Dilma precisa sair do isolamento

 

Do O Povo

Para Luis Nassif, Dilma precisa sair do isolamento
 
Para jornalista, combinação entre governo inábil e oposição irracional agrava crise
 
O mineiro Luis Nassif acumula uma longa trajetória no jornalismo econômico nacional. Com a experiência de quem já acompanhou muitas crises no país, avalia que a atual reflete uma interferência do cenário político na economia raras vezes vista antes, especialmente porque a mídia do eixo Rio-São Paulo, segundo ele, atua de maneira intensa para fazer crescer a pressão sobre o governo. 
Apesar de enxergar muitos erros na condução do processo pelo Palácio do Planalto, atribuindo-os em grande parte ao estilo centralizador da presidenta Dilma Rousseff, ele é duro também com o comportamento da oposição e, em especial, dos seus líderes. Quanto ao risco de impeachment, Nassif considera que o país está maduro o suficiente para segurar a petista no cargo, embora isso não valha indefinidamente. 
O Brasil enfrenta um quadro que, no momento, junta duas crises de grandes proporções: uma política e a outra econômica. Como é que as duas se alimentam? Há como superar uma sem resolver a outra? 

As duas estão imbricadas mesmo, não é? O ponto central é a dificuldade que a presidenta está encontrando de apresentar um plano de governo. Ela tem de mostrar o que pretende para os próximos quatro anos, ou seja, sem este plano você cria um desalento na opinião pública e a popularidade cai. O político sempre aposta no mercado futuro, ele pensa da seguinte forma: ‘quero apostar em alguém que nas próximas eleições esteja bem para eu me cacifar’. Quando você não tem esse plano de voo futuro, o político também, quer dizer, não quer saber de apoiar. A crise econômica do país não é tão grande quanto a crise política e o Brasil, hoje, é um país muito complexo. Ele é muito rico em termos de alternativa de políticas, de experiências, em todas as áreas, é um país que você tem grupos de diagnósticos em todos os temas. De repente, você pega aqui Sobral, no Ceará, nos ensinando algo no campo da educação, pega outro local qualquer com experiência em educação inclusiva, outro local com experiência em mobilidade urbana, etc. Então, é um país que está pronto e se a presidenta Dilma fosse capaz de enxergar todas as partes e apontar um rumo a crise política poderia se diluir rapidamente. Há uma crise econômica real, ainda vem pela frente mais recessão, mais desemprego, mas com esperança é mais fácil de fazer a travessia. 

Quais os principais erros que a presidenta Dilma cometeu até agora?

A presidente conseguiu, no curto espaço de tempo, coisa de dois, três meses, protagonizar uma série tão grande de erros que chega a ser algo inédito na história do Brasil. Veja bem, quando ela foi eleita já existia uma crise pela frente, a perspectiva era essa, havia planos que tinham sido bem discutidos por setores dentro do governo, CGE e outros, e, dispondo disso, acreditava-se que no dia seguinte da eleição a Dilma já estaria em campo acenando para uma nova etapa da economia. O país esgotou um ciclo e estaria entrando em um novo ciclo, mas ela se trancou no Palácio, entrou na dieta dela, sumiu e, quando voltou, tomou uma série de medidas sem nenhuma preparação. Algumas medidas necessárias, outras muito mais radicais do que seria necessário, mas sem nenhuma forma de preparação, criando uma turbulência na opinião pública monumental. O resultado é que despencou a popularidade e, não sei se entra em pânico, porque, enfim, fiz uma entrevista com a Dilma em março e ela parecia tão bem que até assusta. O certo é que ela começou a adotar um conjunto de medidas de afogadilho, sem qualquer planejamento, monta toda uma estratégia para eleger o presidente da Câmara dos Deputados, procurando se livrar do acordo político que o Lula fizera com o PMDB…

Este teria sido um dos grandes erros do PT, comprar a briga com Eduardo Cunha?

