Cotada para Direitos Humanos prega que Igreja Evangélica “restaure a Nação”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A pastora Damares é antagonista de feministas, de homossexuais e militante eloquente da Escola Sem Partido. Em pregação divulgada em 2013, ela incitou os fiéis a sairem do conforto dos templos evangélicos para protestar contra políticas públicas

Jornal GGN – Assessora jurídica há quase duas décadas, em defesa da Frente Parlamentar Evangélica e da Frente da Família, a pastora Damares Alves recebeu pessoalmente convite de Jair Bolsonaro para assumir os Direitos Humanos do futuro governo.
 
O convite agrada a bancada evangélica porque Damares é contra direitos de homossexuais, pautas feministas e milita a favor da Escola Sem Partido. Ao menos desde 2013 ela prega eloquentemente que a “Igreja Evangélica deve restaurar a Nação”, que seus fiéis devem sair do “conforto dos templos” para protestar contra políticas públicas.
 
“A Igreja Evangélica ficou por muito tempo dentro de suas igrejas e não se atentou para o que está acontecendo à nossa volta”, disse em vídeo divulgado no Youtube há 5 anos. “Deus está chamando para a Igreja Evangélica fazer uma revisão de valores”, acrescentou.
 
Na pregação que Damares faz de igreja em igreja nos últimos anos, sempre levando o recado de parlamentares da Frente Evangélica, o governo federal sob o PT aparece como promotor de uma série de políticas nos Ministério da Saúde e Educação que “detonaram” as “nossas criancinhas” – que, às vezes, ela chama de “cordeirinhos” – e promoveram “a cultura da morte”.
 
Ela criticou, no vídeo abaixo, “as pessoas que estão escrevendo as políticas públicas desta Nação” e a inércia da “Igreja Evangélica [que] está deixando essas coisas acontecerem.”
 
https://www.youtube.com/watch?v=NauhvD1JZaw width:700 height:394
 
“Talvez vocês nunca tenha prestado atenção ao que está acontecendo com a educação neste País, com as escolas brasileiras. Estão detonando as nossas crianças. Vou rasgar o verbo.”
 
Como que para despertar a atenção do público, Damares começou sua argumentação afirmando que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy gastou R$ 2 milhões com um programa que ensinava “sobre ereção e masturbação em bebês nas escolas”.
 
“Estão ensinando que precisamos aprender a masturgar os bebês aos sete meses de idade”, que “a menina tem que manipular a vagina desde cedo para ter vida sexual saudável na fase adulta.”
 
No mesmo evento, Damares disparou contra uma série de materiais pedagógicos, inclusive vinculados à Secretaria Nacional de Direitos Humanos, alegando que eles ensinam sexo a crianças de 3 anos. Ela comparou um dos livro ao Kama Sutra e reclamou que a Bíblia não entra nas escolas porque o Estado é laico, mas esse tipo de material está permitido. “Olha o que estão fazendo com nossas crianças”, repete insistentemente. 
 
Ao criticar a educação sexual nas escolas, ela tratou o “ponto G das mulheres” como uma invenção do Ministério da Educação sob o PT. Ela afirmou ter ouvido de médicos ginecologistas um suposto aumento do número de meninas com desenvolveram infecção de tanto “enfiar o dedo na vagina”, porque aprenderam nas escolas sobre “o tal do ponto G”.
 
Além de abraçar a agenda da Escola Sem Partido, Damares também milita contra homossexuais.
 
No vídeo, ela diz que “a homossexualidade é aprendida no berço, na forma que se lida com a criança mas ninguém nasce gay”, e diz que a homossexualidade entre meninas é mais preocupante porque a sociedade dá menos atenção.
 
“Ensinaram para as meninas que ficar com meninas é permitido e legal. Vou dar um alerta para você que é mãe: sabe essa coisa de deixar a filha dormir na casa da amiguinha para você ter um tempo livre em casa? Abre o olho que elas estão se tocando.”
 
