CPI mostra como o governo Bolsonaro legalizou o crime de tráfico de influência na pandemia

Marconny Faria diz à CPI que foi contratado pela Precisa Medicamentos para fazer "análise política" da compra de testes para Covid pelo Ministério da Saúde

Jornal GGN – Marconny Faria, 39 anos, nascido e criado em Brasília, era um “militante político no combate à corrupção no Brasil”. Vestiu camisa verde-amarela e subiu em caminhão de som na capital federal para defender a agenda do “cidadão de bem”. Sentado ao lado esquerdo do senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, a “moral” do suposto lobista ligado à família Bolsonaro caiu por terra.

Na manhã desta quarta-feira (15), a CPI começou a tomar o depoimento de Marconny a respeito de seu enlace com a Precisa Medicamentos e negócios obscuros no Ministério da Saúde. Para os senadores da comissão, além de ser um dos depoimentos mais “cínicos” colhidos até agora, Marconny expôs como o bolsonarismo no poder “legalizou”, nas palavras de uma senadora, o crime de tráfico de influência.

Amparado por um habeas corpus que lhe garante o direito ao silêncio, Marconny falou o suficiente logo em sua explanação inicial para se implicar perante os senadores: disse que foi convocado pela Precisa, em meados de 2020, para prestar o serviço de “análise política” na concorrência pública aberta pelo Ministério da Saúde para compra de testes rápidos para detecção de covid-19.

O lobista que rejeita a alcunha explicou que não precisou analisar o edital de licitação, a habilitação da Precisa ou mesmo a proposta feita pela empresa. Só não esclareceu como um certame do governo federal precisava de “análise de viabilidade política” para ocorrer em plena pandemia.

Em uma das conversas de Marconny em aplicativo de conversação, o lobista combina uma reunião na presença de Roberto Dias e um “senador” para destravar o nó da compra de testes, em 2020. Roberto Dias era o funcionário do Ministério da Saúde, patrocinado pelo grupo de Ricardo Barros, que foi acusado na CPI de ter cobrado propina para fechar contratos de compra de vacinas. Já o senador que iria facilitar a entrada da Precisa no MS, Marconny diz que “não se lembra” e que não conhece nenhum senador.

Para a comissão, Marconny mente para proteger alguém ou simplesmente vendia aos clientes uma influência que não tinha. Pela fartura de documentos que a CPI dispõe, repassados pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, a primeira hipótese é mais provável. “As mensagens de 2020 demonstram que Marconny Faria participou ativamente da tentativa de fraudar a licitação do Ministério da Saúde em associação com Francisco Maximiano [sócio da Precisa], Rodrigo Trento [diretor da Precisa], Roberto Dias [ex-diretor de logística do Ministério da Saúde], para a compra de testes.”

Marconny admitiu que tem relações de amizade com o filho mais novo de Jair Bolsonaro, Renan, há pelo menos dois anos. O “zero quatro” buscou Marconny para abrir sua empresa de eventos em Brasília. O senador Alessandro Vieira também mostrou que Marconny fez a festa de aniversário em um camarote patrocinado por Renan. Mas para Marconny, “interlocuções são normais.” Com Karina Kufa, advogada eleitoral de Jair Bolsonaro, Marconny tem amizade desde 2017.

“O que o extrato das minhas conversas demonstram é que eu tenho ótimos amigos. Se eu fosse lobista, seria péssimo, porque jamais fui capaz de transformar minhas relações pessoais em negócios milionários, ao contrário do que saiu na imprensa.”

Segundo Marconny, o próprio Ministério da Saúde desistiu da licitação para compra de testes, e ele nunca se envolveu em compra de vacinas.

Redação

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