Entrevista: Luis Nassif comenta 1 ano do golpe

 

https://www.youtube.com/watch?v=dxN7YEU1gJA width:700 height:394

do Psicanalistas pela Democracia

Entrevista: Luis Nassif comenta 1 ano do golpe

Em 17 de abril de 2016, tem início a última fase do golpe parlamentar-midiático-jurídico no país com a votação, na câmara dos deputados, do impeachment da presidente Dilma Roussef, eleita com mais de 54 milhões de votos. Nessa ocasião,  a consolidação do processo de impeachment culminou com o sequestro dos votos de eleitores, brasileiros, que acreditavam na democracia recém conquistada no país e, por isso, compareciam diante das urnas periodicamente a fim de eleger seus representantes.

Esse princípio foi traído e o resultado imediato desse golpe, após a usurpação do voto, foi o início da pauperização e a retirada relâmpago de direitos fundamentais da maioria da população brasileira, que já vivia em condições precárias e limites antes do golpe.

Sem o mínimo de decência, competência e coragem para redistribuir entre os mais ricos os custos da crise nacional, o governo Temer e sua equipe econômica ameaçam a população com mais perdas, caso o pacote de destruição de direitos das classes trabalhadoras não seja aprovado na íntegra.

Se a reforma da Previdência não sair, tchau, Bolsa Família“, estampava o site oficial do PMDB.

Não se envergonham ao sugerir:

 “Olhem, se vocês não aceitarem a chibata teremos de bater com cabo de aço. Aí sim vocês vão ver como dói! Pelo bem do país, e de vocês mesmos, ofereçam docilmente seus lombos!”

Trata-se de mais um pacote de violências que sempre acompanha historicamente as chamadas medidas econômicas no país, mas agora o governo não se envergonha, ao contrário, se orgulha em manifestar abertamente que caberá exclusivamente ao trabalhador os custos da crise e do golpe. Sim, um golpe custa caro, porque é preciso recompensar todas as forças que o apoiaram e, de todas elas, a única excluída explicitamente foi a dos despossuídos, fora dos circuitos da acumulação e da riqueza e dependentes de sua própria força de trabalho.

oikonomia gerencial dos que aparentemente estão apenas administrando a crise promete gerar um acúmulo de capital sem precedentes nas mãos de poucos, à espera de converter isso em poder político sem legitimidade.

Isso encontra hoje, no parlamento, uma usina de criação de mecanismos de acúmulo de fortunas, formas especulativas de patrimonialização de verbas e bens públicos que consagraram e institucionalizaram a submissão de boa parte da população brasileira à hordas de criminosos de terno que, ou roubam e não fazem ou fazem para roubar. Não existe, nunca existiu, o tão propalado e resignado ‘rouba mas faz.’

A votação do impeachment no dia 17 de abril de 2016 foi um espetáculo infame, mas flagrou de maneira extraordinária, quais as forças que ainda devemos enfrentar.

Hoje, o governo Temer já manifestou claramente à que veio. Ele aprofundará a crise, estancará a tímida distribuição de renda, alijará os trabalhadores de direitos e arrancará, de boa parte da população, a possibilidade de viver e sonhar. Milhões serão condenados ao trabalho em troca da mera sobrevivência. (AQUI)

Sen em governos anteriore,s avaliávamos as conquistas sociais como ainda tímidas para uma das nações mais desiguais do mundo, hoje tudo foi reduzido drasticamente a zero.

Em poucos meses, assistimos o retrocesso da população pobre à estágios anteriores de miserabilidade, o aumento do número de desempregados da ordem de milhões, o desrespeito aos direitos humanos se esparramando em todo país e projetos de venda de patrimônios nacionais sem precedentes (AQUI).

Antes do golpe, muitos já adiantavam que ele seria mais profundo e devastador do que o golpe civil-militar de 1964. Eles estavam certos. Ao longo dos últimos 14 anos de democracia, o país provou ser capaz de sair de sua condição de subalternidade diante dos países ricos, estabeleceu novos acordos e alianças capazes de empalidecer as relações de mera subserviência entre norte e sul e principiou um processo de crescimento que previa, ainda que lentamente, o combate ao abismo econômico e social entre classes.

