A política nacional e o fator Minas

Depois de São Paulo, o estado-chave para definir o novo quadro partidário será Minas Gerais. Inclusive por ser decisivo para o futuro político da maior esperança do PSDB: Aécio Neves.

Aparentemente, Aécio está em seu melhor momento, pronto para herdar a estrutura do PSDB. Mas, ao mesmo tempo, está exposto à maior vulnerabilidade de sua carreira política.

Se seu candidato Antonio Anastasia for derrotado, mesmo sendo o senador mais votado do país Aécio perderá a estrutura partidária em Minas. E, no restante do país, não existe uma estrutura partidária Aécio. Ele sempre foi um líder individualista, não um articulador de bases partidárias. Beneficiou-se da onda Tancredo e dos anos dourados do PSDB, foi um eficiente presidente da Câmara, e aproveitou bastante o cargo de governador de Minas. Mas esse tempo passou. Perdendo Minas, não irá para o limbo, mas voltará 15 anos no tempo.

Nesse caso, dificilmente evitará que o PSDB passe para as mãos de Geraldo Alckmin, caso este vença as eleições para o governo de Sâo Paulo. Alckmin não tem fôlego para conduzir um partido nacional mas quem o conhece sabe que dificilmente aceitará ser conduzido por qualquer outra liderança partidária. Aí, a reconstrução da oposição levará muito tempo para se completar e não será ancorada no PSDB, principalmente se ocorrer a redução prevista em sua bancada parlamentar.

Obviamente, todo esse cenário depende dos resultados das eleições mineiras.

As eleições mineiras

Do lado de Hélio Costa, a avaliação é que Anastasia empacou nos 18% há seis meses e que, além de ter demorado muito a entrar na campanha, Aécio ocupou um espaço prejudicial ao seu candidato: brilha demais, aparece em todo material de campanha, impedindo o leitor de conhecer melhor Anastasia. Mesmo assim, pesquisas qualitativas atestam o excelente potencial de transferência de votos de Aécio para Anastasia.

Ocorreu a mesma coisa com Márcio Lacerda, cuja candidatura só conseguiu deslanchar na undécima hora quando saiu para o primeiro plano.

Há um paradoxo curioso nas pesquisas qualitativas. Aécio é sempre muito bem avaliado. Mas quando se entram em temas específicos – saúde, educação, segurança – cai a boa avaliação. A análise da campanha de Hélio, no imaginário do mineiro há um choque bom, do Aécio, e um choque ruim, do Anastasia – salários baixos para o funcionalismo etc. Inclusive devido ao fato de Aécio ter transferido o cargo para Anastasia com uma bomba no meio: greve do funcionalismo. Nem a mão pesada de Andréa Neves – primeira-irmã – prejudicou a imagem de Aécio.

Tudo dependerá do horário gratuito e do desempenho de Anastasia.

Dos homens públicos que conheço, não tenho dúvida em classificá-lo como o mais articulado. Além disso, conhece Minas na palma da mão. Foi a Dilma do Aécio, monitorando todos os planos de ação. Mas em televisão nem sempre é o conteúdo e a fluência que fazem a diferença. Daí a incógnita do horário gratuito.

Uma coisa é certa: se Anastasia for eleito governador, assim como Dilma não será nem poste nem interino: assumirá integralmente as funções. 

O quadro partidário

Aí se entra em uma equação complicada. Com Dilma ganhando e se Anastasia for derrotado, dificilmente o PSDB sobreviverá como força autônoma. José Serra e FHC serão cartas fora do baralho. Aécio terá que reconstruir sua liderança em uma base mais ampla.

E como ficará Minas nisso?

A aliança Hélio Costa-Patrus Ananias tem estimulado seus seguidores a imaginar que de Minas sairá a semente de consolidação de um novo eixo partidário, da aliança PT-PMDB.

Até então, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel controlava a máquina do partido, alijando Patrus Ananias. Com a aliança para o governo do Estado, Patrus recuperou espaço. Em caso de vitória da chapa, se incumbirá da área social do governo, podendo repetir o feito do Bolsa Família. E se projetará como nome forte no cenário nacional.

De seu lado, embora enfraquecido pelos episódios recentes da campanha e de ter poucas chances nas eleições para o Senado – está em terceiro em Minas, b em atrás de Aécio e Itamar Franco – Pimentel deverá ser um dos homens fortes do governo Dilma. 

Tudo isso leva a uma situação de extraordinária imprevisibilidade e riqueza sobre o quadro partidário pós-Lula. O eixo sairá de Sâo Paulo para onde? Para Minas? O lulismo conseguirá ampliar o leque do petismo, com a incorporação de quadros de outros partidos? Há espaço para um novo partido, com as lideranças não-petistas que emergirão nacionalmente das eleições: Aécio, Eduardo Campos, Sérgio Cabral?

Luis Nassif

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