À espera de sentença, morre J. Hawilla, o “dono do futebol brasileiro”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Ciro Boro/Reprodução
 
Jornal GGN – O empresário do futebol José Hawilla, ex-dono do polêmico grupo Traffic Sports, morreu na manhã desta sexta-feira (25), aos 74 anos. Acusado no esquema de corrupção da FIFA, admitiu pagar poprinas durante décadas por direitos a torneios de futebol, terminando como um delator da Justiça dos Estados Unidos.
 
Passou os últimos cinco anos detido em sua mansão na Flórida, EUA, após ter sido preso por algumas semanas no início das investigações da chamada FIFA Gate, em maio de 2013. Aqui, era alvo de uma investigação, sem notícias de avanços, do Ministério Público brasileiro, quando decidiu retornar ao Brasil em fevereiro deste ano.
 
Após cinco meses no país, foi internado nesta segunda-feira (21), no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por problemas respiratórios. Considerado o “dono do futebol brasileiro”, J. Hawilla fundou a Traffic Sports, maior empresa de marketing esportivo do Brasil e envolvida em diversos esquemas de corrupção, e até então era proprietário da TV TEM, filiada da Rede Globo em quatro regiões do interior paulista.
 
No site da filial da Globo em Sorocaba, Bauru, São José do Rio Preto e Itapetininga, a TV TEM divulgou a notícia acompanhada da nota de pesar do prefeito de São José do Rio Preto, Edinho Araújo (PMDB), que chegou a decretar luto oficial na cidade por três dias.
 
“Recebo com pesar a informação da morte do empresário e amigo J. Hawilla, idealizador da TV TEM. Decidi decretar luto oficial por três dias no município. Em sua TV, Hawilla apostou no conceito de jornalismo cidadão, dando voz à comunidade e sendo porta voz das reivindicações da população de grande parte do Estado de São Paulo. É uma grande perda”, disse o prefeito.
 
Em maio de 2015, quando o escândalo da FIFA foi deflagrado com a prisão de sete cartolas, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, o Departamento de Justiça norte-americano e a FBI divulgavam as primeiras informações já concluídas do caso que paralisou o mundo do futebol.
 
 
Tratava-se de um blindado sistema de corrupção que circula pelos campeonatos e organizações de futebol, como os altos funcionários tratavam de decisões de negócios da FIFA como vales para serem trocados por riqueza pessoal. Os cartolas Marin, Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel foram presos enquanto estavam no Hotel Bar Au Lac, onde participariam de um congresso que deveria reeleger Sepp Blatter à frente da FIFA.
 
Falava-se, incialmente, de mais de US$ 150 milhões em propinas pagas em troca de direitos de transmissão e de marketing de campeonatos, desde as eliminatórias da Copa do Mundo, a Concacaf, a Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. 
 
Hawilla, já na mira dos investigadores, confessou culpa ainda em dezembro de 2014 pelas acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça, concordando em devolver US$ 151 milhões de seu patrimônio.
 
“Duas gerações de dirigentes de futebol abusaram de suas posições de confiança para ganho pessoal, frequentemente através de aliança com executivos de marketing inescrupulosos que barraram concorrentes e mantiveram contratos lucrativos para si mesmos através do pagamento sistemático de propinas. Os dirigentes são acusados de conspiração para solicitar e receber mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 400 milhões) em subornos em troca do apoio oficial dos executivos de marketing que concordaram com pagamentos ilegais”, divulgava o Departamento de Justiça.
 
 
Amigo de longa data de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, tanto Teixeira, quanto Marco Polo Del Nero entraram para a lista das investigações do chamado FIFA Gate mais recentemente. Ajudando as autoridades americanas, Hawilla gravou conversas e entregou provas e documentos, revelando como funcionava o pagamento de propinas ao ex-presidente da Conmebol, Nicolas Leoz, ao ex-presidente da Associação de Futebol Argentino, Julio Grondona, e ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
 
Como recompensa, o empresário do futebol brasileiro ganhou o perdão de parte dos crimes cometidos. Mas as conversas gravadas, ainda em 2014, com o dono da empresa de marketing esportivo Klefer e ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, não deixaram dúvidas sobre os ilícitos cometidos por Marin, Marco Polo Del Nero e seu amigo Ricardo Teixeira. 
 
Detalhes sobre as revelações de J. Hawilla foram divulgadas pelo GGN na cobertura sobre o julgamento da FIFA Gate em dezembro do ano passado [leia aqui e aqui].
 

Foto: Spencer Platt/Getty Images
 
Apesar de ter recebido o perdão por boa parte dos crimes cometidos, a expectativa era que a Corte de Nova Iorque condenasse o empresário a até 80 anos de prisão, além do pagamento da multa que já estava sendo feito. Culpava a crise econômica brasileira por não conseguir vender a Traffic e com esse dinheiro quitar a multa na Justiça, pedindo um prazo maior e ainda devendo cerca de US$ 100 milhões. Estava marcado para o dia 2 de outubro o julgamento nos EUA que iria definir os anos que J. Hawilla cumpriria na cadeia.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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  1. Além da depena financeira, possível queima de arquivo e vingança

    Nesse mundo mafioso do futebol, da marquetagem e da mídia corporativa e canalha que se apropriou desse esporte de massas, não se pode descartar a possibilidade de que, após a deduragem e sem condições de pagar a fortuna que lhe pretendiam tungar os estadunidenses, tanto delatados por ele como o Deep State estadunidense tenham decidido se livrar dele,  J. Hawilla, cada grupo com razões distintas. A versão oficial, a de que ele foi hospitalizado com problemas respiratórios, pode até conter parte da verdade. Yasser Arafat, envenenado por agentes terroristas israelenses com o elemento radioativo Polônio em hospital da França no ano de 2004, também havia sido internado para tratamento de saúde. É fato que ambos eram idosos e tinham problemas de saúde. 

