Os brasileiros na África portuguesa

Da BBC Brasil

Brasileiros se sentem ‘em casa’ na África portuguesa

“Depois de 27 anos em Moçambique, posso dizer que me sinto em casa”, diz o cineasta e fotógrafo Chico Carneiro, que chegou ao país em 1983.

“Moçambique é muito parecido com o Brasil, e, ao mesmo tempo, Maputo, a cidade onde eu vivo, é muito parecida com Belém do Pará, que é a capital do meu Estado.” 

A administradora Arlete Lins, moradora de Luanda desde 1985, diz que não suou para se adaptar à vida em Angola.

“Cresci no interior de São Paulo, então eu não tinha o hábito de teatros, cinemas e essas coisas de cidade grande. Não tive dificuldade nenhuma para me adaptar.”

Foi assim, enumerando coisas simples, que dois brasileiros falaram à BBC Brasil sobre seus quase 30 anos de experiência em Moçambique e Angola.

OfotO fotógrafo veio para a África logo após começar sua carreira no cinema. A administradora, para trabalhar por “um ou dois anos” em um centro de atendimento médico para petroleiras, que começavam a operar no norte angolano.

Quase três décadas depois, eles dizem que viver no exterior se torna mais fácil quando se compartilha com o país a língua e muito da culinária e da cultura.

E quem visita Luanda e Maputo compreende facilmente o que eles querem dizer.

No passado, eram as novelas que levavam a cultura do Brasil para o exterior – principalmente, mas não somente, aos países de língua portuguesa.

Em Angola, o principal mercado a céu aberto do país – o Roque Santeiro, com cerca de 8 mil vendedores informais – deve o seu nome à novela da TV Globo que foi ao ar nos anos 1980.

Se as novelas hoje continuam a ser transmitidas uma após outra no horário nobre da TV luso-africana, canais brasileiros como a Globo e a Record transmitem conteúdo ininterrupto para Moçambique e Angola. No último caso até contando com operações locais.

É possível ouvir música sertaneja, forró e, sobretudo, música evangélica com um giro rápido do dial na rádio.

Chico Carneiro diz que a presença constante do português brasileiro no dia-a-dia moçambicano trouxe mudanças na maneira de falar local.

“Dois exemplos muito comuns: antigamente se atendia o telefone aqui dizendo ‘estou’, ‘está?’ e agora se fala ‘alô’ com muita frequência, quase todo mundo fala. A outra e a famosa ‘bicha’. Aqui, ‘bicha’ significa fila. Mas muita gente já usa o ‘fila’ normalmente”, conta Chico.

Em Angola, onde a economia foi arrasada pela guerra e as opções de restaurantes e hotéis ainda está aquém da demanda, a alternativa mais atraente ao bolso são os restaurantes de comida a quilo.

Um deles, o Panela de Barro, de propriedade de um brasileiro, é referência na cidade. 

Comunidade brasileira

O governo brasileiro foi o primeiro a reconhecer a independência angolana, em 1975. Segundo Arlete, isso fazia com que os brasileiros fossem tratados com bastante simpatia na nação “bebê”, como ela chama Angola.

“Os angolanos conheciam muito do brasil: música, cultura, história, muita coisa. Eu me sentia assim envergonhada de ver o quanto eu conhecia pouco de Angola. Os angolanos que hoje têm mais de 45 anos conhecem o Brasil de uma maneira incrível”, lembrou.

Moçambique, onde a campanha da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) pela independência serviu de modelo para esquerdistas em várias partes do mundo, atraía muitos militantes da esquerda brasileira nos anos 70.

“Grande parte dos brasileiros que estavam aqui eram pessoas que tinham fugido da ditadura no Brasil e tinham vindo parar, entre outros países, Moçambique”, conta Chico.

“E devido às necessidades e às carências econômicas da época, isso obrigava as pessoas a serem mais solidárias. Você tinha um pouco aqui, alguém mais tinha um pouco ali e todos nos uníamos, pelo bem do interesse comum.”

Ele diz que o perfil dos imigrantes brasileiros no Brasil mudou com a mudança de Mocambique para o regime capitalista e com o desenvolvimento econômico que foi muito forte nos últimos dez anos. Hoje, segundo ele, há muitos brasileiros que vêm tentar a vida em Moçambique. 

Luis Nassif

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