Partido Comunista da Grécia critica proposta do Syriza

Enviado por Antonio Ateu

Da Revista Opera

 

O sonho grego acabou? Entrevista com o Partido Comunista da Grécia

por Pedro Marin | Revista Opera

O governo grego enfim apresentou sua nova proposta à Troika. Ela inclui cortes de pensões, privatizações e aumento de impostos. A notícia, naturalmente, causou decepção entre parte da população da Grécia e do mundo, que já passavam a pensar a República Helênica como o bastião anti-imperialista medular do globo.

A alternativa ideológica na terra da filosofia tem nome: KKE. O Partido Comunista da Grécia alcançou, nas últimas eleições, 5% dos votos, e conta com quase um milhão de trabalhadores filiados em sua central sindical. Para esclarecer suas posições perante as propostas do governo grego e suas perspectivas de luta, a Opera contactou a seção internacional do partido:

A última proposta feita pelo governo inclui cortes em pensões, aumento de impostos e privatizações. Isto surpreendeu vocês?

Tanto a proposta do governo do partido social-democrata SYRIZA e o partido de direita-nacionalista ANEL, bem como o acordo final que foi assinado há algumas horas, contém medidas extremamente duras e antipopulares, até mais severas que a proposta da Troika, posta em referendo pelo governo – que se recusou a colocar sob julgamento do povo a sua proposta.

Por meses o KKE tem feito avisos de que a tão chamada administração “de esquerda” e “patriótica” da crise capitalista, feita pelo governo do SYRIZA-ANEL, levaria à consolidação de todas as antigas medidas antipopulares em novos e até piores memorandos para a classe trabalhadora.

No comunicado do Comitê Central do KKE, logo depois das eleições, dizíamos: “O KKE estimou e estima que a criação do governo de coalizão entre SYRIZA e ANEL levará a frente as mesmas medidas das propostas de uma só mão do Euro, dos monopólios, da União Europeia e OTAN, em conjunto com todos os elementos negativos que isso acarreta ao povo de nosso país. O novo governo de coalizão continua as políticas antipopulares… A mudança no governo e a tomada de poder do SYRIZA não significa uma mudança na política a favor do povo. O governo de coalizão do SYRIZA-ANEL continuará com os comprometimentos de nosso país com a UE e nossos credores, e naturalmente isso trará grande alívio ao sistema politico burguês que mira uma maior integração de nosso povo com a reconstrução do sistema partidário burguês em um momento crítico ao povo e seu movimento. SYRIZA já admitiu que irá se comprometer com um acordo com nossos credores. Esse programa, mesmo que não seja chamado um ‘memorando’, ou mesmo que não tenha o formato típico do memorando atual, terá termos anti-povo.

O programa do SYRIZA não está do lado do trabalhador ou do povo. Trata-se de um programa que, com suas direções estratégicas e propostas de quarto anos, leva a cabo as mesmas tendências de server aos interesses dos círculos de monopólios, as estratégias da UE, que dizem ao povo que se esqueça de que pode reivindicar tudo que foi perdido e promote somente certas ‘migalhas para a sobrevivência’ tendo em vista a extrema pobreza que tem aparecido; uma ninharia que será compensada pelas políticas antipopulares em geral.”

Foi dito que o KKE boicotou o referendo do SYRIZA, e apelou para que o povo não votasse. Isso é verdade? Se sim, por que tomaram essa medida?

Não, isso não é correto. O KKE nunca pediu um boicote, nem uma abstenção. Como é bem sabido, o governo de “esquerda” do SYRIZA, que é essencialmente um partido social-democrata e o partido de “direita” e nacionalista Gregos Independentes (ANEL), no esforço de lidar com a completa falência de seus compromissos pré-eleitorais, anunciou o referendo para o dia 5 de julho de 2015, perguntando aos cidadãos se concordam ou não com a proposta mais recente posta pela União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu.

O governo SYRIZA-ANEL pediu ao povo que votasse, deixando claro que o “não” no referendo seria interpretado pelo governo grego como uma aprovação de sua própria proposta, que também incluía duras medidas anti-trabalhador e antipopulares, com o objetivo de aumentar os lucros do capital, do crescimento capitalista e a continuidade da Grécia na zona do Euro. Essa é uma proposta que é essencialmente a mesma feita pela UE, FMI e BCE.

O KKE propôs ao Parlamento que a proposta do governo grego fosse colocada sob julgamento do povo grego no referendo, junto da questão da saída da União Europeia, a abolição do memorando e das leis ligadas à sua aplicação.

A maior parte do governo SYRIZA-ANEL rejeitou a proposta do KKE com o objetivo de chantagear o povo a aprovar a proposta do governo à Troika, que é o outro lado da mesma moeda. Eles exigiram que o povo concedesse apoio aos planos antipopulares e, dessa maneira, “tomasse responsabilidade” pelas novas medidas anti-povo que o governo propôs.

O KKE pediu ao povo que respondesse ao deboche que é a pergunta do referendo que o governo instalou, e para rejeitar tanto a proposta da Troika quanto a do governo SYRIZA-ANEL. Para “cancelar” o dilema, votando na proposta do KKE, que dizia:

– Não à proposta da Troika

– Não à proposta do governo

– Saída da UE, com o povo no poder

Ou, em qualquer outra escolha (voto nulo, voto branco, etc).

