Governo chileno forja normalidade e população segue com manifestações

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Chegada da missão da ONU no país, nesta segunda, e a proximidade das cúpulas da APEC e COP-25 fazem governo tentar retomar estabilidade do país. Manifestantes não aceitam

Manifestação do dia 25 em Santiago foi a maior da história do país – Foto: Patricia Faermann

De Santiago, Chile

Jornal GGN – O Chile segue em mobilização. Apesar dos esforços do presidente Sebástian Piñera e dos meios de comunicação em instalar um clima de volta à normalidade, com o discurso do mandatário colocando fim ao toque de recolher e ao Estado de Exceção no país, os protestos seguem e a população acusa o governo de forjar estabilidade pela chegada da missão da ONU no país, nesta segunda-feira (28), e a proximidade das cúpulas da APEC e COP-25.

Ambos eventos colocam o país no centro dos debates internacionais, com a chegada de presidentes e lideranças políticas de todo o mundo. As reuniões da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) ocorrem em três semanas e a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP25) no início de dezembro. Apesar da maior crise política e social desde a redemocratização do Chile, o país mantém as duas cúpulas na agenda e Piñera não pretende abrir mão de receber o protagonismo de sediar os eventos. Para isso, correrá contra o tempo para obter até lá a estabilidade do país.

Entra neste cenário o aumento dos casos de violações aos direitos humanos contra manifestantes nos últimos dias. Segundo dados cruzados entre as divulgações do Ministério do Interior, o Colégio Médico, o Ministério Público do país, o Instituto de Direitos Humanos, divulgações dos próprios hospitais e clínicas, e casos denunciados pela imprensa, até a última sexta-feira (25), há uma contabilização de 25 pessoas mortas, 65 denúncias de tortura, 15 denúncias por violência sexual, mais de 400 feridos por armas de fogo, mais de 5 mil presos e cerca de 100 pessoas que perderam a visão.

Diante disso, a Alta Comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Michellet Bachelet, que é também ex-presidente do Chile, decidiu enviar uma missão da ONU, a partir de hoje (28), para fiscalizar estas denúncias. As acusações também pressionaram o presidente Sebastián Piñera a fazer essa solicitação de monitoramento da ONU, na tentativa de afastar a responsabilidade do Estado pelas violações. As manifestações da última semana já acusavam também o presidente pelos mortos e feridos, como consequência direta da repressão nos protestos ordenada pelo governo.

É nessa linha que na manhã de sábado (26), horas após a maior manifestação já realizada na história do país, reunindo entre 1 e 2 milhões de pessoas manifestando na Plaza Itália, região central de Santiago do Chile, e em outras regiões do país, Sebastián Piñera saiu a público para insistir na Agenda Social, criada por ele, como saída à crise, e a retirada do toque de recolher e o Estado de Emergência a partir da noite deste domingo.

Leia o decreto que colocou fim ao Estado de Exceção, publicado no Diário Oficial na manhã de hoje:

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Por isso, desde sábado, o toque de recolher já havia sido retirado e as principais televisões do país também retomaram a programação habitual, com a transmissão de novelas e os famosos matinais, que são os programas de entretenimento que ocupam toda a manhã e parte da tarde das redes de TV chilenas. A população, contudo, manteve algumas manifestações no sábado (imagens abaixo), que continuaram a ser reprimidas pela polícia, e neste domingo a cidade de Valparaíso realizou o maior de seus protestos, reunindo cerca de 50 mil pessoas, na cidade litorânea.

https://www.instagram.com/p/B4GbLT7ldHZ/?utm_source=ig_web_copy_link

Na manhã desta segunda (28), os jornais que voltaram a fazer transmissão sobre a contingência do país receberam dos entrevistados, ao vivo, as duras críticas contra o governo e as televisões por tentaram normalizar o cenário do país. Durante a semana, novas manifestações e grandes atos são programados. Especialmente como resposta à chegada da missão da ONU, está marcada para às 17h uma marcha em frente ao Palácio da Moneda, que novamente pretende reunir milhares de pessoas na data de hoje.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Tais informações de forma tão contundente na mídia tradicional seria pura nitroglicerina:… O elo de ligação dos Bolsonaro…

    “Queiroz foi membro do P2, a seção da inteligência da Polícia Militar. É milícia tarimbada, apesar de se prestar a serviços para o baixo clero político, no caso da rachadinha de Flávio Bolsonaro. É o elo de ligação dos Bolsonaro com o Escritório do Crime.”

  2. Não há saída para Piñera a não ser a porta de saída.
    O povo está em levante no Chile, Equador, Honduras, Haiti, Catalunha, França e com certeza outros países sobre os quais a mídia não informa.

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