O preconceito como arma política

Por Jotavê

O moralismo, hoje, não passa de uma racionalização do preconceito de classe.

Nada explicar o ódio da imprensa conservadora ao governo Lula, a não ser o preconceito. José Serra é, hoje, o candidato que propõe uma ruptura com o modelo econômico implementado no governo Fernando Henrique e seguido, no seu núcleo mais essencial (câmbio e juros), pelo governo Lula. É Serra, e não Dilma, que vocaliza um discurso que se opõe frontalmente a tudo aquilo que articulistas como Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg escrevem todo santo dia nos jornais. O atrito com Miriam Leitão durante a entrevista na CBN foi emblemático. Os dois têm pensamentos opostos. Apesar disso, Serra é o candidato de Miriam, de Sardenberg e de toda a imprensa conservadora que passou os últimos quinze anos defendendo exatamente o tipo de política econômica que Serra está criticando. É coisa de maluco. Só encontro uma explicação para isso: essas pessoas estão, acima de tudo, interessadas em apear do poder um grupo que se organiza em torno de uma pessoa mal nascida, monoglota, “apedeuta”, como se costuma dizer. Têm preconceito. São movidas por esse preconceito. Só que não podem confessá-lo aos outros, nem a si mesmas. Fazem o que, então? Racionalizam, e expressam suas emoções mais básicas de forma enviesada. Montaram um discurso moralista que pretende salvar a nação de um suposto bando de petistas canalhas – os “petralhas”.

Como todo moralismo, é pobre e, acima de tudo, hipócrita. Economiza-se a discussão propriamente política, para jogá-la no campo da moral e dos bons costumes, como se estivéssemos assistindo a uma batalha do bem contra o mal. Pouco importa o tipo de proposta que Serra esteja vocalizando. Importa mais o tipo de homem que ele é – uma pessoa culta, que fala várias línguas e tem hábitos semelhantes aos de seus apoiadores.

Esse tipo de discurso preconceituoso só cola, naturalmente, em quem é movido pelos mesmos preconceitos que os articulistas que o veiculam. Quem não aceita esse tipo de postura é levado a adotar uma posição reativa. Eu gostaria de estar aqui elogiando José Serra o tempo todo, pois concordo plenamente com o tipo de proposta que ele está fazendo para a condução da economia de um país que está se desindustrializando por conta de uma política cambial suicida e gasta quase tudo que arrecada no pagamento de juros. Gostaria, mas não posso. Mesmo concordando com Serra quando ele fala de economia, sinto-me impedido de fazer coro ao preconceito de classe da grande imprensa. Não consigo compactuar com a fábrica de mentiras que se montou em torno da candidatura Serra. O que é que se espera? Que eu leia uma reportagem como a que a Folha publicou sexta-feira passada e fique quieto? Que eu acredite que existe um “DNA da corrupção” determinando o fenótipo político dos petistas? Que eu perceba que o Brasil tem que voltar para a mão de gente que fala inglês direitinho? Posso até acabar votando em José Serra (eu sei lá em quem vou votar!), mas jamais farei coro a esse tipo de discurso. É uma alegria ver um operário governando o Brasil – e governando tão bem. Para além de qualquer crítica que eu possa fazer ao governo de Lula, é uma alegria ver realizado, nele, o ideal mais alto da democracia – a possibilidade que ela dá a qualquer cidadão de chegar ao poder pelo voto e governar o país. 

Luis Nassif

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