Os desenvolvimentos que se seguiram, com a declaração conjunta do SYRIZA, ANEL, ND, PASOK e POTAMI um dia após o referendo, e o acordo do governo grego para um memorando ainda mais grave, confirmaram a posição do KKE de maneira avassaladora.

Quais alternativas o KKE apresenta, dada a situação econômica da Grécia?

Desde 2009 o KKE tem insistido que a Grécia está experimentando uma afiada crise econômica capitalista de excesso de produção e acumulação de capital. Que não existem soluções pró-povo dentro dos limites do sistema e compromissos com a UE e OTAN. O KKE convocou o povo a utilizar o referendo como uma oportunidade de fortalecer o clima de oposição em relação à União Europeia, a fortalecer a luta pela única maneira realista de sair do atual barbarismo capitalista, cujo conteúdo é: ruptura com a União Europeia, cancelamento unilateral da dívida, socialização dos monopólios e poder ao povo trabalhador.

Essa proposta cria as pré-condições para fazer uso da vasta capacidade de desenvolvimento na Grécia, pela prosperidade do povo que hoje, dentro da UE e da estrada capitalista de desenvolvimento, ou se mantém inexplorada ou subjugada aos lucros do capital e dos compromissos com a União Europeia.

A saída da União Europeia com o povo realmente no poder pode liberar forças gigantescas. Isso requere que o povo esteja decidido, organizado, informado, pronto para lidar com a situação, para tomar o poder e a economia em suas mãos.

Nas últimas eleições o KKE teve cerca de 5% dos votos. Além disso, há o PAME [central sindical ligada ao KKE, com cerca de 850 mil trabalhadores afiliados. É possível implementar os desejos do povo por meio de eleições? Qual a posição do KKE nessa questão?

O KKE visa os trabalhadores, os trabalhadores independentes, os camponeses pobres, os movimentos militantes de mulheres e a juventude, e convoca-os a organizar a resistência contra as políticas antipopulares que continuam com a falência do povo. O movimento popular dos trabalhadores deve formular sua própria linha, e agrupar em volta disso uma direção anticapitalista e anti-monopolista. Ele não deve se iludir pelas teorias de sujeição e pela tão chamada “unidade nacional” que tem sido promovida, porque os interesses da classe trabalhadora se opõe aos dos capitalistas.

Isso depende de iniciativas diretas, para que o movimento classista dos trabalhadores possa combinar solidariedade com defesa, para que apoie os necessitados, os desempregados e os fracos.

Para que se organize a luta em Comitês de Luta, nos locais de trabalho, fábricas, hospitais, nos serviços públicos, nos Comitês Populares dos bairros, nos comitês de solidariedade social e assistência, com grupos e comitês que monitorem os lucros, a possibilidade de escassez de alimentos, remédios e outros bens necessárias à sobrevivência das famílias da classe trabalhadora.

O PAME já organizou manifestações de massa por toda a Grécia contra o acordo antipopular, em meio a esse período extremamente complexo. Os sindicatos que mobilizam-se no PAME, em conjunto com os pensionistas e às organizações de mulheres, tomaram iniciativas militantes exigindo o pagamento regular das pensões, medidas de assistência aos desempregados, contra a extorção e terrorismo dos patrões em muitos locais de trabalho que acharam novos motivos para prosseguir nos cortes salariais e demissões, entre outras medidas.

O que é necessário ao movimento popular dos trabalhadores que é livre dos partidos e governos burgueses, com medidas administrativas anti-povo, é uma poderosa aliança popular que lute em uma direção anti-monopólios e anticapitalista, por uma ruptura genuína com os monopólios, com o capital e suas alianças. Por uma força popular dos trabalhadores, que alcançará o desligamento da UE, um cancelamento permanente da dívida, planificação central e controle popular dos trabalhadores.

O KKE diz claramente que não há forma de sair da crise e encontrar soluções justas pelo benefício do povo dentro da prisão da União Europeia e do caminho de desenvolvimento capitalista. Seja qual for o governo que administer o regime de exploração, ele não pode ser simpático ao povo e aos trabalhadores, por mais que se declare “de esquerda”. Não pode haver “soberania popular” enquanto houver mestres e subjugados em todas as leis e instituições na Grécia, na União Europeia, nos acordos internacionais que são formulados de tal forma a garantir o domínio dos círculos de monopólios e o domínio da classe burguesa. Eles são formulados desta forma porque eles sabem que quando os trabalhadores reagirem, isso pode abrir o caminho à frente, para a derrubada dos exploradores.

Dada a perspectiva, o KKE convoca a classe trabalhadora, os trabalhadores independentes, os camponeses pobres, as mulheres e a juventude a unir forças. O KKE colocará toda a sua força nesta luta, O fortalecimento do KKE é a garantia para a vitória final.

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Grécia deu cultura para

    Grécia deu cultura para Europa e hoje é um país de merdas analfabetos comunistas! Platão, Sócrates, Aristótele e ect estão se torcendo nos seus túmulos!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador