios importantes, enquanto que a oposição com algumas baixas.

    A começar pelo recuo de parte da imprensa, a razão maior da força dos protestos desde o seu surgimento.

    Aliás, não só o surgimento como a manutenção dos protestos foram patrocinados pela mídia.

    Afinal, a oposição, sabemos todos, há anos mostra a sua incompetência.

    Não por acaso a Sra. Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), disse em 2010 que “obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”.

    Faz desde então e cada vez mais fortemente até hoje.

    Por um lado, a oposição vibrava com a certeza da concretização dos seus sonhos.

    Por outro, o governo com a sua compreensível apreensão.

    Negar a expressividade dos números?

    Jamais.

    Mas é necessário entender que no momento em que o panorama era mais do que favorável à explosão das manifestações, pela maior fragilização do governo na sua mal conduzida ação política, a ocorrência em menor intensidade dos protestos tem um significado importante e inesperado pela oposição.

    Como se sentir “turbinado” se todos tinham certeza de que seria um movimento muito maior?

    Será papel da oposição, mais uma vez, respirar fundo, sacudir a poeira e tentar fazer crer que as manifestações foram como esperavam.

    Mas não foram.

    Outro grande equívoco tem sido confundir insatisfação com o governo com desejo de impeachment.

    Por razões óbvias não tem sido divulgada uma pesquisa do Instituto Data Popular (14/08 – 3 mil eleitores, em 152 municípios) que mostra que 71% dos eleitores brasileiros avaliam que os partidos de oposição à Dilma Rousseff, “agem por interesse próprio, não pelo bem do país”.

    Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, a pesquisa também indica que há uma queda na aprovação do impeachment da presidenta como solução para a crise política.

    Dá para imaginar o significado disso num momento em que as perspectivas estão se revertendo?

    Já imaginava que as manifestações teriam menor repercussão.

    E, claro, torci para isso.

    Mas não por medo dela e sim por outra razão.

    Precisamos acabar com essa coisa enfadonha, repetitiva, cansativa e ridícula que chamam de terceiro turno e que só trouxe prejuízos ao país.

    O barulho tem sido grande, mas dá sinais de evidente cansaço sem atingir os objetivos

    Ainda que o bom senso não seja característica dos manifestantes paneleiros, ele, o bom senso, mostra que esses movimentos chegaram à exaustão.

    E ontem veio a confirmação.

    Como disse o blog de Kennedy Alencar:

    “Com menos gente nas ruas, os protestos deste domingo deverão dar mais gás ao acordo firmado entre o governo Dilma Rousseff e o presidente do Senado, Renan Calheiros”.

    Os números menores não tornam inexpressivos os protestos, mas não há como não reconhecer que perderam a força com a qual desesperadamente contavam.

    Por outro lado, como não lembrar que sem nenhuma ajuda de imprensa e redes sociais ou o que quer que seja, nada se comentou sobre a manifestação das 200 mil Margaridas, como ficou conhecido o movimento das mulheres.

    Uma manifestação com 200 mil mulheres em Brasília não despertou nenhum interesse e muito menos atenção da imprensa como as 135 mil, segundo o DataFolha, na Av. Paulista.

    Qual foi a manifestação mais forte, a das Margaridas em Brasília ou a da Paulista?

    São os números que importam?

    Então não precisa responder.

    Ainda que possa fugir à percepção de muitos, o que é compreensível, se o golpe já estava sem fôlego, não serão as manifestações de ontem os balões de oxigênio com os quais contavam.

    Os balões estavam mais vazios.

    Bem mais do que esperavam.

    No mês da morte de Getúlio Vargas, morrem as esperanças de golpe e, como a Fênix, renascem as esperanças de um país e seu povo sempre em busca de dias melhores.

    As palavras de Luis Nassif em texto de ontem definem bem este momento:

    “Multidões ainda sairão às ruas como renas amestradas. Baterão panelas atrás do impeachment e cabeças atrás de ideias. E não terão nem uma, nem outra. Gradativamente a grande besta será recolhida de volta à jaula pela ação combinada de lideranças políticas efetivas de ambos os lados, grupos econômicos e grupos de mídia.

    No final da tarde, quando a passeata terminar e a besta, as panelas e o ódio forem recolhidos, começará o duro reencontro do país consigo mesmo”.

    1. acontece que…

      o PIG, em especial as Radios e Jornais, alem das TVs CONTINUAM SIM, batendo no governo.

       

      O FOCUS, continua estimulando RECESSÃO e INFLAÇÃO…

       

      Os inimigos maiores, estão dentro!

       

  3. Com essa pilicia, dominada

    Com essa pilicia, dominada por bandidos, governada por bandidos, tapete da elite que os premia com salários vergonhosos, não dá para esperar verdade. A policia tem raiva de ser pobre!!!!!! Então. mata seus iguais e se deita para a passagem de seus algozes governantes.

  4. Ou seja, uma baita gambiarra

    Ou seja, uma baita gambiarra nas contas, no sentido de inflar as manifestações. O fato é que foi uma manifestação predominantemente paulista, com alguns gatos pingados aí pelo Brasil afora. Só as Marchas das Margaridas no DF teve quase o mesmo número de “coxinhas” que saíram na Avenida Paulista, segundo o Datafolha.

  5. Onde que a Folha falha com o Datafolha…..

    A Folha poderia “enriquecer” um pouco mais sua análise se algumas outras informações fossem incluídas junto aos números registrados pelo seu instituto (créditos ao PHA).

    Segundo o Instituto, ontem na av. Paulista:

    – 61% eram homens 
    (no Brasil há mais mulheres que homens);

    – 40% tem 51 anos ou mais
    (brasileiros com 51 anos ou mais são apenas 10% do total da população);

    – Apenas 6% tinham entre 21 e 25 anos.

    – 76% tem curso superior (somente 11% dos brasileiros tem o ensino superior);

    – 75% se declaram brancos (54% população brasileira se declara negra);

    – 40% tem renda familiar entre R$ 4 mil e R$ 40 mil (desnecessário recorrer aos dados do IBGE aqui…..)

    – 5% votaram na Dilma (a margem de erro da pesquisa é 3%).

    – 77% votaram no Aécio

    – 100% dos acima não classificam o desvio de R$ 14 milhões de dinheiro público para a própria fazenda (aecioporto) como sendo corrupção (mas isso o datafolha não perguntou…)

    Não surpreende portanto que 99,8% da população não tenha saído às ruas ontem, em todo o Brasil.

    E não surpreende que o Brasil novo, das novas ideias, da nova política e de uma nova relação com sociedade não surgirá das ruas de ontem.

     

  6. Concordo com todos que o

    Concordo com todos que o comentario eh excelente.  Eh visivel que o Brasil tem mais margaridas do que “manifestantes” -eh que elas provavelmente sao menos analfabetas.

    So que o texto nao diz o que esta suposto a ser “margarida” -eh o contrario de “perua” ou coisa parecida?  Porque nao so “mulheres” que eu nao entendi?

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