Hoje isso acabou. Hoje, fora do país, a imagem do Brasil e dos brasileiros gera desconfiança e suspeita como país. Somos um país sem democracia, sem justiça, sem futuro. De líder inconteste da América do Sul o país retorna à sua irônica posição da República das Bananas conferido pelo olhar estrangeiro. Aturdido pelo mesmo golpe que recentemente sofreu o Paraguai.

Todavia, é fundamental destacar que no lugar onde tudo termina, nasceram e se fortaleceram movimentos, grupos, instituições e indivíduos que se insurgiram lá onde não havia esperança e onde a descrença medrava. Muitos já existiam, mas suas ações foram investidas de sentido e importância inconteste e crescente.

Não desistiram, mesmo quando o golpe se concluiu e um vazio e silêncio pairou sobre os resistentes. Mesmo assim continuaram a representar a esperança, a avançar nas redes, nas ruas e continuaram a existir como sinais de esperança cujos lampejos apontam caminhos.

Após um ano todos estão vivos, outros surgiram, muitos se fortaleceram.

Psicanalistas pela Democracia homenageia alguns deles – são muitos – postando semanalmente, a partir de hoje – 17 de abril -, dia oficial do Golpe, as conversas e entrevistas realizadas com alguns desses atores que representam hoje os contrafogos do incêndio que todos os dias se prepara.

Desejamos que nossos leitores, colaboradores e parceiros se sintam contemplados e presenteados com essa iniciativa e os estimulamos a seguir nossos homenageados nas ruas, propostas, iniciativas, sites, blogs e páginas que alimentam, e a somar com eles e com outros, na esperança de repor e aprofundar a democracia recém usurpada, mas ainda profundamente desejada por muitos de nós.

Saudações,

Psicanalistas pela Democracia (Organizadores)

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Redação

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  1. Do Brasil 247 – JEFERSON MIOLA

    O Estado paralelo do capital dentro do Estado de Direito

    Parcela importante do conteúdo das delações dos funcionários da Odebrecht já era de conhecimento público há muito tempo. As revelações úteis para a dinâmica do golpe, por exemplo, já eram bem conhecidas, porque estão sendo vazadas seletivamente pela força-tarefa da Lava Jato e divulgadas à exaustão há cerca de dois anos.

    O fim do sigilo das delações trouxe, além de algumas poucas novidades, muitas confirmações sobre as suspeitas dos esquemas industriais de corrupção do bando golpista, dos políticos e operadores do PMDB, PP, DEM, PTB, PSB e PSDB.

    Em teoria, portanto, não deveria haver motivos para o estarrecimento com a publicação da íntegra das delações. O espanto se deve, entretanto, aos vídeos estarrecedores dos depoimentos dos ex-diretores da Odebrecht.

    Os vídeos valem como uma pós-graduação acerca da supremacia do capital e do mercado sobre a democracia e a República. Eles revelam de maneira escolástica, para não dizer pornográfica, a existência de um verdadeiro Estado paralelo do capital operando dentro do Estado de Direito.

    O fetiche do dinheiro desenvolveu uma patologia corruptora, manifestada no poder prazeroso e excitante de comprar todo mundo e qualquer coisa, como explicou o chefe da área de propinas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, com assustadora naturalidade e ironia.

    A Odebrecht comprava corruptos como o “pastor” Everaldo, do PSC. Em contrapartida, definiu o discurso privatizante que ele faria na entrevista do Jornal Nacional e a postura no debate televisivo da emissora para permitir a Aécio atacar a candidata Dilma. A Odebrecht se vangloria, inclusive, de comprar dirigentes sindicais para refrear as lutas e os movimentos dos trabalhadores.

    Para a reprodução de esquemas tão sofisticados e profissionais, o poder econômico certamente compra, além de políticos e partidos, também intelectuais, juízes, procuradores, promotores, conselheiros de tribunais de contas – autoridades que, todavia, seguem protegidas e intocadas.

