Copa do Mundo, internet e política

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Aproveitei o segundo tempo sem graça da final da Copa do Mundo para fazer uma pesquisa no Google sobre a competição. Utilizei expressões em inglês para obter um resultado que não ficasse confinado aos países que usam a língua portuguesa. Abaixo os resultados:

world cup brazil 2014 = 429.000.000

world cup brazil problems = 332.000.000

world cup brazil protests = 129.000.000

world cup brazil benefits = 337.000.000

world cup brazil best cities = 88.400.000

world cup brazil dangerous = 119.000.000

world cup brazil disaster = 63.900.000

world cup brazil success = 271.000.000

cup in brazil = 1.030.000.000

FIFA corruption = 21.000.000 

 

Para analisar melhor o resultado acima, pesquisei algumas expressões que entendi relevantes:

brics summit 2014 = 6.290.000

brazilian people = 234.000.000

german people = 1.040.000.000

argentine people = 66.200.000

Israel attacks gaza 2014 = 66.600.000

É praticamente impossível para qualquer pessoa consultar cada uma das referências às expressões mencionadas. O tsunami de informação impede a produção de ciência com base nos dados oferecidos pela internet. Para extrair conclusões objetivas da absurda quantidade de informação disponível para as expressões escolhidas, o interessado teria que excluir da consulta a maioria das referências. Ao fazer isto, o interessado deixaria de fora da sua análise muita coisa importante, formando um quadro parcial e impreciso da realidade. As observações que podem ser feitas com base nos dados coletados são genéricas e desprovidas de rigor cientifico.

A Copa do Mundo é apenas um evento esportivo com consequências econômicas, mas a imprensa está dando muito mais importância à mesma do que, por exemplo, à campanha militar não autorizada pela ONU de Israel contra Gaza que já fez centenas de vítimas (crianças, inclusive). A reunião dos BRICS no Brasil é diplomática e economicamente bem mais importante para a estabilidade mundial do que a Copa do Mundo, mas desperta um interesse milhares de vezes menor que a Copa do Mundo. O brilho do evento esportivo é capaz de obliterar quase totalmente a discussão sobre a corrupção na FIFA, entidade que o organiza.

O universo virtual é capaz de produzir distorções terríveis. A atenção que o Brasil desperta como sede da Copa do Mundo é infinitamente maior do que aquela que o país está atraindo por sediar a cúpula dos BRICS. Na internet, o povo brasileiro é muito menos importante do que o Brasil como sede da Copa do Mundo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes, mas o povo brasileiro apenas tem 1,17 referencias em inglês por pessoa. A Alemanha, por exemplo, tem 82 milhões de habitantes e 12,68 referências para cada habitante. A população Argentina é de 41 milhões, contando com 1,61 referencias por pessoa.

Se admitirmos a hipótese de que a Copa do Mundo funciona como uma cortina de fumaça, que o evento esportivo tem como objetivo não declarado desviar a atenção da massa ignara dos assuntos realmente relevantes decididos pelos líderes políticos durante sua realização, temos que concluir que a internet aumentou muito seu potencial de armadilha cognitiva. Mesmo tentando refletir sobre o evento de uma forma mais profunda, confesso que estou com a TV ligada e assistindo a final da Copa do Mundo. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

4 Comentários

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  1. Jabá

    A mídia tradicional e os scripts de busca do Google obedecem ao critério pagou-apareceu-mais. Quem paga jabá, seja na forma de BV, de jabá mesmo ou de AdWords, tem mais “relevância”.

  2. Depósito de inutilidades…

    Pois é, com jabá ou não, a conclusão mais óbvia que se chega é que a internet continua sendo um enorme depósito de inutilidades, asneiras e mentiras… Para se obter qualquer informação realmente relevante e confiável pelo google ou outro “instrumento de pesquisa” é necessário fazer várias referências diferentes, em vários idiomas, sobre aspectos distintos do mesmo assunto. No fundo conseguir informação realmente útil e confiável na internet é muito mais difícil do que consultar uma boa biblioteca. É por este e outros motivos que nunca me entusiasmei com esta tal “revolução da internet” e toda esta bobagem de “redes sociais”. Em breve tudo vai voltar a ser visto como o que sempre foi: produtos vendidos por grandes empresas querendo te doutrinar a consumir e não pensar.

    1. A internet tem algumas

      A internet tem algumas virtudes sim, mas não é  a solução para todos os problemas da humanidade. De fato ela cria alguns novos problemas. A difusão do pessimismo e da idéia que a internet só serve para fazer negócios é um deles. 

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