Eike foi de empresário-modelo a batata quente de peruca, por Gregorio Duvivier

Jornal GGN – Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o ator e escritor Gregorio Duvivier comenta o caso de Eike Batista, empresário antes incensado e que foi preso hoje (30) pela Polícia Federal em um desdobramento da Operação Lava Jato.

Quando se trata de descobrir que é o culpado por “essa monstruosidade”, esquerda e direita se dividem, e, para Duvivier, os dois lados estão corretos. “O filho foi gerado pelo país inteiro, numa espécie de suruba transpartidária e supraideológica”, argumenta, dizendo que o Brasil ama seus bilionários, e faz vista grossa para seus desvios.

Leia a coluna completa abaixo:

Da Folha

Eike, de empresário-modelo a batata quente da peruca laranja

Gregorio Duvivier

O Brasil é um país dividido. Há quem chame de impeachment, há quem chame de golpe. Há quem chame biscoito de biscoito e há quem chame biscoito de bolacha (reparem na imparcialidade do colunista). Há quem ponha o feijão por cima do arroz, há quem ponha o feijão do lado e há, acredite, quem ponha o arroz por cima do feijão. Perdoa-lhes, Pai. Eles não sabem o que fazem.

Por vezes, ainda acontece de o Brasil se unir num grande bloco como outrora. No momento, o que une o Brasil é Eike Batista. Parece que o país inteiro está juntinho, como uma família em volta da televisão –no tempo em que a família se juntava pra ver televisão– se perguntando a mesma coisa: será que ele acha que não dá pra perceber que ele usa peruca? E logo em seguida: será que ele escolheu uma peruca alaranjada antes ou depois do Trump? Quem foi que criou essa tendência?

Logo em seguida às questões de ordem capilar, acredito que venha uma pergunta mais difícil de se responder: de quem é a culpa por essa monstruosidade? Não a peruca, mas o sujeito. Como alguém acreditou que esse homem prestava? Pronto. Acabou o amor. É aí que o Brasil se separa de novo.

O lado de esquerda da família –o tio comunista, o cunhado de humanas, a prima percussionista –vai dizer que a culpa é da direita. Vai mostrar fotos de Eike com Aécio, Doria e Anastasia, tuítes do Luciano Huck, capas da “Veja”. Tudo verdade.

O lado de direita da família –o avô tucano, o cunhado do mercado financeiro, a prima que estudou na British– dirá que a culpa é da esquerda. Não será difícil encontrar fotos de Eike com Lula e Dilma, gráficos que mostram como Eike cresceu com o PT, matérias sobre a parceria dele com o BNDES. Tudo verdade.

É muito comum que, numa discussão, todo mundo esteja errado. Nesse caso, me parece o contrário: todo mundo tá certo. O filho foi gerado pelo país inteiro, numa espécie de suruba transpartidária e supraideológica –PT, PSDB, PMDB, mas não só.

Eike Batista é bilionário num país que ama os seus bilionários –e faz vista grossa pra qualquer desvio vindo deles. Quando a gente ouve “setor público” a gente logo pensa em corrupção e ineficiência, quando a gente ouve “setor privado” a gente pensa em competência e honestidade –isso no país de André Esteves, Marcelo Odebrecht, Daniel Dantas, Sergio Naya e a lista é longa.

O povo tá certo de não confiar em político –mas tá errado de confiar cegamente em empresário. Sobretudo os de peruca alaranjada. Mas não só.

Redação

11 Comentários

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  1. “Tudo por dinheiro! Em rítmo de festa!”

    rsrrsrssr, bom texto com boas pitadas de humor do famigerado e competente humorista.

    Mas, apenas com o intuito de fomentar o debate, discordo quando o autor diz que O povo tá certo de não confiar em político –mas tá errado de confiar cegamente em empresário.(…)

    Discordo porque é muito amplo dizer assim.( conforme acima)

    Nem diria também que a regra é essa, qual seja:

    Não se deve confirar em político em regra e devemos confiar em empresário  em regra e vice-versa.

    Isso porque, penso em  outra(s) regra(s):

    1-A de que devemos confiar nas pessoas até que elas nos mostrem o contrário; ou:

    2-Devemos desconfiar de todas as pessoas até que essas nos mostrem( provem) o contrário.

    Dependendo do caso, a gente aplica uma ou outra. Notem bem, no caso, especificamente.

    E, logicamente, toda regra tem exceção.

    Atualmente, estou usando a regra número 2:

    Devemos desconfiar de todas as pessoas até que essas nos mostrem ( provem) o contrário.

    Notem bem, de “todas as pessoas”. Portanto, até de nós mesmos!

    Nesse sentido, olha para minha sombra e  só após ver que é a minha sombra mesmo é passo a confiar que ela é realmente a minha sombra, haja vista o alto grau de “confiança” que “criamos” na “boa” convivência da “sociedade” brasileira.

    Pra resumir com dois exemplos:

    Político: “antes das eleições os candidatos têm muitos predicados, mas é depois que se conhece o sujeiro”. Fonte: internet.