    O depoimento de Emílio Odebrecht evidencia a hipocrisia da mídia, sobretudo da Globo, que dissimula indignação com os procedimentos conhecidos há pelo menos 30 anos. Assim, a mídia constrói a falsa narrativa de que a corrupção no Brasil nasceu nos governos petistas [sic]. O patriarca da empreiteira explicou, contudo, que a promiscuidade da empreiteira com o Estado advém da época do seu pai, Norberto Odebrecht, que fundou o conglomerado em 1944.

    A dinheirama da Odebrecht que irrigou o sistema político brasileiro só nos últimos 10 anos atingiu a cifra assombrosa de US$ 3,3 bilhões [R$ 10,6 bilhões], valor superior ao PIB de mais de 40 países. Isso expressa o poder de dominação do capital sobre a política; esclarece como o capital deforma a democracia. O dinheiro é um poder que frauda a soberania popular e corrompe a política para orientar, a partir do controle do Estado, a concretização dos seus interesses e negócios.

    Não se deve esquecer, ainda, a atuação de outras empreiteiras investigadas na Lava Jato – OAS, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão etc – e dos grandes capitais atuantes em outros ramos econômicos nacionais e estrangeiros, como o bancário, financeiro, imobiliário, petroleiro, agroindustrial, agronegócio etc – que magnificam o poder corrosivo do dinheiro e do capital na política.

    Na eleição de 2014, por exemplo, somente a JBS Friboi, multinacional brasileira exportadora de carnes, distribuiu R$ 367 milhões a candidatos de todos os partidos para todos os cargos – presidente, governador, senador, deputado federal e estadual.

    A democracia, para a oligarquia dominante, é uma mercadoria que tem preço. Nas palavras do filósofo-senador Romero Jucá, renomado especialista em “suruba” política, presidente do PMDB e líder da cleptocracia do Temer no Senado, o preço dos políticos que se vendem é maior que o praticado na Feira do Paraguai de Brasília [o que já é um parâmetro].

    Os sem-voto, aqueles da força-tarefa da Lava Jato que se oferecem ao país como os puros, probos e honestos, se beneficiam desta realidade inaceitável do poder do capital sobre a política para destruir o sistema político e a democracia para, com isso, ampliar o poder das suas corporações sobre o Estado e a própria política.

    O desafio, ao contrário, está numa reforma política radical, que extirpe toda e qualquer forma de financiamento da política, das eleições e dos partidos com o dinheiro das corporações.

    O capitalismo é incompatível com a democracia, por isso é imperativo precaver a democracia com todos os antídotos contra o poder econômico. Isso só será possível com uma reforma política que proíba o financiamento empresarial da política e supere a idiossincrasia de um sistema que permite que governantes eleitos com maioria absoluta dos votos sejam reféns de oposições parlamentares chantagistas.

  2. O GOLPE VERDADEIRO ESTÁ POR VIR, ESTE FOI SÓ O PAVIMENTO.

    Tudo é para as pessoas ficarem perplexas, e aceitar o GOPE MILITAR, isso é uma xerox dos anos 60, o país e a mídia não amadureceram nada, não aprendeu nada e os políticos muito menos, o povo é cercado por uma mídia panfletária e por um sistema educacional podado, sem fala, sem união e ainda merecendo filhote de fascista “vistoriando escolas e sala aula”. O que fazermos diante desses exemplos para de bandalheira, o script foi o mesmo, deslegitima a política, depois a justiça, só ficam os militares apoiados por propaganda como salvadores da pátria e aí é mais 30 anos irrecuperáveis do ponto de vista civil. 

  3. Agora a solução que o Nassif

    Agora a solução que o Nassif aponta para não aumentar a polarização é inviável. Mesmo que as cúpulas do psdb e do pt se entendam (leia-se FHC e Lula) os que defendem cada partido não irão aceitar isso. Ainda mais da parte do pt, pois um pacto com PSDB soa que nem a fábula do sapo e do escorpião ( o escorpião pede pro sapo pra ficar em cima das costas dele e assim ele cruzar o lago. O sapo se recusa, pois o escorpião vai picá-la. O escorpião argumenta que ele não faria isso, pois ao picar o sapo, os dois afundariam e ele morreria. O sapo pensa, pensa e concluí que era bem lógico o que o escorpião propôs. Os dois estão no meio do lago e o sapo sente a picada. Se vira e pergunta, já afundando: Por que fez isso? E o escorpião diz = Não posso fugir da minha natureza”  Nem preciso dizer que bicho representa o FHC e que bicho representa o Lula rss ) 