    Quem entende um pouco de guerra híbrida, acompanhou as chamadas “primaveras” no Oriente Médio, os recentes golpes de Estado na América Latina, a implosão do PS francês com o infiltrado  neoliberal Emanuel Macron… Quem acompanha a ocupação do Brasil após o golpe de 2016 e o interesse dos EUA e seus primos ricos, assim como da finança internacional, em se apossar das riquezas e setores estratégicos do Brasil (dentre eles o de energia, aero-espacial, de defesa, das águas, mineral, das terras agricultáveis, construção pesada e naval, de comunicações…) percebe que até mesmo para a Globo e seus satélites no PIG/PPV (històricamente capachos dos EUA) estão com a faca no pescoço, pois agora os “donos” do mundo capitalista não querem mais intermediários. Agente nº 1 da desestabilização do governo eleito e do golpe, a Globo, assim como as oligarquias da velha política, serão substituídas pela burocracia do sistema judiciário, pois esta cobra um pedágio menor, para manter o Brasil como colônia exportadora de produtos primários e importadora de manufaturados e produtos que requeira base tecnológica avançada e apresentem alto valor agregado.

  2. Lacaio da Marginal Tiête S/N.o

    A primeira das vergonhas é Anão Diplomático permitir que outro país exerça a Justiça que se omite em seu território. Tal país reverterá a justiça paraseu benefício e para os Seus. Ou multas milionárias de Empresas e Cidadãos Brasileiros,não ficarão nos EUA? Outra vergonha é abandonar o Cidadão Brasileiro à sorte, em terras estrangeiras. Não importa quem. Deveria ter sido julgado e condenado aqui no país. Covardia paga com covardia não nos leverá a lugar algum, nos casos de J. Hawilla e Marin. Mas principalmente, o maior braço de RGT. O maior acionista fora da Familia Marin,o Monopólio do Futebol e toda esta sujeira construída em 30 anos, escrachado em Estádio construído em Itaquera, com Dinheiro Público como pagamento ao maior lacaio do futebol brasileiro, por detonar o Clube dos Treze e manter o monopólio mafioso, acobertado por ‘coxinhas e mortadelas’, que se vendem antagônicos, mas foram cúmoplices nestas realizações e na divisão de poder dentro da ‘Cosa Nostra’. Que os diga Felldman’s e Vicente Cândido. O fim deste controle criminoso e corrupto sobre o Esporte, se dará não por imposição da Sociedade e Poder Judiciário, mas por natural encerramento da vida. Assim foi Havellange, agora J. Hawilla, cedendo espaço ao novo monopólio do esporte, representado por Empresas Norte Americanas e Internet. Futebol e politica se misturam na farsa brasileira..  .     

  3. Lacaio da Marginal Tiête S/N.o

    A primeira das vergonhas é Anão Diplomático permitir que outro país exerça a Justiça que se omite em seu território. Tal país reverterá a justiça paraseu benefício e para os Seus. Ou multas milionárias de Empresas e Cidadãos Brasileiros,não ficarão nos EUA? Outra vergonha é abandonar o Cidadão Brasileiro à sorte, em terras estrangeiras. Não importa quem. Deveria ter sido julgado e condenado aqui no país. Covardia paga com covardia não nos leverá a lugar algum, nos casos de J. Hawilla e Marin. Mas principalmente, o maior braço de RGT. O maior acionista fora da Familia Marin,o Monopólio do Futebol e toda esta sujeira construída em 30 anos, escrachado em Estádio construído em Itaquera, com Dinheiro Público como pagamento ao maior lacaio do futebol brasileiro, por detonar o Clube dos Treze e manter o monopólio mafioso, acobertado por ‘coxinhas e mortadelas’, que se vendem antagônicos, mas foram cúmoplices nestas realizações e na divisão de poder dentro da ‘Cosa Nostra’. Que os diga Felldman’s e Vicente Cândido. O fim deste controle criminoso e corrupto sobre o Esporte, se dará não por imposição da Sociedade e Poder Judiciário, mas por natural encerramento da vida. Assim foi Havellange, agora J. Hawilla, cedendo espaço ao novo monopólio do esporte, representado por Empresas Norte Americanas e Internet. Futebol e politica se misturam na farsa brasileira..  .     

  4. “Morreu” ?????  Sei de outro

    “Morreu” ?????  Sei de outro que também vai morrer de complicações respiratórias… Hoje tá preso em CUritiba.

  5. Lá nos EUA ele estava mais protegido de alguma coisa estragada

    na comida ou algum medicamento errado do que aqui em terras globalis. Seu antigo empregador-sócio-parceiro-cúmplice se safou ou está mais suja pelo que pode vir adiante?

  6. Morreu de desgosto

    Ele morreu de desgosto… desgosto por ter de pagar a multa de cem milhões de dólares e de não poder roubar mais… coitado.

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