EUA – a política do ódio e do medo “tipo exportação”

 

“Lá vamos nós novamente!”


 Assim começa o artigo de Jarvis Tyner, no People’s World, ao se deparar, mais uma vez, com o discurso do medo e do ódio sendo transformados em tática político-eleitoral. E é com esse discurso, “indo com tudo pra cima dos candidatos democratas” que os republicanos americanos pensam em conquistar a maioria no congresso americano nas eleições de 2 de novembro. E, ao que tudo indica, eles irão.


O interessante nesse artigo de Tyner é que ele elenca as teses que os republicanos tentam difundir eleitorado afora, sempre se baseando, claro, no medo e no ódio como principais motores motivacionais do voto. As semelhanças com a atual campanha serrista são impressionantes. O medo e o ódio inseridos na tática republicana se tornaram um produto tipo exportação, devidamente importado e adaptado pela atual campanha do PSDB.


 Para o autor, “os republicanos não estão interessados em debater honestamente os assuntos importantes: eles acreditam ter mais chance de vitória com um debate baixo e sujo.” E, para isso, os estrategistas republicanos e o Tea Party acreditam que eles podem vencer se:

 

  • manterem o foco em ataques pessoais e calúnias ao invés de discussões políticas; 
  • se puderem criar confusão nos trabalhadores e eleitores de classe média com intolerância, homofobia, racismo, intolerância religiosa e anti-comunismo; 
  • se puderem convencer as pessoas a votarem contra seus próprios interesses; 
  • se as pessoas acreditarem que Obama é contra os brancos em favor dos negros; 
  • se convencerem os americanos de que todos os muçulmanos são terroristas; 
  • se os eleitores acreditarem que casamento entre pessoas do mesmo sexo irá destruir a instituição do casamento; 
  • se os eleitores concluírem que aqueles que praticaram aborto legal são, na verdade, assassinos de bebês; 
  • se fizerem os trabalhadores sentirem que os imigrantes estão causando o alto desemprego; 
  • se as pessoas acreditarem que os estímulos econômicos não criarão nenhum emprego; 
  • se os eleitores concluírem que aqueles que recebem compensações pelo desemprego irão perder a iniciativa de procurar um novo emprego;

 

Claro que temos expostas aí algumas infelizes peculiaridades da sociedade americana, como a xenofobia contra imigrantes latinos e muçulmanos, e também alguns produtos das atuais circunstâncias, afinal a crise americana trouxe a emergência de uma nova agenda política, como a urgência na criação de emprego e na retomada do crescimento econômico.

 

Mas, com algum esforço, é possível perceber que o conjunto dessas “teses” formam o carro-chefe da atual campanha serrista, e que resulta, inclusive, em algum sucesso nas urnas. Quem acompanha a mídia e os blogs progressistas sentiu (e sente) o peso do Tea Party brasileiro nessas eleições.

 

Muitos acreditam que o efeito Tea Party da campanha do Serra passa tão logo a Dilma tenha êxito no dia 31 de outubro. Para esses, o pesadelo deve acabar na primeira segunda-feira de novembro, e a extrema-direita tupiniquim voltará para o quartel, para missa, para o culto e para o mundo de Caras. Para outros, dentre os quais esse blogueiro se inclui, o efeito terá um caráter mais duradouro e levará a um convívio incômodo entre o conservadorismo, agora com mais voz, e o próximo governo.

 

Iremos sentir os efeitos quando essa turma mostrar algum nível de articulação e força política e passar a definir ainda mais os limites possíveis dos avanços das bandeiras mais progressistas. Isso pode ser feito pautando e emperrando a discussão sobre o aborto (com efeitos já visíveis), sobre a descriminalização das drogas, sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo, sobre a urgência da reforma agrária, sobre a democratização dos meios de comunicação, enfim, sobre os temas necessários à verdadeira democratização do país, que se situa muito além da simples (e louvável) inclusão de uma grande parcela da população no universo de consumo. Os recuos no caso do PNDH estão aí para atestar a materialização política da nossa versão do Tea Party.

 

 

Redação

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