  4. O psdb é um dos grandes

    O psdb é um dos grandes responsáveis pelo golpe e pelo atual estado de coisas. “Acordo” com o psdb cheira a coisa parecida com aquele acordo entre PMDB e dissidentes do PDS que desembocou, no final das contas, na permanência na vida pública de pessoas e grupos que apoiaram o golpe de 1964 e colaboraram com a ditadura. Existe gente que presta e gente que não presta em todo lugar, então devem existir pessoas de bom senso nos partidos de direita. Com estes é possível haver conversas, mas, infelizmente, elas não representam os partidos aos quais pertencem. Fazer acordo com golpistas é pedir pra sofrer traição. Todo o processo que resultou no golpe e na atual situação prova isso.

  5. O golpe foi engendrado

    O golpe foi engendrado visivelmente a partir de 2012, 100%  pelos demotucanos. É incrível como um jornalista que, mesmo em um blog e portanto sem grandes repercursões, grava e divulga um vídeo sôbre o primeiro aniversário do pior golpe de estado aplicado no Brasil, sem mencionar os golpistas, os demotucanos. E, para piorar, menciona fernando henrique cardoso no último minuto, dizendo que um golpista, o testa de ferro, o fernando henrique cardoso é a peça fundamental para a salvação do país. Acreditamos piamente que estão querendo fazer mais gravações sôbre o golpe de 2016 até 2041, só para não ficarmos atras do golpe de 1964 que tambem durou 25 anos. Então, parabens ao blog e ao golpe! e muitos anos de vida!

  6. Polarização …

              Não acredito que o PSDB tem algum conflito do que está sendo feito, pessoas ligadas ao PSDB sempre estiveram ligados a grupos na rede, criando esse ambiente polarizado e com argumentos extremistas, o pessoal do PSDB não tem nenhuma ligação emocional com a sigla, eles vão criar outra sigla e vão levar adiante a visão política deles, o que se criou na sociedade é um asco em relação ao que eles entendem como esquerda, tudo quanto é esquerda, em relação a direita, as pessoas vão condenar a sigla PSDB, mas a sigla PSDB não tem qualquer importância para o PSDB.

            Porém, um dos cenários que possa haver no futuro, pode ser semelhante ao que ocorre na França, conservador de um lado, a esquerda que sempre perde, e a extrema direita do outro, ocorre que a esquerda sempre apoia o conservador para que a extrema direita não chegue ao poder, talvez aqui possa ocorrer algo parecido, o PT poderá estar no segundo turno junto com a extrema direita, e o que o PSDB vai fazer ? Apoiar o PT !? Ou apoiar a extrema direita ?

            O PSDB poderá estar findado a fazer aquilo que a esquerda, na França, sempre é obrigada a fazer, apoia quem não gosta, para não ver na direção do país algo que odeia. Assim caminha o PSDB, se alijar-se políticamente diante do seu eleitorado, esse eleitorado da classe média, que são um bando de ignorantes, conheço muitas pessoas da classe media e com eles é impossível conversar, são pessoas que não conhecem história, geografia, mínimo de economia,  como explicar para esse povo pq está apoiando PT ou pq não esta apoiando a extrema direita. PSDB estará encalacrado, claro se houver eleiçoes em 2018, algo que duvido muito.

    1. Concordo com você, por isso
      Concordo com você, por isso não me surpreenderia em uma migração em massa de tucanos, principalmente os dorianas, para o Partido Novo, no Partido Novo o resto da social democracia tucana some de vez para dar lugar a um neoliberalismo tosco e datado caminhando até para um ultraliberalismo. Com FHC envelhecido, Serra e Aécio liquidados politicamente e Alckmin caminhando para o ostracismo político, quem ligaria para o PSDB?
      Ainda mais agora que a Rede Globo escancarou de vez seu desejo por um out-sider político para 2018. Doria Jr. candidato a presidente pelo se encaixaria perfeitamente nesse perfil.