Foi o grande erro! O Eduardo Cunha ganharia de qualquer jeito? Ganharia, mas, dentro de um pacto, você manteria ele ali, sob controle. Ela fez toda sorte de avaliações erradas, dizem que o (Aloizio) Mercadante aconselhou que com a Lava Jato o Cunha seria defenestrado e a Dilma poderia governar sem aquele problema. O Eduardo Cunha é um barra-pesada monumental, mas ela fez todos os cálculos errados. Ela não teve nenhuma sensibilidade para com a opinião pública, rompe uma parceria histórica com o PMDB sem ter nada para colocar no lugar, implementa uma política econômica que vai contra toda sua base de apoio, então, é uma sucessão de erros monumental. Daí que se colocou o Michel Temer para dar um pouco de ordem nas coisas e aconteceu que foi tiro pra todo lado, uma dia ela pensa uma coisa, no outro dia outra….

Mas, não foi essa transição complicada que acabou piorando tudo? A verdade é que ela esteve sob pressão todo o tempo, desde quando a vitória nas urnas se consolidou e a oposição nunca aceitou a vitória dela.

Nunca. A oposição é um horror! Porém, a oposição é um dado da realidade, ela já sabia disso, aliás, o fato de a oposição ser um horror é que garantiu a vitória dela. Esses meses todos deixaram muito clara a imaturidade do Aécio Neves, o golpismo do Fernando Henrique, mas estava claro na cabeça de todos que o 3º turno começaria no dia seguinte. Vi, um tempo atrás, autocrítica do Luiz Dulci onde ele dizia que se acreditava no PT que haveria um tempo para respirar, etc., mas quem acompanhava a conjuntura sabia que era necessário começar no dia seguinte a governar, preparar o segundo governo. Mas, descuidou demais, descuidou demais… 

Ela tinha obrigação de entender o cenário e se antecipar à situação?

Principalmente porque esse clima de rancor, de ódio, alimentado pelo Fernando Henrique, o (José) Serra, o Aécio, os jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo estava presente, e estava crescente. Qualquer análise mostraria que eles não dariam trégua.

A escolha por alguém com o perfil de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, como entra nesse contexto? 

A Dilma é uma pessoa intempestiva, toma decisões sem pensar muito, mesmo medidas radicais. É algo um pouco ligado, digamos, à formação de guerrilhas, um sistema verticalizado, em que as informações são estanques, você tem uma ordem e ela precisa ser seguida, não há sequer a possibilidade de reavaliar, etc. É só executar a ordem e quando a coisa parecia não estar dando certo há uma resistência, acreditando-se que um dia daria certo, mesmo sem lógica para tal. Ela, com o Guido Mantega, entrou nessa mesma tempestividade. Até achei, quando a Dilma entrou para o primeiro governo, que o Brasil havia encontrado uma grande estadista. Primeiro ela começa a mirar na redução de taxas de juros, investir na educação, na inovação, competitividade, havia o Pré-sal, uma lei fantástica de cuja elaboração ela participou diretamente, mas, enfim, quando a inflação volta um pouco, na base do estalo, sem consultar, sem discutir, sem pensar, sem avaliar, determina um recuo na questão das taxas de juros. Quando, depois, a economia começou a embicar, a cada notícia ruim ela chamava o Mantega, acertava uma isenção para algum setor, o ministro dava uma entrevista dizendo que a economia iria melhorar, no momento seguinte havia uma piora, então, foi ficando claro que a presidenta não sabe trabalhar dentro de um Estado Maior do ponto de vista estratégico. Apesar de ela ter acesso ao melhor analista político que eu vi nos últimos tempos, que é o ex-marido dela, o Carlos Araújo. Ela, então, vai no afogadilho, radicaliza numa ponta com o Guido Mantega e, agora, decide radicalizar numa outra ponta e pega o Levy. O Levy é um cara trabalhador, sério, mas não tem dimensão de ministro da Fazenda. A dimensão dele é de assessor do ministro da Fazenda, ele é um técnico muito responsável, trabalhador, mas um ministro precisa ter uma noção dos desdobramentos políticos, dos desdobramentos sociais, ter uma noção do ritmo da economia que não são os indicadores que oferecem. Os indicadores aparecem sempre depois, é preciso sensibilidade para saber para onde está caminhando a economia, evitando que se exagere em uma determinada direção. No final do ano passado estava claro que a economia estava indo pra baixo e, em tais situações, qualquer ação do governo na mesma direção acirra esta queda. Pra cima é a mesma coisa. Assim, o novo governo começa com ajuste fiscal, com cortes, vem o Banco Central e joga as taxas de juros para 14,25% e o que acontece, claro? A economia despenca. 

