Gilmar tenta ser o candidato a presidente se Temer for cassado, por Luís Costa Pinto

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Há alguns dias, colunistas da grande mídia têm observado que Gilmar Mendes foi “picado pela mosca azul” e estaria de olho em um cargo político. Mais precisamente, o de presidente da República, em caso de cassação de Michel Temer. 

O Blog do Moreno, de O Globo, foi o primeiro a falar das ambições de Gilmar, mas sem detalhar o plano. O 247 pescou a deixa no ar e interpretou as aparições do ministro do Supremo Tribunal Federal na mídia, atacando os atos desenfreados da Lava Jato, como uma tentativa de angariar apoio da classe política.
 
Faz sentido, afinal. Pois se for candidato, Gilmar disputará uma eleição indireta. Só interessam os votos dos parlamentares numa eleição relâmpago. É por isso que ele não perde tempo e, sem “sutiliza ou cerimônia”, já se prepara para dar um pedala em Cármen Lúcia – a favorita da Rede Globo para assumir o Planalto, se Temer cair. É o que observa Luís Costa Pinto, no Poder 360, ensta segunda (27).
 
Por Luís Costa Pinto
 
No Poder 360
 
Sem sutileza ou cerimônica, Gilmar tenta ser a alternativa para a presidência
 
De quando em vez alguns sites de varejo na internet oferecem aos consumidores contumazes: “cadastre-se e compre em apenas um click”. O cadastramento fideliza o cliente e cria atalhos por meio dos quais a relação se torna mais direta, mais pragmática e mais constante. No átimo de um apertar de botão, pronto! Encomenda-se o que quer, mesmo que não se precise. Mas fica a sensação de uma proximidade resolutiva, providencial, oportuna.
 
O pragmatismo oportunista de alguns dos protagonistas do teatro de operações em que se converteu a política no Brasil mimetiza, em diversos aspectos, o relacionamento comercial entre sites de varejo e clientes virtuais.
 
O museu de grandes novidades da Democracia brasileira começa a ofertar a possibilidade de se ter por aqui um presidente de toga –com ou sem voto.
 
Na esteira das jornadas de 2013 houve quem flertasse com Joaquim Barbosa, o verdugo da Ação Penal 470, mas as opiniões bem particulares que ele externou depois de deixar o Supremo Tribunal Federal, desalinhadas com o senso comum da neodireita nacional, expurgaram-no da lista de presidenciáveis desse bloco.
 
A geleia geral que aflorou nas ruas de 2016 e conferiu um colorido amorfo à deposição de Dilma Rousseff fez surgirem faixas e movimentos pró Sergio Moro, o ferrabrás da Lava Jato, como solução presidencial dessa mesma neodireita –mas só em 2018, se o pleito for confirmado na data prevista pela Constituição.
 
Há, nos bastidores de alguns gabinetes de Brasília e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde fica a sede da Rede Globo, uma indisfarçável torcida para que os rios das delações premiadas sacramentem o vertedouro de expectativas em que se tornará a Ação de Cassação da chapa Dilma-Temer, no TSE. Com isso, o vice eleito em 2014 perderia o posto que ora ocupa. Confirmada a premissa, dar-se-ia um jeito (no enredo descrito pelos entusiastas dessa saída, um “jeito democrático e constitucional”) de tirar os presidentes da Câmara e do Senado do leito dessas águas turvas, deixando-os à margem do processo, para transformar a presidente do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia no mar para onde todos os rios correriam. Já surgem mais do que entusiastas dessa saída: ela tem obreiros, capitães e até adversários declarados.
 
O maior adversário de Cármen Lúcia, determinado a inviabilizar tal solução e também ele mesmo general-de-brigada da resistência à colega de toga, é Gilmar Mendes.
 
Mendes atua sem sutileza e sem cerimônia a fim de constituir seu próprio nome como a alternativa. Considera-se o homem providencial. As águas de março, que deram muito modestamente o ar da graça na Capital da República esse ano, foram suficientes para fazer Gilmar Mendes emergir sua vontade secreta de despir a toga trocando-a por capa e espada imaginárias de herói (ou anti-herói). A identidade supostamente secreta do ministro do STF, presidente do TSE, estava submersa a meia água e boiou na lâmina do Lago Paranoá no transcurso desse verão.
 