      1. …  Uma das críticas que se faz as esquerdas, como o PDT por exemplo, é que essas siglas sempre dependeram de nomes únicos dentro das legendas, já o pessoal da direita sempre formou quadros, PSDB por exemplo, PSDB tem vários nomes, Aécio, Alckmin, Serra, e agora os merchants ( Merchandises ), o detalhe é que na briga dos egos a sigla está indo para as cucuias e nenhuma figura consegue segurar o mínimo de respingo a sigla e nessa briga de egos todos querem ser presidenciavéis e nisso a sigla se dissolverá como caca no esgoto, as brigas internas provavelmente está rachando a legenda em vários pedaços, por exemplo, o pessoal ligado a Aloysio Nunes tinha como estratégia deixar Dilma sangrando até o fim do mandato, pessoal do Aécio tinha a idéia fixa do golpe, fico imaginando como esses dois grupos devem estar se odiando no momento, um presidenciável com 48 % dos votos, agora perde para Bolsonaro, bastava esse cara ficar sorrindo por 4 anos e ele conseguiria mais que 2% dos votos que faltava, e esse pessoal jogou tudo no lixo. Na minha análise o PSDB vai ser o que é a esquerda na França.

  7. Qual democracia? Qual pacto? Qual caminho?

    Nassif é um gênio do jornalismo brasileiro, um analista arguto, rápido e capaz de sínteses complexas, fruto de sua experiência, conhecimento jornalístico e político abrangente, preciso e independente, capacidade de análise multifatorial criativa, perspicaz e intrigante e uma abertura à discussão de idéias rara em tempos que voam. Faço esse rosário de elogios sinceros para introduzir algumas discordâncias que já expus em outros comentários.

    A primeira é quanto à suposta desistência da presidenta eleita pelo voto popular Dilma Rousseff de lutar pelo seu mandato: o espetáculo dantesco que sofremos diariamente, cujo ápice completa um ano hoje – a G.Lobo.Empeledecordeiro.Con vai comemorar no Jornal AntiNacional com bolo, velinha e dramatização canastra?– , deveria nos dar a dimensão da dificuldade que é governar esse país. Pergunto ao Nassif – e ao Ciro Gomes e a outros que partilham da opinião: o que sugerem que ela deveria ter feito para impedir o Golpe, diante da conspiração arraigada e poderosa que vemos descortinar, incrédulos e exangues, e que provavelmente nunca conheceremos em sua totalidade a ponto de aprender para nos vacinar? Seu xadrez mesmo apresenta a articulação de forças políticas e econômicas que tinham interesse no Golpe e agiram para realizá-lo, e com tamanho afinco e dedicação que mesmo com o país na UTI não se arrependem, ao contrário, sadicamente aumentam a dose do veneno que vendem como remédio. 

    A figura e o comportamento da presidenta, a meu ver, ao invés de facilitar o Golpe por suposta apolitização ou preocupação exclusiva com a própria biografia, são a medida que permite atestar, de modo didático, as razões do ataque à democracia – o sistema político está tão infiltrado por forças outras, econômicas e de sociopatia delinquente, que qualquer tentativa de frear sua dominação é subjugada com sede de sangue e baba de ódio. 

    Concordo que houve erros estratégicos que contribuíram para o enfraquecimento da resistência ao Golpe mas não incluo entre eles a desistência da presidenta, principalmente quando esta é uma forma distorcida de criticar seu afastamento do controle da articulação política – ironicamente, uma concessão aos que reclamavam de sua centralização: urge reconhecermos que o Golpe aconteceria, mais cedo ou mais tarde, em virtude da correlação de forças políticas, sociais e econômicas que veio se formando no país e no mundo, em especial a contraofensiva da direita e a financeirização da atividade política e eleitoral. 

    Todos contribuímos para o Golpe ao evitar reconhecer que o país, ao enfrentar suas desigualdades históricas, passaria necessariamente pelo embate entre as divisões que nos definem quase antropologicamente (aqui sugiro a leitura de uma irretocável carta do deputado federal Jean Wyllys ao sr. ex presidente Fernando H. Cardoso, em que dá uma aula de sociologia à brasileira ao sociólogo arrependido, https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/1385138488200821:0). 