E parecia claro que a inflação, no Brasil, não estava relacionada à demanda.

Não é! Outro dia estava escrevendo sobre alguns colegas lá do Rio de Janeiro que fazem comentários econômicos e eles defendem que agora como vai haver deficit fiscal é inevitável um aperto na política monetária, porque a política fiscal frouxa… Gente, a política fiscal frouxa é o seguinte: quando a economia está crescendo a 2%, 3% ao ano e os gastos fiscais aumentam na faixa de 10%. Quando, no entanto, você não consegue superavit porque a receita despencou, devido à recessão, não se trata de política fiscal frouxa, não há é demanda! Quando a política fiscal não responde é porque ela está injetando muito dinheiro na economia, ela está aquecida, e você compensa a política monetária. Hoje o deficit não é por excesso de gastos, é por falta de receita, então você não podia trancar o deficit, como o governo trancou. Em março, quando fiz uma entrevista com a Dilma, ela dizia que o pior já tinha passado, com base naquilo que o Levy tinha vendido para ela. Algum tempo depois, com o governo indo e vindo em relação ao ajuste fiscal, etc., o ministro da Fazenda afirmava que os investimentos já estavam voltando. Tudo fé, era fé, não era ciência, não era observação da realidade. É fé, coisa que em Aparecida do Norte dá certo, mas na política econômica não. 

Ao mesmo tempo, pela forma como o mercado se manifesta, é difícil para a presidenta, hoje, demitir Joaquim Levy, não é?

Nem é caso, não é caso de demitir o Levy. O Levy é um cara de bom senso, só que está amarrado num ideologismo de mercado onde o que está em jogo sequer é o ajuste fiscal, agora. Quando você pega as ‘Mirians’ e os economistas de mercado da vida o que eles querem é desmontar aquele Estado de bem-estar que foi criado nos últimos anos. Eles querem é acabar com as políticas sociais, eles não estão preocupados com a situação desse momento, no qual mais cortes, mais ajuste fiscal, só representa mais recessão e, como efeito, mais perda de receita. O interesse é de aproveitar um momento de caos para tentar desmontar um conjunto de políticas fiscais que garantiram a inclusão de 40 milhões, 50 milhões de pessoas no mercado. É isso que eles querem! 

Pois é, mas, de outra parte, também há a pressão sobre a presidenta Dilma de apoiadores que defendem as políticas sociais do governo federal e são contra o ajuste fiscal. Como compatibilizar essas pressões que vêm de dois lados?

Veja bem. Há políticas e há medidas que podem ser adotadas sem a necessidade de recursos orçamentários. Existem várias áreas da economia, práticas na área da educação, práticas de desenvolvimento regional, práticas de políticas sociais, enfim, Dilma tem que entender a necessidade de apresentar o todo. Sem apresentar o todo, ela estará ruim para os dois lados, estará ruim na fotografia com o mercado e estará ruim com os desenvolvimentistas. Na Unicamp, hoje, o pessoal só falta botar o retrato dela para treinar como alvo. Ela precisaria definir uma linha, mas não consegue.

Como o senhor analisa a postura, diante de tudo isso, do empresariado? Há sinais, inclusive, de que a postura da oposição, em alguns momentos parecendo apostar no caos, tem assustado alguns empresários. As manifestações públicas de alguns nomes de peso da economia serão capazes de colocar um pouco de serenidade no ambiente político?