Não há dia em que Gilmar Mendes deixe de inventar ao menos um lance destinado a colocá-lo no centro dos peões do tabuleiro. A rainha já foi comida. O rei está cercado. O bispo das pedras pretas seria ele.
 
São movimentos intensos e razoavelmente bem-sucedidos com o objetivo de construir em torno de si o consenso da chance única. Se há vaga no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Gilmar tem candidato. Se há vaga no TSE, idem. Vagou uma cadeira no Supremo? Gilmar foi chamado a opinar entre Ives Gandra Filho –tratorado de forma humilhante– e Alexandre de Moraes. Sinalizou para Moraes. A cadeira de Moraes ficou vaga na Esplanada? Gilmar opinou na sucessão do Ministro da Justiça. Debate-se uma reforma política destinada a dar novos contornos ao ruinoso sistema eleitoral brasileiro? O que pensa Gilmar?, especulam entre si os congressistas e muitos advogados. Agora, até empresários e executivos andam se fazendo essa pergunta e criando o fator “Gilmar” de ponderação. José Serra fez 75 anos e merecia uma festa? Ninguém deu? Pois Gilmar Mendes a promoveu –sem se importar, e sem ser cobrado por isso, se dentro de alguns meses terá de vestir a toga para julgar Serra. O senador paulista será ao menos denunciado na Lava Jato, afinal sua campanha para a presidência em 2010 recebeu US$ 23 milhões de dólares no exterior em ilegalidades confessadas por quem deu o dinheiro –a Odebrecht– e por quem o recebeu –o ex-banqueiro Ronaldo César Coelho. A desfaçatez do afago a um provável réu da Lava Jato, promovido por um ministro do Supremo Tribunal Federal, num convescote considerado “normal e regular” por quem cobre o poder em Brasília, dá a medida da larga avenida por onde passeiam as tropas de Mendes.
 
A plataforma de lançamento do Movimento Gilmar Presidente, contudo, ainda não pulou do submundinho quase virtual dos bastidores de Brasília para a vida real. Sem ter a necessidade de cabalar votos populares, precisará apenas da maioria num Congresso de 594 votantes se os comandos dados forem seguidos à risca, quando estiver apta a fazê-lo será também a véspera da decisão fatal.
 
Restam 3 movimentos sofisticados na tela onde se joga esse xadrez virtual no qual o bispo quer se posicionar no lugar do rei moribundo.
 
O 1º, a cassação da chapa Dilma-Temer cuja contabilidade de votos está nas mãos do presidente do TSE. Depois, a retirada da cena dos presidentes da Câmara e do Senado caso se tornem réus em ações no STF –o julgamento está decidido a favor da tese do afastamento de réus da linha sucessória, mas o resultado só não foi proclamado porque um dos ministros pediu vista e sentou em cima dos prazos: Gilmar Mendes. Por fim, definido o modelo de eleição indireta para uma vacância da cadeira presidencial a menos de 2 anos do fim do mandato da chapa eleita em 2014, proceder-se-á à eleição indireta, no Congresso Nacional, do novo presidente incumbido de concluir o prazo para o qual os impedidos haviam sido eleitos. Será necessário ter à mão uma biografia de perfil palatável às instituições, com trânsito em diversas correntes de opinião e que imponha respeito para dentro da máquina pública. Quem seria? Ou, por outra, quem se propõe a sê-lo?
 
O Brasil, uma Nação que se comporta como se vivesse a todo momento em fim de feira, em meio a liquidações nas quais sua alma e sua autoestima são vendidas, está a 3 clicks de ter uma toga na cadeira presidencial.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

18 Comentários

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  1. O que temos a perder…ou ganhar?
    Se Dilma/Temer forem cassados ele vai prá disputa na votação indireta do congresso.A questão a ser posta é: 1 – Se ele perder a indicação, perde também o cargo no supremo? Se for isso é bom.2 – Se ganhar a indicação, ao fim do mandato ele perde o cargo no supremo? Se assim for, não será de todo ruim.Que idade ele tem? Se aposenta compulsoriamente aos 75 do STF.O povo e a democracia só tem a ganhar, vendo-se livre de tal figura no supremo, mesmo que para tanto tenhamos que suportar a sua mesquinha ambição de presidir o país. 