    As acomodações graduais com as concessões da elite ao invés da redefinição social através da conquista e consolidação de direitos – que é a disputa que o Golpe, finalmente, representa de forma cruel e indisfarçável – foram sempre a escolha dos grupos de poder para evitar que a diversidade do povo que constrói esse país “por fora” (sem acesso direto às formas de poder que estruturam a sociedade) fosse assimilada e tivesse voz ativa no exercício de poder real. Assim, a chamada crise de representatividade nas casas políticas não deveria surpreender, afinal, a política é deixada aos “profissionais do ramo” e a substituição desses por falsos apolíticos, estranhamente ou não, ídolos midiáticos, em lugar de representantes dos diversos grupos e interesses (sindicatos de todas as categorias, movimentos sociais, diferentes grupos econômicos, ideológicos, étnico-raciais, identitários) e lideranças da sociedade organizada, é emblemática: quem chega a cargos importantes e se comporta diferente dos negociantes a que nos habituamos é um “estranho no ninho”. Se não pensarmos que há outros modos legítimos de fazer política e agirmos em defesa deles, continuaremos com as camarilhas que se reproduzem nesse senso comum pernicioso.

    Daí para o assunto que considero outra discordância cuja falta de debate pode, essa sim, dificultar a saída da crise.

    Nassif há muito tempo fala de pacto, conciliação e necessidade de as principais correntes políticas do país se unirem para impedir que o país seja destruído.

    Concordo quanto à necessidade de as lideranças representativas da sociedade civil e políticos sérios se juntarem para apresentar ao país projetos de saída da crise atual e retomada de rumos estáveis.

    Minha discordância é que não se deve, em nome de uma tentativa desesperada de sair do precipício, se aliar a qualquer um, principalmente àqueles que nos jogaram lá e podem fazê-lo quantas vezes for necessário, sempre que servir como atalho para facilitar seu caminho tortuoso.

    Os anos de governo progressista foram interrompidos brutalmente pelo golpe em curso e que ameaça se aprofundar porque as forças de oposição não se submeteram ao jogo democrático e resolveram rifar o país, que não lhes interessa senão como balcão de negócios. Como e com quem negociar nessas condições?

    A ruptura que Nassif atribui ao radicalismo entre parte da esquerda e a direita não é condição de agravamento da crise mas a necessidade de dar nome aos bois, definir quem é quem na fila do pão (uma gíria divertida que ouvi algumas vezes, a sabedoria popular que desopila), estabelecer limites para a renegociação do pacto social. Quem se vê na direita ou no centro que esteja interessado em discutir os interesses do país como nação e não suas prerrogativas privilegiadas de classe ou de ideologia? O senador Roberto Requião não é de esquerda e está no PMDB, que abriga em uma parte significativa um dos covis golpistas, mas tem sido um defensor aguerrido e admirável de bandeiras inegociáveis em qualquer pacto ou conciliação que tenha como objetivo a reconstrução do diálogo democrático e o avanço civilizatório, sempre utópico, nesse país que dizemos que “é nosso” mas descobrimos a cada soluço das oligarquias que pode deixar de ser, definitivamente, de papel passado – aí que os sem terra e despossuídos em geral discutam seus “direitos” diretamente com os latifundiários globalizados, sem intermediários do Estado.

    Não sou adepta da radicalização irresponsável e voluntarista e por isso mesmo acho que esse é o momento de o país ser discutido por seus cidadãos e não para depender apenas de uma costura entre lideranças políticas de pólos opostos, como fizeram na redemocratização capenga de 1985 que sabotou muitas oportunidades de superação do autoritarismo político, como no movimento das Diretas Já: como pôde um movimento de resistência à ditadura, num tempo de efervescência sócio-cultural que chegou a confundir incautos, desembocar em José Sarney e Collor, por um lado, e por outro, numa Constituição Cidadã que nunca foi efetivamente regulamentada e, por representar o ideário de emancipação legado por aquela resistência, está sendo vandalizada diariamente até no local oficial de sua guarda, o STF? Se apelarmos sempre para jogar pra debaixo do tapete as crises sem entendermos o que elas nos apontam e que precisa ser discutido e resolvido coletivamente (estamos falando de democracia representativa?), estamos fadados ao eterno retorno dos mesmos problemas, agravados.

