O risco de golpe de Estado no Egito

(Atualizado às 15h45)

Suspender a constituição e fechar o congresso é o programa mínimo de um golpe de Estado, não o motivo pelo qual pelo menos trezentos egípcios morreram enfrentando as forças do regime que agora tenta perpetuar-se na forma de um Conselho Supremo.

As reivindicações dos manifestantes, comunicadas pelo Ziad al-Olaimai, advogado de 32 anos da Campanha Popular para Apoiar El-Baradei e único porta-voz autorizado da Liderança Unificada da Juventude da Revolução da Ira, agrupamento que reúne os principais grupos que organizaram e conduzem as manifestações no Cairo e nas cidades mais importantes do Egito, são sete: 

  • saída do Mubarak; 
  • revogação imediata  estado de emergência; 
  • libertação imediata de todos os prisioneiros políticos; 
  • dissolução das duas casas do parlamento; 
  • formação de um governo civil de unidade nacional para o período de transição; 
  • investigação pelo judiciário dos abusos das forças de segurança durante a revolução; e 
  • proteção dos manifestantes pelos militares.

O que a junta militar fez até agora, depois de se livrar da figura do Mubarak, foi suspender até as mínimas garantias oferecidas pela constituição e fechar o congresso. Quanto ao resto das reivindicações:

  • manteve o estado de emergência;
  • não libertou nem os manifestantes detidos, que dirá os presos políticos;
  • prendeu centenas de outros manifestantes em Suez e Alexandria;
  • proibiu as greves e as reuniões sindicais;
  • mandou a polícia do exército cercar os manifestantes que permaneciam na praça Tarhir;
  • destruiu, a golpes de facão e baioneta, as instalações dos manifestantes na praça;
  • manteve o governo nomeado pelo Mubarak.

Se a onda de greves não se mantiver e se ampliar e se as manifestações não recomeçaremnas próximas horas, os dezoito dias de uma  mobilização popular histórica terão conseguido instalar no Egito, com a cumplicidade ativa da famigerada “comunidade internacional (e o silêncio vexaminoso do Brasil, diga-se de passagem), uma ditadura militar que em poucos meses se legitimará com “eleições” idênticas às que mantêm o regime no poder desde 1952.

Por Zé Luís

A revolução que derrubou Mubarak-Suleiman e a cúpula do partido governista atingiu, até o momento, apenas o governo, isto é, os homens que estavam à frente do Estado. É a primeira etapa da luta contra o regime, contra a ditadura. Foi uma revolução vitoriosa, cujo elemento mais importante é este: ensinou ao povo egípcio como lutar e como vencer.
 
Mas a contra-revolução começa no dia seguinte à vitória da revolução, como sempre.

Premissas:

1. Vivemos em um sistema social de exploração, uma sociedade dividida em classes sociais: há a classe dos exploradores e a classe dos explorados. Este sistema social denomina-se “capitalismo”;

2. A classe dos exploradores detém a propriedade dos meios de produção e de troca (indústrias, bancos, terras, comércio). Essa classe recebe o nome de “capitalistas”. A classe dos explorados possui apenas a sua força de trabalho, e é obrigada a vendê-la em miseráveis condições para os capitalistas, para sobreviver. Os explorados são chamados “trabalhadores” ou “camponeses”, dependendo de o meio geográfico ser urbano ou rural;

3. A classe dos exploradores, os capitalistas, assegura o funcionamento da sociedade, isto é, a exploração do trabalho assalariado, através de um conjunto de instituições denominado “Estado”;

4. A principal instituição do Estado, que em última análise é chamada a assegurar a manutenção da escravidão assalariada, são as Forças Armadas.

Conclusão:

1. Em qualquer revolução, as Forças Armadas do Estado desempenharão um papel contra-revolucionário, pois o alto comando das forças armadas é composto de militares que são também, além de burocratas, capitalistas. (Ver o comentário da Raquel, acima.)

Portanto, o que estamos vendo no Egito, a prisão de manifestantes na Praça Tahrir, a manutenção do toque de recolher e o recrudescimento da polícia e do próprio Exército, são as primeiras medidas da contra-revolução.

Acontece que o povo egípcio não protagonizou uma revolução dirigida contra o sistema social de exploração, e sim contra o regime político, isto é, contra a ditadura. A revolução venceu apenas a primeira batalha. Restam muitas outras. Mas não há nenhuma celebração tão digna para os trabalhadores e jovens de qualquer país que a vitória de uma revolução.

Não há nenhuma surpresa até agora.

Luis Nassif

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