Ah, já recuaram né? O Fernando Henrique, que é um malicioso, um dos que mais punha lenha na fogueira, disse que foi mal compreendido em relação ao seu apelo à Dilma para que renunciasse ao cargo. Ora mal compreendido?! Fosse um peão do interior de Minas Gerais dizer que falou e não foi compreendido pode até ser, mas um professor universitário? Ele escreveu! A questão é que você não tem mais partidos políticos, o próprio PT não é mais aquele partido programático e o PSDB menos ainda. O PSDB virou um DEM radicalizado, você pega todas essas manifestações de agressividade mais recentes e entende porque o Aécio, um cara vazio, virou a figura do PSDB. O médio empresariado, o grande empresariado, já percebeu que ruim com a Dilma, pior com o impeachment, e deram um chega pra lá nas aventuras do PSDB. O país está maduro e está segurando a Dilma, se fosse no tempo do João Goulart o governo já tinha caído. A questão é que ela precisa mostrar proatividade, precisa apresentar um plano de governo, mínimo que seja. A hipótese que tem dela sair é por sua culpa mesmo, não é por causa de um golpe. Só pensa em golpe gente como o (ministro) Gilmar Mendes, gente da pior estirpe do Judiciário, do Tribunal Superior Eleitoral, que está querendo o impeachment. Em relação ao impeachment o país está vacinado, mas a presidenta precisa se cercar de pessoas sólidas e ter uma lição de ação. A Dilma abriu mão dos conselhos do ex-marido, que é um baita analista, abriu mão dos conselhos do (ex-presidente) Lula, abriu mão dos conselhos do Temer, vice-presidente com uma baita bagagem política, um cara leal, maduro, um dos pais da Constituinte, abriu mão deles para ficar com os conselhos do José Eduardo Cardozo, que não existe como ministro da Justiça, e do Aloizio Mercadante. Esse isolamento dela é fatal!

Quanto ao comportamento do vice-presidente Michel Temer, não há, da parte dele, alguns movimentos e algumas declarações que acabaram complicando sua relação com a Dilma?

Não, não. Ele deu uma declaração, lá na história de um nome capaz de unificar o país, etc., a questão é que a gente tem uma imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro que tenta criar cizânia para todo lado. Veja o outro caso, em que o Temer falou que nenhum presidente aguenta três anos e meio com popularidade de 7%, que é o que a presidenta tem agora. Algo óbvio! É mais ou menos como alguém chegar e perguntar se uma pessoa que atravessa uma avenida movimentada com farol vermelho está arriscando ser atropelada. A resposta é sim, foi o que ele respondeu (sobre a popularidade de Dilma). O que acontece é que está lá no O Globo do dia seguinte: ‘Palácio diz que declaração do Temer foi desastrosa’. A gente vai na matéria e percebe, de início, que o texto não diz quem é o Palácio. Os humanos que habitam o Palácio, como (o ministro) Edinho Silva, aparecem dizendo que não, que as palavras de Temer foram retiradas do contexto; vê lá o (senador) Romero Jucá e ele diz que era uma coisa óbvia, o Lula a mesma coisa, enfim, todos os humanos disseram que aquilo lá não tinha importância. Qual Palácio, afinal? Há um jogo de intriga hoje que é feito no jornalismo de Brasília, a serviço dos jornais do Rio e de São Paulo, que é terrível. E, para piorar, o governo não tem uma estratégia de comunicação para desmentir esse jogo. É toda hora o jogo de intriga que é típico do jornalismo brasiliense, uma coisa já histórica. Quando o governo não tem uma linha, qualquer coisa pega. 

Este perfil dele, comparado ao do vice de Lula, José Alencar, pode ser um fator de complicação em horas de crise, como a atual? Como comparar o comportamento de Temer àquele que teve Alencar, por exemplo, na crise do Mensalão?

