Elementos para uma discussão sobre o momento político, por Margot Riemann

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Elementos para uma discussão ampla

por Margot Riemann

Comentário ao post “Lula, Ciro e a frente das esquerdas, por Luis Nassif

Algumas peças adicionais para o xadrez:

1)      O Brasil segue sendo um dos países mais desiguais do mundo graças a uma sofisticada engrenagem política, onde a mídia joga um papel central.

2)      No Brasil a distância entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres era em 2009 19 vezes (caiu em 2014 para 16 vezes); na União Europeia (25 países) essa distância é em média 5,5 vezes.

3)      A concentração de renda historicamente tem sido alavancada pelo Estado. Tivemos sempre um “Estado social para os ricos”. O maior exemplo é a política de juros, mas não apenas. As políticas educacionais, transportes, habitação, saúde etc. sempre foram de péssima qualidade quando destinadas aos pobres. Diferentemente do investimento público nos espaços dos ricos, receita federal, detrans, aeroportos, câmaras legislativas, tribunais. Por que são horrorosas as prisões? Porque lá só tem pobre.

4)      Na era da globalização, com uma competição cada vez mais acirrada, com renda sendo apropriada globalmente e em larga escala por diminutas e poderosas elites, a ascensão social está cada vez mais difícil. Para as classes altas e médias, o acesso direto às benesses do Estado e a manutenção da engrenagem da exclusão, passa a ser uma luta de vida ou morte. Não há na globalização um lugar ao sol para todos.

5)      O petismo ameaçou a engrenagem da concentração de renda e da exclusão. Democratizou oportunidades, aproximou os mais pobres dos mais ricos. São inúmeros os exemplos, a começar pelas cotas de 50% nas universidades. Um duro golpe para a classe média que se sacrificou anos a fio para colocar o filho no curso de medicina e agora disputa apenas metade das vagas e não tem dinheiro para pagar uma faculdade privada caríssima … Por isso a classe alta e média é visceralmente antipetista. 

6)      Não foi a política conciliadora de Lula que fracassou, e sim o voluntarismo de Dilma que partiu para o confronto (baixando juros, tarifas de energia, taxas de cartão de crédito) sem ter articulação política que bancasse as medidas. A conciliação de Lula garantiu na verdade as três (re)eleições.

7)      O governante não é dono do Estado. Há uma tendência a superestimar a margem de manobra nos países da periferia porque aqui o Estado tem atuação decisiva em áreas nevrálgicas da economia (câmbio, infraestrutura, ordenamento jurídico ainda em construção, sem falar no peso das estatais). Mas, mesmo sendo mais atuante que nos países do centro, qualquer medida que confronte os grupos econômicos hegemônicos, ainda que marginalmente, exige uma mudança de correlação de forças no cenário político. Não existindo essa mudança, fatalmente o governante entrará num impasse e terá que se curvar ao status quo. E aí não adianta ser voluntarista.

8)      As teses do Ciro são boas. Mas não me parece um político muito talentoso. Não consegue sequer agregar o(s) partido(s) por onde andou. Não há comparação com o Lula. São anos luz de distância.

9)      O problema é que o Lula e o PT encarnam a luta pela inclusão social, tudo que as classes médias e altas não querem. Mas isso não deve ser um obstáculo intransponível, acertando-se a mensagem como um todo.

10)   Um programa de governo tem que conciliar interesses da grande maioria. Os confrontos devem alvejar pequeníssimas minorias. A política de juros; as mordomias dos legislativos; a desnacionalização.

11)   Quanto ao grande confronto dos historicamente excluídos, dos 50% mais pobres contra os 20% mais ricos, o protagonismo tem que ser do próprio povo e o mercado tem que ser trazido para o centro da briga. Não cabe ao governante encabeçar  essa luta, e sim apoiá-la.

12)   Juntamente com as igrejas, é a grande mídia que forma e molda os consensos políticos. Um projeto de governo sem um projeto de mídia é perda de tempo.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. Rever as estratégias é
    Rever as estratégias é essencial também.

    http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-03-03/informe-do-dia-pt-quer-apoio-de-paes-e-picciani-a-lula-em-2018.html

    Informe do DIA: PT quer apoio de Paes e Picciani a Lula em 2018

    Presidente estadual do partido, Washington Quaquá tem conversado com os peemedebistas

    03/03/2017 11:00:52
    PAULO CAPPELLI
    Rio – Presidente do PT-RJ, Washington Quaquá tem conversado com o ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB) e com o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), em busca de apoio a Lula na eleição presidencial do ano que vem.

    Segundo Quaquá, o enfraquecimento do governo Pezão não interessa ao PT. “Temer quer tirar o Pezão e botar algum anti-Lula no Rio, como por exemplo o Luiz Paulo (PSDB). Não vamos apoiar isso. O Pezão não é anti-Lula.”

    Alguns aliados de Pezão concordam com o petista. “Temer permitiu a penhora de recursos do estado e a retirada das tropas do Exército. Esses fatos corroboram a tese”, diz uma fonte do Palácio Guanabara. Vale lembrar que Pezão e o presidente Temer são do mesmo partido, o PMDB.

