Das explicações insuficientes sobre o IBOPE

Do Estadão

Análise: Propaganda do governo neutralizou programa tucano

José Roberto de Toledo*

Na batalha da propaganda, Dilma Rousseff (PT) ganhou o primeiro round de José Serra (PSDB). A candidata petista passou à liderança isolada da corrida presidencial justamente no período em que o tucano concentrou sua propaganda na TV e no rádio. Aumenta assim a pressão para Serra mudar de estratégia e de discurso.

Enquanto PSDB e aliados colocaram Serra em evidência nos programas partidários obrigatórios, o governo federal e a Petrobrás marcaram presença nos horários de jogos e programas da Copa do Mundo, com spots otimistas sobre o Brasil. Mesmo sem mostrar Dilma, a propaganda oficial parece ter funcionado como antídoto à dos tucanos.

O resultado desse embate de comunicação antecipa o que poderá acontecer a partir de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito, se Serra mantiver a estratégia atual. Além de Lula dizendo que seu nome é Dilma, a petista contará com cerca de 40% a mais de tempo de propaganda do que seu adversário.

Serra precisará decidir como vai ocupar seu tempo de TV. O discurso adotado até agora (o Brasil melhorou, mas pode melhorar mais) não está lhe dando um voto além dos que ele tinha. Mais: não está conseguindo segurar os eleitores que aprovam o governo Lula, mas votavam no tucano.

Em março, segundo o Ibope, só 58% dos eleitores sabiam dizer que Dilma era a candidata de Lula. Esse porcentual cresceu mês a mês, até chegar, agora, a 73%. Ao mesmo tempo, a petista foi ultrapassando Serra entre os que dão nota 10 ao governo, depois entre quem dá nota 9 e assim por diante.

Ainda há cerca de um quarto dos eleitores que desconhecem a ligação de Dilma ao presidente. E a intenção de voto da petista parece crescer na proporção da redução desse grupo. Ou seja, ela ainda pode ganhar alguns pontos com a propaganda eleitoral apenas conectando seu nome ao de Lula. Nesse cenário, resta a Serra mudar de estratégia, partindo para o ataque, ou esperar por um erro da adversária. Ambas as opções são arriscadas. Como Marina Silva (PV) permanece estacionada no patamar de 10% das intenções de voto, é necessário que Dilma ou Serra abram 10 pontos de vantagem um sobre o outro para vencer já no 1.º turno. A petista percorreu metade desse caminho até agora.

*É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM REPORTAGENS COM USO DE ESTATÍSTICAS 

Comentário

É complicado esse tipo de análise feita pelo especialista do Estadão – e, em geral, pelo Datafolha. É como o comentarista esportivo que monta as explicações depois do resultado fechado do jogo.

A aprovação do governo Lula continuou a mesma da última pesquisa. Se continuou a mesma, significa que a percepção do eleitor sobre Lula não foi afetada pela propaganda da Petroibrás – que se explica pela Copa do Mundo, não pelas eleições. Se não mudou a percepção do eleitor sobre Lula, porque mudaria sobre sua candidata?

Na outra ponta, o horário gratuito promoveu o candidato, propaganda direta na veia – como devem ser, aliás, as propagandas eleitorais. Dizer que a propaganda foi anulada pelos comerciais de empresas públicas é forçar a barra. Assim, a análise fica muito próxima do nível de palpites de bar.

Na verdade, o jornalista se baseou na análise competente de Márcia Cavallari, do IBOPE, que afirmou que houve diluição da propaganda gratuita pela Copa. E ele, Toledo, concluiu que o efeito eram dos comerciais sobre o país. Ora, o efeito da Copa são os jogos, não os comerciais. E Márcia continua presa a questões pontuais, sem a visão de conjunto do Vox e do Sensus.

A análise de outros comentaristas de que Serra perdeu espaço por não criticar Lula também não bate. O último mês foi de críticas permanentes contra Lula – algumas consistentes, como aquelas contra a política monetária do BC. E houve ênfase total dos jornais – puxados pela Veja e Folha – de criar o factóide do dossiê.

Como Dilma conseguiu crescer mesmo assim, conclusão óbvia (já externada por Marcos Coimbra, do Vox Populi): imprensa escrita não tem a menor influência sobre o eleitorado. Tem apenas sobre seus leitores, a chamada opinião pública midiática que passa a recorrer cada vez mais a blogs.

Luis Nassif

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