    Brilhante o manifesto do professor Bresser-Pereira e representantes da sociedade civil, o Projeto Brasil Nação. Não vi nele um chamado a um pacto ou conciliação que passe por cima dos problemas que deram origem ao Golpe, ao contrário, me parece uma aposta no caminho que o Golpe obstruiu e pretende interditar, pelos próximos cinco séculos, pelo menos.

    Para marcar a passagem deste sofrido ano desde o Dia da Infâmia, 17/04/2016, nossos hinos nacionais, oficial e cultural. A síntese que falta. A dialética interditada. 

    Hino Nacional Oficial Brasileiro (trecho)

    “Mas, se ergues da justiça a clava forte
    Verás que um filho teu não foge à luta”

    Hino nacional (Carlos Drummond de Andrade, com a alma brasileira no brejo)

    Precisamos descobrir o Brasil!
    Escondido atrás as florestas,
    com a água dos rios no meio,
    o Brasil está dormindo, coitado.
    Precisamos colonizar o Brasil.

    O que faremos importando francesas
    muito louras, de pele macia, 
    alemãs gordas, russas nostálgicas para
    garçonetes dos restaurantes noturnos.
    E virão sírias fidelíssimas.
    Não convém desprezar as japonesas…

    Precisamos educar o Brasil.
    Compraremos professores e livros, 
    assimilaremos finas culturas, 
    abriremos dancings e subvencionaremos as elites.

    Cada brasileiro terá sua casa
    com fogão e aquecedor elétricos, piscina, 
    salão para conferências científicas.
    E cuidaremos do Estado Técnico.

    Precisamos louvar o Brasil.
    Não é só um país sem igual.
    Nossas revoluções são bem maiores
    do que quaisquer outras; nossos erros também.
    E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões…
    os Amazonas inenarráveis… os incríveis João-Pessoas…

    Precisamos adorar o Brasil!
    Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
    por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão 
    de seus sofrimentos.

    Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
    Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
    ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
    O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
    Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
    Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?

     Eduardo Alves da Costa

    Quanto a mim, sonharei com Portugal

    Às vezes, quando
    estou triste e há silêncio
    nos corredores e nas veias, 
    vem-me um desejo de voltar
    a Portugal. Nunca lá estive, 
    é certo, como também
    é certo meu coração, em dias tais, 
    ser um deserto. (fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/drumm1.html)

     

     

    SP, 17/04/2017 – 22:54

     

     

  8. As futuras atrações

    Agora vamos ao nosso contra golpe, Nassif. Está chegando o momento de ajustarmos as contas com todos eles. Vamos cobrar de todos, de um a um dos envolvidos e dizer, para sempre: Tchau queridos!

    Entendo que a organização do povo está quase pronta, que as posições estão demarcadas e que o sinal de partida para o embate final (a gota d’água) será quando acontecer o novo seqüestro de Lula. Camuflada na efêmera sensação de vitória, a ser servida pelo office boy do caso Banestado, aos estúpidos de sempre não imaginam que a ilegal e encomendada condenação se transformará em uma poderosa armadilha a nosso favor. A cotidiana estupidez dessa quadrilha de hipócritas, não permitirá que ela alcance o potencial do álibi que nos concederão, de bandeja. Eles são os novos pombos deslumbrados da justiça, eles são os velhos e acomodados obesos dos tribunais,  eles são os escravizados xerifes de araque,  eles são os decadentes da mídia,  eles são os políticos da bandidagem, da malandragem, da ladroagem e, em breve, todos serão os ex-postos nas carceragens.

  9. Foi um dia altamente nefasto

    Foi um dia altamente nefasto da história do Brasil; comparado aos massacres de trabalhadores em suas várias datas e ao colonialismo.

    Mas se olharmos para a assembléia de quadrilhal foi bem singular.