    Empresário: Para gerar “lucro” , ele chama seus empregados de “colaboradores”. Antes, curiosamente, os colaboradores eram o seu maior “patrimônio”. Outro dia li que agora os empregados são o seu maior “ativo”. Fiquei me indagando se um dia estes empregados serão o seu maior “passivo” . Em suma, a gente percebe que os empregados , no fundo, não passa de “lançamentos contábeis”, razão pela qual você deve desconfiar do empresário se ele o vê com gente( humano) ou como rubrica contábil para gerar um “resultado”.

     

    Bom, essas parecem ser as “melhores” regras.

    Alguém teria outras?

    Saudações 

     

     

     

     

     

     

     

     

  2. Simples

    “O povo tá certo de não confiar em político –mas tá errado de confiar cegamente em empresário. Sobretudo os de peruca alaranjada. Mas não só.”

    Inclui carecas, cabeludos, barbeados, barbudos, etc, etc.

  3. “Quando a gente ouve “setor

    “Quando a gente ouve “setor público” a gente logo pensa em corrupção e ineficiência, quando a gente ouve “setor privado” a gente pensa em competência e honestidade –isso no país de André Esteves, Marcelo Odebrecht, Daniel Dantas, Sergio Naya e a lista é longa.”

    O autor esqueceu de mencionar os empresários Fábio Luís Lula da Silva, José Dirceu de Oliveira e Silva, Antonio Palocci Filho e João Carlos Bumlai.

    1. Os delinquentes Aécio, Serra,

      Os delinquentes Aécio, Serra, Alckmin, Bolsonaro,  etc. têm muito mais dinheiro do q esses “empresários” q vc citou e nem precisam ser empresários, e vc esqueceu…como vc é esquecido…mas é claro q VOCÊ é honesto . . .

    2. Tu és um retardado desonesto.

      Duvivier não esqueceu. Ele listou os salafrários que rrepresentam os empresários. E estes que tu citaste, com exceção do Bumlai, um empresário tradicional, os outros podem ser considerados empreendedores de oportunidade. Aproveitaram-se da influência e conhecimento dos caminhos e investiram em consultorias ou outro tipo de negócio. Longe de serem considerados falcatruas.

      Mas… esperar o que de um pateta retardado desonesto?

  4. Eike JAMAIS foi empresario

    Eike JAMAIS foi empresario modelo, sempre foi um “promoter” de power point, nunca produziu nada a não ser ideias.

    O seu mundo e palco era o de celebridades da midia, encantou alguns investidores e politicos, armou operações com fundos de pensão, BNDES, captou dinheiro de americanos mas sempre foi um construtor de castelos de cartas.

    O grosso dos empresarios tradicionais nunca apostoaria dez centavos nele. Sua imagem e fama derivou da longa carreira do pai na Vale, foi isso que o cacifou de inicio, mas por favor sem essa de empresario modelo, sequer empresario foi.

  5. Bolacha não é Biscoito, Biscoito é Globo.

    Mesmo no país em que, puta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante cheira e pobre é de direita, não dá para aceitar a imparcialidade de que “há quem chame biscoito de biscoito” e que há quem chame biscoito de bolacha, pois biscoito é Globo, não bolacha, e Globo não é imparcial, daí que, imparcialmente, de fato e direito: Bolacha é bolacha, mas há quem chame bolacha de biscoito, sem globo.

    Menos mal.

    E o Eike, biscoito Globo?      

  6. As prisões das figuras

    As prisões das figuras envolvidas na Lava Jato se tornaram uma espécie de Campeonato Brasileiro de Futebol: as pessoas vibram como o fariam caso o time do seu coração tivesse feito um gol. Razões de direito, direitos fundamentais, legislação? Nada disso interessa, diante do show. Eike era uma celebridade do ramo da auto-ajuda, um papa dos negócios, vez que figurou na lista de homens mais ricos do mundo. Ontem o Jornal Nacional exibiu pessoas lhe dando apoio no embarque para o voo que se encerraria com sua prisão – ou seja, tem os que torcem a seu favor. Se Lula for preso, haverá quem vibre. Como existirá quem passe a semana comemorando a conquista de um título caso se dê a prisão de um Aécio Neves – ou de um José Serra da vida, por que não? De nada importarão os motivos, a fundamentação, etc. Só conta marcar pontos no torneio da Lava Jato. O Brasil, definitivamente, não é sério. A Lava Jato e seus múltiplos desdobramentos são o novo carnaval.

    Acham que ele se entregou de graça? Pois eu não. Todos ganham nessa estorinha: os “homens do Direito” criam um fato bombástico, para bom consumo da massa no Jornal Nacional, e Eike teve negociada a concessão de bons benefícios caso se dê de fato a sua esperada delação. Quem viver verá, meus caros. “Não existe almoço grátis.” Eike não se deixou prender à toa. Está tudo pago – e bem pago. O carnaval segue em frente, com tudo!

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