Onde procurar a oposição?

Com a candidatura Serra em parafuso e a probabilíssima vitória da Dilma, o debate quanto ao futuro governo e sua respectiva oposição já veio à tona. Alguns já falam que o Aécio ou a Marina poderão capitanear as forças políticas do espectro mais conservador, à direita, e reconstruir uma plataforma política que sirva de contraponto ao acachapante poderio da situação petista.

Será? Haveria espaço para uma direita mais consistente e programática capaz de fazer oposição de fato aos seguidos governos de CENTRO-esquerda comandados pelo PT. Creio que não.

Primeiro, porque os dois governos de Lula foram antes de mais nada governos que avançaram no desenvolvimento do capitalismo no Brasil – no que fizeram muito bem. É verdade que houve algum avanço nas políticas sociais, mas bastante limitados e distantes do ideário socialista ou mesmo social-democrata – lembremos que os programas de transferência de renda habitaram originalmente os sonhos dos ultraliberais, sob o argumento de que o Estado é um péssimo alocador de recursos e que, portanto, deveria se abster de prestar serviços e se limitar a distribuir dinheiro aos miseráveis.

Mas, fundamentalmente, o que houve de mais positivo nos governos Lula – principalmente no segundo – foram as estratégias de recolocar o Estado como protagonista do nosso desenvolvimento capitalista, sem permitir, contudo, que esse passo fosse dado às custas dos de baixo.

Segundo, porque a possível Presidenta Dilma, deve aprofundar aqueles aspectos desenvolvimentistas, em um contexto macroeconômico de longo prazo aparentemente ainda mais favorável do que teve o Lula. O amadurecimento dos investimentos do pré-sal e a consequente tranquilidade quanto à nossa histórica vulnerabilidade externa deverão abrir janelas de oportunidades que nos colocarão definitivamente no primeiro time das nações de industrializadas. Com isso, milhões saíram da pobreza e viveremos, provavelmente, nossos anos dourados, com uma larga classe média tratando de arrumar sua vida.

Pois bem, nesse quadro, onde encontrar forças à direita, capazes de avançar no voto? A não ser por alguns arroubos moralistas, que sempre hão de pipocar e encontrar algumas dúzias de entusiastas, que mais poderão clamar? Sinceramente, a não vejo essa trupe com capacidade de constituir uma oposição de fato.

Por outro lado, acho sim que se poderia pensar num espaço de oposição à esquerda. Não falo dos partidos que reúnem udenistas jacobinos ou socialistas dogmáticos, como os PSTUs ou PSOLs da vida. Mas, talvez, pudesse se pensar numa oposição mais crítica, que questione os valores (ou a falta deles) que permeiam a vida sob a égide do mercado, que questione de forma mais sistemática a distribuição do tempo livre na nossa sociedade, que proponha uma universalização radical da saúde e da educação, que enfrente a caótica hegemonia dos automóveis e dos transportes privados, que proponha reformas urbanas de grande envergadura, não só para melhorar a vida nas grandes cidades, mas também para gerar empregos e salários em grande escala; … enfim, há certamente uma imensa pauta “progressista” que pode servir à construção de um discurso consistente de oposição.

Os governos de Lula, e provavelmente da Dilma, corretamente, caminharam e caminharão sobre o estreito fio da governabilidade que, no caso do Brasil de hoje, significa fazer desse país uma forte economia capitalista – como inclusive sugeria Marx! Por isso, ocupam o centro e deixam irrequieta a direita. Mas, uma oposição moderna, à esquerda, certamente faria bem, facilitando inclusive a vida dos que governam pelo centro, com esporádicas trupicadas à esquerda.

Redação

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