Janio de Freitas: Youssef não fez jus à premiação que recebe novamente do MPF

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Janio de Freitas

Youssef sem fantasia

Na Folha

Alberto Youssef, o doleiro, não poderá sair em um bloco deste Carnaval. Nem mesmo no Bloco da PF, que já saiu em outros tempos e não sei se sairá neste ano. Pena a ausência de Youssef, porque ninguém mais adequado para trazer de volta, como tantos foliões têm feito na reanimação do Carnaval, uma das fantasias divertidas e esquecidas no passado das ruas. Youssef de anjinho endolarado poderia ter sua graça.

Se não terá fantasia, nem por isso Youssef perde a imagem de merecedor de deferências entre os lançados no inferno dos corruptos, também conhecido como cadeia da Polícia Federal em Curitiba. A experiência não é propriamente nova para Youssef. Doleiro é a denominação gentil para traficante de dólar, ou contrabandista de dinheiro, atividade criminosa que deu a Youssef um papel de destaque no escândalo de muita corrupção do Banestado, o Banco do Estado do Paraná.

Em razão desse papel, desde então Youssef deveria ter perdido todos os Carnavais. Mas pôde poupar-se de um longo pedaço de sua vida em presídio por receber do Ministério Público Federal –uma espécie de serviço de promotorias federais– os benefícios da delação premiada. Contou certas coisas aos procuradores do MPF e recebeu a retribuição de dispensa da condenação que o Código Penal lhe destinaria.

Mas os anos de bem vivida liberdade interromperam-se há dez meses. Encarregado, em troca de comissões, do tráfico de dólares daqui para contas externas de corruptos da Petrobras e de contas externas de empreiteiras para fazer corrupção aqui, Youssef veio a desempenhar outro papel importante: tornou-se o chamado “fio da meada”, cujos negócios levaram à identificação e prisão dos primeiros incluídos na Lava Jato.

Tragédia para Youssef? Não. Um período aborrecido, digamos. Outra vez as graças da delação premiada o escolhem, endereçadas pelo Ministério Público. Embora, isso é interessante, Alberto Youssef não fizesse jus à premiação: livre, voltou à mesma atividade criminosa que a delação premiada lhe exigira abandonar.

Na última semana, uma deferência extraordinária brindou Youssef mais uma vez: a incisiva força-tarefa da Lava Jato pediu que a pena de Youssef em processo de crime financeiro (não com Petrobras) seja reduzida pelo juiz à metade. Como reconhecem os autores do pedido, Youssef não deu colaboração alguma nesse processo, logo, não teria prêmio de delator. O corte de metade da pena –o que provavelmente resultará em ausência de punição– é pedido porque “colaborou” em outros processos. Nos quais já a delação premiada trocara punição por liberdade.

Em 9 de dezembro último, o procurador-geral da República fez um pronunciamento lido, com a afirmação de que “ninguém se beneficiará de ajustes espúrios, isso todos temos de ter certeza. (…) A decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal”. A fisionomia e o tom de Rodrigo Janot não eram de quem dava ao país uma garantia, até desnecessária. Eram de quem respondia, muito irritado, ao artigo, na Folha, em que o jurista Miguel Reale Jr. acabara de arrasar doutrinária e moralmente o uso da delação premiada.

É no mínimo discutível a competência de procuradores da República para pedir a redução de sentença por motivos ligados a processo alheio à ação em julgamento. Assim como será discutível que um juiz a conceda. E nenhum dos dois casos corresponde à “certeza” que, no desejo do procurador-geral, “todos temos de ter”.

Desde os vazamentos iniciais da Lava Jato, seguindo-se os tantos outros sob a mesma aparência de atos dirigidos, e não de apenas informações devidas à opinião pública, o desenrolar desse escândalo deixa manchas, a que não faltaram nem acusações, públicas e graves, depois muito mal corrigidas. Como se fosse apenas um “bom dia” dado à noite.

Há muitos “ouvi dizer”, contradições e meias informações a granel, no que transborda do inquérito. A alguém e a interesses isso sempre acaba servindo. Não à Justiça pendente de investigações, que delações premiadas não substituem, nem à democracia e ao país transtornado pelo escândalo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. o final do artigo é

    o final do artigo é perfeito….

    acho que o articulista foi feliz ao lembrar que youssef delatou

    a primeira vez, foi solto e voltou a praticar crimes…

    então, corrupto bandido vira herói, é solto e  continua no crime…

    muito fácil… ao invés da justiça condenar os corruptos,

    pede e orienta a delação, premia,solta-os para que

    continuem no mundo da corrupção…

  2. A Justiça neste país, bem
    A Justiça neste país, bem como a polícia em geral, transforma-se a cada dia, na maior piada e maior descrença dos cidadãos; quando a sociedade já não sabe mais quem são os criminosos, lamentavel e triste temos a história.

    Bom mesmo é sabermos que, mesmo que lhes cortem as cordas vocais, eles já não ladram, mas ainda continuam sendo os cães que o eleitor sempre conhecerá; a mídia sempre acoberta seus fieis cães!

  3. Quem é o premiado das delações?

    Se o acordo não for cumprido, corre o risco do delator entregar outros que não devem ser entregues. Embora se isso ocorrer e o  réu “injustiçado” ampliar suas denúncias, não passará de um mero “direito de espernear”. O que a “grande mídia” não publica não é fato, e o que é publicado, mesmo não sendo, torna-se.

    Enquanto a maioria aguarra-se a segurança e o calor da caverna, a minoria manipula as sombras. 

  4. Esse Youssef é uma águia, uma

    Esse Youssef é uma águia, uma raposa!
    É esperto demais e tem grande conhecimento sobre mutretagem !
    Não trabalha independentemente.
    É uma célula, uma peça numa engrenagem muito grande.
    Caso venha a ser impedido de exercer seu papel no esquema, logo uma outra célula ocupará seu posto.
    Trabalhava ou ainda trabalha 24 horas por dia, durante anos e anos, nesse tipo de atividade
    Grande experiência acumulada ao longo de muitos anos de inacreditáveis falcatruas..
    Foram pegos, mas não se abalaram muito com isso !
    Se essa farsa terminar hoje, ele vai sair estremamente bem
    Aceitaram a “delação premiada” já com a intenção de utiliza-la em benefício da quadrilha.
    JAMAIS, JAMAIS, JAMAIS REVELARÃO TUDO O QUE SABEM.
    NUNCA REVELARAO ALEM DAQUILO QUE LHES INTERESSA.
    São profissionais, não são trouxas !
    Estão usando a delação para acusar, acusar, acusar e com isso desviar a atenção da investigação para longe dos verdadeiros beneficiários dessa gigantesca organização mafiosa e, de quebra, tentar derrubar um governo que anda dificultando interesses de muita gente graúda.
    A coisa é muito maior do que parece e deve abranger bancos, grandes autoridades, parte da justiça, etc.
    Esse caso jamais poderia estar nas mãos desse juiz suspeitíssimo que parece ligado ao esquema!
     

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