A diferença é que, ali, você tinha o presidente Lula com pleno protagonismo. A Dilma, ao contrário, precisa do Temer, precisa dar um mínimo de coerência ao seu discurso, sob pena de haver, naturalmente, uma adesão de todo mundo a ele. Até o ponto em que pode ficar claro que saindo Dilma e entrando o Temer o baque será menor do que permanecer com ela. Veja bem, a Dilma para recuperar credibilidade precisa dar um sinal de que o segundo governo será diferente do primeiro. É fácil perceber, olhando para este primeiro governo, que o maior fator de crise foi o excesso de centralização dela e a sua falta de discernimento. Fosse Michel Temer um Eduardo Cunha, e ele não é, a essa altura já estaria conspirando. A Dilma precisa parar para respirar, precisa abrir mão de alguns ministros, o Cardozo, o Mercadante, não dá. Sou amigo do Mercadante desde os anos (19)70, (19)80 e, olha, se a Dilma é uma pessoa difícil, que cria resistências em todo mundo pelo jeito de tratar as pessoas, o Aloizio Mercadante é igual.

Talvez precisasse de alguém mais diferente dela para aquela função.

O Jaques Wagner (atual ministro da Defesa), que sempre disseram ser um cara jeitoso, habilidoso. Talvez metade do desgaste da Dilma decorra do tratamento pessoal dela. O Lula tinha uma lealdade de todo mundo lá no Palácio muito mais pelo jeito como tratava as pessoas. Ela, ao contrário, cria o conflito gratuitamente, uma coisa até estranha porque a Dilma, sem o tratamento hierárquico, é a pessoa mais agradável, uma mineira simpática, falante. Com a relação hierárquica, porém, vira um monstro!

O Lula, de quem o senhor falou antes, depois de todos os ataques e do que pode ficar como mancha com toda essa história da Lava Jato, pode ainda ser um nome forte para as eleições presidenciais de 2016?

Possibilidade tem total, se tem a intenção não sei. O que acontece com ele hoje é que, diariamente, mais do que isso, diuturnamente, os jornais descem o cacete nele, acusando-o de tudo, sem que ele se defenda. Na hora em que ele dispuser de um palanque, um horário gratuito, mostrando o que é que foi todo esse jogo, ele reverte, reverte.

E em relação às denúncias que o envolvem com empreiteiras, como uma espécie de lobista, etc.?

Não… O que você tem é algo escandaloso, que não diz respeito especificamente a ele, sobre o loteamento das estatais. A história de lobista é um absurdo, até um tempo atrás se viu tais iniciativas como algo pró-país, existe uma disputa entre as empreiteiras brasileiras e as chinesas na África e o que o Lula fez foi algo que qualquer presidente dos Estados Unidos, da França, faria ué! Ele foi defender as empresas sim, é um lobby pró-país sim, mas o que acontece é que os jornais passaram a tratar, enfim, passaram a criminalizar financiamento para o BNDES! Um conjunto de políticas públicas para criar multinacionais brasileiras, algumas delas criadas no tempo do Fernando Henrique Cardoso, foram transformadas em crimes por uma manipulação de noticiário que eu nunca vi. Nunca vi coisa igual!

Nesse contexto de uma crise que atinge mais diretamente o Executivo e o Legislativo, é natural que o Judiciário assuma o ativismo que alguns dos seus membros têm apresentado?

Acho até que a Lava Jato parou um pouco com o ativismo do Judiciário, ela acaba sendo uma coisa à parte. No Judiciário brasileiro hoje a gente tem uma vergonha nacional, uma humilhação para o país chamado Gilmar Mendes. O que ele faz em termos de manipulação, de sentar em cima de processos, de ter um instituto que tem como patrocinadoras empresas com causas no Supremo (Tribunal Federal), de beneficiar escritório de advocacia do qual a mulher faz parte, de trabalhar diuturnamente pelo golpe, é uma vergonha para o país. O Gilmar é uma vergonha para o país, estou processando-o por causa de acusações que ele fez contra mim e ele fez o mesmo com um monte de gente que ficou com medo de enfrentá-lo. Pergunte-se a gente como Luis Roberto Barroso, com toda sua história, Celso de Melo, com toda a história, como é que aceitam calados gente como o Gilmar Mendes avacalhando o Supremo.