  2. Já vi esse filme

    Se Lula não for impinxado os golpistas suspenderão as eleições de 2018, já vi esse filme:

    Temer está fazendo o papel de Mazzili

    A troupe golpista está à procura de um Castelo Branco

    Enfim, em 64 usavam verde-oliva e hoje usam camisas negras…

    Resultado de imagem para mazzilli presidente

    E no dia 11 de abril de 1964 o Congresso Nacional elegeu Castelo Branco como novo Presidente da República do Brasil.

    http://pacientepsiquiatrico.blogspot.com.br/2016/04/2-de-abril-de-1964-auro-de-moura.html

    Ah sim, eu havia me esquecido de outro personagem: a classe média, que já fez seu papel de marionete teleguiada apoiando o golpe e já se recolheu ao seus aposentos que nem cachorro com o rabinho entre as pernas…

    Já tivemos na nossa história uma elite pensante? 

    https://jornalggn.com.br/blog/jose-carlos-lima/ja-tivemos-uma-elite-pensante

     

     

     

  3. Se o nóia é juiz não pode ser

    Se o nóia é juiz não pode ser candidato. Se o nóia candidato não pode ser juiz. Gilmar Mendes quer ser um nóia de exceção?

  4. Disputar eleição direta

    Disputar eleição direta ninguém quer. Só querem moleza. O autor não mencionou que se vingar tal despautério há a possibilidade de ele ficar legalmente no cargo até 2026, sempre se reelegendo por eleição indireta. Isso hoje. Lá por 2025, é só dar um chegar pra lá nos deputados que eles aprovarão reeleição até o titular se cansar. Se é que haverá essa possibilidade. Tudo democraticamente.

  5. Vai, Gilmar, seu destino é ser presidente 🙂

    E ai eu pergunto: como é que Gilmar pode ser indicado presidente se ele é Ministro do Supremo? A Carmem Lucia aceitara o posto e em seguida renuncia, passando-o a Gilmar ? Ele se desincompatibiliza e se candidata a via indireta?  Solta a pipoca, Zequinha, que vem novela boa pela frente!

  6. Corrida maluca

    Sintoma do esfacelamento das instituições.

    E não é só Gilmar Mendes, no Judiciário, que tem pretenções à presidência da república.

    Basta observarmos as  movimentações das peças (pretendentes) nesse insano xadrez.

    Uns qurem pra já, outros para 2018. 

    A Globo, dos Marinho, já lançou inúmeros deles. 

  7. Falando tem tese eu

    Falando tem tese eu preferiria Jobim.

    Mas, dadas as condições atuais, Gilmar não seria um nome tão ruim.

    Muito melhor que Carmem Lùcia, disso tenho certeza, porque elea é totalmente “sem noção”.

    A questão que fica é: Não será fácil nem rápido cassar Temer. Mesmo que perca no TSE, ainda poderá recorrer ao STF.

    Lá poderá haver os inefáveis pedidos de vista, e etc.

    Sem falar que em um mes e pouco ele já terá 2 vagas de ministros do TSE para trocar. Ele é do mundo juridico, se não for néscio como a Dilma e o Lula foram, já terá 2 votos, de 4 que precisa, a seu favor. A não ser que o julgamento seja pautado e concluído antes de 16 de abril, o que parece ser dificil de ocorrer.

    Apesar que quem pauta é Gilmar.

    Outro ponto é com relação a Gilmar.

    Ele já se mostrou ser um craque político/jurídico de bastidores. Mas será que tem esfoto e dimensão para ser Presidente ? Mais que Temer deve ter, mas isso não é lá grande coisa. Mais preparo tem também. Mas só “preparo” não basta.

    E sua vida pregressa ? E o cursinho jurídico com negócios com Governos e tribunais Brasil afora ? Como fica ?

    E sua turma do Mato Grosso e Goiás, ele vai conseguir esconder ?

    A minha opinião é que Gilmar é exelente enxadrista de bastidores, mas não se arriscará a tentar ser Presidente.

    No fundo, não creio que tenha coragem para isso.

    Se tiver, e conseguir enquadrar a java jato, o judiciário, o MP e, quem sabe, a Globo, poderá entrar para a História como um dos Grandes do País, ao lado de Getulio, Juscelino e Lula.

    Na verdade o mais provável é que ele esteja blefando para aumentar ainda mais seu Poder, que já é grande.

    Está blefando para continuar nomeando todos os ministros que conseguir, por ex, para as duas vagas que abrirão no TSE em breve.

