Lacerda quer que chova e que Lula vá embora

Apesar de aparecer com 16 pontos de vantagem sobre Patrus Ananias (PT) na pesquisa Datafolha divulgada ontem, o candidato à reeleição Marcio Lacerda (PSB) não abre mão dos ataques ao principal opositor na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte. Contrariando os manuais de marketing político mais ortodoxos, segundo os quais o candidato que está à frente nas sondagens não deve “bater” no oponente, a equipe de Lacerda parece bem mais atenta às ações dos adversários do que esteve há quatro anos. Além de afirmar que vai responder na justiça aos ataques que sofrer através da internet, Marcio tem feito duras críticas à gestão de Ananias (que foi prefeito de Belo Horizonte entre 1993 e 1996).

Marcado para a noite de amanhã (31/08), na Praça da Estação, o comício de Patrus ao lado do ex-presidente Lula já causou polêmica antes mesmo de acontecer. Isso porque o prefeito atual disse que “vai rezar” para que chova bastante amanhã, para atrapalhar o evento do adversário. Depois da resposta indignada de Patrus, que considerou a fala uma falta de respeito a Lula e uma atitude antidemocrática, Lacerda assegurou que estava brincando quando declarou desejar a chuva.

Embora demonstre incômodo com a presença de Lula na campanha da capital mineira, Lacerda minimizou a importância deste apoiador para a conquista de votos. Segundo reportagem publicada no Portal Uai, ele acredita que seu “padrinho”, o ex-governador de Minas Gerais e atual senador Aécio Neves (PSDB), tem tanto poder de influenciar a decisão de voto dos belo-horizontinos quanto Lula. Lacerda afirmou ainda que a presença de Lula no HGPE de Ananias é tão excessiva que se corre o risco de os eleitores pensarem que o candidato é Lula.

O que Lacerda parece não ter considerado é que recebeu, em 2008, tanto o apoio de Aécio quanto o de Fernando Pimentel, prefeito anterior a ele, e que as primeiras semanas de seu horário eleitoral em 2008 foram ocupadas majoritariamente pelos dois padrinhos bem avaliados.

Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A cabeça do eleitor, a “transferência de votos” acontece apenas quando o apoiador ocupa/ocupou o mesmo cargo que o postulante tenta conquistar – desde que o governo do apoiador seja bem avaliado. O que chamamos de transferência de votos seria, então, desejo de continuidade.

O eleitor decide eleger o candidato indicado pelo governante popular porque é esse candidato quem dará continuidade ao governo bem avaliado. Assim, muitas vezes a suposta transferência de votos é confundida com o desejo de continuidade. São duas coisas diferentes e, não há dúvida, o desejo de continuidade é muito mais efetivo em uma eleição do que a transferência de votos (ALMEIDA, 2008, p. 21).**

O desejo de continuidade pode levar Marcio Lacerda à reeleição, assim como a vontade de resgatar um “governo do povo” pode ser a tônica para a vitória de Patrus Ananias. A escolha dos eleitores de BH parece estar condicionada à resposta que as equipes de campanha darão a duas questões: o governo de Lacerda está bom? Se sim, é melhor que o de Ananias? Neste sentido, o candidato petista tem o desafio de apresentar suas realizações passadas aos mais jovens, já que seu mandato acabou há quase duas décadas.

Pelo que se observa dos primeiros programas do horário eleitoral, ambos os postulantes parecem querer incutir nos eleitores a ideia de que estes devem pensar no futuro – mas que, para decidirem quem será o melhor garantidor de um amanhã melhor, precisam analisar os currículos dos candidatos, naturalmente repletos de referências a um passado mais ou menos recente e vivo na memória do eleitorado belo-horizontino.

 

Nayla Fernanda Andrade Lopes é graduada em Jornalismo e pós-graduada em Comunicação Empresarial pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e especialista em Marketing Político pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, cursa o mestrado em Ciência Política, também pela UFMG, e integra o Grupo de Pesquisa Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral (http://www.opiniaopublica.ufmg.br), com sede na UFMG.


** Referência: ALMEIDA, Alberto Carlos. A cabeça do eleitor: estratégia de campanha, pesquisa e vitória eleitoral. Rio de Janeiro: Record, 2008.

 

 

Redação

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