Em 1986, ação de Jucá na Funai incentivou garimpo e prejudicou Yanomamis

Por João Fellet, via Facebook

Em 1986, quando Romero Jucá presidia a Funai, o governo federal ampliou uma pista de pouso em território do povo Yanomami, fazendo com que o número de garimpeiros na área alcançasse 40 mil. Em vez de conter a atividade, Jucá a estimulou, segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade:

“Não há um número oficial de mortos em decorrência dessas invasões, mas se estima que chegue aos milhares. Comunidades inteiras desapareceram em decorrência das epidemias, dos conflitos com garimpeiros, ou assoladas pela fome. Os garimpeiros aliciaram indígenas, que largaram seus modos de vida e passaram a viver nos garimpos. A prostituição e o sequestro de crianças agravaram a situação de desagregação social.”

Segundo o relatório, a gestão de Jucá na Funai foi “o caso mais flagrante de apoio do poder público à invasão garimpeira”.

Os efeitos trágicos ampliaram a cobrança internacional para que os garimpeiros fossem expulsos e o território Yanomami, demarcado. Diante da pressão, Jucá expulsou ONGs e missões religiosas estrangeiras que atuavam no atendimento à saúde dos indígenas, alegando que os grupos estavam insuflando as comunidades contra os garimpeiros. Também foram expulsos profissionais de saúde brasileiros que atendiam regularmente no território.

Os conflitos com os garimpeiros – e as mortes decorrentes deles – se multiplicaram. Sem qualquer atendimento médico no território por um ano e meio, os casos de malária entre os Yanomami cresceram 500% – muitos ocorridos em áreas que jamais haviam registrado a doença. “Só agora está acontecendo, em 2013, que vocês vieram aqui pedir pra gente contar a história. Quero dizer: eu não quero mais morrer outra vez”, disse o xamã Davi Kopenawa à Comissão Nacional da Verdade.

Está tudo documentado no volume 2 do relatório (acessível aqui:http://bit.ly/1YVM0nO). Imagino que em muitos lugares essas denúncias renderiam acusações por genocídio, crimes contra a humanidade, algo assim. Talvez o acusado respondesse por seus atos em algum tribunal internacional, correndo o risco de passar o resto da vida atrás das grades.

No Brasil, Jucá se elegeu senador, virou líder de sucessivos governos no Congresso e foi nomeado Ministro do Planejamento. Só se “licenciou temporariamente” do cargo com o vazamento de uma gravação em que citava um pacto para enterrar outra investigação.

(Em tempo: alguém leu a palavra Yanomami alguma vez no noticiário sobre a queda do ministro?)

Redação

4 Comentários

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  1. É um criminoso de marca

    É um criminoso de marca maior, frio e calculista. Isso deixa a gente indignado. Deveria estar em cana há muito tempo atrás.

  2. Como é que um cara desses

    Como é que um cara desses presidiu a Funai? É a raposa tomando conta do galinheiro.

    Aliás, quem é que vai (ou foi) pra Funai no governo Temeroso?

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