  10. Acordo

    Nassif, acho que se o PT fissesse um acordo com PSDB perderia sua dignidade.Ninguém precisa odiar o PSDB, mas acordar com ele, depois de tudo o que aconteceu é demais. O PSDB fez acordo com a Globo e a Globo perseguiu o PT desde sempre. O pensamento da Globo é o pensamento dos grandes empresários que agora estão vindo a tona através do apoio as Reformas propostas do governo Temer. Como um partido dos trabalhadores vai apoiar um pensamento que quer tornar o trabalhador brasileiro um servo? É contra a ideologia do PT, claro, para quem ainda mantem uma ideologia.A esperança é manter um ideal vivo e o PSDB nunca teve ideal, é um partido de negociantes.

  11. Comentário 1° ano de governo do Golpe/2016
    Luiz Nassif, o que posso dizer sobre sua matéria é PARABÉNS, pela sua verdade, pelo seu senso ético de justiça e, pelo seu profissionalismo responsável e pela demonstração de comprometimento com as causas do Brasil e com seu povo.
    Mas, nem tudo tá perdido, com e pelo sofrimento, o povo está aprendendo. Meus caros, essa importante matéria jornalística, ilustra o que há muito vimos tentando escrever, e fazer agora, de repente, com a graça de nosso Pai do céu, não temos dúvidas, nos inspirou a escrevermos o que segue.
    Em nossa vã filosofia, egoísmo, vaidade e soberba, quantas vezes injustamente, achamos que somos mais importantes, melhores e mais sábios que outras pessoas e, que nossos planos são perfeitos e infaliveis.
    Esquecemos, no entanto, que todos somos iguais pela justiça Divina, pois nascemos iguais e do pó (da terra) e, todos morreremos e voltamos ao pó (à terra ) de forma iguais.
    Graças à Justiça Divina do Livre Arbítrio, Deus nos monitora e nos deixa voar livres, como pipas. Ele, Deus, nos dá linha até os limites da Sua tolerância com os comportamentos nocivos, injustos, antiéticos, autosuficientes, desrespeitosos e prejudiciais à convivência fraterna, solidária e amável dos seres humanos, aí, senhores, quando se chega nesse ponto, não há dúvidas, e a Bíblia Sagrada está cheia desses exemplos, Ele, Deus Todo Poderoso, Senhor dá História, entra em cena e, começa, mostrando que o único Plano Sábio e Infalível é o Seu, de Amor Fraterno, de Vida, de Liberação e de Salvação de todos os seus filhos.
    Ora, quando os representantes do povo, eleitos diretamente ou legitimados por esse povo, a quem Deus lhes confia um pouquinho de seu Poder e de Sua Justiça, para com responsabilidade e eticamente, promoverem e fazerem o bem e a justiça para todos e, não fazem aí, Ele (Deus), começa Sua intervenção, confundindo os planos de cada pessoa e corrigindo o mal com o próprio mal, isto é, àqueles que eram amigos, aliados ou simpatizantes da causa do mal, passam ao confronto mútuo e se tornam inimigos.
    Como Deus é Luz e Justiça, de sua intervenção, o que estava nas trevas (escondido) começa a ser exposta pela luz a todos.
    Apesar da desconfiança que o povo sente das instituições do país, é preciso fé e confiança na ação de Deus, pois Ele, já está no comando do Brasil, país que já nasceu Cristão e que goza de Sua Misericórdia.
    Deus nunca abandona àqueles que recorrem a Ele. Então, rezemos sempre, como recomenda a Virgem Mãe de Jesus e peçamos pelo Brasil e, assim, alcançaremos a graça.
    Aqui, acreditem ou não, foi transplantado da Galiléia por Jesus Cristo, a Árvore do Evangelho, sinalizado no firmamento pelo Cruzeiro do Sul (MT 21,43). Por isso, o Brasil, por sua vocação fraterna, pacífica e onde convivem irmamente, todas as raças e religiões do planeta, é conhecido como Coração do Mundo (sua conformação geográfica em forma de coração) e Pátria do Evangelho, pela Cruz de Cristo no céu.
    Não temam, Deus está conosco e sua justiça não falha. Paz e bem.

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