Por que aceitam? 

Porque há um pacto entre PSDB e essa mídia do eixo Rio-São Paulo que passou a ditar tudo. A mídia solta uma nota aqui e o Ministério Público entra com uma representação ali. A mídia ganhou um poder, também por conta dos erros clamorosos cometidos pelo governo, dai a vergonha que foi esse loteamento político da Petrobras, o desgaste da Dilma, e esse pacto transformou o antipetismo em blindagem para qualquer malandro. O Eduardo Cunha quando está para cair invoca o antipetismo, o Gilmar, com todas as jogadas que faz, invoca o antipetismo, criando-se uma blindagem monumental. O Judiciário, historicamente já contra o PT, quando veio essa montanha de escândalos, não tem jeito, você pega um gerente da Petrobras e só ele admite US$ 120 milhões de propina se vê que algo de muito errado aconteceu. Porém, por conta disso, fica todo mundo usando o antipetismo como blindagem para as maiores jogadas.

A Lava Jato é um caso à parte no capítulo do Judiciário, segundo o senhor. Pelo lado positivo ou no sentido negativo?

Nos dois sentidos, no sentido negativo também. A Lava Jato atropelou direitos que se pode discutir, mas ela apresenta uma parcialidade partidária que é vergonhosa, é vergonhosa.

Para quando é que se pode esperar o começo de recuperação da economia brasileira? Há quem já dê também o ano de 2016 como perdido.

Vamos fazer um desconto aí. Quando se fala em 2016 perdido é o seguinte: existem umas contas que se faz para medir o PIB nas quais entram os últimos trimestres de 2015, o que impacta também no ano que vem. É possível que no segundo semestre do próximo ano a economia já esteja em recuperação, na ponta, mas na média ainda apareça apontada uma recessão. Quando o pessoal fala em 2016 perdido não significa que você não vai estar recuperando a economia antes, mas, na verdade, não tem como, quem falar que sabe estará apenas chutando. 

Há um aspecto da crise atual, algo com poucos momentos iguais na história do Brasil, que é o clima de pessimismo.

É.

Há quem atribua tal situação ao fato de existir uma geração de brasileiros que se vê, hoje, diante da primeira grande crise econômica real.

Também, é isso. Mas, também, a mídia lá do eixo Rio-São Paulo exagerou né? Você pega a Copa do Mundo, o Brasil deu um show de organização, um show, a única coisa ruim aconteceu dentro de campo, e o que se falava o tempo todo, sobre a expectativa, era no sentido contrário. Tudo estava certo dentro de campo, etc., e o resultado é que fora de campo é que se deu o show! 

O senhor lembrou que o resultado da crise dos anos 1980 foi o surgimento do PT, dentre outros fenômenos. A crise de agora aponta para o surgimento de algo novo? 

Não, não. Agora, que vai surgir alguma coisa tenho certeza, o bipartidarismo acabou. Acho que o Lula tende a montar uma frente, mais ampla do que o PT, enquanto que do lado direito não sei o que pode acontecer. O Fernando Henrique é muito ruim como formulador, ele é um blefe. Vamos pegar uma coisa que deu uma baita repercussão, que deve render frutos mais pra frente, que foi aquela reação do Cid Gomes contra o Eduardo Cunha. Aquilo lá criou um ponto de referência. Outro dia estava lendo uma análise de um especialista em campanha eleitoral onde ele apontava que o momento vai favorecer a um formulador, um pacificador. O país está cansado de guerra, está cansado. Esse negócio de a imprensa todo dia criar uma crise é o abraço do afogado, o PSDB consegue afundar o PT e se afunda junto. Se você pegar o cenário atual, vamos ver do lado da situação, só tem o Lula. Pode ser que surja algo, o (Fernando) Haddad talvez seja uma possibilidade, o (Eduardo) Paes, do Rio de Janeiro, é outra. Pega o PSDB: o Aécio é um imaturo, um moleque, é um moleque.