    Salada mista

    O curioso é que Picciani foi justamente um dos articuladores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no ano passado. E Leonardo (PMDB), filho de Picciani que votou contra o afastamento da petista, é hoje ministro dos Esportes de Temer.

    Eleições

    O acordo pode envolver o apoio do PT a Eduardo Paes ao governo do estado em 2018. Tudo depende do partido pelo qual o ex-prefeito disputará a eleição ao Palácio Guanabara.

    Opções

    O peemedebista tem recebido convites para migrar tanto para partidos mais à esquerda, como o PDT, quanto mais à direita, como o DEM. Paes também tem conversado com Aécio Neves, presidente nacional do PSDB. Permanecer no PMDB, dizem amigos do ex-prefeito, é o menos provável. Outro fator determinante é saber até que ponto a Lava Jato poderá comprometer Paes.

    Divergência

    Já um importante nome do PMDB-RJ discorda da versão de Quaquá. “O Temer já tem muitos problemas para resolver. Não vai gastar energia para alterar, hoje, o cenário político do Rio.”

    Nas ondas do rádio

    Com pretensão de disputar o governo ou o Senado ano que vem, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) estreia programa na Rádio Tupi, dia 13. Promete não falar de política. Será que consegue?

    O laudo do samba

    O vereador Jorge Manaia (SD) quer que escolas de samba tenham seus carros alegóricos vistoriados antes de entrar na Sapucaí. Pelo projeto de lei que enviou ontem à Câmara Municipal, as agremiações teriam que contratar empresas ou profissionais habilitados no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea). E só poderiam desfilar após a emissão de laudo técnico.

  2. Mídia

    “Um projeto de governo sem um projeto de mídia é perda de tempo.”

    Penso igual. E por conta disso, vou encher o saco na internet com a seguinte mensagem:

    Que em toda e qualquer manifestação política pública, de comícios à manifestações (dos partidos de esquerda, do MST, MTST, GLBTs, sindicatos, movimento negro, de periferia e demais movimentos sociais e políticos alinhados contra o golpe, incluindo aí músicos, atores, artistas de maneira geral), se divulguem a mídia independente, os “blogueiros sujos” (DCM, GGN, PHA, Brasil 247, Vermelho, Vi o Mundo, Mídia Ninja, Jornalistas Livres, TVT, Cafezinho, etc, etc).

    Não descansarei enquanto não ver o Lula em comício pedindo para as pessoas acessarem os “blogueiros sujos”, para entrarem na mídia independente, e dizer o nome dos blogues, e dar o endereço das páginas.

    Se não for assim, se não bater de frente com a grande mídia, e nossas armas são as mídias independentes, estaremos todos fudidos.

  3. Mídia

    “Um projeto de governo sem um projeto de mídia é perda de tempo.”

    Penso igual. E por conta disso, vou encher o saco na internet com a seguinte mensagem:

    Que em toda e qualquer manifestação política pública, de comícios à manifestações (dos partidos de esquerda, do MST, MTST, GLBTs, sindicatos, movimento negro, de periferia e demais movimentos sociais e políticos alinhados contra o golpe, incluindo aí músicos, atores, artistas de maneira geral), se divulguem a mídia independente, os “blogueiros sujos” (DCM, GGN, PHA, Brasil 247, Vermelho, Vi o Mundo, Mídia Ninja, Jornalistas Livres, TVT, Cafezinho, etc, etc).

    Não descansarei enquanto não ver o Lula em comício pedindo para as pessoas acessarem os “blogueiros sujos”, para entrarem na mídia independente, e dizer o nome dos blogues, e dar o endereço das páginas.

    Se não for assim, se não bater de frente com a grande mídia, e nossas armas são as mídias independentes, estaremos todos fudidos.

    1. Primeira correção. Eliminar a

      Primeira correção. Eliminar a denominação “bloqueiros sujos” que denota ruins. Lembre-se, a internet é vista por todos, não apenas “enturmados”. Tente explicar a alguém que “bloqueiros sujos” são os bons…

    2. Camilo, arrumei 5 estrelinhas

      Camilo, arrumei 5 estrelinhas pra vosmecê, pela sua sugestão:

      …”Não descansarei enquanto não ver o Lula em comício pedindo para as pessoas acessarem os “blogueiros sujos”, para entrarem na mídia independente, e dizer o nome dos blogues, e dar o endereço das páginas.”…

      Orlando

       

       

  4. Margot,

    excelente a sua argumentação complementando o que escreveu Nassif. Sinto falta de suas análises lúcidas em minhas colunas. Mas acabo de ler um post no FB da idolatrada aristocrata, professora, escritora e colunista do Valor, Eliana Cardoso, que me fez pensar sobre o seu “perda de tempo”. Segue:

    “Não entre em pânico. Se Temer cair, será substituído por um presidente escolhido pelo Congresso. Isso poderia atrasar as reformas, mas não seria o fim do mundo. Muito do barulho “fora Temer” visa apenas evitar o reconhecimento pelo PT de seus erros. O PT passou seus anos iniciais denunciando a captura do Estado pelos interesses privados. Depois, no poder, pariu o “Estado-Odebrecht” sob as asas de Lula. Hoje investe no caos político, enquanto tenta boicotar a lava jato: triste história a qual soma o uso descarado da hipocrisia”.