    Está blefando para continuar influente e fazer crescer ainda mais “seu cursinho”.

    Por enquanto, apesar de tudo, o mais provável é que Temer se mantenha.

    Tanto pelas dificuldades em cassá-lo quanto pela falta de opção em sua substituição.

    Pelo menos até o presente momento é.

    Mas quanto ao dia de amanha, não dá para arriscarmos nada.

  8. Díficil acreditar. Gilmar tem

    Díficil acreditar. Gilmar tem muito mais blindagem em continuar suas “patetadas” em sendo Ministro do STF…

  9. Como até um grão de areia

    Como até um grão de areia sabe que os salafrários que formam a maioria do congresso nacional é movido unicamente por interesse financeiro, pergunto :

    Como será o financiamento dessa degenerada “campanha presidencial” do Gilmar Dantas ?

    Já que o Dudu Cunha encontra-se encarcerado e outros comparsas estão muito visados, qual liderança política será responsável pelo repasse da grana ?

    Fora o apoio da GRoubo, Itaú e FIESKaff, de onde sairá a fonte deste “financiamento” ? 

    1. Em campanha.

      A eleição será indireta, pelo congresso (deputados e senadores), caso a chapa seja cassada. Portanto não dependerá de financiamento, mas de compromissos assumidos com os eleitores, entre os quais o de matar a lava jato no peito, como ele já anda fazendo. Ou seja; para os elitores que interessa ele já está em campanha.

  10. E outra, ele vai se arriscar

    E outra, ele vai se arriscar a ficar 1,5 na Presidencia e perder mais 13 anos no STF ?

    Duvido muito.

    Isso é balão de ensaio, apenas para ele ter mais Poder para barganhar.

    Com isso, vai escolhendo todos os Ministros dos tribunais superiores, inclusive os dois próximos do TSE, mes que vem.

    Assim, mesmo após acabar o Governo Temer, ele terá grande parte dos tribunais superiores na mão.

     

  11. Desde o início a intenção da

    Desde o início a intenção da lava rato era esta: levar alguém do PSDB ao governo central. Pro isto a lava rato JAMAIS INCOMODOU um tucano que fosse.

    A lava rato NUNCA teve QUALQUER intençao de combate a corrupção.

    TODOS sabem que o psdb não ganha eleição presidencial. São ruins demais. Por isto o golpe dos ricos contra os pobres.

    Isto está mais claro do que nunca agora.

    A intenção do golpe neste momentoparece ser tirar o temer(horrível em todos os sentidos) e colocar o gilmar(psdb/mt – bandido )Logo após, cancelarão as eleições de 2018. Se este sujeito for colocado na presidência, a ditadura que se seguirá será 10 vezes pior do que a de 1964. Este sujeito é um psicopata perigoso.

    A ÚNICA saída para o povo brasileiro é a porrada com linchamento puro e simples destes golpistas miseráveis.

  12. Então o dançarino Gilmar Dantas quer ser o nosso próximo Temer?

    A Carmem Lúcia, na foto acima, parece uma pomba. Já o Gigi Dantas parece um gavião real cagão.

    Arrulha, Carmem Lúcia. Bufa, Daniel Mendes

  13. Gilmar Mendes é candidato à

    Gilmar Mendes é candidato à presidência na eleição indireta porque, além de ser um membro senior da Junta Golpista, é provavelmente o único membro desta mesma Junta capaz de tocar a segunda etapa do golpe: a reforma política que inviabilize novas “zebras” – seja Lula, seja Marina, seja Bolsonaro – e que, naturalmente, vai desaguar no parlamentarismo, que será vendido como “a solução de estabilidade para a democracia brasileira”, e na eleição indireta para presidente, porque em países parlamentaristas com eleição direta para presidente o Chefe de Estado se torna um fator de “instabilidade”, como acontece em Portugal, e o objetivo da reforma política dessa turma é mesmo a paz política dos cemitérios.

  14. JOGO DE CENA …

    É pra confunfir.. ganhar tempo etc. Olha, estou chegando a conclusão que um cargo de ministro da Suprema Corte vale mais que o de um presidente, senador etc. O poder destes 11 caras é hercúleo!

  15. O Gilmar Mendes pensa que o Brasil não é um galinheiro

    Diz pro Gilmar Mendes que a competência dele só é suficiente para administrar um galinheiro, e olhe lá se ele não o falir com suas maracutaias.

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