O senhor cita o prefeito Fernando Haddad como uma alternativa de futuro, mas as pesquisas apontam muita dificuldade da parte dele na perspectiva de reeleição. Além de uma popularidade, hoje, muito baixa.

Haddad tem alguns defeitos, claro, mas, é normal, sempre que você entra com políticas inovadoras no primeiro momento há desgaste. Ele mudou a maneira de ver município, esse negócio de apropriação das cidades, que as pessoas estão falando, é um conceito tão forte que tende a pegar no Brasil inteiro. Você pega as ciclovias, antes, aquelas faixas exclusivas de ônibus, ele coloca, dá problema inicialmente, o pessoal reclama, crítica, táxi quer entrar, não sei o quê, ele segura firme e quando se completa o processo os ganhos aparecem. O ganho é de 40, 50 minutos por dia para o pessoal da periferia. Ciclovias, agora, enquanto está numa região só o pessoal desce o cacete, ele vai ampliando, vai ampliando, dai pega. Então, o Haddad tem essa coragem de bancar as ideias dele, não recua. Ele está plantando ideias com a coragem de quebrar paradigmas que nenhum outro que estou vendo tem e, além disso, é um cara que se dá bem com Secovi, com as ONGs do setor privado.

Redação

7 Comentários

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  1. A realidade é a seguinte…

    Não existe presidente isolado…existe presidente mal assessorado.

    O governo está cheio de gente inocente e pouco pró-ativo. 

    As pessoas estão no governo por medo de perder o cargo. Por isto a lenda de que a presidenta é centralizadora, os caras não conseguem discordar dela e depois discordar de novo.

    O primeiro erro foi a presidenta negar a crise antes das eleições e depois eleita anunciá-la. O governo de uma nação não deve anunciar a crise, pois cria uma bola de neve negativa país afora.

    Agora fica numa sinuca de bico, assumiu a crise, e pra sair dela como se faz. Vai ter que esperar dois anos para ter indicadores de resultados positivos para anunciar a saída da crise.

    Presidente é o Lula que na maior crise internacional anunciou a marolinha… 

  2. O “apoio” dos governadores.

    O país está derretendo chefe, agora até os governadores querem tirar uma casquinha e passar a CPMF dos 0,2% propostos para 0,38, assim os estados ficariam com os 0,18% de acrécimo. Estão vendendo o apoio…às nossas custas. Daqui a pouco vamos achar que o Imptiman será a melhor saída… Isso tudo que está acontecendo em 1 ano…vai ser difícil sentir saudade de 2015.

  3. Bem se sabe que a discussão

    Bem se sabe que a discussão política atual, assim com o pré-golpe de 64, está contaminada por interesses externos. Desde o governo Lula, estrategicamente, o Brasil tem fortalecido relações comerciais anteriores e forjado novas parcerias. Em eventual governo golpista algumas dessas relações seriam afetadas bruscamente pelos interesses daqueles que fomentam e financiam a crise política atual. Portanto, se a saída aqui está difícil pelo britzkrieg da imprensa venal, a solução  deve ser buscada internacionalmente.

    Isso o governo já deveria ter feito com denúncias de tentativas de golpe. Alguns setores de nossa economia não suportariam um boicote pela quebra da institucionalidade. Os governos Lula e Dilma encarnaram a lógica dos socialistas utópicos, crendo que os sempre golpistas se bastariam pela mansidão e “cordialidade” dos petistas.

    Talvez, ainda não seja tarde demais (espero!). É preciso reagir à altura dos desafios que se apresentam.

    1. Acho que quem fala grego é

      Acho que quem fala grego é você. Tem mania de aparecer e acaba demonstrando uma pseudo erudição sem graça e “boboca”… Tente acrescentar algo útil ao blog. Nada é impossível…

  4. O mistério é saber o que fazer

    Nem preciso dizer que insisti até encher o saco de todo mundo aqui no blog que o governo estava sem norte, sem rumo e sem estrela.

    Não vejo porque ficarem agora chorando o leite derramado.

    Mas quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

    Mãos a obra, saiam da frente que atrás vem gente.

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