    Diante disso, Margot, nada que venha da esquerda, fracionada, unida, bêbada ou festiva, é perda de tempo. Perdas está sofrendo o País, em destruição, enquanto predomina um acordo secular em que falar de pobreza é proibido nos salões frequentados em Oxford e Cambridge pela eminente professora, que cavalga ares prepotentes e forma um séquito de imbecis que garantem os 12 pontos por você enunciados.

    Grande abraço

  5. antes de ir embora…

    No GOLPE do Impeachment da presidente eleita Dilma Roussef, não existe REMENDO que conserto o pano.

    A macheza dos VELHOS, LADRÕES, ASSASSINOS, que queriam controlar o país, mostrou a sua CARA IMUNDA. Eles que vão mandar, nas velhas deles, igualmente LADRAS DE VIDA FÁCIL E ASSASSINAS.

    Se não for publicado ou demorar para ser, o que importa é a AÇÂO de CADA INDIVÍDUO, NO ENFRENTAMENTO DE BANDIDOS, MESMO QUE DE “PASTORES” VENHAM TRAVESTIDOS. Pois a todos estão mostrando suas imundíces e logo não terão nenhum controle sobre a divulgação das mesmas, se é que ainda têm algum.

     

  6. “Quanto ao grande confronto

    “Quanto ao grande confronto dos historicamente excluídos, dos 50% mais pobres contra os 20% mais ricos, o protagonismo tem que ser do próprio povo e o mercado tem que ser trazido para o centro da briga. Não cabe ao governante encabeçar  essa luta, e sim apoiá-la”.

    MATOU,MITOU,FRITOU,FERVEU,ARREBENTOU!

  7. Só não foi 100% porque faltou

    Só não foi 100% porque faltou citar o tal “republicanismo” como um dos erros fatais do governo Dilma. Perfeito a frase:  

    “o protagonismo tem que ser do próprio povo e o mercado tem que ser trazido para o centro da briga. Não cabe ao governante encabeçar  essa luta, e sim apoiá-la.”

    É no sucesso de movimentos como MTST e secundarista que reside a esperança da esquerda. E se houver uma sinergia com o Lula, aí o bicho pega

  8. Sei lá …

    Sei lá , só o termo “projeto” me assusta , acho que a mídia tem de ser livre e o mais plural possível , como fazer isto não sei mas estou certo que passa longe do governo.

  9. Elementos para uma discussão sobre o momento político, por Margo

    – Primeiramente FORA temer, USURPADOR, BANDIDO PROFISSIONAL E TUDO QUE NÃO PRESTA !!!

    – MANIFESTO PRÓ LULA PRESIDENTE 2018

    http://www.peticaopublica.com.br/psign.aspx?pi=BR97926

    –  Não faz o mínimo sentido colocar o ciro gomes nesse grupo, ele não é confiável. É destemperado, desequilibrado, falso,
    está tentando arrumar-se. Não tem programa que valha a pena. Já xingou e humilhou o LULA via youtube. Fora ciro!!!

  10. Como?

    “Quanto ao grande confronto dos historicamente excluídos, dos 50% mais pobres contra os 20% mais ricos, o protagonismo tem que ser do próprio povo e o mercado tem que ser trazido para o centro da briga. Não cabe ao governante encabeçar  essa luta, e sim apoiá-la”.”

    Fácil este discurso. A culpa é do povo!  O governante não pode fazer nada já que o protagonista é o povo! Esquece tudo que constrói a opinião pública e faz uma ode à democracia, quando está na cara que esse papo de democracia é a maneira torpe do capital impedir a revolta e a revolução. O governante pode e deve ser o protagonista da mudança, ideologizando, mostrando ao povo o que quer e o que o discurso do capital, representado pela mídia, deseja. Essas contradições precisam ser clarificadas para que mais e mais pessoas, cidadãos, possam ter uma opinião de acordo com seus anseios e lutem em apoio ao governo que busca a diminuição da desigualdade da única forma possível: tirando dos ricos.

  11. Projeto de mídia: sufocar a

    Projeto de mídia: sufocar a Globo, deixando-a sem verbas públicas. Sem comunicação com os 50% mais pobres, não há como trazê-los para a defesa de seus interesses. Essa comunicação pode não acontecer com a Globo atuando livremente, exercendo seu poder de controle e manipulação das informações. O caminho definitivo é investir em educação que humaniza e conscientiza para a cidadania, mas é projeto de longo prazo. A curto prazo, é necessário desfazer o poder da Globo. 

  12. QUEBRA DO MONOPÓLIO DA MÍDIA.

    A decisão passa pela regulamentação do Parágrafo 5º do Artigo 220 da Constituição, do Capítulo V que trata da Comunicação Social.O Parágrafo 5º cita que ‘Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio’. Falta detalhar, aí está a brecha.

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