Segundo O Globo, a pastora também defendeu que o papel da mulher é ser mãe e priorizar os cuidados da casa e dos filhos. 
 
Sobre o aborto, ela disse, em 2013, que os ministros da Saúde dos governos do PT tentaram aprovar o aborto e, para isso, manipularam o número de mortes decorrentes da interrupção feita na clandestinidade.
 
“Eles dizem que no Brasil milhões de mulheres morrem por aborto. Cadê os milhões de túmulos? Mentira, não existem! Eles manipulam dados e informações para impor na sociedade uma cultura de morte. As feministas dizem que aborto é questão de saúde pública. É mentira.”
 
Para Damares, questão de saúde pública é dengue, febre amarela, malária. Aborto é questão ligada a fé e discutir as situações em que é permitido afronta sua religião.
 
Advogada, mestre em Educação e Direito Constitucional e da Família, Damares é assessora de Magno Malta e seria a segunda mulher no governo Bolsonaro, após a confirmação de Tereza Cristina (DEM-MS) na Agricultura.
 
No Youtube também há testemunhos seus de estupros que sofreu por volta dos 6 anos. Ela disse que foi violentada dentro da própria casa por um conhecido que deixou sequelas em seu corpo. Sem poder ter filhos biológicos, ela é mãe adotiva de uma menina indígena, afirmou O Globo.
 
Segundo o jornal, a bancada evangélica indicou 3 nomes para o Ministério da Cidadania, mas Bolsonaro não escolheu nenhum deles, nomeando Osmar Terra (MDB-RS) para a pasta. Por isso, a bancada estava na expectativa de emplacar o titular dos Direitos Humanos.
 
A possível escolha de Damares não foi indicação da bancada, mas “contemplaria” seus interesses”, pontuou o diário. 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. QUEM É MARTA SUPLICY?

    Lembrei. Pessoa que descobriu quanta liberdade pode proporcionar um ‘Contrato do Lixo’ na cidade de São Paulo. Liberdade AntiCapitalista é claro. 

  2. E não é que essa senhora

    E não é que essa senhora combina direitinho com o presidente eleito?

    Mesmo com as contas bancárias cheias de dinheiro e as paredes, de diplomas de mestrados e doutorados, o que há é uma pobreza extrema.

    Poucas coisas são tão afins umas com as outras quanto o capitalismo é com essas “igrejas”. Dinheiro, embromação, alienação e muita, muita violência.

  3. Pitaco.

    Parece-me que voltamos aos anos 1980, mas de outro modo. Temos a nossas ligas das senhoras pelos bons costumes, temos o lobby de armas, temos o medo do comunismo que não se sabe bem quem é e como é, a raspa do tacho neoliberal…

    Por questões geográficas e por falta de visão, o eixo do mal é Venezuela, Cuba e, sei lá… Uruguai? 

    Bolsonaro é nosso Reagan, só que mais… sei lá (2). 

  4. Indignação

    Realmente é a mulher perfeita para padrões de nosso presidente.

    O que me assusta, para além da visão preconceituosa em relação às diferenças, ao retrocesso proposto em relação ao lugar da mulher na sociedade, é o modo como ela produz mentiras regadas de moralismo para que suas narrativas se tornem “verdade”.

    Marta Suplicy realmente não merece ser defendida em razão de suas posturas políticas mais recentes, mas falar essas barbaridades a educação pública no seu governo, se fosse um país sério poderia gerar processo. Fui professora da rede pública em São Paulo. Nada dessas calúnias se sutentam.

    Agora cada um fala o que quer e se tiver palangue constrói um mundo paralelo que é considerado verdade. Vamos en frente e vamos ver onde tudo isso vai dar.

     

  5. Voltaremos aos temp(l)os do
    Voltaremos aos temp(l)os do infeliciano… ou talvez consiga ser pior! Aliás, pelo que pude perceber no vídeo, já está sendo.

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